POR AÍ! Canoa Caiçara: a história por trás das embarcações

Uma beleza indiscutível: a canoa caiçara

Em meio ao avanço tecnológico e a crescente especulação imobiliária nas terras caiçaras, ainda podemos ver uma cultura de resistência nas comunidades tradicionais de Ilhabela. O maior símbolo desta luta é de uma beleza indiscutível: a canoa caiçara. Uma invenção local desenvolvida com conhecimentos passados dos índios, carregada de uma arte genuína e que pode ser vista aportada e colorindo a maior parte das praias da cidade. A canoa é uma embarcação grande e forte, feita de madeira resistente, mas cheia de alegria e cores. É ainda o principal meio de transporte para moradores de sociedades remotas.

As técnicas da produção canoeira são passadas oralmente de pai para filho em todo o Litoral Paulista. Não existe nenhum documento ou manual que ensine a construir uma canoa e apenas os moradores que vivem a realidade caiçara podem explicar os princípios do feitio artesanal. Em Ilhabela, a canoa ganha características próprias, como a sobreborda, um reforço que deixa a proa e as laterais mais altas para enfrentar o “mar grosso” do arquipélago, como é dito no sotaque caiçara. O bordo reforçado evita que as marolas quebrem dentro do barco e facilita, também, a saída na praia.

O mestre canoeiro Primitivo de Jesus tem 73 anos e mais de 22 canoas no currículo, esculpidas com as próprias mãos. Nascido de parteira na comunidade do Bonete, no extremo sul de Ilhabela, ele passou a vida exercendo as mais tradicionais atividades caiçaras, como a pesca e a produção da farinha de mandioca. Hoje ele ensina aos seus filhos e netos a arte canoeira, mas conta que, com a chegada das lanchas e outras novidades, o interesse pela produção de canoas entre os jovens não é mais o mesmo.

Na contramão da globalização cultural que acaba engolindo hábitos tradicionais e a conexão entre homem e natureza, o feitio da canoa segue em sua sintonia direta com as condições ambientais, tanto no abate da madeira para produção, quanto nas necessidades exigidas pelo mar e vento. Apesar da diminuição da produção, boa parte dos caiçaras tradicionais ainda conhece a técnica de cabeça e se vira se for preciso produzir seu meio de transporte para o “mundo da cidade”.

Além da canoa tradicional, muitos artesãos fazem a miniatura dela para as crianças brincarem e também para vender aos turistas. O remo de madeira também é um objeto essencial para a cultura da navegação, pois mesmo com a motorização das embarcações, um bom marinheiro não sai sem seu remo. Um dos filhos de Seu Primitivo é referência na produção deste item no Bonete e vende para boa parte dos moradores e também atende encomendas de fora. Além do uso tradicional, o remo de madeira colorido e completamente artesanal também se tornou um objeto de desejo entre decoradores.

Seu Primitivo aprendeu a confeccionar canoas e remos desde os 20 anos com seu avô, o lendário Pedro Paulista. Ele conta que agora o seu neto segue a tradição. “Com apenas seis aninhos, meu neto já observa tudo o que fazemos em casa e fica bravo se não levamos ele para as atividades na praia. E foi assim que aprendi a arte canoeira. Hoje ele já sabe todos os nomes das espécies de peixes que temos por aqui e já me viu fazer muitas canoas em miniatura para ele brincar. É essa curiosidade que preserva e nos faz resistir no que é nosso”, conta ele.

Transporte

A comunidade do Bonete só pode ser acessada pelo mar ou por uma trilha de 16Km, a pé. No começo do século XX, as canoas eram o único meio de locomoção capaz de carregar materiais e para fazer a troca de alimentos na cidade, já que nem sempre foi fácil viver e manter uma alimentação equilibrada com a produção própria no local. O arroz e o feijão, por exemplo, precisam ser trazidos de fora. E tudo isso era feito a remo. Hoje, as embarcações ganharam motores de centro, a diesel, com eixos e hélices para otimizar a navegação. O design próprio para enfrentar altas ondas tornou as canoas um veículo rápido, resistente e seguro dentro do mar.

Segundo Seu Primitivo, se a madeira certa for usada, os barcos podem durar mais de 50 anos com força total. Inclusive, ainda hoje, o transporte de materiais de construção pesados, como telhas e tijolos, por exemplo, ainda dependem das canoas, pois as lanchas mais modernas não possuem capacidade para aguentar muito peso e podem afundar.

O ritual

A produção da canoa segue um ritual herdado de muitas gerações e envolve toda a comunidade. No mato, o trabalho é pesado e precisa de pelo menos três homens para a derrubada da árvore escolhida. Seu Primitivo conta que as melhores madeiras para produção ainda são encontradas na floresta que cerca a praia do Bonete, como o cedro, cobirana, urucurana, jequitibá, jataí e louro.
Depois de escolher a melhor árvore é preciso descampar uma área e fazer um estaleiro para apoiar a madeira bruta. Aí começa o trabalho de entalhe com o machado, que pode durar meses até a finalização. O próximo passo é chamado de arraso, quando a parte de cima do tronco é retirado e começa a se formar a boca da canoa. Depois é feito o chamado desbojo para talhar as laterais do barco em formação. Em seguida começa o cavoco, que retira toda a parte interna, já dando formato à embarcação.

Quando termina este processo, a canoa é virada com a boca para baixo e começa a medição e o alinhamento, que definem a boa navegação do barco. Pautado pelas chamadas “25 linhas”, o mestre canoeiro começa sua marcação com barbantes e carvão. Com as medidas definidas, começa um entalhe mais fino, com um machado menor chamado enxó. O mestre finaliza por fora e faz a repica por dentro.

Começa então a “puxada”, um ritual que envolve pelo menos 30 homens da comunidade e também suas famílias. Rolos de madeira são colocados embaixo da canoa e eles começam um trabalho árduo de puxar o barco com cordas pela mata a baixo. Quando eles chegam à praia, as mulheres e crianças os esperam com comidas e bebidas para celebrar a força do trabalho deles e a inauguração da nova embarcação.

Após a festa, a canoa já está pronta para a parte final: a pintura toda colorida que não nos faz pensar em outra coisa, senão beleza! Nessa etapa, o barco passa pelo acabamento e o enxó do mestre imprime sua linhas finais. As sobrebordas são colocadas, a canoa é lixada, colorida e envernizada e está pronta para enfrentar os mares e aventuras do nosso litoral!

2 Replies to “POR AÍ! Canoa Caiçara: a história por trás das embarcações”

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    Belos comentários sobre canoas. Tenho intenção de comprar uma. Com casco bom e motor Yamar bom também, quem souber ligue para Walter 11-99385-6040. Estou na Ilha. obrigado.

  2. Minha paixão é a canoa, desde menino, tanto q já construí cinco e de fibra, ficaram perfeitas, tanto q quem olha pensa q é de madeira. Uma de sete metros de vendi para um pescador do porto novo cujo nome de registro na marinha é EU Q FIZ. As outras estão em Caraguatatuba. Hoje resido em Umuarama/PR, mas pretendo retornar e terminar uma de 4 metros q está em minha casa em Caraguatatuba/sp no jardim Gaivotas . E tenho uma tbm de 4mts/90 de boca,, coisa linda, só foi na água para experimentar o motor de popa. A título de informação estou vendendo, preço de ocasião. Como disse no começo, canoas são minhas paixões, e ainda pretendo construir uma de 8 metros. Muito obrigado por me darem a oportunidade de falar de uma das minhas paixões e parabéns 👏👏 pelo site.

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