Violência doméstica pode ser denunciada online

Casos de violência doméstica podem ser denunciados online durante quarentena, informa a Polícia Civil. Embora a vítima possa ter maior dificuldade para denunciar, qualquer pessoa pode fazer um boletim de ocorrência online ou chamar a Polícia Militar, através do 190.

Dr. Victor Falcão, responsável pela Delegacia da Mulher de Caraguatatuba, informou que neste período com maior contato familiar e doméstico, o número de registros verificados diminuiu.

Números

“Houve uma queda de 50% de casos registrados na DDM, delegacia eletrônica e em outras delegacias/plantões, desde o início da quarentena, em relação ao mesmo período no ano passado”, salientou.

Porém, a violência doméstica existe. O delegado conta sobre uma tentativa de feminicídio no bairro Perequê Mirim, no final de janeiro, em que um homem de 47 anos esfaqueou a ex-companheira de 33 anos, a princípio por ciúmes.

Foram mais de 10 facadas, surpreendentemente, na presença dos filhos menores do casal. A mulher se fingiu de morta para que ele parasse. Em abril ele foi preso e aguarda julgamento.

O delegado, no entanto, considera que exista dificuldade para denunciar, já que no isolamento social o agressor fica mais em casa, mas ainda assim se mostra otimista.

“Quero crer que o convívio familiar mais próximo tenha ajudado a estreitar laços e melhorar as relações. Também o fato de bares e congêneres estarem fechados, diminui o consumo de bebidas, que muitas vezes influenciam na ocorrência de violência doméstica”, avalia.

Delegado Dr. Victor Falcão - DDM Caraguatatuba
Delegado Dr. Victor Falcão – DDM Caraguatatuba

Semelhantemente, para Dr. Victor, a queda de um número considerável de turistas pode ter refletido nesta estatística. “Muitos casos de agressão são frutos de pessoas de fora e que acabam abusando do álcool e perdendo o controle, gerando brigas”, explica.

Ferramentas de denúncia de violência doméstica

Falcão lembra que todas as unidades de Polícia estão funcionando normalmente, assim como o registro de ocorrência eletrônica pela internet (clique aqui). E o disque denúncia, no 181.

Em 24 horas os boletins de ocorrência eletrônicos são analisados, validados e tomadas as primeiras providências. “Importante ressaltar para a população que opte pela elaboração do boletim eletrônico, ou seja, evitem comparecer à delegacia, local com grande circulação de pessoas, onde a propagação do vírus Covid-19 pode ser mais intensa”, orienta.

Ele orienta que no momento do registro da ocorrência, tanto eletrônica, como presencial, “é importante que a vítima já indique os elementos que dispõem que comprovem a violência doméstica, como citar o nome de testemunhas, encaminhar mensagens que contenham ameaças, fotos, vídeos, e tudo o que for possível para demonstrar que o crime ocorreu, possibilitando uma apuração mais célere e a responsabilização do agressor”.

Apoio psicológico é primordial

Todas as ferramentas necessárias para que a mulher denuncie seu agressor estão disponíveis: site, telefone, aplicativo, segundo o delegado Seccional de Polícia do Litoral Norte, Múcio Mattos Monteiro de Alvarenga.

“Porém, o lado psicológico da mulher precisa ser cuidado também, já que existe o fator emocional, uma história juntos, filhos. Sobretudo a ligação passional com autor da violência e que não há em outros tipos de delitos”.

“A mulher não tem uma ligação emocional com o traficante, com o ladrão. Só que com aquele homem que a agrediu, ela tende a justificar a violência com as bebidas, problemas de ordem financeira. A mulher olha para o homem e acredita que ele vai mudar, porém, a pessoa não muda e ainda é capaz de constituir outra família e fazer da nova esposa outra vítima”, explica o delegado.

Ele afirma que esta é uma questão cultural, que deve ser tratada desde a infância, afinal, a criança vê o pai batendo na mãe e vai crescer com com uma visão deturpada de relacionamento. Ou ela será uma mulher que acha que ser espancada é normal, ou se tornará um homem que agride a esposa, porque é normal.

Então, enfatiza Dr. Múcio, “não é apenas denunciar um crime de violência doméstica, mas empoderar a mulher de si mesma, cuidando do seu lado emocional, esclarecendo o quão vítima ela é, para que a mulher não se sinta envergonhada, diminuída ou principalmente culpada por denunciar um homem que a agrida. Através de terapia em grupo, mudar sua mentalidade, devolver sua autoestima e seu valor próprio”.

Por outro lado, o homem não vai mudar seu comportamento violento se também não passar por medidas socioeducativas. “É necessário é um tratamento psicológico para que seu comportamento pare de se repetir”.

Classe social e estudo não evitam casos de violência doméstica

Importante salientar que isto não acontece apenas com pessoas simples e sem muita instrução. O delegado explica que “um caso que ilustra bem é de um casal de advogados, em que a mulher foi vítima de violência doméstica e não conseguia desvencilhar-se emocionalmente de seu agressor”.

“É preciso urgentemente de uma mudança cultural, de apoio psicológico. Se a vítima não está preparada em suas emoções, ela volta à delegacia no dia seguinte para retirar a queixa de violência doméstica”, conclui.

 

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