ilhabela capital da terra plana

ilhabela capital da terra plana

coluna de opinião da série foto em foco

texto & fotos, Márcio Pannunzio

Preâmbulo

A música enervante desse filminho aí em cima, Gimme that old time religion, tocou esse refrão torturante num filmão: Inherit The Wind, de 1960. Mereceu uma tradução poética: o vento será tua herança. Nesse clipe, Gene Kelly aparece  como ator dramático. Seu personagem é o de um jornalista atilado, impertinente, irreverente que num dado instante solta a máxima inesquecível de Finley Peter Dunne: “um jornal deve confortar os aflitos e afligir os confortáveis”. O ultra super hiper famoso grafiteiro Bansky dela se apropriou e a transformou em “a arte deve confortar os perturbados e perturbar os confortáveis”.

O vento será tua herança baseia-se numa história real. Uma cidadezinha carola contra um professor de ciências que ensinava a teoria da evolução. O coitado é preso e boa parte do filme se passa em tribunal opondo dois atores titãs: Spencer Tracy x Frederic March. Crítica contundente ao Macarthismo, é espantoso que depois de mais de meio século, ele volte à baila na era da insanidade norte-americana sob comando trumpista.

“Aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”. Parece frase chavão de historiador, mas não, seu autor é o filósofo George Santayana. Mas tem historiador bem bem bem mais antigo, por sinal tido como o pai da história, com frase feita tão forte quanto: “pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro”.

Cena chocante no vento será tua herança é aquela em que o reverendo Jeremiah Brown vocifera para multidão numa cerimônia ao ar livre:
“Acreditamos na verdade da palavra? Maldizemos a quem a negue? Pedimos o castigo para o homem que ousou negar a palavra sagrada? Oh! Deus das tempestades e do trovão castiga esse pecador tal como castigaste seus inimigos na época dos faraós.  Mostre o pavor de sua espada, que sua alma por toda a eternidade sofra em angústia! ” Harrison Brady presente, retruca: “reverendo Brown, sei o quanto é ardente a sua fé que o inspira nessa pregação, mas pode ser que tenha exagerado e isso o leve a destruir aquilo que quer salvar e não consiga nada mais que o vazio. Lembrem-se da sabedoria de Salomão no livro dos provérbios: aquele que maldiz a sua casa, o vento será sua herança”.

Mas a advertência foi em vão.

Pelas ruas de Hillsboro marcharam enérgicos, tomados de ódio, fundamentalistas e criacionistas incitando o linchamento do professor que ousou ensinar a ciência; queimaram um boneco que o representava aos gritos e apedrejaram a janela da cela onde estava preso. Ao quebrarem o vidro, machucaram seu rosto pois ele dali observava estarrecido a fúria popular que atropelou sem pejo outro conhecido provérbio:

“Quem age com bondade faz bem a si mesmo, e quem pratica a maldade acaba se prejudicando. Os maus não ganham nada com a sua maldade, mas quem faz o que é direito na certa será recompensado”.

o acontecimento

Na primeira quinzena de fevereiro, o professor César Augusto Mendes Cruz lecionou uma aula sobre o tempo, na escola municipal cívico-militar Senador Major Olímpio norteado pelas determinações de transmissão de conteúdo previstas na Base Nacional Comum Curricular e no Currículo Paulista, ambos adotados pela rede municipal de Ilhabela. Para a grade de história do sexto ano se prescrevia: “História: tempo, espaço e formas de registro. A questão do tempo, sincronias e diacronias: reflexões sobre o sentido das cronologias.”
Parece grego; mas se refletirmos com calma sobre cada frase, vamos perceber que não é nenhum bicho de sete cabeças.
E se, mais pacientes e curiosos, digitarmos esse palavreado meio gongórico no Google, vamos encontrar vários exemplos de aula, todas para a sexta série. Para simplificar, vamos nos ater a um exemplo delas: o da professora Rosana Llopis no colégio de elite do Rio de Janeiro, o Pedro II. Aula de 2020.
Comparando essa aula que, vale destacar, é boa, com a do professor César, não há como não constatar que a dele é superior.
Existem pontos de contato entre as duas; ambas se valem de pinturas expostas livremente ao público de todas as idades em museus dotados de acervos excepcionais e ambas se valem da música de Caetano Veloso, oração ao tempo.
A aula de César é melhor por tornar conhecida para a classe a perspectiva  cultural do tempo Yorubá que representa o tempo como árvore ancestral, o Ìrókò. Ao apresentá-la, valorizou a cultura africana, tão importante na formação da nossa cultura. Também foi muito acertada a sua escolha da pintura que representasse o tempo devorador; Saturno devorando seu filho, de Goya, é uma obra muito, mas muito mais cheia de vigor do que as de Botticelli e Michelangelo mostradas pela professora Rosana.

