Caraguatatuba é uma cidade de renda baixa, pagando em média, nos empregos formais, 2,5 salários mínimos, mas apenas 22% da população encontra-se ocupada. Com este rendimento a cidade posiciona-se como a 177ª cidade do Estado e 502ª no país no ranking de geração de renda. Estes dados são do IBGE e do SEADE para os anos de 2015 e 2016.
Outro dado importante, também das mesmas fontes e período, revela que Caraguatatuba participa com 0,14% do PIB no Estado, mas possui 0,26% da população. Nota-se aqui uma discrepância entre população e a capacidade de geração de renda. Além disso, apenas 1 em cada 5 pessoas encontram-se ocupada. Estes dois elementos justificam em parte a baixa renda da cidade.
A partir destas constatações, em 2018 os autores deste texto realizaram pesquisa junto aos moradores para compreender a percepção de luxo em uma cidade de renda baixa.
Os resultados permitem inferir que a percepção de luxo vem ao encontro do senso comum vinculado ao poder aquisitivo, o que envolve comprar o que se deseja, adquirir coisas caras e supérfluas, viagens e lazer.
No entanto, quando estimulados com temas específicos, o luxo é vinculado com qualidade de vida, mais tempo com a família ou amigos.
Outro achado importante mostra que para 71,9% o luxo, na visão dos caraguatatubenses, está associado a estudar em escolas privadas ou universidades públicas. Os produtos de luxo têm que ter grife (33%), ser caros (63,7%) e poucas pessoas devem possuir (50,5%).
O resultado indica que há consumo por distinção social entre os moradores de Caraguatatuba e que a exclusividade é identificada, mas não de forma significativa.
Uma das questões solicitava que o participante apontasse uma empresa, local ou marca existente na cidade interpretada com o luxo. A maior parte dos respondentes (77,5%) identificou nominalmente o estabelecimento ou bairro; cerca de 15,1% não conseguiu identificar. Destaca-se aqui o item lojas e lazer de luxo identificados por 66,3% dos participantes.
Quando perguntados de forma livre sobre o que é luxo em Caraguatatuba, 44,94% dos participantes apontam nominalmente um elemento. No entanto, 53,93% dos respondentes não identificam nem um item de luxo na cidade.
O contraponto da identificação da presença do luxo está no acesso ao consumo. Na pesquisa percebeu-se o baixo consumo de produtos e serviços de luxo, à medida que 45% dos entrevistados nunca consumiram ou não consomem a mais de três anos. Dentre os que consumiram produtos de luxo 39% informaram ter consumidos serviços de restaurante, calçados, viagens, eletroeletrônicos, especialmente, smartphone.
Portanto, em Caraguatatuba percebe-se o luxo associado a experiências e a qualidade de vida, ao mesmo tempo que se reconhece especificamente os estabelecimentos comerciais, bairros e marcas de luxo. Todavia, não é percebido o luxo no conjunto da cidade e as aquisições de produtos de luxo ocorrem de forma esporádica e direcionada, uma vez que o luxo está associado a rendas maiores.
*Com Cíntia Mayumi Mizuno Kakuda
Graduada em Administração com ênfase em Marketing,
Pós Graduada em Gestão Financeira pelo IFSP