Alunos do Bonete recolhem 250 Kg de lixo e fazem palestra para os pais

Os rios da comunidade tinham desde embalagens de óleo náutico até pilhas e baterias de celular;  A ação deve continuar em outros locais por iniciativa dos alunos

A equipe reuniu crianças, adolescente e adultos para limpeza (Foto: Divulgação)



Cerca de 20 crianças e adolescente da comunidade tradicional do Bonete, ao sul de Ilhabela, participaram do Dia Mundial da Limpeza de Rios e Praias (Clean Up Day) 2016. Com o apoio do Instituto Bonete e da Associação Bonete Sempre, os voluntários recolheram aproximadamente 250 quilos de lixo, principalmente às margens dos rios. Agora, os alunos devem preparar a análise dos resultados e fazer uma palestra para conscientizar pais e demais interessados sobre os impactos negativos do lixo na natureza. 

Além das apresentações preparadas para os pais, que devem acontecer em meados de dezembro, haverá uma nova ação de limpeza das águas na cachoeira do Pau Oco e nos costões rochosos do Tanque e Mané Larve. A sugestão de dar continuidade foi de um estudante de nove anos e a turma espera boas condições do mar para inciar a próxima etapa.


Lixo


A maior quatidade de dejetos foi encontrada nas

proximidades do Rio da Quadra, principal afluente do Rio Nema e onde vive a maior população ribeirinha do Bonete. Do local foram retirados baterias de celular e pilhas; embalagens plásticas de iogurtes; sacos plásticos e muitos pedaços de isopor; restos de construção como forros e canos de plástico; peças e restos de motor; redes de pesca; garrafas e cacos de vidro; telhas e entulho. Os materias de construção não puderam ser retirados por serem muito pesados. 


Já nas margens do Rio Nema, principal local de lazer das crianças e único acesso navegável ao mar, foram retirados principalmente embalagens plásticas de óleo (utilizados nas embarcações). Na praia, as tampinhas e lacres de garrafas de água, preservativos (fechados), cápsulas plásticas e palitos de pirulito misturavam-se com o “cisco” que a maré traz.

Saúde e meio ambiente


Sobre as consequências do descarte incorreto de lixo, a bióloga e professora da comunidade, Simoni Lara, faz um alerta em relação ao meio ambiente e, principalmente à segurança e saúde da população. 


“Quando esse lixo fica encalhado, ele representa perigo às crianças e aos animais que vivem ali (peixes, anfíbios e crustáceos). Já as pilhas e baterias vão além da poluição ao ecossistema, elas possuem substâncias, que podem permanecer dentro dos corpos dos animais, incluindo o ser humano, e causar doenças como o câncer. Essa contaminação pode entrar na cadeia alimentar e todos que comerem um animal contaminado, receberão as substancias tóxicas. Além disso, o lixo que fica  jogado na margem seca do rio acumula água e vira foco de mosquitos e doenças. Esses materiais não são biodegradáveis, então permanecerão nesses locais por diversas gerações, e cada vez mais se acumulando…”, explica ela.


Educação


O envolvimento dos adolescentes ocorreu após um debate na escola. Segundo Simoni, o fato de ser uma ação global fez com que a turma se interessasse, pois a sensação de conexão com o mundo é uma necessidade latente do adolescente. Porém, uma das principais motivações observadas na escola foi a vontade das crianças brincarem nos rios sem medo de cortar o pé ou “pegar” doença.


Os estudantes também estão trabalhando o tema nas aulas e a abordagem inclui reflexões que vão desde os recursos naturais que foram gastos para a fabricação de tais objetos até a destinação final dos dejetos, já sem uso. “Este estudo é necessário para que os alunos olhem para uma embalagem não só como lixo, mas como algo que representa uma avassaladora cultura do consumo, que vem esgotando nossas reservas naturais de minérios e petróleo, e que depois de consumidos voltam à natureza como lixo. Ou seja, recursos naturais são retirados, usados e devolvidos em forma de poluição”, analisa Simoni.


Turismo


A praia do Bonete foi considerada uma das dez mais bonitas do Brasil pelo jornal inglês ‘The Guardian’. A comunidade conta com cerca de 300 moradores, que vivem de atividades tradicionais, como a pesca artesanal, além do turismo. Na região não há sinal de celular ou internet e os visitantes chegam a cada dia em busca de tranquilidade, simplicidade e contato com a natureza preservada. 

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