A Organização das Nações Unidas (ONU) fez um alerta sobre a crise climática global e indica alta “sem precedentes” do nível dos oceanos por causa do “aquecimento global induzido pelo homem”. De acordo um relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMN), nos últimos 30 anos, partes do Pacífico registraram elevação de 15 centímetros, ante média global de 9,4.
Outro estudo, da ONG norte-americana Climate Central, revelou que todas as cidades do litoral de São Paulo correm o risco de serem invadidas pelo mar nos próximos anos devido à fenômenos naturais, como a erosão costeira. O desmatamento de florestas e o aumento da temperatura global também aumentam o derretimento de geleiras nos pólos e contribuem para a elevação do nível dos oceanos.
O avanço do mar provoca a perda de áreas de praia, impacta a vegetação de restinga e ameaça casas e edificações próximas, de acordo com a Fundação Florestal. O fenômeno, intensificado por fatores humanos, afeta diretamente a biodiversidade e as comunidades locais.
Segundo o professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), Alexander Turra, cerca de 40% da região costeira brasileira vivencia um severo processo de erosão. Os dados constam em um documento publicado pelo Ministério do Meio Ambiente em 2018.
O Mapa de Risco à Erosão Costeira do Estado de São Paulo, feito pelo Instituto Geológico do Estado de São Paulo, com dados de 2017, aponta que as praias com maiores riscos de sofrerem com o avanço do mar no Litoral Norte são: Ubatumirim, Barra Seca, Itaguá, Praia Grande, Fortaleza e Maranduba, em Ubatuba; Tabatinga, Massaguaçu e Mococa, em Caraguatatuba; Enseada, São Francisco, Pontal da Cruz e Baraqueçaba, em São Sebastião; Perequê e Itaguaçu, em Ilhabela.
No litoral sul do estado correm risco Itaguaré e São Lourenço, em Bertioga; Pernambuco e Astúrias, no Guarujá; Gonzaguinha e Capitão, em São Vicente; Itanhaém, em Itanhaém; Peruíbe e Guaraú, em Peruíbe; Itacolomi, Jureia e Leste, em Iguape; Ilha Comprida, em Ilha Comprida.
Planos de contingência
Diante da situação de risco alertada por especiliastas, as cidades litorâneas vem trabalhando em alternativas para conter o avanço das águas. No litoral sul, ações contundentes já podem ser vistas em algumas cidades e no Litoral Norte os governos começam a olhar para o panorama.
Em 2016, Santos se tornou a primeira cidade brasileira a criar um Plano Municipal de Mudanças Climáticas e foi escolhida, dois anos depois, para implantação de projeto-piloto em parceria com a Unicamp, com instalação de 49 geobags na Ponta da Praia. A vizinha Guarujá desenvolve o projeto Areia Viva para estudar a qualidade sanitária e movimentação natural da areia de 10 praias. A prefeitura também cita outros projetos, que incluem a preservação do jundu. A construção de muros para conter o avanço do mar tem sido adotada frequentemente em Mongaguá.
Em Caraguatatuba, a prefeitura informou que realiza o monitoramento das praias por meio de imagens de sensoriamento remoto temporais da plataforma de geoprocessamento municipal. Na Cocanha e na orla do Massaguaçu foram colocados paredões de pedra para conter o avanço do mar.
Outra obra que está em andamento é o enrocamento do Rio Juqueriquerê, que ajuda na contenção do avanço do mar e visa melhor drenagem nos bairros do entorno. O material retirado durante as atividades está sendo utilizado para o engordamento da faixa de areia da praia local. O trabalho teve investimentos de mais de R$ 42 milhões e a previsão é que seja entregue em abril.
Em Ubatuba, a administração municipal afirma que está alinhada a uma série de projetos para monitorar e conter a erosão costeira. A prefeitura não descarta os muros na tentativa de evitar o avanço do mar. Entre as ações, está em andamento a recuperação de um muro de arrimo na Praia do Itaguá. Com valor de R$ 1,9 milhão, o projeto ainda está em processo de adequações.
No arquipélago de Ilhabela, um projeto polêmico visa o alargamento da faixa de areia na praia do Perequê. A proposta visa evitar a erosão costeira, inundação das ruas e dar mais espaço para turistas, mas é apontada por ambientalistas como perigosa para ocossistema.
Segundo a administração municipal, o projeto está suspenso por tempo indeterminado, já que houve queda de 50% na arrecadação com royalties do petróleo a partir de 2021, o que representa R$ 1 bilhão a menos nos cofres municipais.
A Prefeitura de São Sebastião não tem ações relacionadas ao assunto no momento. Há medidas pontuais em alguns locais na Costa Norte, identificados como área de risco, que são acompanhados pela Defesa Civil.