Dois jovens de Boiçucanga, na Costa Sul de São Sebastião, compareceram à Delegacia de Polícia Civil e, através de um boletim de ocorrência, denunciaram dois padres da região por assédio. A denúncia foi replicada nas redes sociais de Pauleteh Araújo e recebeu comentários de ao menos dez pessoas que se dizem vítimas dos sacerdotes, que atuam na Paróquia Sagrado Coração de Jesus. Os religiosos negam as acusações.
“Os padres são obviamente pessoas conhecidas da população pelo cargo que ocupam e pela cidade ser pequena”, explica uma das prováveis vítimas, que não quis se identificar por medo de represálias. “Não é fato novo a conversa entre os homens da cidade narrando suas más experiências com os assédios praticados pelos religiosos, por isso, a decisão de denunciar”, desabafa.
Segundo o boletim de ocorrência, os dois amigos dividem uma residência na mesma rua da casa paroquial dos padres. O denunciante narrou que durante a tragédia das chuvas do ano passado, em São Sebastião, foi voluntário angariando doações para os desabrigados. Por isso, entrou em contato com todos os lideres religiosos, já que a população, muitas vezes, ia pedir socorro e buscar doações nas igrejas e templos. Desta maneira, os padres sabiam onde ele morava e faziam contato pelo Whatsapp.
O suposto assédio
Meses depois, já em novembro, um dos padres, identificado como C, teria “passado algumas vezes na porta da casa do denunciante, buzinando para o outro morador da casa e o seguido pela rua diversas vezes, despertando incômodo no jovem”. Ele conta ainda que, dias depois, enquanto seu amigo caminhava até a padaria, o padre teria atravessado o carro, impedindo sua passagem e perguntado: “Sabe de um quarto para alugar para irmos juntos?”.
O declarante contou, ainda, que o jovem voltou pra casa “claramente desconcertado e profundamente constrangido”, o que o motivou a contatar C. via Whatsapp. “Passei o telefone do padre para o rapaz, que pediu a C. que parasse de assediá-lo na rua e ele negou tê-lo visto”, explicou.
“Imediatamente, o padre veio até a porta da minha casa. Ou seja, ele sabia onde meu amigo morava, sabia que era daqui quando fez o convite”, destacou o denunciante. “Ele tentou olhar para dentro da minha casa, forçou o portão e disparou o alarme, como é possível ver no vídeo”, disse ele, que é o dono da residência.
A motivação da denúncia aconteceu há menos de uma semana, quando a vítima declara ter sido assediada pelo outro padre, conhecido como D. “Ia, voltava com o carro, farol ora aceso, ora apagado, sempre de vidro aberto. Isso aconteceu perto do shopping, na praça, na rua de casa”, explica o jovem, que decidiu filmar a abordagem.
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“É sempre igual. Eles pegam o carro à noite, próximo ao horários dos últimos ônibus e saem oferecendo carona para os homens que esperam pelo transporte. Foi assim que meu amigo foi perseguido por D.”, destacou o declarante no B.O. Diante disso, os dois amigos decidiram denunciar. Eles acreditam que agora outras vítimas podem fazer o mesmo. “É preciso dar um basta”, concluem.
O caso será investigado pela Polícia Civil de Boiçucanga.
Denúncias nas redes sociais
Assédio, segundo a lei, é o comportamento indesejado, persistente e prejudicial que envolve intimidação, coerção, humilhação ou abuso de poder em uma interação social ou profissional. Pode ocorrer em vários contextos, como no local de trabalho, escola, comunidade ou online. O assédio pode envolver diferentes formas, como assédio sexual, assédio moral, assédio racial, entre outros.
Depois da postagem de Pauleteh, muitas pessoas passaram a procurar tanto o declarante, quanto a inserir comentários na publicação. Em comum, o carro que se aproxima devagar, o motorista oferece carona aos homens e passa a constrangê-los. Um jovem contou que foi contratado para fazer um conserto para os padres e os encontrou nus. Outra vítima desabafou que foi assediada pelo padre, porém “não tem condições de falar sobre o acontecido”.
A Diocese de Caraguatatuba
Em nota oficial, a Diocese de Caraguatatuba informa que tomou conhecimento “de alegações de supostos assédios por meio de publicações em sua rede social”. Segundo o órgão, a igreja sempre repudiou e combate com veemência qualquer assédio sexual. Portanto, os fatos alegados, “são alegações graves e que devem ser apuradas”.
Ainda de acordo com a nota, a igreja não tem competência nem legitimidade para processar e julgar fatos criminosos, portanto, encaminha para os órgãos competentes todas as informações que possam ter conotação de crime.
E continua: “da mesma forma que repudiamos crimes de tal natureza, também repudiamos condenação sem a devida apuração, conclusões precipitadas sem a necessária investigação”.
A Diocese informa ainda que questionados, os padres negaram o cometimento de assédio. Ela completa dizendo que a apuração e julgamento devem ser feitos pelas autoridades competentes, “evitando o julgamento apressado, sem devida apuração à luz do direito para que não condene o inocente”.
Se você foi vítima de assédio, considere:
1. Documentar o assédio: Anotar datas, horários, locais e detalhes específicos das ocorrências de assédio pode ajudar a fornecer evidências posteriores, caso seja necessário tomar medidas legais.
2. Procurar apoio: Falar com amigos confiáveis, familiares, colegas de trabalho ou profissionais qualificados, como psicólogos, assistentes sociais ou advogados, pode oferecer suporte emocional e orientação sobre como lidar com a situação.
3. Denunciar o assédio: Em ambientes de trabalho, escolares ou comunitários, é importante informar a gestão, funcionários responsáveis ou autoridades competentes sobre o assédio para que medidas apropriadas possam ser tomadas.
4. Buscar recursos legais: Em casos graves, pode ser necessário buscar orientação jurídica para avaliar as opções legais disponíveis para lidar com o assédio.
É fundamental lembrar que a vítima de assédio não está sozinha e que existem recursos e suporte disponíveis para ajudar a lidar com essa situação difícil.