Caso Cristina: “Ele tem traços de psicopatia”, revela delegado responsável sobre acusado

Em entrevista ao Nova Imprensa, o delegado Jairo Pontes, titular da 1ª Delegacia de Caraguatatuba, localizada no bairro do Porto Novo, na região sul, informou que está à frente do caso porque em novembro estava como delegado titular também da delegacia do Centro da cidade e acabou acompanhando desde o desaparecimento de Cristina Coelho Novaes.

“Eu fui um dos primeiros a chegar ao local onde foi encontrado o corpo dela, no domingo (17/11). Para evitar que a família a visse naquelas condições, passamos por telefone algumas características físicas, informamos tatuagens e a família confirmou que poderia ser Cristina. Preferimos que eles reconhecessem somente no IML (Instituto Médico Legal)”.

Começaram as investigações tentando refazer os caminhos que ela havia feito, por meio de depoimento até do irmão, que informou que ela havia decidido sair para beber na noite de sexta-feira e das imagens de uma câmera de segurança que flagrou o suspeito saindo de casa, primeiramente com um colchão, que estava manchado de sangue da vítima.

“Quando ele a matou, o colchão ficou manchado e o suspeito fez questão de desfazer-se da prova. No vídeo, aparece também quando ele sai de casa com o saco idêntico ao que o corpo foi encontrado”.

Logo em seguida a prisão foi solicitada, mas neste meio tempo, ele fugiu. “Soubemos que ele foi primeiro para São Paulo, na casa do irmão e da cunhada, onde aconteceu uma confusão e um boletim de ocorrência de ameaça foi feito contra ele. Mais uma vez ele fugiu, desta vez para Paraty, no Rio de Janeiro, onde começou a trabalhar em um quiosque. Foi então que foi reconhecido por um policial militar e preso”.

As dúvidas

Cogitou-se que Cristina e Felipe Thiago Fet Lino, 31 anos, teriam se conhecido em um aplicativo de relacionamentos, porém, o suspeito disse ao delegado que os dois se encontraram por acaso em um bar. “Isso confere com a informação do irmão da vítima de que ela teria saído para beber”.

Acusado estava em Paraty (RJ) quando foi preso (Foto: Divulgação/Reporter Online)

O delegado afirma que Felipe tem todos os indícios de uma pessoa psicopata, não demonstrando arrependimento ou qualquer tipo de sentimento em relação ao crime que cometeu.

Ele ficou preso durante sete anos e fazia apenas dois meses que estava livre. “Perguntei a ele qual a motivação do crime e ele não soube responder, disse apenas que havia usado muita droga e que, inclusive, a vítima teria feito uso com ele e que por isso não se lembra de muita coisa”.

Ainda conforme o delegado, o acusado contou que aconteceu um churrasco em sua casa, no Poiares, região central da cidade, naquela sexta  (15/11), até aproximadamente meia-noite. Então decidiu sair para continuar bebendo, momento que conheceu Cristina. Depois de um tempo de conversa no bar, o suspeito convidou a vítima para irem à sua casa e ela aceitou. Imagens de uma câmera de segurança mostram os dois chegando à casa por volta das 3h da madrugada; a mãe, a tia e a avó já dormiam na casa da frente.

O delegado justificou o fato de ninguém ter ouvido ou percebido a presença de Cristina na casa. “Os familiares não ouviram nenhum barulho porque o quarto dele era nos fundos, no anexo da casa, e a entrada não era feita por dentro, mas por um corredor lateral”.

O delegado explicou, ainda, que é muito provável que a vítima estivesse desmaiada ou adormecida no momento até porque havia bebido e, segundo o acusado, consumido drogas. “Ela não pediu socorro e nem reagiu ao estrangulamento”.

Ele estrangulou a vítima com uma corda, amarrando-a em seguida e depois a colocado no cobertor e no saco, onde permaneceu o sábado todo, sendo jogada no córrego apenas na madrugada de domingo .

Felipe tentou justificar ao delegado Jairo Pontes que uma ex-namorada o havia visto com Cristina e determinou que ele deveria “dar um jeito na vítima”.

“A moça foi ouvida e negou que tenha visto os dois juntos, inclusive, em nenhum momento apareceu uma terceira pessoa nas imagens analisadas”.

O pedido de prisão temporária de 30 dias de Felipe começou a valer no domingo, dia da prisão. “O Dr. Tadeu, que é o delegado titular da Delegacia do Centro, entrou com pedido de prisão preventiva, que não expira e nos permite encaminhá-lo para o CDP (Centro de Detenção Provisória), onde ficará até o julgamento. Por enquanto, ele continua na delegacia, em cela separada para não correr o risco de uma represália por parte dos presos.

Perguntado se acreditava que, se fosse para rua novamente, o acusado voltaria a cometer crimes, o delegado respondeu: “Por mais que eu acredite que ele vai ficar bastante tempo preso por causa da gravidade do crime, eu penso que se ele voltar para rua vai cometer outros crimes. Apenas dois meses depois de receber a liberdade, depois de sete anos preso, ele cometeu essa barbaridade. Ele é um risco à sociedade”.

Psicopatas

Segundo a psicóloga Eliane Gomes, a psicopatia é um transtorno de personalidade que atinge cerca de 3% da população mundial. Em geral, os psicopatas apresentam uma anomalia no funcionamento do córtex orbitofrontal, região do cérebro responsável por transmitir as emoções. Embora não exista uma causa específica para esta alteração, alguns estudos sugerem que há uma forte influência genética e que a psicopatia não é causada por traumas ou eventos ao longo da vida.

Por conta da ausência de atividade na região cerebral responsável pelas emoções, o psicopata é uma pessoa apática, incapaz de perceber seus sentimentos e de simpatizar com as emoções dos outros. Este indivíduo é dominado pelo excesso de razão e ausência de emoção, e passa a simular emoções para manipular os outros e alcançar algum objetivo individual, geralmente poder, status ou dinheiro.

Psicopatas tratam as pessoas e os sentimentos como objetos que podem ser descartados a qualquer momento, especialmente quando não possuem mais utilidade. São pessoas frias e egoístas, que consideram apenas que seu próprio bem-estar é importante.

Os psicopatas não reagem fisiologicamente a momentos que trazem emoções fortes, sejam elas positivas ou negativas.

O lado racional dessas pessoas funciona muito rapidamente e, pela ausência do emocional, não apresentam reações quando estão mentindo.

O psicopata é capaz de dizer coisas contraditórias olhando nos olhos de uma pessoa e, muitas vezes, fingem para conseguir seus objetivos. Quando flagrado em uma mentira, raramente fica constrangido e apenas muda de assunto ou tenta refazer a história para que pareça mais verdadeira. Frequentemente, procuram prazer na tortura física, psicológica e emocional de suas vítimas. Não sentem remorso, pois não acreditam que possam errar e não têm medo de uma possível punição por seus atos.

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