Por Mara Cirino
O banhista que quiser saber a qualidade de uma praia no Litoral Norte em relação à presença de lixo, agora tem a oportunidade por meio de um boletim criado pelo Instituto Argonauta e o Aquário de Ubatuba.
O Boletim do Lixo nas Praias foi lançado neste mês e o objetivo é fazer uma classificação desde as mais limpas às mais caóticas. A coleta é diária e os dados serão disponibilizados no dia 10 de cada mês.
Nesta primeira avaliação foram analisadas, em novembro, 15 praias em Caraguatatuba, 57 em Ubatuba, 31 em São Sebastião e 29 praias em Ilhabela.
A situação mais preocupante foi em Caraguatatuba onde sete delas apareceram como Inaceitável – amplamente distribuído com algumas acumulações – sendo elas Camaroeiro, Indaiá/Centro, Pan Brasil, Palmeiras, Flexeiras, Romance e Porto Novo. Nos outros municípios elas aparecem sem lixou ou traços.
Iniciativa
A ideia surgiu da necessidade de informar e sensibilizar moradores, turistas e gestores públicos acerca do estado de contaminação das praias no início da temporada de verão e da necessidade de mobilização da sociedade civil e governos para reduzir o problema.
“Acontece que, apesar de um aumento da preocupação e da veiculação de diversas notícias sobre o tema, na prática ainda observamos uma enorme quantidade de lixo indo parar nos rios, praias e mar da região e o que é pior, afetando diretamente a fauna marinha”, diz o criador da ideia do boletim, o oceanógrafo Hugo Gallo, presidente do Instituto Argonauta e diretor do Aquário de Ubatuba.
A bióloga Carla Beatriz Barbosa, diretora executiva do Instituto Argonauta e coordenadora do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) na região ressalta que de 2.600 animais encontrados mortos e necropsiados pelas instituições, 48% apresentaram alguma interação com o lixo marinho. Essa análise é desde 2015 quando o projeto foi implantado no Litoral Norte.
Inspirado no Boletim de balneabilidade das praias editado pela Cetesb e que avalia que dá a qualidade da água nas praias no litoral de São Paulo medindo os coliformes, o Boletim do Lixo nas Praias se utiliza de uma metodologia científica adaptada à essa realidade intitulada Aquatic litter, management and prevention—the role of measurement publicada no Journal of Coastal Conservation e estabelece quatro padrões de classificação das praias que vão da mais limpa até a caótica.
Para a bióloga Natalia Della Fina, gestora executiva do projeto, “o referido trabalho poderá servir como referência tanto para um turista ou morador local que quer ir a uma praia e saber qual o estado de limpeza da areia, como para um gestor municipal direcionar os esforços na limpeza e na colocação de lixeiras”.
Ainda conforme ela, “auxilia também para uma análise mais profunda do problema através da elaboração de artigos científicos que estão em andamento e que serão publicados ainda neste próximo ano”.
Desde 1997 o Aquário de Ubatuba mantém uma campanha contra o Lixo no Mar em parceria com o Projeto Tamar e, posteriormente, com o Instituto Argonauta. “A partir do pioneirismo desta iniciativa, diversas linhas de atuação foram adotadas, sempre no intuito de alertar a população sobre os impactos no meio ambiente, na saúde e até na economia das quatro cidades do Litoral Norte – Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela – baseada, principalmente, no turismo de praia”, destaca Hugo Gallo.
Dentro das últimas iniciativas do trabalho, estão a coleta diária de lixo nas praias pela equipe do Instituto Argonauta, com apoio do Aquário de Ubatuba que cede as sacolas, recolhendo sistematicamente os resíduos, sendo 22 toneladas nos últimos 30 meses e que fornecem dados para o que os pesquisadores estão chamando de um raio-x sobre o lixo nas praias do Litoral Norte.
Outra iniciativa recente foi a construção de uma árvore de Natal toda feita com lixo marinho para sensibilizar moradores e turistas.
Os dados sobre a qualidade do lixo estarão disponíveis online no facebook do Instituto Argonauta e pelo site www.institutoargonauta.org.