Taí. A prefeitura de Ilhabela, logo no momento em que a curva de contaminação do vírus se verticaliza, afrouxou as medidas de isolamento social liberando com restrição várias atividades comerciais.
Segue o exemplo da vizinha São Sebastião.
Ao que tudo indica, cedendo à pressão de parte do empresariado local. Esse que faz a contabilidade do seu lucro ignorando a contabilidade da falência da saúde do município que pode resultar em inúmeros infectados e até mortos.
É evidente que essas atividades liberadas não funcionam sem a presença dos seus trabalhadores.
Eles que agora estavam em suas casas, vão ser obrigados a se deslocarem pela cidade até o local onde vão exercer o seu trabalho.
Esse movimento, sem dúvida, implica numa maior presença das pessoas nas ruas e no estímulo a que outras mais façam o mesmo e saiam de suas moradias para o sol e o frescor do ar livre.
Esse comportamento contraria o que dizem enfáticos os maiores especialistas do coronavírus e o governo do estado de São Paulo.
Mas nossas autoridades municipais não os ouvem; não leem o que eles escrevem.
Como não vão ler essas linhas, infelizmente lidas por poucos leitores.
Apesar disso, é preciso dizer; é preciso escrevê-las preservando essa escrita para o futuro que se divisa em breve, quando essa pandemia passar.
Daqui alguns dias essa coluna estará fora dos destaques do Nova Imprensa mas continuará visível ao olhar dessas autoridades todas: vereadores, prefeita, juízes, secretários municipais e associações de classe de comerciantes e empresários.
Se até lá tiver sido registrado um número maior de infectados; se por desventura um desses vier a falecer ou vários, o ministério público não imputará a culpa nem dessas contaminações e nem dessa morte ou mortes aos que, prematuramente, contrariando o parecer de cientistas renomados e do governo do estado de São Paulo, relaxaram a proteção dos ilhabelenses.
Mas outra será a história se olharmos pelo olhar dos que sobreviverem à perda do seu ente querido; seus familiares e amigos.
Esse morto pode ter sido o servente que voltou à obra. Enquanto seu cauteloso proprietário se mantinha confinado no conforto da sua casa.
Ele pode ter sido o familiar idoso que se contaminou pela contaminação desse servente.
Nesse exercício macabro podemos substituir o substantivo servente por manicure, barbeiro, balconista, comerciário; enfim, qualquer um desses moradores que agora saem à rua forçados a voltarem a trabalhar em socorro duma economia falida.
Obrigados a saírem das suas casas por alguns empresários inconformados com sua perda de dinheiro e pelo poder executivo da cidade, com a concordância da imprensa lambe botas, do poder legislativo e do poder judiciário.
Essas autoridades todas que consentiram com essa medida de afrouxamento, ao menos as que forem verdadeiramente empáticas ao sofrimento daqueles seus irmãos que, apesar de o serem, tão diferentes o são porque pobres ou mal informados, quem sabe leiam o que aqui vai permanecer escrito.
E se mortifiquem pela dor dos que ficaram.