A região do Litoral Norte será contemplada pela implantação do primeiro radar meteorológico para prevenção de desastres naturais, principalmente em áreas de risco, da região. O RMT 0200 foi inaugurado na manhã desta quinta-feira (1º), em São José dos Campos, e tem capacidade de cobrir um raio de 400 quilômetros para fornecer informações precisas sobre eventos meteorológicos severos.
A tecnologia foi desenvolvida no Brasil, pela empresa IACIT. As informações geradas serão monitoradas pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), vinculado ao Ministério da Ciência. Atualmente, o centro acompanha mais de 50 mil áreas suscetíveis a deslizamentos, inundações e enxurradas em todo o Brasil, abrangendo uma população de mais de 10 milhões de pessoas, a maioria em situação de vulnerabilidade social.
“Só com um radar conseguimos prever aquelas tempestades de verão, que são intensas e localizadas. As imagens de satélite, os modelos meteorológicos, podem indicar condições para este tipo de tempestade, mas não quando e onde ela vai ocorrer. Um radar como o da IACIT nos mostra o sistema em formação, e nos permite acompanhar o crescimento e o comportamento dessa massa em tempo real”, disse o diretor da unidade de pesquisa, Osvaldo Luiz Leal de Moraes.
O RMT 0200 é um radar meteorológico banda S de dupla polarização em estado sólido. Ele consegue fornecer, por exemplo, dados sobre a formação das chamadas Cumulonimbus (CB), aquelas nuvens densas que crescem rapidamente e provocam tempestades volumosas. O radar monitora o tamanho das gotas de água e dos cristais de granizo existentes nessas nuvens. Com essas informações, é possível prever o volume, a localização e o momento em que ocorrerá a precipitação.
“A tecnologia do radar da IACIT me surpreendeu, é o que há de mais avançado em termos de radares meteorológicos no mundo”, disse Moraes.
Os dados gerados pelo RMT 0200, agregados a informações geradas por pluviômetros, estações hidrológicas e geológicas, e outros instrumentos instalados em áreas de risco, permitem que o Cemaden aumente sua capacidade preditiva de desastres e emita alertas antecipados para os municípios atingidos e para a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil.
Tragédia no Rio motivou criação do Cemaden para monitorar desastres naturais
O Cemaden foi criado pelo governo federal em julho de 2011 como resposta ao pior desastre natural registrado no Brasil. Em janeiro daquele ano, sete municípios da região serrana do Rio de Janeiro foram atingidos por chuvas torrenciais, que provocaram inundações e deslizamentos de terra.
A tragédia na serra fluminense matou mais de 900 pessoas e deixou prejuízos financeiros estimados em R$ 4,78 bilhões, de acordo com relatório divulgado pelo Banco Mundial. Até aquele momento, o Brasil não possuía um serviço nacional de monitoramento e alertas de desastres.
Segundo Moraes, ter criado o Cemaden sob a égide da Ciência foi fundamental para que o órgão pudesse se desenvolver e cumprir sua missão. “Todos os nossos pesquisadores são doutores formados. Na nossa sala de operação, temos 42 pessoas, metade com título de doutor e as demais, de mestre”, destaca Moraes.
Classificado como unidade de pesquisa desde 2016, hoje o Cemaden, além de promover a capacitação de agentes de Defesa Civil de todo o país, também mantém um programa de pós-graduação em desastres naturais, nível de mestrado e doutorado, em parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp).