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ilha..bela Márcio Pannunzio
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Márcio Pannunzio
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Foto da capa: montagem com duas das faces do
pelourinho da praça Coronel Julião. Num lado,
bica d’água, doutro, o brasão de Illhabela.
Textos, fotografias, desenho gráfico e revisão:
Márcio Pannunzio
24-200291 CDD-070
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Pannunzio, Márcio
ilha--bela [livro eletrônico] / Márcio Pannunzio.
-- Ilhabela, SP : Ed. do Autor, 2024.
ISBN 978-65-00-98655-6
1. Artigos de periódicos 2. Fotografias
3. Jornalismo I. Título.
Índices para catálogo sistemático:
1. Jornalismo 070
Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415
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prefácio
\"Cada um com suas armas. A nossa é
essa: esclarecer o pensamento e pôr
ordem nas ideias.\"
Antônio Cândido
O Imprensa Livre, com o lema “o único
jornal diário do Litoral Norte”, não economizou espaço para noticiar minhas
exposições individuais na região. Em
2005, Tais Sarubi, editora do caderno
de variedades, escreveu uma reportagem com o poético título de “Pannunzio expressa os sulcos n’alma de todos
nós”. O Imprensa livre teria, acredito,
noticiado também a minha conquista
do prêmio máximo do Salão Waldemar
Belisário de 2015. Teria. Porque faliu.
Resistiu durante 28 anos. Parte da sua
equipe de jornalistas não se conformou
com o seu fim e querendo honrar e dar
continuidade ao seu legado, criou o
Nova Imprensa. É verdade que um sabido ressuscitou o nome paradigmático e o colocou no ar recentemente,
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mas nem ele, nem quem o acompanha,
viveu e fez parte dessa história; foram
tão somente matreiros e compraram
a preço irrisório o direito de registrar
esse domínio que caducara na internet, como foi o caso da Gurgel.
Daniela Maiara Rossi faz parte do grupo que criou e mantém ativo o Nova
Imprensa e me entrevistou na ocasião
da premiação. Aproveitei para lhe contar sobre o meu desejo de ter um espaço na mídia para divulgar minhas
fotos; quem sabe um lugar no Nova
Imprensa. A proposta teve êxito e assim nasceu a coluna Foto em Foco.
Fazia tempo que desejava dar evidência a minha ocupação como fotógrafo;
nessa época, ainda não trabalhava
com bancos de imagem e agências de
fotojornalismo.
Essas atividades aconteceram pouco
depois e proporcionam visibilidade
nacional e mundial às fotos que fiz e
corriqueiramente faço da ilha.
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Não sabia, porém, naquela entrevista,
desses próximos empregos e estar no
Nova Imprensa era nessa hora para
mim a melhor maneira de dar vitrine
privilegiada as minhas fotos. Elas conquistaram maior destaque em seguida graças, principalmente, ao fato de
ter-me tornado colaborador exclusivo
da iStock by Getty Images e fotógrafo
parceiro da Foto Arena, mas continuo
valorizando bastante meu pequeno
cantinho no Nova Imprensa. Faço isso
com orgulho, pela percepção de que,
a despeito de todas as vicissitudes,
embora não tenha conseguido concretizar o sonho de tornar-se impresso, o Nova Imprensa soube sobreviver
dignificando o exemplo do Imprensa
Livre, sempre preservando sua independência jornalística, jamais se subordinando aos interesses dos governos locais. O poder muda de mãos;
os que caem submergem na irrelevância mas o descrédito que macula a
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imprensa que se vendeu, se corrompeu, vira chaga que não mais cicatriza estigmatizando jornalistas venais.
Originalmente, como seu nome sinaliza, minha coluna era um lugar dedicado à fotografia; a matéria inaugural mostrava fotos da congada, tema
esse, reiteradamente retomado. Timidamente, passei a escrever para contextualizar as fotos de cada coluna. O
texto foi crescendo vagarosamente e,
inspirado no jornalismo literário que
tem como nosso exemplo admirável
a Revista Piauí, tornou-se bastante
extenso, logo numa época de consagração dos 140 caracteres do Twitter.
