Cinco meses depois, bairros afetados pela catástrofe do Carnaval ainda sofrem com a falta de melhorias

Nesta quarta-feira, 19 de julho, completa cinco meses que o município de São Sebastião foi devastado pela catástrofe ocorrida, principalmente na Costa Sul, durante o Carnaval passado. Na ocasião, foram registradas 64 mortes de pessoas vítimas de escorregamento de encostas. Centenas de casas foram destruídas e famílias tiveram que deixar suas residências que foram para o chão.

Árvore caída obstrui a passagem de motoristas e moradores para o outro lado. Foto: Nova Imprensa

Aos que permaneceram nos seus bairros, os desafios ainda são muitos e a maioria depende do poder público. Caso de um morador, que preferiu não se identificar e que pede ação da Prefeitura de São Sebastião para arrumar o acesso da Avenida Beira Rio, em Boiçucanga.

Segundo ele, é necessário dar uma volta grande para chegar à sua casa. No caminho tem uma árvore caída, uma parte da pista desbarrancada e há risco para quem tenta passar.

Outro morador sugere que a Prefeitura faça a base de concreto no morro e use jato cimentado para segurar a encosta. “Antes da tragédia fizeram um paliativo ao colocarem duas aduelas que não aguentaram a pressão da terra”, disse o morador que também não quis se identificar.

Emerson Messias precisou retornar para fazer as entregas. Foto: Nova Imprensa

Já o motoboy Emerson Messias da Silva, 35 anos, perdeu cerca de 30 minutos ao tentar fazer uma entrega do outro lado da via. “Achei que aqui já estava arrumado para passar, mas vou ter de dar uma volta maior”, reclamou.

Moradora há cinco anos na Baleia Verde, a doméstica Danieli dos Santos Pereira sonha com a pavimentação e drenagem da rua principal. “Quando chove, a via alaga e para sair daqui ou voltar para a casa a gente só consegue ir de barco”.

O comerciante Walli Laurentino dos Santos, 59 anos, acredita que com a construção das 518 unidades habitacionais o bairro deve receber mais atenção. “Esperamos o saneamento básico, colocação de luz nos postes de energia e que façam a pavimentação. A água já estão colocando. Por isso ainda temos esperança de melhorias”.

Para quem viveu de perto o dia fatídico de 19 de fevereiro, como o pedreiro José Firmino, 59 anos, ainda é impossível esquecer o que houve.

catástrofe
José Firmino em sua casa que foi atingida pela catástrofe . Foto: Nova Imprensa

“Minha maior preocupação é que a água do rio agora passa aqui no terreno quando antes passava em um local canalizado. Agora, minha preocupação é que se não for feita nada nessa área onde várias casas foram destruídas, possa ocorrer uma nova tragédia”.

Outros que viveram a tragédia, não acreditam na mudança. “Não acredito que vai ter alguma melhora aqui para nós”, disse um morador do Morro do Esquimó, em Juquehy, que viu um buraco surgir na porta da sua casa na catástrofe. “Os moradores que se uniram para fazer uma passagem, caso contrário, ninguém ia conseguir subir ou descer de casa”.

Moradora há 25 anos no bairro, então conhecido como Vila Queiroz Galvão, a líder comunitária Maria Nilda Oliveira Santos Félix, 54 anos, relatou que espera uma ação mais efetiva da prefeitura para com a comunidade. “Precisamos de saneamento, de fiscalização, assistência por parte da Defesa Civil. Voltei há pouco mais de um mês para a casa porque não podia ficar mais no imóvel dos meus patrões”.

Já Edileuma Souza, 69 anos, ainda teme novos temporais e ventos fortes. “Não sabemos o que pode acontecer com esses morros que derrubou casas e matou quatro pessoas”.

Segundo a Prefeitura, investimentos só poderão ser feitos com a liberação dos royalties

Levantamento feito pelo Prefeitura de São Sebastião aponta que seriam necessários, hoje, em torno de R$ 950 milhões para a recuperação das áreas afetas pela catástrofe de 19 de fevereiro e de outras áreas que sofrem com problemas provocados por escorregamentos de encostas e alagamentos.

Ainda conforme a Administração Pública, em torno de 35 km do município foram afetados com as chuvas do Carnaval. Na ocasião, houve escorregamento de terra em 693 pontos.

Os recursos são para investimentos em drenagens, pavimentação, enrocamentos e contenções em bairros como Boraceia, Barra do Una, Juquehy, Barra do Sahy, Vila Sahy, Cambury, Maresias, Toque-Toque Grande e Toque-Toque Pequeno, Barequeçaba, Topolândia, Olaria, Itatinga, Centro, Vila Amélia, Porto Grande a Cigarras, Enseada, Jaraguá e Canto do Mar.

Há ainda a necessidade de implantação de escolas novas em bairros como Maresias, Juquehy e Barra do Una.

Em relação à Estrada Beira Rio, conforme a Secretaria de Obras, existe procedimento licitatório aberto, em fase interna do processo, para contratação de empresa especializada em serviços de engenharia para realização das obras de contenção do talude e recomposição de via. A previsão é que o procedimento licitatório esteja finalizado no prazo de 45 dias. Após conclusão da licitação, o prazo para execução da obra é de aproximadamente 180 dias.

Ainda conforme a Secretaria, a demora para a realização da obra se deve ao tempo necessário ao desenvolvimento de projetos e à liberação de recursos, por parte da União. A secretaria destaca que, apesar da interrupção e transtornos, a comunidade não se encontra isolada, pois há outro acesso ao local.

Prefeito Felipe Augusto em uma das áreas afetadas pela catástrofe. Foto: Depcom/ PMSS

Já o prefeito Felipe Augusto afirma que grande parte dos transtornos enfrentados ainda pela cidade de São Sebastião, em relação aos investimentos necessários para as pessoas que foram afetadas pelas chuvas, se dá principalmente em razão da não liberação dos royalties – bloqueados judicialmente por Ilhabela.

“O prefeito de Ilhabela está prejudicando a população de São Sebastião. Nosso poder de investimento para recuperar as áreas devastadas pelas chuvas de 19 de fevereiro precisam ser resolvidos com celeridade, o povo não pode sofrer por causa de decisões judiciais que travam um direito de São Sebastião”.

Felipe Augusto salientou, ainda, que Toninho Colucci já foi condenado em cerca de R$ 30 milhões por litigância e má-fé nesse processo dos royalties.

Confira mais fotos da catástrofe

2 Replies to “Cinco meses depois, bairros afetados pela catástrofe do Carnaval ainda sofrem com a falta de melhorias”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *