Dois anos do desastre de São Sebastião: Famílias seguem reconstruindo a vida

A família de Eliane Andrade de Oliveira, 45 anos, foi uma das afetadas pelas enchentes e deslizamentos de fevereiro de 2023 em São Sebastião. Só na Vila Sahy, onde ela morava, 64 pessoas morreram e 2 mil ficaram desabrigadas após o desastre.

Dois anos depois, ela mora com os filhos Paulo e Guilherme num apartamento de dois quartos no conjunto habitacional Baleia Verde, entregue pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU). Depois do trauma, Eliane conta que agora reconstrói a vida com tranquilidade e em segurança.

“Eu tinha passado por uma tragédia. Quando vi o canteiro de obras do prédio, ainda em 2023, quis saber tudo para conseguir ficar mais calma. Fui atendida com paciência pelos engenheiros e consegui ficar mais tranquila”, relembra Eliane. “Não tínhamos segurança e confiança para continuar na Vila Sahy. Agora, quando começa a chover, consigo dormir em paz sabendo que é um lugar seguro e adequado. Foi difícil, mas agora está tudo bem.”

Mais de 700 moradias do Litoral Norte já foram entregues pelo Governo de São Paulo após as chuvas extremas durante o Carnaval de 2023. Além do residencial em Baleia Verde, com 518 apartamentos, a administração paulista entregou também 186 moradias em Maresias, também em São Sebastião. O investimento do Estado totalizou R$ 260 milhões nos dois empreendimentos.

As obras já começaram na Topolândia para a entrega de mais 256 unidades. Cada imóvel tem dois quartos, sala, cozinha e banheiro, e é mobiliado. As áreas comuns dos condomínios são equipadas com áreas de ginástica, espaços para pets e estacionamento.

Todas as famílias atendidas com moradias em Maresias e no Baleia Verde receberam auxílio extra para o recomeço, com kits de eletrodomésticos, incluindo geladeira, fogão, micro-ondas e tanquinho para lavar roupas, além de botijão de gás, camas, colchões e travesseiros.

Esperança e tranquilidade para retomar vida em São Sebastião

Para Ângela Maria de Oliveira, 58, vizinha de Eliane, a esperança tem olhos brilhantes e um par de bochechas redondas que ela gosta de apertar: o netinho Hugo, de cinco meses, que nasceu já morador do Baleia Verde. Ângela mora com o marido, José, e uma irmã, Maria, em frente ao prédio onde seu filho Wagner, pai de Hugo, mora com a esposa, Natiele.

Ângela de Oliveira foi vítima da catástrofe e seu neto nasceu na nova casa (Foto: Governo do Estado de SP)

Ela conta que a chegada de Hugo ajudou a “acalmar” seu coração depois da perda de outro neto, Levi, que morreu durante a enchente, e marca um momento novo para toda a família. Enquanto enfrenta o trauma, a família se vê num lugar adequado e se sente amparada.

“A gente foi bem acolhido. Passamos por psicólogos, por exemplo, sempre acolhendo, ajudando da forma que podia”, conta Ângela. “Aqui, na casa nova, a enchente não pega, é um lugar adequado. Além disso, está tudo sendo monitorado, todo mundo em alerta.”

Vida em condomínio 

Dezenas de crianças e adolescentes costumam aproveitar o fim de tarde para se reunir e jogar bola na quadra poliesportiva do condomínio Baleia Verde. Outros pedalam suas bicicletas, alguns passeiam com seus cachorros, e os adultos aproveitam para se exercitar nas áreas de ginástica. Raro é ver crianças dentro de casa, de acordo com os moradores.

Para os pais, é sinal de que a estrutura do conjunto habitacional transmite segurança, uma tranquilidade que para eles conta muito.

“Você vê poucos adultos lá fora e muita criança. E isso de você estar dentro de casa sabendo que seu filho está lá fora e confiar é porque existe a questão da segurança. Ainda mais com quadra, parquinho, tem muitas coisas para eles fazerem”, conta Eliane.

A vida em condomínio exigiu adaptação das famílias, acostumadas a morar em casas. Eliane e Ângela relatam que os primeiros meses morando no Baleia Verde exigiram paciência e diálogo sobre questões do dia a dia como ruídos altos e barulhos no andar de cima.

A sensação para elas é de que estar mais próximo tornou ainda mais natural, para cada uma das famílias, o pensar no outro – e isso trouxe mais união à comunidade. “Pedi para me avisarem se eu estivesse falando muito alto”, contou Eliane, aos risos. “Não dá para incomodar o outro. E está certo. Todo mundo se ajuda”, disse Ângela.

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