foto em foco: sessenta anos

sessenta anos

coluna de opinião da série foto em foco

texto & fotos: Márcio Pannunzio

Tentar tocar o país pra frente é sem dúvida, uma necessidade inescapável depois dele ser demolido pelo desgoverno ultra direitista que se esgoelou para jogá-lo no mesmo abismo da finada última ditadura.

Surreal que essa frase, inserida numa oração maior expressando a vontade de não lembrar dos 60 anos do golpe civil e militar de 1964, traga logo ela, em seu bojo, essas três palavras em sequência: “país pra frente”.
Os mais velhos entre aqueles que não marcharam em nome da família por deus e a liberdade e sofreram demais pela privação dessa última, hão de ouvir tocar no fundo da memória aquela musiquinha baba ovo ufanista onipresente celebrando o curto espirro do “milagre brasileiro”, quando o bolo do Delfim cresceu para ser prontamente devorado pelos tubarões da pirâmide social que se tornou estupidamente desigual.

“Este é um país que vai pra frente

Oh, oh, oh, oh, oh, oh

De uma gente amiga e tão contente

Oh, oh, oh, oh, oh, oh”

Gente amiga e tão contente em calar a força a boca de gente descontente a censurando amordaçando prendendo torturando assassinando ocultando seus cadáveres seviciados.

Gente amiga e tão contente que destituiu um governo democraticamente eleito que pretendia implementar a reforma agrária e reformas econômicas com capacidade de melhorarem a vida da população, cuja maioria as reivindicava e aprovava.

Gente amiga e tão contente que eliminou lideranças políticas com concreto poder de verdadeiramente tocarem o país pra frente o tornando mais inclusivo, justo, realmente cordial.

“Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro.”

Essa máxima não foi tirada dalguma escritura tida por sagrada, mas da fala dum grego das calendas, Heródoto, alcunhado como pai da história.

Essa coluna insignificante no universo pequenino duma imprensa que honre o adjetivo de livre, não irá, depois dessa voz das catacumbas que muito fez para tocar pra frente não apenas o Brasil que em seu tempo sequer existia, mas todo o mundo que depois viemos a conhecer, não irá, é preciso reforçar, se desdobrar em argumentar aumentando aumentando aumentando esse texto como aumentou a avidez da sedição golpista dalguns militares ainda há pouco, para convencer seu minúsculo grupo de leitores, da abominação que foram esses 21 anos de ditadura militar.

Tem por aí, havendo paciência de procurar, bastante artigo de muito maior monta, vários filmes e documentários, felizmente, material de sobra, pra assombrar os puros e os pobres de espírito. Lamentavelmente, para os que se contaminaram irremediavelmente no esgoto bolsonarista, para esses, nada há que os esclareça.

Mas convém olhar para o umbigo e percebermos lampejos desse tempo medonho no nosso modesto presente.

Cá na ilha a educação municipal que a despeito de tamanha grana nela investida, continua desde sempre no rodapé dos critérios de avaliação, recebeu de Rafael Antonio Baldo, procurador do Ministério Público de Contas do Estado de São Paulo em parecer datado de 25 de junho de 2023, a seguinte recomendação:
“Atente para o desempenho da rede municipal de ensino no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), buscando não apenas a aplicação dos mínimos constitucionais e legais de verbas na educação, mas o efetivo resultado qualitativo deste investimento na melhoria do ensino a cargo da Prefeitura.”

Pois a ação supimpa da hora foi a inauguração duma segunda escola cívico-militar na cidade.

Cívico e militar são substantivos que não se coadunam. O pessoal hoje idoso vai se recordar das escolas da ditadura. Havia nelas manifestações enquadradas como de civilidade: um montão de alunos crianças perfilados todos como se fossem um batalhão militar, todos mudos depois de berrarem o hino à bandeira e o hino nacional, de olhos siderados num palco de solenes autoridades onde tremulavam as bandeiras da cidade, do estado e do país numa repetida cerimônia de cultuar a pátria mãe nada gentil toda semana.

Suprema glória nesses dias insanos era o de poder segurar o mastro que ostentava o “lábaro estrelado” nesse palco montado para idolatrar a nação então capitaneada por engalonados defensores da liberdade que operosos roubavam corrompiam censuravam emudeciam torturavam matavam.

Crianças tolas se empertigavam e se endureciam em postura militar feito soldados da rainha no esforço gigantesco de segurar aqueles mastros pesados e compridos sem tremer.

Pois esse parece ser o sonhado padrão de educação dessas cidades que não conhecem a máxima de Heródoto.

