tô nem aí
coluna de opinião da série foto em foco
Márcio Pannunzio, texto & fotos
Há trinta anos, quando essas fotos acima, analógicas, foram feitas, ela estava lá e era majestosa. Chamava atenção a superfície do seu tronco roliço inteiramente tomada por espinhos criando um mundo de montanhas espigadas que se perdiam de vista rumo a sua copa verde viçosa vigorosa lá no alto a incontáveis metros do chão. Sem a proteção desse exuberante telhado vegetal, fixando o olhar no céu acima dele, viveríamos a vertigem de afundarmos nos afogando no ar.
Valia muito a pena tirar fotografia dela, desse estranho ser espinhoso cujo ventre arbóreo gestava delicada paina que feito nuvem de algodão flutuava ao vento carregando dentro de si sementes de novas vidas.
A hoje rua da Cocaia, em sua maior extensão, larga e lisa à beça pro destempero dos carros, caminhões e ônibus desembestarem velozes ladeira abaixo espremendo aterrorizados os caminhantes contra muros erguidos na miséria de calçadas minúsculas, era nessa época apenas um sinuoso traçado de terra batida mergulhado no silêncio orquestral da mata do Morro do Espinho.
O vento desses anos recentes não foi generoso para aquelas painas suaves; a especulação imobiliária que destrói coisas belas lhes assoprou vilania. Em 2019 quase a assassinaram, mas a reação dum pequeno pessoal com meigas crianças defensoras do meio ambiente encenando nas redes sociais declarações comoventes, impediu que fossem ligadas as motosserras.
O som delas agora nos acorda e silencia antes do almoço e pouco a pouco o portento vai sendo retalhado. Agora ele é uma pálida sombra daquilo que gigante era e deveria, justiça fosse feita, ser: patrimônio natural, histórico, cultural desse bairro. Todo torturado por uma reurbanização medonha a ponto dela poder figurar em manuais de urbanismo como exemplo incontestável do que não fazer e parte dele massacrada pelo berreiro dos shows festança arrasa quarteirões no campo do galera, originalmente criado para prática esportiva e não para provocar tremedeira nas paredes das casas vizinhas e tremedeira ainda maior de nervos em quem as habita.
É fato consumado que logo logo nem esse esqueleto de braços destroçados será visto perturbando a visão de pouquíssima gente sensível que, inconformada, tenta sem sucesso ouvir a revolta não da bicharada que perdeu moradia e pouso, – maritacas, papagaios-moleiro, tucanos, sabiás, beija-flores, tico-ticos, bentevis, trinca-ferros, sanhaços, saíras, cambacicas, andorinhas, viuvinhas, tangarazinhos, arapongas, pichororés, beneditos, pica-paus, araçaris, juruvas, surucuás, urutaus, periquitos, tiribas, gaviões, corujas … – , mas doutra gente humana que também se revolte e grite NÃO.
Em vão. Parece que bailam ao som do tô nem aí. Coincidência inesperada é que esse assassinato feito por lento desmembramento vá chegando ao seu termo justamente no momento em que o país se incendeia e ilumina a emergência climática enquanto ela mata terra, planta, bicho, prédio e de lambuja, pessoas desavisadas.
Essa ação drástica da administração insular, de aniquilar essa possante vida vegetal, deve estar escorada nalgum laudo técnico. Infelizmente, inexiste no local qualquer nota que a abalize, que a referende de maneira fundamentada.
Numa cidade onde o que não falta é placa de obra, faz falta e muita essa informação importante à cidadania porque parece incompreensível o sacrifício dessa árvore imponente sob alegação de doença uma vez que, à primeira vista, ela esbanjava saúde. Difícil aceitar que o seu aniquilamento acontece por causa da fiação elétrica ou do leito carroçável; difícil também aceitar que é por danificar residências próximas pois a convivência antiga delas com a árvore foi sempre amistosa.
Na falta de motivo crível, a tarefa de buscar esclarecer a eliminação duma paineira centenária belíssima fica ao encargo da imaginação. E o seu juízo pode mau juízo fazer dos mandantes do extermínio.
olalaporno.com shemale destroys her man.
Muito triste esta sua constatação, sobrou sensibilidade na sua escrita e faltou no mando da poda Parabéns Márcio.