Voltando ao Google e pesquisando sobre César a gente descobre que ele poderia estar tranquilamente lecionando lá naquele colégio de bacanas, o Pedro II ou poderia ter seguido carreira acadêmica, ter feito doutorado, virado professor universitário. Ou pesquisador. Porque sua formação acadêmica chancelaria qualquer uma dessas escolhas. César formou-se em história pela UNICAMP, Universidade Estadual de Campinas, uma renomada instituição de ensino superior público. Conquistou o título de mestre nessa mesma universidade pela cadeira de História Cultural das Religiões. É membro ativo do Núcleo de História Moderna da UNICAMP, onde trabalha fazendo divulgação científica no youtube, Spotfy e instagram. Fez intercâmbio universitário de história na Universidade de Coimbra, em Portugal. E na Universidad Complutense de Madrid, na Espanha, fez estágio de investigação em mestrado de história. Lecionou no cursinho pré-vestibular Etapa, bastante respeitado em São Paulo. Ensinou história internacional no British College of Brazil. Durante dois anos, foi professor de história no ensino fundamental em Praia Grande. Era professor dessa mesma disciplina na Escola Municipal Cívico-Militar Senador Major Olímpio. Era, porque dela escolheu demitir-se.

A aula de César incomodou alguns pais de alunos e esse incômodo, transbordou das redes sociais onde fermentava e chegou à diretoria da escola.

Não causa espanto que isso tivesse acontecido. O perfil dos pais duma escola cívico-militar é tido por conservador, com propensão a confundir disciplina com autoritarismo. É possível que alguns desses pais possam ser fundamentalistas religiosos, cultores da ditadura, apologistas da intervenção militar defendida com veemência pelos que acamparam em frente aos quarteis. Onze entre dez especialistas da educação, lastimam a existência desse modelo pedagógico que estimula a obediência, a submissão, a conformidade, tolhendo o desenvolvimento da consciência crítica e o florescimento da criatividade.
Parece um contrassenso que um professor progressista, altamente qualificado, como é caso do César, lecionasse ali. Talvez o fato de lá encontrar uma boa infraestrutura, possa explicar essa escolha.

Fato é que seria bem-vindo e bem pago em qualquer uma das escolas particulares da ilha.

Fato é que a escola cívico-militar, ao contar com a sua presença, abrilhantou seu corpo docente.

Fato é que o professor César, progressista e altamente qualificado, respeitou e seguiu o projeto pedagógico determinado a nível nacional e estadual e adotado pelo munícipio. Tinha, portanto, assegurado pelo artigo 206, inciso II da Constituição Federal, o direito de ensinar livremente, sem interferências ou censuras externas. Tinha, portanto, assegurado pelo artigo terceiro, incisos II, III e IV da Lei número 9394, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o direito de proceder como o fez.

Entretanto, no dia 20 de fevereiro, César foi abordado por seis servidores municipais da educação, entre eles, o assessor jurídico, numa reunião tensa, intimidadora, cuja pauta, depois solicitada pelo professor, não foi informada. Por isso, não se pode saber com exatidão o que foi dito naquela sala; mas lembrando do vento será tua herança, não seria despropositado imaginar que César repetisse ali a mesma fala desabafo, carregada de decepção e tristeza, proferida pelo professor do filme, difamado e acossado por uma comunidade reacionária e rancorosa.

