Tradicional Congada de São Benedito ganha exposição de fotos

Considerada a manifestação mais forte e tradicional da cultura caiçara, a Congada de São Benedito chega a mais uma edição em Ilhabela. E este ano, ganha uma exposição especial de fotos, pelo olhar do artista Márcio Pannunzio, que captura imagens do evento desde 2010. A mostra “Congada em tela: fotografias de Márcio Pannunzio” pode ser vista no Centro Cultural da Vila, de 15 de maio a 2 de junho, das 9h às 18h, todos os dias da semana.

As 30 fotografias expostas foram selecionadas entre mais de 11 mil e impressas com tinta pigmentada em canvas premium – substrato fine art de algodão e poliéster, originando quadros de 80cm x 60cm, que dão a impressão de que as imagens são telas pintadas à mão.

Pannunzio conta que as fotografias parecem pinturas devido a tecnologia empregada na impressão. “Isso, por causa do seu cromatismo vibrante e do seu enquadramento criativo. Ambos, resultado do trabalho apurado no ato de fotografar com foco seletivo, através do uso de lentes antigas clássicas e de lentes especiais e por uma ainda mais minuciosa e paciente edição fotográfica, valendo-se de diversos programas de tratamento de imagem. Tudo isso para buscar mostrar ao público a beleza extraordinária da Congada de Ilhabela com a qualidade fotográfica que ela merece”.

A Congada de São Benedito tem mais de 200 anos de história e acontece, este ano, de 17 a 19 de maio, dentro da Semana de Cultura Caiçara, nas ruas da Vila. O evento conta ainda com com quermesse e shows musicais de Nayara Azevedo, Grupo Feitiço e Carreiro e Capataz.

História

A festa da Congada conta com teatro e dança de rua, música, comida e muita devoção. A alegria dos tambores e da tradicional marimba, das flores e das cores atrai centenas de expectadores locais e turistas todos os anos. O Baile dos Congos, momento mais esperado da festa, representa a história da guerra entre os reinos de Congo, cujos súditos do Rei, sempre vestidos de azul, são cristãos e devotos de São Benedito, contra o exército de Luanda, que são os mouros pagãos e vestem as cores vermelho e rosa. Quando o exército azul do Congo consegue derrotar a tropa inimiga, o Rei acaba concedendo o perdão em nome da bondade de São Benedito. O embaixador se emociona com o perdão concedido pelos vencedores e se torna mais um devoto fiel do santo, assim como seu povo.

E o romance não poderia ficar de fora da história. O Rei do Congo havia se apaixonado por uma mulher do povo e com ela teve um filho, mas por medo das consequências deste amor em seu reinado, mandou a amante embora ainda grávida. Ela foi para Luanda e teve o bebê, que se tornou, justamente, o embaixador de vermelho que volta para aterrorizar o reino do Congo. Em busca de seus direitos acontecem as batalhas, mas a misericórdia de São Benedito é maior e sela o destino dos dois reinos, do pai e do filho.

O atual Rei do Congo e principal personagem da história, o Dino, tem 54 anos de Congada. Ele participa dos rituais desde os cinco e substituiu o saudoso Dito de Pilaca que faleceu em 2015 com 95 anos, ainda participando ativamente da Congada.

Como não poderia deixar de ser, a festa segue o calendário da natureza caiçara. Durante mais de 200 anos, baile sempre aconteceu no “claro” de maio, período de lua cheia, quando a água clara do mar dificulta a pescaria e, assim, os pescadores da comunidade estão em terra e podem participar dos festejos. Hoje, a data ganhou o terceiro fim de semana de maio devido o Dia das Mães.

Modernidade

Segundo Márcio Pannunzio, numa Ilhabela que enriquece e cresce em velocidade espantosa, caiçaras tornaram-se minoritários e a Congada traz de volta essa tradição que vem sendo perdida. “A Congada encenada por caiçaras e seus descendentes nos ancora a um passado que nos escapa veloz. A fotografia então marca presença para paralisar o tempo e eternizar para o futuro a grandiosidade dessa manifestação”.

O artista fala ainda da emoção de participar da Congada através da fotografia. “Ela tem uma feição operística na sua faceta mais popular: o embate entre os Congos na rua. É dança e é canto realizados por pessoas que não são atores nem músicos, mas exercem esses papéis com notável desenvoltura. E a batalha que travam tem final feliz. Nessa nossa triste época de desarranjos por todos os lados, com o primado da insanidade nos causando tanto mal, é um alívio assistir um desfecho onde os beligerantes entram em acordo, depõem suas armas e se abraçam feito irmãos. A exposição é minha retribuição a esta manifestação cultural por ter me estimulado a crescer como fotógrafo. Apesar de modesta, lhe expressa minha grande admiração”.

A exposição é realizada pela Prefeitura de Ilhabela através da Secretaria de Cultura e Fundação de Arte e Cultura de Ilhabela (Fundaci).

Serviço

“Congada em tela: fotografias de Márcio Pannunzio”
Local: Centro Cultural da Vila
Endereço: Rua da Padroeira, 140, Vila
Data: 15 de maio a 2 de junho
Horário de visitação: das 9h às 18h
Fotos: https://www.ilhabelaemfoco.com/congada-em-tela

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