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Fabiano Leitão em Ilhabela Márcio Pannunzio
Fabiano Leitão esteve em Ilhabela no dia 23 de outubro. Quem é Fabiano Leitão? Não é artista, não é político; embora se possa afiançar que faça arte e política.
Tampouco é um influenciador digital desses que brotam aos borbotões dia e noite noite e dia avidamente disputando não um lugar ao sol, mas um espaço que nem real é por virtual ser no brilho hipnótico dos celulares onipresentes preenchendo mentes dependentes.
Fabiano Leitão não é modelo de capa de revista da moda; não é ator globeleza; não ensina culinária na TV; não é jurado de programa de auditório e nem é por qualquer júri de programa de auditório, avaliado.
Fabiano Leitão não é tão moço nem tão velho.
Fabiano Leitão caminharia na rua e entraria no ônibus cheio sem despertar qualquer atenção.
Mas quando Fabiano Leitão tira das costas a mochila e dela retira seu trompete, na performance que se segue, brilha tanto quanto seu metálico dourado instrumento de sopro. E esse seu brilho o nomeou na imprensa como o trompetista da Democracia.
Seu repertório se apóia principalmente numa popular melodia e foi a soprando a plenos pulmões que a tornou trilha sonora de fundo de mais de uma dezena de telejornais da Globo, causando evidente embaraço aos repórteres da ocasião e até mesmo, ao maioral William Bonner a ponto dele, envergonhadamente, pedir desculpas pelo que julgou ser um aborrecimento. Quando era, simplesmente, um lembrete.
Singelo lembrete.
fotos Márcio Pannunzio
Viralizou na internet um vídeo que é montagem, é uma falsificação da realidade, apesar de poder ter, talvez, acontecido, não sendo contudo capturado e feito prova inequívoca pelas câmaras dos celulares de plantão. Num primeiro momento, vemos Bolsonaro fazendo o que sabe bem fazer: gargalhar. Então se escuta o trompete de Fabiano invadindo a sádica gargalhada e a expressão do bufão se torna séria, depois, melindrada; angustiosamente incomodada, por fim. Porque a música jingle lhe lembrou que ocupa um posto que não merecia. Um posto obtido por sorte, sem dúvida; mas, principalmente, devido à trapaça política, militar, judiciária e jornalística.
A gente nunca há de saber como as coisas seriam se não tivessem assim sido. Todavia é quase certo que fosse hoje Lula na Itália, ele jamais sairia da embaixada pela porta dos fundos como Bolsonaro para medroso se esconder da enorme reprovação planetária e nem ficaria num canto obscuro da sala do G20, ação vergonhosa que mereceu do agredido jornalista Jamil Chade o comentário de que num canto daquela sala em Roma, não era um homem que parecia isolado; mas um país que tinha perdido seu lugar no mundo.
Tampouco se escusaria como ele de participar do encontro dos líderes em debate crucial sobre as mudanças climáticas na COP 26; figuraria, como o fez no passado e muita gente isso acharia, com destaque, atraindo positivamente a atenção do mundo para o Brasil.
Nesses nossos tempos conturbados e sombrios, os destemperados podem dizer que Fabiano Leitão não é trompetista; é um flautista de Hamelin petista ladrão comunista tocando para conduzir a plebe ignara bovinamente para a desgraça.
No conto original, essa desgraça que não é a do populacho e sim a dos ratos que infestavam a cidade, é o da morte por afogamento no Rio Weser. Releituras pintam a imagem trágica duma morte por queda num abismo.
Afogados estamos pelo desmanche inclemente da democracia, da economia, da ciência, da cultura, da saúde, da civilidade, da decência enfim. E no abismo mergulhamos em interminável queda livre.
A melodia do trompete, por isso, não conseguiria nem nos afogar nem nos lançar no precipício.
Seu limitado poder é o de despertar a lembrança de que melhor poderia ser nossa vida se não tivéssemos sido vitimados por um golpe urdido por retrógrados.
Fabiano Leitão é um ativista político trabalhando sem medo em tempo integral; recentemente, se perfilou tocando em frente aos tanques de guerra no patético desfile de 10 de agosto. Começou sua cruzada em Brasília faz cinco anos para depois viajar pelo país soprando seu trompete. Longe está de ser um “vagabundo”, impropério com raiva berrado por alguns que caminhavam, corriam ou andavam de bicicleta na praia do Perequê ao presenciarem de passagem a apresentação do instrumentista.