A foca-caranguejeira resgatada pela equipe do Instituto Argonauta no dia 30 de junho na praia de Calhetas, em São Sebastião, passou por reabilitação e foi solta nesta segunda-feira (27). O animal foi colocado de volta no mar a a aproximadamente 100 km (60 milhas) da costa partindo de Ubatuba.
Na ocasião, a foca foi encontrada debilitada por moradores da região. Ela foi avaliada pelos veterinário e transferida para o Centro de Reabilitação e Despetrolização (CRD) em Ubatuba, onde recebeu cuidados e reforço nutricional.
Ao ser resgatada, em junho, a foca-caranguejeira estava magra, com algumas lesões aparentes na pele e apática. Durante o período em que passou na reabilitação, a foca com
cerca de 1.60 m, foi medicada, realizou exames, começou a se alimentar sozinha e
demonstrou comportamento esperado para a espécie, o que a tornou apta para a
reintrodução na natureza, constatada em avaliação clínica, laboratorial e comportamental.
Após quase três meses, a foca-caranguejeira ganhou peso, recebeu marcação com um brinco com numeração e contato nas nadadeiras posteriores, que permitirá sua identificação em uma possível reavistagem.
Operação de soltura
O transporte do animal até o alto-mar contou com a construção de uma caixa feita sob
medida para sua acomodação e apoio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), por meio da equipe do oceanógrafo Milton Kampel, que monitorou e forneceu as informações sobre as correntes marítimas ideais para a soltura do animal.
A ideia foi monitorar a corrente do Brasil, que flui para o Sul, até a costa do Uruguai. “Como o Brasil tem alternância de correntes próximas à costa, consultamos o INPE para saber a posição da corrente do Brasil com o objetivo de colocar o animal na borda dessa corrente, de modo que tenha maior chance de conseguir se deslocar até sua região de origem”, explica o oceanógrafo Hugo Gallo Neto, presidente do Argonauta.
Assim, a soltura da foca-caranguejeira foi realizada em região próxima à que foi encontrada, mas em mar aberto, de modo que tenha condições para enfrentar o desafio de completar, sozinha, sua jornada de volta para casa. Foi seguido um protocolo com normativas para animais antárticos e subantárticos, que garantem que o animal passou pelo processo de reabilitação e não carrega nenhuma doença que possa contaminar a população, explica a bióloga Carla Beatriz Barbosa, diretora executiva do Instituto Argonauta e Coordenadora do PMP-BS Trecho 10. “Mais do que ganhar peso, o animal tem que conseguir se alimentar sozinho, estar livre de doenças e com as reações esperadas para a espécie”, afirma.
Curiosidades sobre a foca-caranguejeira
As focas-caranguejeiras ocorrem principalmente na região subantártica e antártica. No Brasil, há registros ocasionais dessa espécie na região Sul e Sudeste, sendo que é a terceira ocorrência da espécie na região do Litoral Norte nos últimos 12 anos. O deslocamento do animal até nosso litoral pode ter sido causado pela predominância de
correntes marinhas vindas do Sul nesta época do ano – especialmente a das Malvinas.
Apesar do nome popular, as focas-caranguejeiras não comem caranguejos, e sim pequenos
crustáceos como o krill, pequenos peixes e lulas. Seu corpo é delgado com cabeça e
focinhos largos, nadadeiras anteriores grandes e em forma de remo, e pelagem com
coloração clara. Pode atingir até 2,60 metros e pesar 250 kg.