Num jornal impresso seria impossível
publicar artigos aprofundados, mas
essa limitação não existe na internet.
Minha escrita aparentou-se da minha
fotografia e das minhas gravuras. Ambas são barrocas, com conteúdos visualmete intrincados, complexos por
causa da informação excessiva.
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Escrevendo, virei articulista de opinião.
Opinião minha, não a do Nova Imprensa como bem frisam seus editores. Pode-se dela discordar, mas é necessário
reconhecer a sua paciente construção
baseada na análise criteriosa dos fatos e até por isso meus artigos saem
cheios de links direcionando o leitor
para as inspirações principais do meu
raciocínio. Pelo tanto de trabalho que
dão, as colunas não têm muita frequência; nesses oito anos, a média girou ao redor de uma por mês.
O motor dessa escrita e das fotos que
a ilustram é a indignação. Indignação
com a realidade, manifestando sempre
o desejo de que a vida fosse melhor, especialmente na ilha. No fundo, apesar
de mexer com assuntos controversos
e transpirar algum pessimismo, sua redação é amorosa, sonhando um futuro feliz onde a cidadania fosse vivida
em plenitude, onde o autoritarismo, o
clientelismo, a especulação imobiliária e
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o turismo predatório não tivessem vez.
As 21 colunas que compõem esta publicação digital representam uma fração muito pequena do total publicado nesses anos. A sua seleção foi feita
quase aleatoriamente. Entretanto, por
uma coincidência inesperada, tanto o
artigo que a inaugura quanto aquele
que a encerra, tiveram grande número
de acessos; o recordista foi o segundo, com 14.352.
A finalização deste livrinho, com a obtenção da sua ficha catalográfica, data
do fim de março e então calhou de ser
inserido o texto publicado em 1 de
abril: “sessenta anos”, escrito especialmente para lembrar daquele nefasto
dia que desgraçou a nação a penalizando viver mais de duas décadas pavorosas que teimam em renascer haja
vista o risco enorme que ultimamente
corremos de sermos novamente subjulgados por outra maféfica ditadura.
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Articulistas do Imprensa Livre foram
muitos, dissertando sobre variados
assuntos. Ponto em comum entre eles
era o hábito de recortarem suas colunas impressas e com elas criarem álbuns. Com o tempo esses papéis amarelavam e se tornavam quebradiços.
A Foto em Foco é digital e nunca se
amarelará. Meu sincero desejo era o
de que amarelasse, envelhecesse e
nesse processo inevitável de degenerescência, perdesse sua razão de ser.
Se tornasse então apenas o registro
excêntrico dum montaréu de acontecimentos sepultados, vistos agora,
como equívocos solucionados.
Infelizmente, no momento atual, isso
não ocorreu e qualquer uma dessas
colunas pode ser lida como se houvesse sido escrita ainda há pouco.
Márcio Pannunzio
março de 2024
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Índice
1. Ilhabela, a mais rica das cidades
do Brasil 12
2. uma ilha, mil maravilhas 40
3. aqui a gente está pra ensinar, a gen-
te está pra educar as pessoas 52
4. preocupa não o grito dos maus,
mas o silêncio dos bons 66
5. carnaval antecipado em São Se-
bastião 74
6. novamente, carnaval antecipado
em São Sebastião 88
7. o 8 de janeiro 106
8. sessenta anos 120
9. Ilhabela verde amarelou 134
10. a ilha te recebe de braços aber-
tos 158
11. Congada em foco 182
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12. a cultura envergonhada 220
13. BASTA! 252
14. o carnaval que não houve 270
15. mais um ano sem Congada 284
16. fé cega, faca amolada 342
17. sete de setembro 358
18. 43º Salão Waldemar Belisário,
o que os olhos viram 384
19. Nostromo e a ilha da morte 436
20. o horror, o horror 464
21. carnaval da tragédia 474
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Ilhabela, a mais rica
das cidades do Brasil
22 de fevereiro de 2020
https://novaimprensa.
