Câmara de São Sebastião pagou R$ 37 mil em identidade visual jamais utilizada

Criação de identidade visual foi um dos 47 serviços contratados pela Câmara de São Sebastião, nos últimos três meses da gestão do vereador José Reis. O projeto previa um logotipo e “personagem representativo”, acompanhados de um manual de utilização da marca. Uma agência de publicidade, do município de Suzano, foi contratada por R$ 37 mil.

A despesa está entre as irregularidades apontadas em relatório do Tribunal de Contas. A fiscalização relata que a Câmara não comprovou a execução do serviço.

Questionada pela reportagem, a Câmara indicou o link onde estão armazenados os trabalhos, que teriam sido entregues pela agência. O logotipo se resume ao brasão de São Sebastião, com o nome do órgão legislativo sobre uma linha ondulada. Essa linha é o único elemento criado, de fato.

A novidade mesmo foram dois personagens, que seriam as novas mascotes da Câmara. Uma delas é um mergulhador, que traja um escafandro – equipamento ultrapassado que caiu em desuso. O outro é um peixe com uma combinação das cores verde, vermelha e amarela.

A reportagem encontrou desenhos idênticos num site que oferece esse tipo de conteúdo (www.freepick.com). Nele, qualquer pessoa pode baixar as imagens gratuitamente (desde que cite a fonte), ou pagando determinada quantia (sem a necessidade de atribuir o crédito).

Também foram entregues dois layouts: um de placa para ser colocada na porta dos gabinetes dos vereadores; e outro de cartão de visitas, com os dados de contato da Câmara.

Placa para porta de gabinete também nunca foi aplicada (Imagem: Divulgação)

Por fim, compõe o material apresentado pela Câmara, como sendo entregue pela empresa, um texto sobre evitar “a propagação do vírus”. “Juntos vamos superar todas as adversidades, nesse momento tão delicado que estamos passando”, diz um trecho da mensagem, que não tem nenhuma relação com serviço de identidade visual.

O manual, previsto na contratação, não está entre os arquivos apresentados. Num projeto de implantação de identidade visual, o manual contém as orientações para uso da marca, sendo fundamental para garantir uma padronização.

A reportagem conferiu também que nada foi utilizado. O logotipo, na imagem de perfil no facebook da Câmara, é o mesmo que já vem sendo publicado há mais de dois anos (apenas o brasão e o nome do órgão). No site, também não houve alteração, tampouco no material de expediente (folhas, envelopes, carimbos).

Os personagens ainda são desconhecidos do público (ao menos até a publicação desta matéria).

Na porta dos gabinetes não há placa nenhuma, e o cartão de visitas jamais foi impresso.

A reportagem enviou os arquivos para um web designer, que possui uma agência de publicidade, e perguntou quanto ele cobraria para fazer o mesmo serviço. “No máximo R$ 10 mil”, respondeu Lennon Oliveira, da Agência Yes. “Pegou o logo já pronto, só colocou uma linha. Não tem quase nenhum trabalho de fazer isso”, observou ele.

Segundo Oliveira, o custo maior seria pela criação dos personagens, que não devem ser escolhidos de modo aleatório. Os da Câmara, porém, foram copiados de um banco de imagens na internet. “Não são autênticos. A gente não pega nada pronto”, disse o web designer consultado.

Ao ser questionada sobre a aplicação do serviço contratado, a Câmara se limitou a dizer que foram feitas “atualizações no layout do site, e adequações à Lei Geral de Proteção de Dados”. A reportagem perguntou o que a lei citada tem a ver com o serviço de identidade visual, mas não obteve resposta. O vereador Reis também não respondeu ao pedido de esclarecimentos.

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