Dia Mundial do Meio Ambiente: Trabalho e paixão por Ubatuba

No Dia Mundial do Meio Ambiente, Hugo Gallo Neto, oceanógrafo, presidente do Instituto Argonauta e diretor do Aquário de Ubatuba, escolheu falar sobre sua história de trabalho e paixão pela cidade.

Ele conta que se apaixonou pelo mar, aos 10 anos de idade, em Ubatuba. “Foi aqui no Litoral Norte que, de certa forma, decidi o que queria fazer da vida: Trabalhar com o mar. Isso foi em 1976, a Rio-Santos tinha acabado de ser inaugurada e as imagens da Mata Atlântica, cortada por baías e enseadas, de praias límpidas, nunca saiu da minha cabeça”.

Foi assim que o campineiro e caipira, como se denominou, decidiu ser oceanógrafo e morar perto do mar. “Coincidência ou não, logo que me formei na Universidade Federal do Rio Grande (FURG), em 1987, surgiu um emprego com Maricultura (cultivo de organismos marinhos) da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) no Instituto de Pesca em Ubatuba e eu, só que aguardava um mestrado no exterior para seis meses depois, vim apenas para aproveitar o tempo ocioso”.

Gallo nunca mais fui embora.

Criando raízes em Ubatuba

“Construí um barco para trabalhar com Ecoturismo, ajudei minha companheira Berenice Gomes a fundar o Tamar e depois, em 1996, fundamos o Aquário de Ubatuba.

Com os pinguins, no Aquário de Ubatuba (Foto: Arquivo Pessoal)
Com os pinguins, no Aquário de Ubatuba (Foto: Arquivo Pessoal)

“A ideia do Aquário cheguei a dar a outras pessoas, mas foi com um amigo de faculdade, Eduardo Nascimento Radwanski, que encontrei a sensibilidade para entender a ideia e investir comigo nessa empreitada. Tínhamos o sonho de, a exemplo de instituições no exterior, poder gerar recursos e fazer pesquisa, conservação e educação ambiental mostrando para todos, turistas e população local, a importância de preservar a natureza de nossa região”.

Em 1998, percebendo que manter o aquário aberto com a sazonalidade turística seria uma tarefa hercúlea, decidiram fundar o Instituto Argonauta para a Conservação Costeira e Marinha, uma ONG cujo objetivo era captar recursos para mais conservação, pesquisa e educação do que já faziam. Poderia ter se chamado Instituto Aquário de Ubatuba.

O Aquário, conta Gallo, sustentou financeiramente o Instituto por muitos anos, “se bem que era o oposto do que desejávamos, mas o investimento valeu a pena. “Em 2006 recebemos uma verba de patrocínio da Petrobras, cuja Área de Meio Ambiente reconheceu nosso trabalho e estabeleceu um convênio que durou três anos. Por fim, o Instituto Argonauta foi escolhido para executar o Projeto de Monitoramento de Praias (PMP), em toda a região”.

“Olhando para trás nestes 24 anos, acredito que a missão originalmente proposta ao fundarmos o Aquário foi e está sendo cumprida; se acaso 1% das pessoas que por ali passaram se sensibilizaram, terá valido muito a pena”.

“Tenho certeza que foi muito mais que isso e estudos de universitários que por ali passam todos os anos fazendo estágio, comprovam isso. Aliás, temos convênios com mais de 140 universidades e recebemos, sem nenhum apoio do município, todas a escolas municipais gratuitamente durante o ano letivo”, explica.

Pandemia

Hugo comentou que este talvez seja o ano mais difícil, pois como empreendimento turístico, o Aquário está fechado desde o dia 23 de março e sem nenhuma entrada de dinheiro até esta semana. “A Covid-19 nos traz muitas reflexões neste momento e fico pensando qual a lição que temos que tirar disso”, explica.

“Nossos dados apontam claramente que com a quarentena e diminuição do número de pessoas nas ruas, praias e mar, a poluição diminuiu muito, as águas estão mais limpas e os animais (como baleias, golfinhos, aves e tartarugas) mais desinibidos, se tornando mais visíveis. A natureza se recupera rápido. Então de fato, penso que a lição que temos que aprender é justamente a de que o maior patrimônio de nossa região, é sua natureza. Centenas de milhares de pessoas nos visitam todos os anos para ver a beleza de nossas matas, cachoeiras, praias e mares. Muitos gostam tanto que até tentam comprar uma casa ou apartamento para vir sempre… Mas será que isso é bom? Digo bom para um futuro sustentável? Temo dizer que não”.

Ele completa que “acredito que já estamos próximos de nossa capacidade de suporte, ou seja, aumentar o número de unidades habitacionais demais na região, já vem trazendo um colapso em todos os tipos de serviço , em especial no verão, agravado por estradas com maior capacidade, ampliação portuária, etc. De outro lado, o trânsito, o esgoto, o lixo, os hospitais, tudo fica sobrecarregado pelo excesso de pessoas e nos traz sérios problemas ambientais”.

Para ele, os governos investem nestes megaprojetos, mas não investem em saneamento básico na mesma proporção em que a iniciativa privada constrói novos apartamentos e com isso, essa nossa natureza, este patrimônio que deveria garantir de forma sustentável o futuro de nossa população, está sendo seriamente ameaçada.

“A cada ano vemos mais praias classificadas como impróprias, mais problemas de lixo,   problemas sociais, trânsito, segurança,  etc. Não seria melhor trabalhar um turismo sustentável que ajudasse a preservar a natureza, do que manter este ritmo de construção de segundas residências em toda região?”.

Gallo ainda observa que “ou paramos como sociedade para compatibilizar os interesses sociais, econômicos e ambientais, ou estaremos matando a natureza do Litoral Norte. Nossa verdadeira galinha dos ovos de ouro”.

Na avaliação do oceanógrafo, as pessoas precisam se envolver mais com o meio ambiente, discutir estes problemas e a raiz da solução está em compatibilizar essa equação de três pés: social, ambiental e econômica.

“Isso só pode se dar através de uma reflexão e mudança de atitude da população , empresários e gestores locais. Por isso, acredito em nosso trabalho de Educação. Só através dela podemos melhorar as coisas. Por isso, espaços como o Aquário de Ubatuba, o Projeto Tamar e, futuramente,a nova sede do Instituto Argonauta, são especialmente importantes”.

Ele complemena que estão desenhados para as pessoas se sensibilizarem e a partir disso refletirem sobre seu papel nesta questão. “Veja, o Covid-19 é um vírus, uma das mais primitivas formas de vida. Ao que tudo indica, foi introduzido na população humana por pessoas que tinham um exótico hábito de se alimentar de morcegos. Olha a lição que a natureza nos dá neste momento: vocês humanos acham que dominam o planeta e podem fazer o que quiserem? Vou lhes apresentar um vírus, para lhes mostrar que se não entenderem que fazem parte da natureza e que não podem domina-la, estarão fadados ao fracasso. Todas as formas de vida são importantes! #alllivesmatter”.

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