Quem gosta, pratica ou entende minimamente de futebol, sabe que no jogo quem detém a bola procura passar para outro jogador do seu time. Ao adversário cabe interceptar o passe e armar um contra-ataque. O objetivo de ambos é se aproximar do gol adversário e lá depositar a bola. Tanto que gol é uma corruptela de “goal”, objetivo em inglês.
A decisão para quem passar a bola depende da proximidade ou da liberdade de movimentos do parceiro. Cabe aqui a célebre frase de Nenem Prancha “quem pede tem preferência, quem se desloca recebe”.
E o coronavírus com isto? Bem, amigos estamos vendo dois times em campo. De um lado o processo de contágio e seus efeitos, do outro o sistema de saúde. A bola é o vírus, os jogadores são as pessoas portadoras ou não.
O sistema de saúde, aqui eu incluo as autoridades, bem como a sociedade que tem de adotar mecanismos para interceptar o passe e impedir a transmissão. Aí entra o isolamento social, o uso de máscara, além dos hábitos de higiene que reduzem, bloqueiam ou limitam a circulação e a transmissão.
Mas por que esta preocupação? Porque a situação é fogo no boné do guarda. A estrutura hospitalar mundial é limitada, contável e de baixíssima expansão. Consegue-se contar o número de leitos nos hospitais, de vagas nas UTIs, de respiradores, de trabalhadores da área da saúde, que em circunstâncias normais, já atendem precariamente a demanda. Graficamente ela forma uma linha horizontal.
Com a pandemia há uma pressão de demanda, pois a população infectada aumenta exponencialmente até a pandemia passar. Graficamente desenha-se uma curva em forma de sino.
Sobrepondo-se os dois percebe-se que a pressão de demanda supera a capacidade instalada da estrutura hospitalar. Aí balança o capim no fundo do gol. Sabem de quem? Foi, foi, foi ele, covid, camisa 19.
Nem precisa correr atrás do prejuízo, pois ele vem bater a nossa porta por meio da elevada mortalidade, dos enterros rápidos e em vala comum, da falta de despedida dos que partem e do sofrimento dos que ficam. Nem estou tratando do empobrecimento da população com a queda de renda, desemprego, desabastecimento e demanda por amparo social.
Se quisermos ter alguma chance, temos que jogar na retranca: limitar as ações do adversário e impedir sua aproximação do gol. Isso se dá o nome de achatamento da curva, ou seja, colocar a demanda dentro da capacidade instalada.
Como, em futebol, o jogo só termina quando acaba e este está longe de terminar, só quem não sair do estádio saberá o resultado.