O diagnóstico do autismo na vida adulta é bem difícil de se conseguir, porém, pode oferecer grandes benefícios e alívio ao autista, impactando positivamente na qualidade de vida.
“Antes do diagnóstico precisamos viver fingindo, disfarçando aquilo que chamam de esquisitices”, explica o youtuber Fábio Souza, diagnosticado com autismo leve aos 35 anos.
A vida antes e depois do diagnóstico
O youtuber, conhecido como Tio Faso, desabafa: “antes de saber que eu sou autista, eu queria morrer diariamente, pois não entendia o que tinha de errado comigo. Não conseguia conviver com as amizades, meu trabalho não funcionava direito, perdia prazos e tudo mais”.
Saber-se autista, entretanto, foi reconfortante. “Quando finalmente descobri quem eu sou de verdade, tudo passou a fazer sentido. Parei de querer morrer e agora vivo em uma eterna caminhada para finalmente me conhecer por completo”, comemora.
Autista filho, autista pai
Os casos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) em adultos cresceu muito nos últimos anos. Porém, não significa que estejam nascendo mais autistas que antes. Agora os adultos autistas estão se descobrindo através do diagnóstico recebido pelos filhos, já que o TEA é genético.
André Vasques, de 51 anos, é dono do canal Papo de Autista e presidente da Associação de Pais do Espectro Autista de Ubatuba (APEAU). Ele confirma que se descobriu autista depois do diagnóstico do filho.
O palestrante conta que em meio a crises e sem ter onde pedir ajuda, assim como Fábio, pensou em desistir de viver. “Quanto mais eu lutava, para ser igual as pessoas ditas normais, mais eu percebia que eu era diferente e não conseguia me encaixar no mundo”, relembra.
Vasques cita ainda que era difícil ser autista na década de 1980, já que “era vergonha para muitos pais nos levar para qualquer convívio social. A falta de recursos e capacitação de muitos profissionais levaram muitos autistas a serem trancados em muitos manicômios pelo Brasil”, lamenta.
“Naquela época, as famílias não tinham informações nem eram acolhidas”, pontua.
Vida normal
Apesar das dificuldades em se encaixar nos padrões sociais, tanto Fábio quanto André encontraram em suas vidas pessoas que os apoiaram nos estudos e assim construíram suas carreiras e casaram-se.
Gisele Bárbara Dantas Vasques, de 45 anos, esposa de André, conta que o casal está junto há 20 anos e atua acolhendo famílias com autistas. “O André é um guerreiro, não conheço uma pessoa igual a ele. Conseguiu superar os seus limites e crises com muito amor”.
E completa: “tenho muito orgulho do homem que ele se tornou e só quem tem um autista vai entender do que estou falando, do quanto é difícil essa superação. O André é muito mais carinhoso e romântico do que eu”.
Como chegar ao diagnóstico do autismo na vida adulta
Embora o número crescente de adultos sendo diagnosticados com TEA, são poucos os estudos disponíveis sobre a saúde mental deste público. Até mesmo os testes são poucos, portanto o diagnóstico mais preciso requer atendimento psicológico, neurológico e psiquiátrico.
Mesmo com o TEA cada vez mais em pauta, ainda não existem exames laboratoriais para o diagnóstico. Então, o autismo é definido a partir de critérios clínicos baseados no comportamento do indivíduo. Dessa forma, mesmo na fase adulta, o profissional irá se basear no modo de agir da pessoa. Há fatores que podem servir como indicadores.
Sinais de autismo
O diagnóstico é fechado através de um tripé de sinais que inclui, ao mesmo tempo, dificuldades de interação social, problemas de comunicação social e comportamentos repetitivos e restritos.
Assim, o autista tem dificuldade para entender metáforas, ironias e piadas ambíguas ou com uma mensagem subliminar; podem apresentar indiferença e pouca empatia com o outro. Bem como dificuldade em perceber sinais de tristeza, raiva, tédio e até de alegria, a menos que sejam bastante óbvias.
Igualmente, não é fácil demonstrar ou receber afeto, interagir com outras pessoas e manter relacionamentos. Podemos notar, inegavelmente, a presença de gestos repetitivos ou expressões verbais atípicas; apego a rotinas e/ou padrões ritualizados de comportamento.
Diagnóstico de autismo na rede pública
São comuns, portanto, os relatos de pacientes mais velhos com dificuldades de acesso aos serviços de diagnóstico e acompanhamento, tanto do âmbito público quanto na rede privada. O SUS, através das Unidades Básicas de Saúde (UBS), podem encaminhar pessoas interessadas no diagnóstico ao atendimento profissional.