o Brasil vai ter graça
coluna de opinião da série foto em foco
Texto e fotos de Márcio Pannunzio
Uma foto em foco de 20 de outubro de 2018, comentava que o “Brasil perdeu a graça” e concluía que “importa que para além de perder a graça, não se torne um país triste”.
Pois desgraçadamente, nos distópicos anos que se seguiram, muito mais do que se fazer triste, enlutado por setecentas mil mortes brasileiras, boa parte delas evitável fosse ouvida a ciência e praticada a boa governança, o Brasil adoeceu e adoecendo, ensandeceu por falta de empatia abraçado ao farisaísmo, à ignomínia, ao desprezo pela cultura e à desumanidade.
E assim se fez não por uma desdita dos deuses ou estrelas, mas por escolha do seu povo. Não todo ele, mas parcela dele expressiva.
Amanhã talvez e se não nesse dia, no dia 30 próximo, o governo que chancelou e estimulou tamanho retrocesso civilizatório, será apeado do poder.
Sem dúvida, esse feito merecerá e deverá ser largamente comemorado.
Mas a triste e irrefutável verdade é que seu malefício não terminará nesse momento de celebração da cidadania. Aqueles eleitos nessa floração de algas nocivas, – políticos de inclinação autoritária e pensamento reacionário -, seguirão no parlamento e no comando de cidades Brasil afora infligindo dano imerecido à coletividade.
Pior: os ressentidos das modestas conquistas sociais dos desvalidos da nossa pátria construída pela exploração da mão de obra escravizada, vociferando preconceitos e mentiras, continuarão semeando a infâmia e a cizânia entre nós. É desolador perceber a sua vizinhança, incorporada feito possessão em amigos queridos e até mesmo, no seio da família. É desconcertante constatar que relevante contingente dessa gente se diz religiosa enquanto descarta sem qualquer escrúpulo e sem nenhum remorso o amor ao próximo. A sua filiação ao bolsonarismo fará o papel do óculos especial que nos permitirá destacá-los na multidão disforme, ao enxergá-los desvelados como os protagonistas do filme trash they live de John Carperter viam os aliens que, travestidos de humanos, manipulavam ardilosamente a mídia e o governo em prejuízo da sociedade inteira.
Aquela antiga foto em foco melancólica e visionária, afiançava que:
“A boa política deve desarmar e não armar as pessoas. A boa política deve unir e não desunir. A boa política deve estimular o amor e não o ódio. A boa política deve reverenciar a cultura e não apequená-la.”
Nessa eleição de agora, por muitos articulistas renomados reputada como a mais importante da nossa história, a nação desconjuntada carece demais de recuperar a sua graça perdida elegendo e empoderando uma política que seja inclusiva, amorosa e obediente à constituição brasileira, reverenciando e fortalecendo a democracia.
o Brasil atual não pode mais ser recordado pelo Arlequim desmilinguido daquela foto em foco de 2018; é hoje um país destroçado.
Combatentes da extrema direita permanecem ativos e virulentos. Conviver com essa tropa raivosa enfrentando sua aguerrida oposição ao novo governo eleito será desafio inescapável.
P.S.: a foto em foco andou sumida. Todavia, isso não significa que fotos não foram mais feitas; muito ao contrário, foram muitas as pautas registradas que podem ser vistas no ilhabela em foco. Não houve tempo hábil para apresentá-las com texto e quando isso for feito, por serem elas atemporais, serão carregadas no Nova Imprensa e esse hiato temporal sem colunas será então preenchido.