Ailton Krenak soa nome estrangeiro.
Ailton é um indígena brasileiro; que bom, que maravilhoso que ele o seja, não se havendo conspurcado naquela cultura de cretinos a arrogantemente exclamarem que “o índio está evoluindo; que o índio é um ser humano como nós”.
Krenak viveu e vive uma tragédia.
O local onde mora foi arrasado pela mineradora Vale no desastre sócio ambiental que antecedeu o ainda muito mais terrível de Brumadinho.
Essa enorme empresa se chamava antes Vale do Rio Doce. Nome poético para quem foi responsável pela matança de centenas de pessoas e pela destruição implacável e imediata do rio que banhava a aldeia de Ailton, logo ele, o Rio Doce.
“O amanhã não está à venda” é um singelo texto de Krenak que deveria, obrigatoriamente, ser lido e relido durante a pandemia do coronavírus.
Agora, no instante em que o comércio insular voltará à ativa após quarenta e oito casos contabilizados de coronavírus e dois óbitos, agora, ao passo que tanta gente se aferra graniticamente na vontade de que a vida recupere o seu antigo curso no pico da contaminação virótica, o pensamento arguto desse líder indígena de fala mansa e serena é luz higienizadora e poderosa em hora doente, demente e trevosa. Época abominável de lideranças idiotas se bostearem na gramática miserável, na completa ausência de etiqueta social e no abissal despautério de elucubrarem hemorroidas inflamadas vomitando bílis em reunião de desgoverno ridicularizada nas TVs do país e mundo inteiro.
As medidas para arrefecer a pandemia que paralisaram a civilização e claro, Ilhabela, bem que poderiam ter feito os seus munícipes refletirem sobre o dia depois de amanhã.
Mas não.
O ardor que incendeia os corações e apateta as mentes dos ilhabelenses que se digladiam incansáveis nas redes insociáveis e nos grupos de WhatsApp ( se esquecendo de que, ao discutirmos com tolos, tolos nos tornamos também ), que berram histéricos e alucinadamente buzinam seus automóveis em carreatas e que a sopapos quebram o silêncio e o decoro do verdejante palácio Prefeitura Municipal Sauna de Cristal Matagada, quer porque que quer que tudo seja como dantes no quartel de Abrantes.
Pois então a construção dos Moais insulares haverá de recomeçar à toda, recém-sepultados tenham sido os seus mortos, envolvendo enorme tempo e trabalho árduo de tantos coitados desde sempre para a riqueza e deleite fácil de tão poucos que vão e vêm voltando à baila desaforada para o exercício autoritário e populista do poder à custa de mercantilizar ilusões de “ilha paradisíaca, ilha das mil maravilhas, capital da vela ( ou será da bisteca? )”.
E de Moai em Moai, não apenas cabines sanitizantes, tendas às dezenas, como também reurbanizações cosméticas milionárias, desapropriações imobiliárias, fartura de caras obras indigentes, drones onipresentes investidos do papel de arcanjo Gabriel e porcariadas sem fim pois inesgotável é a imaginação dos mandatários perdulários da ocasião, Ilhabela se infestará até que todo o resto de inteligência e sensibilidade sobreviventes se escondam horrorizados e desapareçam.
E de Moai em Moai estripando todas as contas, escandalizando todos os tribunais de contas, idolatrando o desperdício e encastelando a ignorância, Ilhabela se fartará e feito a ilha de Páscoa será terra estéril totalmente arruinada.
“Somos piores que a Covid-19. Esse pacote chamado de humanidade vai sendo descolado de maneira absoluta desse organismo que é a Terra, vivendo numa abstração civilizatória que suprime a diversidade, nega a pluralidade das formas de vida, de existência e de hábitos.”
Palavras do Krenak que ressaltou que apesar da humanidade ter parado, a natureza continuou vivendo normalmente.
A flora seguiu crescendo e florescendo e para ver isso, bastava a olharmos da janela.
Essa foto em foco que amarga o paladar dos seus escassos leitores com tanta adjetivação de mau gosto, em contrapartida vai poder encantar seus olhos pelo espetáculo de celebração da vida vegetal nos quintais à vista de ruas que recuperam sua cor e vibração humana.
Veja o ensaio fotográfico completo no https://www.brotos-flores.ilhabelaemfoco.com/