Com o argumento de “expandir a transparência dos atos legislativos”, a Câmara de São Sebastião contratou uma empresa para implantação de web rádio. O contrato anual, de R$ 168 mil, foi assinado em dezembro do ano passado, no último mês da gestão do vereador José Reis na presidência da Câmara. Dezoito dias depois, o parlamentar fez o primeiro pagamento, no valor de R$ 14 mil (custo mensal do contrato, pago antes de completar um mês).
Nos canais de comunicação da Câmara não há nenhum registro sobre o lançamento da web rádio. A nova plataforma era desconhecida até mesmo pelo departamento de comunicação do próprio órgão. “O departamento não recebeu qualquer conteúdo referente a web rádio”, afirmou o diretor Cesar Rodrigues, em mensagem enviada ao atual presidente Marcos Fuly, no dia 12 de janeiro.
O diretor ainda ressaltou que a Câmara possui outros meios de comunicação, e considerou desnecessária a contratação. O presidente Fuly decidiu, então, suspender novos pagamentos e rescindir o contrato.
A despesa chamou a atenção da fiscalização do Tribunal de Contas, que sugere abertura de processo administrativo, a fim de apurar se houve prestação dos serviços.
A web rádio continua no ar, tocando músicas no endereço: https://cmss-webradio.site.radio.br/. Em meio à programação, uma gravação oferece um aplicativo, que estaria disponível para “ouvir todas as atividades da Câmara”. Mas a reportagem conferiu que não há aplicativo nenhum do órgão.
Na página também não há notícia, vídeo ou qualquer outro tipo de conteúdo relacionado à Câmara. As informações do rodapé indicam que a página foi criada em 2019 e pertencia à “Nossa Rádio”.
O contrato da Câmara previa um “plano de gestão da web rádio, transmissão de todos os eventos, confecção de grade de programação e relatório de exibição”. Nada disso foi feito.
A contratada foi a NRD&M, empresa do comunicador Adelson Pimenta e única participante da licitação. Segundo Pimenta, foram produzidos áudios com informações dos trabalhos da Câmara e uma “mensagem de fim de ano” do então presidente Reis. Ele diz que “todo esse conteúdo foi para o ar”, e afirma que não houve interesse da Câmara em colocar o link da web rádio no site oficial.
Pimenta também acusa Fuly de forçar o rompimento do contrato. “Produziu um relatório eivado de mentiras sobre uma suposta inexistência dos serviços”, afirma o empresário.
Na gestão de Reis, a empresa de Pimenta foi contratada também para: “criação de podcast”, “elaboração de atas”, “confecção de cartilhas” e diversas publicidades em revista. Em dois anos, recebeu um total de R$ 411 mil.
Procurado pela reportagem nesta terça-feira, Fuly sustenta que não havia necessidade para manutenção da web rádio. Seis meses depois de ser informado pelo diretor de Comunicação sobre a inexistência de conteúdo da web rádio, Fuly ainda não sabe se vai apurar se houve pagamento sem a devida prestação de serviço.
O presidente se mostrou surpreso, ao ser informado pela reportagem que a web rádio continua no ar, e prometeu tomar providências. Já o ex-presidente Reis não respondeu aos questionamentos.