o carnaval que não houve

o carnaval que não houve

coluna de opinião da série viagem pitoresca & histórica ao brasil pátria amada brasil

Márcio Pannunzio, texto & fotos

A nata suprassumo dos negócios insulares, a supimpa regência eleita que zelosa governa num vale a pena viver escalafobético, comemorou com prazer e com pleno direito, o sucesso dum carnaval que não houve.

Sem escolas de samba, sem blocos festivos, sem banho da Doroteia. Sem show cultural de drones perto do meio milhão.

Mas com gente e quanta quanta quanta gente, a quase afundar a ilha numa comemoração seguramente nada carnavalesca pois que nelas faltou samba e sobrou funk, pagode, rock pauleira, sertanejo universitário, sofrência e que tais pelas casas e quintais, pelos bares, botecos, botequins, clubes, boates, danceterias e afins. Marchinhas da família Passos, porém, só mesmo no YouTube.

A Ilhabela Nova Zelândia tão primeiro mundo logo comprando à farta kit covid foi policialesca ao cobrar passaporte vacinal pra inglês ver com a sua câmara das leis querendo é ver de longe, bem de longe. Reafirmando sua autoridade, pela impressa passava um recado de ar intimidatório,  mandando todos todas todes todx se mascararem, mas não de Arlequim ou Colombina ou Pierrot. Em vão.

fila pra quê?

Quem é jovem, acha que é imortal posto que é chama e, incendiando a avenida da princesa, se aglomerou, pouco pudicamente em área pública, todos todas todes todx respirando o mesmo ar de interminável espera duma inolvidável festa, desmascarados, desmascaradas, desmascarades, desmascaradx. Fora do clube de  nome estrangeiro, se perfilavam, pacientes, em fila homérica de beldades que poderiam encantar o mamãe falei, talvez a ponto de o animar a economizar e não viajar para tão longe no ano que vem.

loiras beldades brasileiras

A morte, contudo, tão deslumbrada em sua infatigável contabilidade de defuntos que os terraplanistas reputam menores que as de infarto ou de acidente, pode ser que de quebra leve uma ou outra pessoa desse juvenil agrupamento; talvez, até pais ou avós negacionistas antivacinas bolsonaristas ultradireitistas antipetistas fascistas nazistas anticomunistas dum deles ou delas. E lembrando que na Nova Zelândia ilhabelense abundaram por tudo quanto é canto aglomerações desmascaradas todas reputadas como não carnavalescas, a morte, por leviandade, poderá ainda capinar mais vida desses/dessas que nelas dançaram barulhentos/ barulhentas.

isso não é nada carnavalesco

Aí, ensacada em plástico preto feito lixo, essa antes da hora extinta vida pueril ou vá lá saber, nem tanto, não será nem zelada e muito menos, pranteada. Seu destino é caixão fechado num buraco sem fundo nesse muito mais final de mundo de quase milhão de almas brasileiras que não brilham feito drones em céu de aniversário ou de fim de ano da ilha cidade das mais ricas do Brasil.

Na contagem insular dos boletins covid, essas vidas mortas não se encaixarão por forasteiras. As que falecem na Nova Zelândia plubieditorial não se contam no plural; se escrevem assim: 9 óbito. Esquecendo de outros trinta e oito mortos, como se tivessem sido assassinados  por outro vírus.

no boletim oficial, 9 óbito ( sic ). No da Fundação SEADE – Sistema de Análise de Dados, 47

Essa escolha de veicular informação morta do plural se soma berro numa zoeira que não é carnavalesca e que faz o planeta inteiro zurrar agoniado, cobrando a volta duma normalidade que acabou, sucumbiu, faleceu. A Nova Zelândia litorânea paulista agora novamente inova, largando na frente. Decretou, pela segunda vez, o fim da obrigatoriedade de uso de máscara de proteção facial nos espaços abertos.

Se eram três os cavaleiros airosos na tela da globeleza onipresente nas mentes e nos lares dementes, posando de garbosos galãs, – a fome, a peste e a morte -, agora um quarto a esses se emparelha: a guerra. E haja estômago forte pra assisti-la mais do que novela, mais do que série, mais do que filme supercine, mais do que vício, mais do que febre infernal de covid, mais do que sequela dessa praga a desgraçar sobreviventes que, orgulhosamente, se glorificam na tabela verdolenga dos recuperados, recuperadas, recuperades, recuperadx.

Entretanto todavia no entanto, que não se amolem os que sofrem, se descabelam, se preocupam, alucinam e se desesperam com essas coisas mamãe falei secundárias que nem morte ou doença, pois afinal, carnaval matador no sentido inequívoco dessa palavra, pelo brasil desalmada pátria pária brasil, nem houve; não é mesmo?

inglês, língua da Nova Zelândia tropical

Save the date, em inglês colonizador imperialista, ficou chiquerrímo, debulhando uma frase lacradora peidando perfumosa nesses banners d’avenida vale a pena viver desbundando que, bravateando, nos contaram: na Nova Zelândia tropical, carnaval de fato, só no maio outonal vai haver.

 

 

 

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