O navio WMF Express, da Guiné Bissau, que atracou no Porto de São Sebastião nesta quinta-feira (1º) para o embarque de 3,6 mil bois com destino à Arábia Saudita não poderia estar em atividade, conforme o estaleiro que o construiu.
A embarcação, de 86,6 metros e 2,7 mil toneladas, construída em 1991, tem durabilidade de 11 a 15 anos, segundo a Kitanihon Shipbuilding Co Ltda. “A vida útil de um navio varia muito dependendo de como ele é usado e mantido. Ela pode ser prolongada ao se investir em reparos e manutenção, mas mesmo levando isto em consideração, estima-se que o limite seja de cerca de 25 anos. Ficaríamos surpresos se o navio, construído em 1991, ainda estivesse em operação, então, por favor, avise-nos”, alerta email enviado pela empresa que construiu o WMF Express.
O navio foi responsável pelo maior derramamento de óleo em duas décadas, em 2020, em Ceuta, na Espanha. Na época, com o nome de Holstein Express, o administrador do Porto de Ceuta multou a embarcação em US$ 410 mil, cerca de R$ 2 milhões, por ter derramado cinco toneladas do combustível durante abastecimento.
Hoje com 33 anos, o navio foi batizado de Ariake Maru nº 8, em 2006, recebeu o nome de Leader, em 2011 passou-se a chamar Leader I para em seguida ser rebatizado como Orient I. Em 2014 recebeu o nome de Holstein Express. E sob esta alcunha houve pelo menos outro problema com a embarcação em 2020. Além da primeira, em janeiro, quando ocorreu o derramamento de combustível em Ceuta, houve uma pane próximo ao Egito.
Antes de sua chegada à Espanha, o navio havia entregue 3 mil bois em Alexandria. Conforme a Plataforma Anti-Transporte de Animais Vivos (Patav), uma avaria causou a parada do navio durante 26 dias em alto mar com centenas de animais vivos a bordo, em 16 de julho de 2020. A embarcação havia saído na madrugada do Porto de Sines, o maior porto artificial de Portugal, em direção à Israel, mas por “problemas técnicos” precisou ficar fundeada no local por mais de 24 horas. Em 2023 o nome do navio foi trocado para WMF Express.
A ferrugem e o acúmulo de resíduos fazem com que este tipo de transporte necessite de revisões constantes, o que gera custo bastante elevado e leva as companhias proprietárias pelas embarcações os substituírem por novas. Em 2020, quando ocorreram os maiores problemas, a embarcação já tinha 29 anos, e hoje, com 33 anos, levará cinco mil bois para a Arábia Saudita.
Com mais esse episódio, o Movimento Carga Viva Não, composto por moradores de São Sebastião e de todo o Brasil, intensificou seus esforços para protestar contra a exportação de animais vivos. De acordo com o grupo, a população está ciente dos riscos associados a essa prática e exige uma revisão imediata das regulamentações, visando a proteção dos animais e a promoção de alternativas mais éticas.