A praça é do povo

A praça é do povo? Até pode ser, como o céu é do avião. Mas nossas ruas cada vez mais congestionadas de carros e carros robustos e enormes – os suvs – afugentam pessoas, inclusive, das praças. O sonho da mobilidade automotiva é o pesadelo da cidade. Esses mastodontes de aço e plástico pesando toneladas, queimando gasolina, álcool ou diesel, em passo paquidérmico transportam em suas entranhas, pesando uma fração ridícula do seu peso, quase sempre apenas uma solitária pessoa, uma emperiquitada madame de óculos escuros ou um sisudo homem de negócios. Situação não tanto diversa daquela do passado, quando os privilegiados eram carregados em liteiras pelo povo pobre escravo de uma sociedade tão desapiedada quanto a atual.
 
Quando a praça é ocupada pelas pessoas é como se a cidade resplandecesse, brilhasse. Porque a cidade vive no convívio da pluralidade. Se os habitantes se enclausuram e se escondem dentro de suas casas casamatas, a cidade adoece. O convívio estimula a troca de afetos e ideias, aproxima os diferentes e assim fortalece o respeito à diversidade, nos tornando gente civilizada e não fantoches de um sistema estúpido que propangandeia  na TV o dia inteiro que só seremos felizes desfrutando o magnífico status de proprietários desses elefantes brancos, pretos ou prateados que, tal como os dinossauros do passado, bem mereciam ser extintos.
 
Pois então é bom demais ver praças tomadas por gente. E isso vimos na Ilha, na pequena praça em frente ao Pimenta do Cheiro, com um show intimista do Dança e Movimento e na praça da Vila, com a competição esportiva Strongman Brasil.
 
Os dois episódios atraíram público interessado e numeroso. E o bacana é que não foi preciso gastar um dinheirão alugando tenda, som, segurança, etc. O do Dança e Movimento em termos de estrutura não demandou nada: houve apresentação na praça e ponto.
 
O Strongman, objeto das fotos da coluna, montou um cercado onde ficaram os atletas. Mas foi um gasto irrisório. E mostrou uma competição que é também um espetáculo incomum, de uma atividade esportiva pouco conhecida e divulgada. Legal seria se os nossos gestores do esporte, cultura e turismo buscassem mais coisas desse tipo, preocupando-se menos em priorizar eventos onerosos que, infelizmente, como já aconteceu antes, pouco sucesso alcançam e ficam às moscas, ou melhor dizendo, aos borrachudos.
 
Por Márcio Pannunzio
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