Morando na ilha desde 89, eu achava pouco apropriado o slogan “Ilhabela: capital da vela”. O evento mais importante, a semana de vela, era isso: uma semana de vela. Dentro de um calendário de trezentos e sessenta e cinco dias. Aí, a gente enxergava os veleiros bem longe, pequeninos, se tivesse muita sorte. É verdade que hoje existem mais certames, são várias as categorias e às vezes dá para ver um gracioso balé de velas no canal, quando as embarcações não se distanciam tanto da orla.
Se os veleiros não marcavam tamanha presença antigamente, os petroleiros sim: eram onipresentes. Viviam se acidentando e derramando óleo no canal, poluindo as praias. Houve um que até explodiu. Para quem estava no sul, o barulho pareceu um trovão. Depois de explodir, ficou agonizando vários dias, semi-submerso, quase afundando.
Eles se tornaram objeto da minha fotografia.
Então, sempre que atravessava para o continente, ficava fotografando-os. De um bom tempo pra cá ficou impossível. Os marinheiros da balsa sempre me interpelavam, infelizmente e muitas vezes com aspereza, mandando que eu saísse de onde fotografava para ficar ou dentro do carro ou na área de pedestres. Não fotografei-os mais.
Contudo, tenho um número expressivo de fotos feitas, já editadas e vou postando-as na foto em foco hora ou outra para lembrar que além de veleiros, habitam nossa águas esses gigantes jurássicos. São agora melhores, não vazam à toa, não explodem. São, sem dúvida, fantásticas obras de engenharia naval. E têm uma singular beleza.
O nome da série, “nostromo”, pode intrigar. Explico: tomei-o de empréstimo do cargueiro interestelar que é palco do filme “alien, o oitavo passageiro”, direção de Ridley Scott. Esse nome, por sua vez, faz referência ao romance magistral de Joseph Conrad.