carnaval antecipado em São Sebastião

 carnaval antecipado em São Sebastião
coluna de opinião da série foto em foco
Márcio Pannunzio, texto & fotos

 “…como vivandeiras alvoroçadas, vêm aos bivaques bulir com os granadeiros e causar extravagâncias ao poder militar.” Marechal Humberto de Alencar Castello Branco

 A língua portuguesa é bela, pelo fato de ter entre outros tantos predicados, o de ser preciosista. A palavra estória é tida como arcaica, mas sobrevive marcando diferença em relação a sua irmã história. Contam que estória com e é invenção, é sonho, é irreal; existe no mundo da fantasia. História com h não se inventa, se vive na pele acordada, é real; existe no mundo físico. A coluna vai se ilustrar pelas duas, a começar, pela:

estória

Cansada, exasperada de tanto esperar que a prefeitura são sebastianense, enfim obedecendo demanda judicial contestada sem êxito, lhes melhorasse, minimamente, a sua precária existência, a população de rua da cidade decide, depois de acalorado debate, protestar.
Mas protestar como? Reivindicar na frente da prefeitura ou da câmara municipal não resolveria já que ambas vêm governando de costas para ela faz tempo e dentro do seu  limitado entendimento, assistência social significa na fala do senhor defensor público, “na maioria das vezes, a entregar bilhetes de ônibus para que as pessoas, em situação de rua, se desloquem para outros municípios”.

Reclamar pro bispo também não adiantaria, haja vista que apesar de bispo ter e muito, porque a maior parte deles está mais interessada em arrecadar dinheiro pra sua igreja do que em ajudar os que tão pouco têm.
Então, essa gente tão repudiada, não enxergada por decretada invisível, se lembrou de que aqueles que se diziam patriotas da nação haviam, várias vezes, ao invés de invocarem a ação desses políticos surdos ou desses clérigos fariseus chegados em barra de ouro, invocarem a força das armas da república, apesar delas serem fumarentas, barulhentas e obsoletas como bem provaram os tanques que desfilaram em frente ao palácio do crepúsculo, perdão, alvorada.
Entretanto, São Sebastião não tem quartel. Tem porém um local cheio de fardados feito médicos, todos luminosamente de branco, os soldados da marinha.
E lá se foi o povaréu de rua, civilizadamente, como povaréu cidadão defronte da entrada da Delegacia da Capitania dos Portos. Para não passar por maior desconforto do que o vivido cotidianamente, entenderam de bom tom levarem seus simplórios pertences.
Num instante a calçada e a rua inteira em frente se atulhou de papelão, colchões velhos, cobertores, carrinhos de supermercado transbordando de tanta tranqueira e duma gente sem banho e muita dela de pele escura e essa gente toda ainda acompanhada por muita cachorrada. Não cachorrada dos aporofóbicos que os querem bem longe, vale esclarecer, mas cachorrada mesmo: cachorros e cadelas sem eira nem beira, sem lar que os queira.

Pois nessa altura a estória se complica e pra simplificá-la, convém pensar em dois diferentes desfechos.

1. A marujada compreensiva se compadece da dor dessa gente que não sai no jornal, mas que interditou a entrada da sua repartição e a própria rua, logo ela, a principal da cidade, a majestosa rua da praia. A PM se solidariza com esses brasileiros e brasileiras sem teto e pão e banho também e estaciona viaturas com farto efetivo para os defenderem dalgum eventual desaforado de mau coração permitindo assim, que a sua manifestação de inconformidade, manifestação essa, totalmente democrática, prospere, demore o tempo que demorar.

2. Bom, esse outro desfecho é com fumaça, tiro, gritaria, xingamento, pancadaria, cadeia e olha lá, uns bilhetinhos de passagem pra outras praças bem distantes dessa são sebastianense e se bobear, bilhetinho pro lado de lá, aquele do qual ninguém até agora voltou. A imaginação desalmada de quem lê, completa o quadro com paleta sombria e mão pesada no pincel.

história

Desde a proclamação do resultado do segundo turno das eleições, um grupo que parece mais ala de escola de samba por estar todo fantasiado de verde amarelo, interditou a rua da praia e dificultou o acesso à Delegacia da Capitania dos Portos. Viaturas da PM que poderiam estar percorrendo a cidade em patrulhamento, ficaram lá estacionadas. Populares que não professavam a mesma fé da turba correram o risco de serem hostilizados. Lá dentro tinha barraca dessas expostas com destaque em loja chique de camping, tinha tenda pra se alimentar, tinha cadeira e espreguiçadeira com fartura e tinha até caminhão zero bala parecendo carro alegórico de tanta bandeira e pano colorido o cobrindo. Podia bem estar de serviço fazendo entrega, mas ficou lá parado com alguém pagando por isso.

À noite, havia iluminação tão potente que muito pouca sombra vivia. Faixas pediam intervenção federal, faixas imploravam apoio do exército; bandeiras brasileiras tremulavam histéricas e no meio da confusão de carnes bem lavadas e alvas, tinha umas de gente que já viveu na infância a ditadura do estado novo e na juventude a ditadura militar. E ainda assim, estavam lá, clamando por ela, a ditadura que por dura sendo de direita ou de esquerda, perseguiu, prendeu, torturou, assassinou, exilou, afrontou, achincalhou, emporcalhou, aviltou e haja adjetivo depreciativo pra tanta infâmia feita.

Há jornalistas, há políticos e, principalmente, juristas, que dão nomes sem rodeios a esse tipo de ajuntamento: manifestação antidemocrática, manifestação golpista, manifestação criminosa. Sim, por incitar crime contra a democracia.

Dizem que os moradores de rua se drogam; pois de que droga se drogam esses que não são sem teto e que se tornam sem, voluntariamente, abrindo mão da segurança das suas casas confortáveis, pra passarem dias e noites ao relento violando o direito de ir e vir dos demais na rua cartão postal de São Sebastião? Iriam continuar ali fazendo barricada, serviçais, esperando uma nova intervenção triunfal do general Benjamin Arrola? Ficariam até a chegada dionísiaca do carnaval, quando finalmente, seus napoleões de hospício e suas vivandeiras alvoroçadas bulidoras de granadeiros se levantariam trôpegas das espreguiçadeiras de praia e desfilariam cambaleantes berrando coléricas a musiquinha sejam patriotas?

Pois então o Ministério Público do Estado de São Paulo determinou a imediata desobstrução da rua da praia depois de mais de uma semana de bloqueio baderneiro.

Aqui a história termina.

Termina?

4 Replies to “carnaval antecipado em São Sebastião”

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    Parabéns, texto muito real da histeria fascista do litoral Norte

  2. Mais uma vez Márcio Pannunzio desnuda o arreganho despudorado de baderneiros “patriotas”, recebendo dinheiro, comida e etc… para fazer esse arremedo de patriotismo às avessas, enquanto os desvalidos são cuspidos da “sociedade”, vergonha.

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