“Já não sei mais do que se trata. Tentei abrir a cabeça dos seus filhos, das crianças!  Tentei dar-lhes conhecimento útil. E agora usam isso para me castigar.”

Assim como no filme, havia alunos simpáticos a César que tomaram seu partido e passaram a rivalizar com quem o desmerecia. Essa contenda e a amargura de sentir-se constrangido, machucaram o educador além da conta e incentivaram sua decisão de demitir-se. Não existia na escola ambiente funcional sadio para que continuasse.

Uma reunião da secretária da educação com os pais contrariados aconteceu somente no dia 25 de março e a orientação que lhes foi passada foi a de denunciassem o professor César em outros órgãos públicos; uma atitude que que estimulou a continuidade da hostilidade que ele vinha sofrendo e endossou o acerto da sua decisão de demitir-se. Afinal, como poderia continuar a lecionar sem contar com o apreço da direção da escola e o da secretaria municipal da educação?

Movimenta Ilha, Coletivo Popular da Educação de Ilhabela, Apeoesp – Sindicato dos Professores da Educação Oficial do Estado de São Paulo, Associação Nacional de História … choveram entidades para se perfilarem em defesa de César nas redes sociais. E rapidamente, políticos celebridades gravaram depoimentos no instagram, facebook, Youtube defendendo César e condenando as autoridades de Ilhabela que o interpelaram.

 

Em março deste ano, o movimenta ilha, rede articulada da sociedade civil formada pelo agrupamento de dezenove organizações e coletivos, publicou uma cartilha no seu instagram criticando a educação municipal de Ilhabela.

O que teria desencadeado a revolta dos pais é apontado como a pintura de Goya. Todavia, não se deve descartar que além disso e até mesmo, antes disso, poderia ter havido uma outra motivação que não foi enunciada. A cultura Yorubá é muito antiga; de origem africana, rica e complexa, teve papel relevante na formação da cultura brasileira, influenciando nossa linguagem, arte, culinária, mitologia e religiosidade. E justamente esse último elemento poderia ser o responsável pela beligerância dalguns dos pais na forma duma reação preconceituosa a uma religião afro-brasileira, o candomblé, uma vez que, possivelmente, eles poderiam ser membros de movimentos neopentecostais que estigmatizam essa religião.

A Lei nº 7.716/1989 classifica como crime a discriminação religiosa, incluindo ataques contra religiões afro-brasileiras; a pena é reclusão de um a três anos e multa. Fora essa lei, outras duas versam sobre o racismo religioso, a Lei nº 9.459 de 13 de maio de 1997 e a Lei nº 12.288 de 20 de julho de 2010 ( Estatuto da Igualdade Racial ) que elenca medidas para combater o preconceito contra as religiões de matriz africana.

É certo que esses pais indignados não saíram marchando coléricos pela avenida Princesa Isabel em protesto como fizeram os fanáticos do vento será tua herança. Não saíram a campo, corajosos, imbuídos da certeza de estarem agindo em defesa de si mesmos e da cidade que habitam, como saíram ocupando essa avenida e parando o trânsito, os caiçaras revoltados com a extinção do Resex da Baía de Castelhanos por força de lei criada numa penada do executivo e aprovada a jato pela Câmara Municipal de Ilhabela no dia 17 de agosto de 2022.

Esses pais foram às redes sociais e lá iniciaram o processo de fervura, de difamação, de assédio moral do professor César como tem acontecido com a reputação duma infinidade de gente desde que se escancararam as portas do inferno ou as comportas do esgoto naturalizando os discursos do ódio no Brasil e no mundo.

O caso é escandaloso pelos seus desdobramentos que já poderiam possivelmente listar, desrespeito ao direito de ensinar, censura à cultura, intolerância religiosa, assédio moral.

Mas aqui é Ilhabela, foi dito na tribuna da Câmara Municipal de Ilhabela e o escândalo escalou mais um degrau.

