Dois homens, dependentes químicos, um de 38 e outro de 42 anos, agrediram seus respectivos pais, já idosos, e acabaram presos em Caraguatatuba. Os dois casos foram concluídos nesta quarta-feira (29).
O delegado responsável pela Delegacia da Mulher, Criança e Idoso (DDM), Dr. Victor Falcão, relatou ao jornal Nova Imprensa que nos dois casos, que aconteceram no mesmo dia, o agente motivador da violência doméstica foi o uso de drogas.
Idosos vítimas de violência doméstica
Um dos casos aconteceu no bairro Massaguaçu, onde as vítimas, um casal de idosos de 70 e 69 anos, compareceu à delegacia, denunciando seu único filho. Eles narraram que depois de divorciar-se, o filho teria voltado a morar com eles, depois de constantes episódios de violência doméstica do filho contra sua ex-companheira, tendo sido, inclusive, preso em flagrante na época.
As vítimas informaram que além da recorrente agressão física, o filho roubava objetos da casa para trocar por drogas e ainda os ameaçava.
As vítimas não possuem família na cidade, tampouco habilidade com aparelho celular para acionar a Polícia Militar, o que os deixou em situação de maior vulnerabilidade. Foi feito um boletim de ocorrência por ameaça.
No final do dia, o casal de idosos retornou à DDM, desta vez conduzidos pela PM, informando que o filho havia voltado para casa e tentado agredi-los novamente, porém,
alguns vizinhos interviram. A polícia informou que encontrou as vítimas em estado de choque e que o suspeito havia fugido. Um vizinho o seguiu e o trouxe de volta de moto. Ele foi preso por lesão corporal qualificada.
A mãe di suspeito passou mal e foi conduzida ao hospital. Os idosos solicitaram Medida Protetiva e o filho, por não ser réu primário, ficou à disposição da justiça sem direito à fiança.
Incêndio na casa
Na segunda ocorrência, no Perequê Mirim, região Sul de Caraguatatuba, os pais, de 64 e 69 anos, compareceram à delegacia informando que seu filho de 38 anos, usuário de drogas há mais de dez, havia incendiado a casa que moravam.
A mãe relatou que seu filho começou a usar drogas na cozinha da casa. Ela havia então pedido para que saísse, usasse em outro local. No entanto, ele teria se alterado, quebrado o vidro do armário e jogado uma cadeira em direção da mãe.
Ela então saiu da cozinha para pegar o celular e acionar a Polícia Militar e quando retornou ao cômodo, o local já estava em chamas. Ela e o marido correram para a casa de vizinhos. O suspeito já havia fugido.
Os idosos foram conduzidos à DDM para registro do caso e informaram que as agressões são constantes. O filho já tem passagem criminal por roubo, tendo ficado preso durante 10 anos.
O Instituto de Criminalística e a Polícia Militar foram até a casa e durante a realização da perícia, ouviram barulhos no imóvel aos fundos e ali localizaram o suspeito. Segundo os policiais, durante a contenção do filho, ele gritou que iria matar seu pai.
O agressor acabou preso, sem direito a fiança, pelos crimes de lesão corporal qualificada, pela violência doméstica tentada, ameaça consumada por duas vezes, em face das duas vítimas, e incêndio qualificado.
Em ambos os casos, o delegado converteu a prisão em flagrante em preventiva.
Dependência química como agravante
“O problema das drogas em nossa sociedade e, em especial, em nosso município é algo muito grave e que está alastrado, atingindo milhares de famílias”, afirmou o delegado.
“Além de fazer mal ao próprio usuário, prejudicando sobremaneira sua saúde, fazendo-o perder seus bens e emprego, desmanchando relacionamentos, com o passar do tempo e o aumento do vício, passa a ser um perigo e uma ameaça até dentro de casa, chegando, ao final, a destruir famílias”, lamenta.
Ele orienta que as pessoas próximas devem estar sempre vigilantes para com seus parentes dentro de casa, em especial aqueles que encontram-se sem trabalho, sem relacionamento amoroso fixo, com horários irregulares de entrada e saída da casa.
Ele pede ainda toda atenção para comportamentos que se alteram rapidamente, que vão do bom humor ao estresse e agressividade em horas. Outra observação é se a pessoa tem o hábito de se trancar por muito tempo no quarto ou no banheiro, sem muita justificativa.
Com a piora do quadro, tem-se que notar se há desaparecimento de objetos e equipamentos em casa, já pode ser um sinal de que a pessoa está num grau alto de dependência e furtando para trocar por entorpecentes.
“Começam os confrontos dentro de casa, em que o usuário passa a ser um agressor. Não aceita conselhos, se irrita com todos, chega a ameaçar, agredir, exige dinheiro. Chegamos ao fundo do poço”, declara.
“Estes dois casos muito semelhantes vividos aqui na DDM esta semana me sensibilizaram bastante. Em ambos, as vítimas eram senhores e senhoras de idade avançada, que não tinham forças para enfrentar seus filhos, sendo agredidos e violentados por eles. Ambos admitiram o consumo excessivo de drogas ilícitas, demonstrando que estavam no fundo do poço, sem ter controle sobre si”, lamenta o delegado.
Ele aconselha aos parentes próximos, que devem observar os primeiros sinais e de início tentar manter um diálogo aberto, oferecer ajuda e principalmente procurar ajuda. “Há centros de tratamento, grupos de apoio não só ao usuário, mas à família do dependente, que também precisa se tratar e se fortalecer para poder enfrentar o problema. A droga é uma doença que ataca toda a família’, concluiu Dr. Falcão.
O boletim de ocorrência de violência doméstica pode ser feito online aqui.