O Instituto Argonauta participou de um treinamento nos Estados Unidos da América, para aperfeiçoar as técnicas para desemalhe de baleias. O curso foi oferecido pela equipe do Centro de Estudos Costeiros (Center for Coastal Studies – CCS) em Provincetown, no estado de Massachusetts (EUA).
O treinamento foi dividido entre teoria e prática, parte no Laboratório Hiebert (Hiebert Lab) e outra a bordo da embarcação Ibis. No mar foi possível simular as técnicas e protocolos de segurança desenvolvidos para o desemalhe de baleias com a equipe MAER, reconhecida como líder mundial no resgate desses cetáceos.
O programa para capacitar os países para a atividade de desemalhe, está disponível para representantes governamentais de instituições participantes que integram a Rede Global de Resposta ao Emaranhamento de Baleias (Whale Entanglement Response Network – GWERN).
No Brasil, a indicação e avaliação da proposta é feita pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), aprovada pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE).
A bióloga e diretora Executiva, Carla Beatriz Barbosa, representou o Instituto Argonauta. “Participar deste treinamento foi muito importante para ampliar nosso conhecimento e entender melhor a atividade de desemalhe, e poder replicar isso para a nossa equipe”, contou ela.
Segundo a bióloga, foi importante conhecer melhor os protocolos de segurança das pessoas e das baleias emalhadas. “Foi muito emocionante poder participar, junto da equipe MAER do desemalhe, mesmo que parcial, de um filhote de baleia-Jubarte, e de uma tartaruga de couro”, comentou.
Centro de Estudos Costeiros
O CSS é uma organização de pesquisa e conservação que tem por missão entender e proteger o ambiente marinho da região costeira de Cape Cod, bem como os ecossistemas marinhos em geral.
O Centro realiza pesquisas científicas, educação ambiental e esforços de conservação para promover a preservação dos oceanos e da vida marinha. Desde 1984, libertou mais de 200 baleias e outros animais marinhos de emaranhados potencialmente fatais.
Por isso desenvolveu técnicas e protocolos especializados que estão sendo compartilhados com conservacionistas de todo o mundo.
Além do Instituto Argonauta, também participaram da formação no CCS, representantes do CMA/Instituto Chico Mendes e do VIVA Instituto Verde Azul. Todos os membros do Centro de Estudos Costeiros, incluindo David Mattila, coordenador do GWERN, tem uma longa história de trabalho internacional com baleias.
A visita também serviu para o contingente brasileiro compartilhar informações sobre os esforços de conservação no Brasil, e aprender mais sobre as pesquisas realizadas no Centro de Estudos Costeiros.
A importância do desemalhe de baleias
O emalhe é uma das piores ameaças ao bem-estar dos cetáceos e um obstáculo à recuperação de algumas populações de baleias ameaçadas. O desemalhe de uma baleia é uma atividade extremamente arriscada que precisa de protocolos específicos. No Brasil, esses procedimentos estão sendo regulamentados pelo CMA-ICMBIO.
Por isso, o Argonauta reforça que a atividade requer uma equipe técnica capacitada e treinada para evitar ao máximo o risco a vida da equipe de salvamento. A capacitação e o uso de equipamentos corretos e adequados para este tipo de operação é muito importante para o sucesso da atividade.
Desde 2018 até o momento, o Instituto atendeu ocorrências envolvendo desemalhes de Baleia-de-bryde (Balaenoptera brydei), Jubartes (Megaptera novaeangliae) e Franca (Eubalaena australis).
Somente no ano de 2021, foram três Jubartes desemalhadas pela equipe do Argonauta.
Uma das ocorrências aconteceu na região do Parcel de Itapecerica em Ilhabela/SP, e contou com o apoio da equipe do VIVA Instituto Verde Azul. Na ocasião, no primeiro dia do mês de agosto, pescadores acionaram o Instituto. Então, uma equipe treinada seguiu até o local com equipamentos de desemalhe em um bote específico para esta finalidade. Na região conhecida como Borrifos, a baleia estava completamente envolta por uma rede de espera. Logo a equipe conseguiu realizar o desemalhe, removendo 95% da rede do corpo do animal.
De acordo com o oceanógrafo Hugo Gallo Neto, presidente do Instituto Argonauta, um dos momentos mais importantes de todo trabalho de resgate e reabilitação de fauna é liberar uma baleia. “E descobrir que ele vai poder continuar a sua trajetória de vida por mais tempo na natureza”, destaca Gallo.
“Nestes momentos, pelo menos um pouco, nós estamos tentando e conseguindo reverter o grande impacto que a atividade humana causa na fauna marinha”, concluiu o oceanógrafo.