“Eu tenho 44 anos. Graças a Deus, fui muito bem-educado pelos meus pais. Eu nunca vi um professor fazer isso com crianças de 10 anos. O histórico desse professor, o senhor César, é de onde ele passa, ele tenta causar. Então acho que a gente precisa, vereadora Nalva, pendurar uma melancia no pescoço desse indivíduo, porque aqui é Ilhabela, aqui ele não vai fazer o que está acostumado a fazer por aí para fora. Eu queria expor esse assunto. É um assunto triste, mas tem que todos vocês têm que tomar ciência. E a câmara de Ilhabela não vai deixar esse fato passar desapercebido. ”

Com essa fala, proferida na tribuna, vereador bolsonarista conclamou seus pares, às 20 horas e 17 minutos, na sessão ordinária do dia 8 de abril, a transformar, com sanha punitivista, a câmara municipal de Ilhabela num tribunal de Hillsboro. Ele já faz o papel do acusador. Resta-nos perguntar qual dos vereadores ou vereadoras tomará a si a tarefa da defesa.

O crime do professor? Ter mostrado pra criancinhas uma foto da pintura de Goya, Saturno devorando seu filho. Uma vez que o edil não garante saber de história e pelo visto, nada deve saber de história da arte, não seria descabido pensar que tenha confundido Saturno com o Comunismo, o monstro comedor de criancinhas e por isso ficou furibundo.

Mas não. Os motivos ele buscou na wilkpedia, logo no primeiro dos resultados de pesquisa no Google, “Saturno devorando seu filho Goya”. A análise da wilkepedia é uma mistureba de citações desvinculada de contexto; um emaranhado de descrições confusas acompanhadas de juízos sem lastro.
Tanto é que o vereador bolsonarista se confundiu e citou outro quadro que estava na mesma casa em que havia o Saturno: Judite e Holofornes. As palavras impotência sexual, banquete libidinoso, unir sexualmente, presentes no texto desconexo foram proferidas numa estridência irritadiça.

Esse quadro está desde 1889, o ano da proclamação da nossa república, no museu do Prado. Foi visto por uma infinidade incontável de criancinhas e é certo que nenhuma delas foi comida. Esse quadro ilustra milhares de livros de arte e está na internet, espalhado, ao alcance da vista de gente de todas as idades.

Pela sua complexidade, nem caberia destrinchá-lo neste texto que se torna prolixo e esse adjetivo até faz graça infame, -pro lixo- , porque por tão comprido, talvez ninguém o leia até o final e ele seja inútil, vire um lixo.
Pra evitar esse risco iminente, convém simplificar. Assim, é preciso enfatizar: a melhor interpretação é aquela que o professor César escolheu e ela é a costumeiramente aceita: o quadro é uma alegoria do tempo; o tempo devorador da vida. E não é desse jeito mesmo? O tempo devora nossos anos. No correr do tempo, nossa vida se esvai.

Goya é um gigante da arte. Que maravilha que crianças de dez anos possam conhecê-lo. Viveu num mundo em ebulição, onde o iluminismo empreendia corajoso esforço para afastar as trevas da ignorância, da superstição do preconceito. Goya pode ser considerado um precursor da arte engajada. Se ele nos mostra o feio, o disforme, o medonho, não o faz para nos aterrorizar, mas para nos conscientizar da feiura do mundo e da necessidade de, pelo uso da razão, superarmos as adversidades no caminho da construção duma sociedade livre da estupidez, da leviandade, da bestialidade, das guerras, da desumanidade.

O dado curioso da pintura do Saturno é que Goya a pintou para si. Pintou na parede da sua casa, a Quinta do Surdo, e Goya ficou surdo em 1792, vivendo surdo até morrer em 1828. O Saturno foi pintado juntamente com outros treze murais. A Quinta foi passando de dono em dono zeloso, – por preservarem esses murais-, até ser comprada em 1873 pelo banqueiro francês Frédéric Émile d’Erlanger. A quem a humanidade deve ser bastante grata pois ele, percebendo o valor das obras, contratou o melhor profissional da época para transferi-las para telas e depois doá-las para a glória do Museu do Prado.

