Quem entrou nos supermercados em agosto quase teve uma sincope: pacote de 5 quilos de arroz a R$ 20; feijão R$ 6 o quilo; leite R$ 4 o litro; óleo de soja mais de R$ 5; carne de segunda de R$ 25 a 27; carne de primeira R$ 34/35.
Os desavisados ou usuários somente do senso comum, vão pensar que os preços nesse patamar fazem parte de um programa de governo para combater a obesidade. Afinal, a obesidade é um problema de saúde pública e, segundo o Ministério da Saúde, 55,7% da população adulta estão com excesso de peso e 19,8% são obesas. Mas, lamentavelmente, não é esse o caso.
Para entender este estado de coisas, inicialmente temos que ir para o outro lado do mundo e compreender a situação da China. Os chineses se viram numa situação complicada no abastecimento quando da paralisação provocada pela pandemia. Prover alimentos para cerca de 1,5 bilhão de habitantes não é uma tarefa fácil. Junta-se a isto o fato de o plantel suíno ter sido dizimado pela a Peste Suína Africana. Por fim, tem a guerra comercial com os EUA.
A solução encontrada foi a criação de estoques estratégicos de alimentos, com isto aumentaram suas importações de carnes bovinas, suínas, frango e soja. A pressão de demanda força os preços para cima e quem em um primeiro momento se beneficiou foram os produtores e exportadores brasileiros que venderam suas produções por preços mais elevados e em alguns casos já negociaram safras ainda não plantadas. Mas isto não é tudo.
Com a pandemia e o isolamento social, as incertezas quanto à economia aumentaram. Isso se vê na taxa de câmbio que saltou para mais de R$ 5 por dólar. Vamos pensar com a cabeça de quem tem dólar para gastar. Num momento US$ 1 permite comprar 3,5 mercadorias a R$ 1 cada. Num outro momento, o mesmo dólar pode comprar 5 mercadorias de R$ 1 cada.
Dólar alto reflete nos supermercados
Nota-se que houve um aumento do poder de compra do possuidor de dólar, enquanto o real se desvaloriza frente ao dólar. O que o possuidor de dólar deve fazer? Simples: comprar mais, pois as mercadorias brasileiras para ele ficaram mais baratas.
Temos então um cenário complexo: chineses querendo comprar mercadoras que para eles estão baratas. Os produtores nacionais entre exportar por um preço maior ou vender no mercado interno pouco expansivo, optaram pelo primeiro.
Ao mercado interno coube ver os preços subirem. Em um ano carnes bovinas saltaram 75,9%; feijão 47,6%; arroz 18,3%, óleo de soja 10,7%, leite 3.7%. A inflação foi de 2,3%. Em julho carne caiu 5%; feijão subiu 19,1%; arroz 15,7%; óleo 8,4%; leite 17,3%.
Acredito que ao longo do tempo os preços se estabilizem em patamares menos assustadores, até lá nós consumidores temos que pesquisar, fazer escolhas alternativas, mesmo sabendo que isso é difícil.