Um mês após as fortes chuvas que assolaram o Litoral Norte e provocaram desabamentos de terra na estrada de acesso a praia de Castelhanos, a Defesa Civil de Ilhabela liberou um trecho parcial. Porém, devidos os riscos no local, o acesso ainda é limitado e vem causando divergências entre a comunidade tradicional e os trabalhadores que exploram o turismo local. A categoria já acumula um prejuízo de aproximadamente R$ 500 mil, segundo a Associação de Jipeiros de Ilhabela (AJI). De acordo com o levantamento, mais de 100 motoristas foram afetados. De outro lado, a comunidade segue sem médicos e professores.
O trecho foi interditado pela Defesa Civil, que após avaliações geológicas definiu situação de perigo no local. Atualmente a prefeitura aguarda laudo do Departamento de Estradas e Rodagem (DER), mas após diversas reuniões o turismo foi liberado no local.
Os trabalhadores do turismo explicam que estão tentando um diálogo com a prefeitura desde o acidente, no dia 13 de fevereiro, para agilizar a liberação, mas apenas agora houve uma iniciativa. Após diversas tratativas, os passeios devem voltar a ser vendidos a partir desta sexta-feira (16/3).
De outro lado, a comunidade exige o livre acesso para realizar atividades básicas, como consultas médicas e compra de insumos. Além da volta das aulas, que não acontecem desde 2017, apenas para a turma que tem aulas com a professora que mora no local. E com as dificuldades de aceeso, moradores afirmam que as autoridades facilitaram apenas a passagem dos agentes de turismo.
Em reunião entre as partes envolvidas, nesta quinta (15), ficou definido que o turismo será liberado em um sistema de baldeação, onde o trecho mais perigoso deverá ser atravessado a pé. Além disso, os jipeiros deverão dar suporte ao trajeto do moradores.
“A volta das atividades vai acontecer em um sistema de colaboração. Os turistas serão levados até um ponto, acessam o trecho mais crítico a pé e depois terminam o trajeto em outros jipes que terão que ficar do lado da praia. Depois esse grupo vai trocar, pois quem ficar do lado de lá vai ter que dormir no jipe. Também ficou decidido que vamos oferecer um apoio na locomoção da comunidade”, explicou o agente de turismo Rodrigo Dias.
Sobre a situação da comunidade, uma das moradoras conta que o bloqueio tem causado muitos transtornos e que as divergências estão acontecendo, pois o governo não estaria dando as mesmas possibilidades para os moradores.
“Algumas pessoas assinaram um termo de responsabilidade isentando a Prefeitura e o Parque Estadual de qualquer problemas e, assim, conseguiram passar, mas depois o acesso foi fechado novamente para nós”, conta a estudante Aline Gonçalves.
“Queremos resolver a questão, pois como todos na praia, os jipes também precisam trabalhar. Mas precisamos do mesmo apoio para os moradores e a Prefeitura não está mais dando a lancha para deslocamento pelo mar todos os dias. Talvez falte mais cobrança e organização. Nós moradores, só queremos a liberação da passagem o mais rápido possível e com segurança (pelo menos pra gente, pro pessoal que trabalha lá e para os professores). A comunidade depende muito dessa estrada, as máquinas já ocuparam a estrada porque seria obra emergencial, passou um mês e até agora nada. Essa é a revolta, esse é o problema, e não os jipeiros que também necessitam dela para trabalhar”, afirmou ela.
A Prefeitura afirmou que logo após os deslizamentos ocorridos na estrada, enviou documentos ao DER e à direção do Parque Estadual pedindo autorização para auxiliar nas providências de recuperação dos locais afetados e agilizar o restabelecimento, com segurança, do tráfego de jipeiros, moradores e comerciantes de Castelhanos, que vivem do turismo. O DER ainda não enviou resposta.
Em nota, o secretário de Planejamento Urbano, Obras e Habitação, Luiz Paladino, divulgou que o projeto de recuperação emergencial das áreas já está sendo executado.
Na próxima segunda-feira (19), acontece uma audiência pública, às 17h, no Paço Municipal, no bairro do Perequê, para apresentar os projetos de obras iniciadas após as chuvas.
De acordo com a Prefeitura, o encontro visa esclarecer as intervenções emergenciais que vem sendo feitas na estrada de Castelhanos e outros pontos afetados pelas chuvas (Morro do Cantagalo, na Vila, no Alto do Itaquanduba e na estrada de acesso ao sul da ilha, com uma parte interditada – sentido centro-sul – devido à erosão na margem).