ECONOMIA – Para onde vai a riqueza criada pelas empresas

Vocês sabem como são criadas as empresas? Primeiro alguém descobre uma oportunidade de negócio, depois busca alguém com capital para investir. Na maioria dos casos empreendedor e investidor são os mesmos, mas em se tratando de economia, isto não é uma regra. Nas Sociedades Anônimas, por exemplo, são entidades distintas.

Em algum momento legaliza-se o empreendimento, contrata-se funcionários, aluga-se um imóvel, adquire-se máquinas e equipamentos, eventualmente toma-se empréstimo, adquire-se tecnologia e desenvolve-se fornecedores. Cada ação dessas envolve uma agente de economia diferente.

Há ainda o governo, que entra para dar condições legais, econômicas e políticas para que cada agente atue e a empresa criada se desenvolva, ofereça empregos e gere riqueza.

Aí entra o tema deste artigo: para onde vai a riqueza criada pelas empresas. É bom deixar claro que a riqueza criada não é lucro. O lucro faz parte da riqueza criada, cujo nome técnico é valor adicionado, que surge pela diferença entre as receitas de vendas e as aquisições de insumos (materiais, energia, serviços) junto a terceiros e é descrita no Demonstrativo de Valor Adicionado (DVA).

A riqueza criada pela economia é distribuída entre aqueles que de alguma forma participaram do negócio da empresa. Empregados recebem salários, encargos e benefícios; os acionistas ou proprietários participam dos lucros; o governo ou setor público arrecadam tributos e outros financiadores juros, alugueis, royalties e direitos autorais.

Pesquisa realizada pelos autores deste artigo investigou as DVAs publicadas entre 2012 e 2017 das 100 maiores empresas do Brasil classificadas pela receita líquida. Os resultados revelam que: os proprietários obtiveram 17% da riqueza produzida pelas suas empresas; os funcionários recebem em média 25% da riqueza criada; os financiadores embolsaram 21% do valor adicionado; o setor público captou com tributos, na média 37% da riqueza criada pelas empresas.

Estudando estes dados por faixa de repartição, nota-se que: 47,5% das empresas distribuem até 20% da riqueza criada para os empregados e 44% das companhias até 50%; 67,8% das empresas distribuem até 20% do valor adicionado para os proprietários; 59% das companhias distribuem aos financiadores recebem até 20%; 55,4% das empresas distribuem de 20 a 50% da riqueza para o setor público e 26% das empresas mais que 50%.

Quando se estuda os menores valores distribuídos observou-se que a menor distribuição percebida ocorreu em 2017 com uma empresa do setor de energia que partilhou 0,17% de seu valor adicionado com seus proprietários. Em 2013 a menor distribuição foi de uma empresa do setor de siderurgia e metalurgia com 0,35% para os sócios e proprietários. O mesmo ocorreu em 2015 com uma companhia do setor de varejo partilhando 0,25% e em 2016 uma companhia do setor de energia distribuiu 0,21% do valor adicionado. Nos anos de 2012 e 2014 foram os financiadores que tiveram menor participação na distribuição da riqueza criada.

Analisando os valores máximos de distribuição, constatou-se que o setor público, ao longo do período, foi o agente que obteve as maiores participações. Nos anos 2012, 2015, 2016 e 2017, empresas do setor de energia repartiram com o setor público, respectivamente, 84,19%, 85,45%, 83,95% e 82,22% do valor adicionado. Em 2013 e 2014, uma mesma empresa do setor de serviços distribui respectivamente, 74,65% e 75,41% da riqueza criada.

Voltando a criação das empresas, aqueles que assumem o risco maior, os proprietários, recebem a menor parte da riqueza criada por seus negócios. Os empregados, são um pouco mais favorecidos, no conjunto, porem individualmente não. Agora, o setor público que deveria viabilizar as condições para fomentar os negócios e oferecer uma infraestrutura social eficaz, captura parte substancial da riqueza criada pelas empresas, mesmo não participando diretamente na criação do valor adicionado.

Ingrid Miranda

Pós-Graduanda em Gestão Financeira pelo IFSP

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