Além de um pintor fantástico, Goya foi um gravador magistral. Democratizou sua arte através da gravura, a espalhando generosamente. Tanto que até bem pertinho da ilha podemos vê-la presencialmente, no Museu de Arte e Cultura de Caraguatatuba, na exposição “Loucuras anunciadas – Francisco Goya”, mostrando vinte gravuras originais da série disparates. Ela antes transitou pelas Caixas Culturais sem que ninguém movesse cruzada pela sua interdição. Mas como aqui é Ilhabela, seria oportuno alertar os seus organizadores a desviarem daqui na sua itinerância para evitar qualquer aborrecimento.

Humanistas, iluministas ilhabelenses podem visitar essa exposição no museu da cidade vizinha a partir do dia 19 de maio. Juntamente com outras três, ela celebra o aniversário do munícipio.

Pena que entre essas vinte gravuras não tem el sueño de la razón produce monstruos. Uma sua reprodução faria bela presença na parede da câmara municipal, ofuscando o iracundo Moisés de inox postado nos jardins da casa da princesa. Segurando a tábua dos dez mandamentos com uma mão e com a outra um ameaçador gigantesco cajado, deve ter posto pra correr muita criancinha assustada.

Ao nomear o professor que deveria por sua recomendação, andar com melancia pendurada no pescoço, o vereador bolsonarista se esqueceu do final do seu sobrenome: Cruz.

Coincidentemente, Cruz é o nome duma cidade bem distante da aqui é Ilhabela, Tá lá no Ceará. Tem menos de trinta mil habitantes e para orgulho geral deles todos, em 2021, teve nota 9 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Gastando R$ 7.012,23 por aluno/ ano.

O IDEB da aqui é Ilhabela no sul maravilha foi nota 5,9.

E o valor do gasto por aluno na aqui é ilhabela? Pra ser fidedigna, conviria que essa informação nos fosse dada por um documento público de veracidade irrecusável. Esse documento existe e além de nos informar o valor desse gasto, nos conta que:

“Tampouco avançaram as políticas na seara do Ensino, já que, a despeito do atendimento formal dos índices financeiros de aplicação, o desempenho insatisfatório no i-Educ, com repetição do conceito C, evidencia descompasso entre as atividades adotadas e aqueles horizontes almejados pelo Plano Nacional de Educação do decênio 2014/2024.

Do ponto de vista quantitativo, verifica-se que o Município ostentava, no exercício em exame, 6.478 alunos vinculados a sua rede de ensino, investindo R$ 22.122,37 por estudante, cifra 8,68% inferior àquela aplicada no ano antecedente (Investimento em 2020 = R$ 24.225,63), porém 80,04% maior do que a média apurada nos Municípios Paulistas jurisdicionados desta Corte (R$ 12.281,72).

Apesar desse investimento tão relevante, análise sobre as informações disponibilizadas pelo IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica11 demonstra que não foram atingidas as metas pactuadas para os anos iniciais do ensino básico, levando em conta o último exercício avaliado.

Os dados da tabela do IDEB deixam patente que o alunado de Ilhabela não consegue avançar qualitativamente nos resultados das provas seriadas, evidenciando-se que, à exceção do ano de 2017, há desvio negativo em todos os exercícios anteriores, o que destoa do objetivo fixado pela Meta 7 do Plano Nacional de Educação vigente e não pode ser tributado exclusivamente aos efeitos da pandemia.

Respostas validadas pela inspeção indicaram deficiências na relação com os pais dos estudantes e no levantamento da necessidade de vagas na rede, pendência na conclusão de obras e regularização do AVCB, falta de acompanhamento dos reparos em curso, inadequações nas cozinhas escolares e falta de participação efetiva dos conselhos da sociedade civil (Meta 19 do PNE).

Na gestão do corpo funcional, observou-se que parte dos professores não possuía formação específica em sua área de atuação (Meta 15 do PNE), que não foi estatuído um programa de inibição ao absenteísmo docente e que a  Municipalidade se vale de contratações que deveriam ser temporárias como a principal forma de provimento dos cargos de professor, estratégia que precariza o desenvolvimento de projetos educacionais de médio e longo prazos e desvirtua os princípios do acesso aos cargos públicos pela via do concurso e da excepcionalidade que deve marcar as admissões a termos (art. 37, incisos II eIX, da CF/88).

