pulando da borda plana

pulando da borda plana

artigo de opinião da série jornalística viagem pitoresca e histórica ao brasil pátria amada brasil

Gilberto Gil cantava gente estúpida gente hipócrita e nesse tempo não faz tanto tempo assim a gente sabia a quem ele se referia; eram eles, a escória do congresso nacional, uma cambada de políticos sem holofote, deputados dos cafundós do brasil pátria amada brasil que ficavam circunscritos a sua estrumeira.

Um general num passado bem recente parodiou um samba popular e cantou em convenção partidária: se gritar pega centrão, não fica um meu irmão, se esquecendo de que seu líder messias mito tenente expulso capitão reformado foi durante toda a sua longa ignara carreira na câmara, integrante desse grupo tão demonizado. Fazendo parlapatices no plenário e as repetindo em vídeo para alavancar audiência de programas humorísticos oportunistas e elas, ainda que fossem xucras, levianas e incitadoras de crimes, passaram batidas pela comissão de ética parlamentar, pela imprensa, pelo judiciário, quem sabe no pensamento de não valia a pena perder tempo com personagem tão burlesco.

Burlescos foram quase todos os líderes totalitários da história. Quem assiste em filmes envelhecidos o discurso colérico dalguns deles frente a multidões não compreende como puderam incendiar o mundo sendo risivelmente patéticos.

o sonho da razão produz monstros/ pintura/ 50cm x 50cm/ Márcio Pannunzio

Ainda estamos aqui discutindo uma coisa que não tem cabimento. É como se estivéssemos discutindo de que borda da terra plana vamos pular.

 Resposta lacradora da Luana Araújo, médica infectologista que virou celebridade, em depoimento à CPI da Covid com força mais do que suficiente para calar as absurdidades dos senadores governistas. Bom, por um tempinho, pelo menos.

Cinquenta e sete milhões de brasileiros escolheram se jogar duma das bordas da terra plana e ao fazerem isso, levaram junto o país inteiro, mais de duzentas e dez milhões de almas agora penadas.

O país que se esfacela veloz sob o comando daqueles eleitos para protegê-lo, vai exibir para sempre a digital de cada um desses cinquenta e sete milhões e nem precisaria haver para tal, voto impresso a comprovar. Seus descendentes e demais parentes, seus conhecidos e amigos, seus empregados e empregadores que não compartilharam da escolha feita, os fustigarão com a lembrança da sua cumplicidade na catástrofe.

a equilibrista/ gravura/ xilografia de topo/ 8,1cm x 9,8cm/ Márcio Pannunzio

Empalideceu a lembrança da performance da doutora Luana em tudo oposta a da também médica Nise Yamaguchi e a da capitã cloroquina, o artigo nem toda Luana que reluz é ouro, de Peterson Pacheco.

Se era difícil de entender por que alguém com a competência dessa médica iria se submeter a trabalhar sob o mando e ao lado de gente com capacitação sob suspeição, o ato radical de apagamento das suas redes sociais, parcialmente o explica.

Ela deve ter sido um dos votos no meio daqueles mais de cinquenta e sete milhões que encastelaram o terraplanismo no brasil pátria amada brasil e afinal, não apenas escolheu a sua borda da terra plana, como dela pulou.

Não obstante soube com virtuosismo ímpar com o choque da verdade restaurar a ordem naquele barraco de negacionistas histéricos que os senadores situacionistas se empenhavam em transformar a CPI. E por isso, nesse meio inóspito e pustulento onde vicejam gabinetes do ódio e das sombras que podiam se irmanar num único gabinete, o da morte, apesar dela não ser ouro, reluziu feito ouro nas tvs do país.

Seu depoimento sem travas na língua conferiu à ciência o seu lugar de honra e desnudou a mediocridade e a nocividade da atuação da médica Nise Yamaguchi e da médica capitã cloroquina Mayra Pinheiro, tornada notoriedade midiática ao agredir covardemente no aeroporto, gritando para “que voltassem para a  senzala”, os médicos cubanos que chegavam ao Brasil em 2013 pelo programa do governo federal Mais Médicos, cancelado por Bolsonaro com a nefasta consequência de deixar órfãos de assistência médica incontáveis lugares remotos na geografia brasileira. Foi essa atitude deletéria da capitã que a capitaneou para integrar a trupe do capitão. Continuando a praticar a ignomínia, seu gabinete agora se ocupa da missão vergonhosa de desqualificar Luana Araújo. Se fosse os anos 90, seria capa da próxima Playboy. Como estamos no século XXI, será a próxima candidata do PSOL, postou no whatsapp assessora da capitã com o reforço dum enfático pedido: “por favor, divulguem essa verdade, ajudem a desmascarar essa farsante imposta pela mídia criminosa!!!” Assim mesmo, com três pontos de exclamação.

Em socorro à médica Nise, combativas milícias virtuais propagam pelas redes sociais a campanha #SomosTodosDra.Nise. Choramingam que a ilustre doutora foi destratada pelos senadores não governistas por a terem qualificado como uma charlatã negacionista.

Fato incontestável nesse período infame de brasil pátria amada brasil de dissolução das instituições e dissolução do estado de direito, é que a ciência brasileira sucateada pelos bolsonaristas que enxergam comunista até debaixo de tapete e na Fiocruz, pede socorro, quando a dolorosa realidade de quase meio milhão de brasileiros mortos pela covid vocifera em vão para esses milhões de desalmados pátrios verde amarelados surdos que é o governo quem deveria pedir socorro para a ciência.

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