O Museu de Arte e Cultura de Caraguatatuba (MACC) recebeu, nesta semana, a doação de um osso centenário de baleia. A entrega foi feita pelo chef de cozinha aposentado, Milton Almeida Ramos, 64 anos, morador na Praia das Palmeiras, que estava com a relíquia há pelo menos 15 anos.
“Faz tempo que quero fazer essa doação, mas nunca dava certo. Semana passada passei em frente ao museu e fiz o primeiro contato. Agora deu certo”.
Ele conta que recebeu o osso de uma quiosqueira que ficava na boca da barra do Juqueriquerê, na região sul de Caraguatatuba e que só com ela ele estava há mais de 40 anos. “Ela me contou que o encontrou enterrado na areia próximo à barra”.
Sem saber a valiosidade do osso, seu Milton achou que o melhor lugar, agora, é a exposição em um local que todos possam contemplá-lo.
O oceanógrafo e diretor consultivo da Secretaria de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca da Prefeitura de Caraguatatuba, Ronaldo Cherbele, explica que trata-se do osso da nadadeira peitoral de uma baleia-verdadeira, provavelmente uma Jubarte, entre 15 e 20 quilos, com 55 centímetros de comprimento, 25 cm de espessura no ponto central e 38 cm no ponto de inserção com a omoplata”.
Ele ficou impressionado com a peça e a doação. “Fico feliz com isso porque a decisão de expôr este osso resgata a história de Caraguatatuba que é uma cidade costeira”.
Junto com Cherbele esteve presente a bióloga e analista ambiental da secretaria, Priscila Barsotti, e os dois farão a ponte para a melhor identificação do material doado.
“Vamos encaminhar ao Instituto Argonauta e ao Aquário de Ubatuba que podem fazer uma melhor identificação do osso, do animal e até a data dele”, disse Priscila.
De acordo com o diretor do MACC, Alexander Palaiologos, o material ficará em quarentena para que possa ser feita as identificações possíveis, inclusive em relação aos anos, antes que ele fique exposto.
Atualmente, o museu já conta com uma ossada de baleia (coluna vertebral) que foi doada em 2002.
Para ele, a nova doação “trata-se de um ganho muito valioso porque conta a história do município quando era comum o uso do óleo de baleia e a mistura para fazer casas, apesar da parte peitoral não ter essa finalidade”.
Levantamento histórico feito pelo diretor do Museu mostra que a caça da baleia no Litoral Paulista era de suma importância, pois seu óleo era um dos principais combustíveis da época, usado em lamparinas, na fabricação de sabão, velas, lubrificação de embreagens e como aglutinante para petrificar a argamassa empregada nas construções de casas.
Ainda conforme Palaiologos, a pesca da baleia foi muito importante nos séculos XVII ao XVIII. “A doação desse osso tão antigo traz relevante informação e confirmação histórica de que em Caraguatatuba haviam baleeiros camuflados sob a condição de pescador e que trabalhavam na Armação (antigo entreposto baleeiro), principalmente no de Ilhabela”.