O déficit de 428 vagas em creches representou desatendimento de quase 30% da demanda e afronta ao art. 208, inciso IV, da Constituição Federal, tudo desaguando em ofensa aquelas garantias de acesso e qualidade elencadas no art. 206 da Lei Maior.

O cenário exposto reforça a necessidade de ações concatenadas de governos e sociedade para garantir o acesso à escola, a permanência estudantil e o efetivo aprendizado, donde deverá o Poder Público atuar na busca ativa e no retorno dos estudantes ao ambiente educacional, valendo-se, dentre outras fontes, das estratégias divulgadas por esta Corte na cartilha “Todos na Escola”, desenvolvida com a colaboração do Comitê Técnico da Educação do Instituto Rui Barbosa em parceria com a UNICEF.”

O problema é que essa informação está dentro do Relatório do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo que recomendava a desaprovação das contas de 2021 de Ilhabela e que foi ignorado pela comissão de finanças e orçamento da câmara municipal. Em parecer relatado e assinado pelo vereador bolsonarista.

Se a penalização por mal ensinar é pendurar melancia no pescoço do denunciado, conforme foi a sugestão feita pelo vereador bolsonarista para a vereadora Nalva, haja melancia pra pendurar em tantos pescoços se houvesse a nobre intenção legislativa de fiscalizar encontrando os responsáveis por esse desempenho ruim. Uma nota que é quase metade da nota duma cidade que gastou menos de um terço do que aqui é ilhabela gastou. Vai ver a culpa é do professor César que apavorou as criancinhas da aqui é ilhabela e daí prejudicou a nota da aqui é ilhabela no IDEB, no I-Educ. Culpando ele, precisa duma melancia só. Se bem que as notas e gastos em questão são de 2021 e o César só quis aparecer, causar na aqui é ilhabela em 2025. Bom, mas isso é só um detalhe sem importância. Desses que podem passar despercebidos.

Na sessão ordinária e extraordinária da câmara municipal de Ilhabela do dia 22 de abril, às 20 horas e 48 minutos, o professor César Augusto Mendes Cruz subiu à tribuna para explicar, em cinco minutos, sua situação de forma serena. Após a descrição dos acontecimentos, concluiu:

“Não estou aqui para travar guerras. Estou aqui para exigir respeito, respaldo e condições dignas de trabalho para mim e para todos os servidores e servidoras da educação. É urgente que essa casa se posicione não como palco de linchamentos morais, mas como guardiã dos direitos constitucionais à educação e à liberdade de ensino. O tempo nos dirá. ”

No mesmo dia, o vereador bolsonarista publicou no seu Instagram um vídeo onde avisava: “vamos ver quem realmente está falando a verdade”. Reiterou que o professor usou ”imagens indevidas para a sala de sexto ano da escola cívico-militar” e informou que nas próximas semanas seriam aprofundadas as investigações sobre o caso na câmara.

E assim, ao que parece, pela determinação que o verador bolsonarista insinuou ao reprisar em sua publicação o “uso de imagens indevidas”, a câmara daqui é Ilhabela poderá prosseguir para crucificar o Cruz.

Nos quadros finais do o vento será tua herança, figurões de Hillsboro dizem ao pé do ouvido do juiz que a coisa tá desandando, que a imagem da cidade tá ficando suja, que vão perder votos, que podem perder o poder … E o juiz então, alegando que o caso é inédito, sem jurisprudência, sentencia libertar o professor ao custo duma multa simbólica.

Pode ser que esse circo, melhor dizendo, procedimento contra o César, não vá longe na câmara da aqui é Ilhabela. Se for e o castigar, talvez fosse oportuno que a câmara da aqui é Ilhabela criasse uma nova lei, diante da repercussão nacional que a notícia considerada bizarra granjearia sob o escrutínio da razão que, felizmente, ainda vigora no resto do país. Promulgasse nova lei não  pra mudar nome da cidade que nem na Saramandaia da Globo, mas para mudar o slogan dela. De capital da vela pra capital da terra plana.

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