Não é, cientistas da educação nos esclarecem, o de transformar estudantes em cidadãos, mas o de pelo emprego do autoritarismo, desqualificá-los para a vida democrática ao privá-los da capacidade de pensarem por si mesmos, ao lhe inibirem a humanidade de respeitar as diferenças e ao lhe infundirem o medo de exercer o direito de questionar o poder da ocasião.

Ilhabela ganhou recentemente o prêmio “Munícipio Destaque na Alfabetização”. Pena que esse prêmio tenha sido conferido por uma secretaria estadual da educação pródiga em posar de má figura.

“Erros não são pontuais” disse a Associação Paulista de Livros Didáticos de São Paulo em polêmica recente a envolvendo.

Na cerimônia de premiação, involuntariamente, cometendo não um ato falho e sim um erro de gramática elementar que não soaria bem na sua posição, a secretária da educação da ilha disse que “esse reconhecimento vem de encontro ao árduo trabalho que fazemos”.

O governo bolsonarista do estado de São Paulo tem se empenhado em ir de encontro a qualquer boa política na área da cultura, da educação, da economia e, principalmente, da segurança pública.

56 mortes. Essa é a macabra contagem atual da operação verão no litoral do estado. Será sua meta bater o recorde dos 111 mortos do massacre do Carandiru?

Trinta anos se passaram desse massacre. Sessenta da ditadura. 1964,  o ano que não terminou normalizou a tortura e o extermínio dos que são tidos por bandidos; geralmente, pessoas da periferia, das favelas, das ocupações, todas miseráveis; muitos mulatos e pretos.

“O negócio melhorou muito. Agora, melhorou, aqui entre nós, foi quando nós começamos a matar. Começamos a matar” . Fala de Dante Coutinho, ministro do exército de Ernesto Geisel.

A polícia que Tarcísio adula parece seguir essa estratégia e alega sempre ter agido em defesa própria quando mata, embora nesses confrontos, só haja mortos do lado dos ditos bandidos, raramente do lado dos policiais.

E não adianta ir de encontro a essa matança recriminada mundialmente porque Tarcísio avisou: “o pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não estou nem aí”.

Patriotas da ditadura não estiveram nem aí em trair a pátria e a tornaram vassala dos Estados Unidos. Em Davos, Bolsonaro reviveu submisso essa postura vergonhosa, adulatória, puxa-saco e praticamente ofereceu de bandeja a Amazônia ao ex-vice-presidente norte-americano Al Gore.

 

Notícia da vez em Ilhabela nos conta sobre o projeto de ceder para um grupo hoteleiro de Potugal um terreno de quase um milhão de metros quadrados, adquirido com dinheiro público, na praia da Serraria, ocupada por tradicional comunidade caiçara.

A situação é absurda antes mesmo da pretensa cessão para construção dum resort, – escrito assim em inglês pra ficar bonito -, uma vez que a terra foi comprada na intenção de criar uma “área de compensação de reserva ambiental”. Isso num local que disso não carecia por ter sua paisagem natural intocada, preservada.

Nas palavras da publicidade institucional, seria esse um resort “ecológico”. Tão ecológico quanto esses navios de cruzeiro shoping centers monstrengos fundeados no canal o são queimando combustível extremamente poluidor e esgotando toneladas de imundícies no oceano.

A implantação desse trambolho logo no meio da comunidade decretaria o seu fim. A caiçarada viraria mão de obra barata pra ricaiada portuga explorar; entraria discriminada, de cabeça abaixada pela porta de serviço. E como projeto de tamanha envergadura demandará muito peão & peoa, pode acontecer de nos cafundós surgir invasão, com as moradias simplórias do povo trabalhador se amontoando. E como rico atrai também rico, pode acontecer doutros por lá surgirem querendo ostentar peidando grosso perto do luxuoso predião lusitano suas mansões criando uma aglomeração de palacetes deixados às moscas na maior parde do ano. Resultará assim que de Serraria a praia passará a se chamar da Porcaria.

É oportuno para esta data tão magnânima, esse inesquecível primeiro de abril, desligarmos aquela musiquinha chata cheia de “oh, oh, oh, oh, oh, oh” dos Incríveis, ela mesma incrível na sua hipocrisia e cantarmos e dançarmos ao compasso do Fado Tropical do Chico:

Oh, musa do meu fado

Oh, minha mãe gentil

Te deixo consternado

No primeiro abril

 

Mas não sê tão ingrata!

Não esquece quem te amou

E em tua densa mata

Se perdeu e se encontrou

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal

Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!

 

2 Replies to “foto em foco: sessenta anos”

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    como sempre, impecável nas fotos e nos textos, parabéns mais uma vez!!

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