com/2020/02/foto-em-foco-ilhabela-a-mais-rica-das-cidades-do-
-brasil.html
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Não é slogan oficial de Ilhabela entre
os inúmeros criados nos últimos anos,
o “Ilhabela – a cidade mais rica do Brasil”. Marcando diferença em relação
aos ora papagaiados pela propaganda
institucional, “Ilhabela vida natural”,
“uma ilha mil maravilhas”, ” Ilhabela
de braços abertos para o turista o ano
todo”, esse que a nomeia como a mais
rica do Brasil é fidedigno.
Rompendo a barreira da imprensa local chapa branca, a Folha de São Paulo
em matéria de capa da edição impressa de segunda-feira, 17 de fevereiro
enuncia esse fato como o enunciaram
os relatórios do Tribunal de Contas recentes.
“A arrecadação per capta de Ilhabela
não encontra parâmetros em solo brasileiro. É preciso ir além das fronteiras
nacionais para encontrar receitas por
habitante semelhantes em cidades turísticas como Daytona Beach (EUA) e
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Kelowna (Canadá )”, nos informa relatório sobre as contas municipais do
exercício de 2018.
Pois dona de tão enorme riqueza, seria de se esperar que a cidade fosse
um primor de beleza de deslumbrar
imediatamente o olhar de quem a visita. Mas não.
Logo ao pôr os pés na ilha, o que chama primeiro atenção é a rotatória de
entrada. Ficou no território brumoso
dos sonhos aquela rotatória minimalista, com um morrinho numa extremidade atribuída ao gênio de Burle
Marx, adornada por dois troncos calcinados. Há muito morador antigo
que jura terem sido eles esculturas de
Frans Krajcberg, dessas que aumentaria demais a fama de qualquer museu
que as exibisse. Terem sido porque
já não o são; não existem depois de
apodrecerem sepultados sem honra
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no lixão da Água Branca.
Já sob gestão milionária graças ao
aporte dos royalties do petróleo, a infelicitada paginação atual foi criada: o
morrinho foi inteiramente terraplanado e incorporado a um círculo bastante expandido onde foi construído um
desgracioso e grande prédio que vem
a ser o Departamento de Segurança
Pública ladeado por uma gigantesca
estrutura de aço inox que a população
prontamente apelidou de “bistecão”.
O que em algum momento vai inspirar um afoito publicitário a serviço da
prefeitura da vez a inventar um outro
slogan: “Ilhabela, terra da bisteca”. E
daí os sábios profissionais do turismo
da ocasião vão criar um novo evento ao custo de alguns insignificantes
milhões: o “festival da bisteca”, com
a presença de chefs famosos do YouTube e de milionárias apresentações
musicais de conjuntos renomados nas
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redes sociais, de axé, funk e pagode
para ajudar a digestão dos comensais
agrupados sob uma portentosa tenda
armada na Vila.
Apesar dessa entrada reconstruída seguramente mais a peso de ouro do que
a da sucata de metal brilhante, sob
ação do sol intenso iluminando o aço
inox do “bistecão” ter o poder de ofuscar a visão, esse ofuscamento não será
suficiente para eliminar a desagradável percepção da sua desconcertante
feiura e da feiura das construções que
se alastram pela malha urbana da cidade. O padrão caixotão inaugurado por
prédios abrutalhados e abestalhados
como o Shopping da Construção e o
Centro Médico comprado pela prefeitura por muitos milhões, contamina as
ruas criando uma paisagem monótona
e indigente.
Fato é que Ilhabela não tem a beleza
de Paraty nem a de Tiradentes com
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seus prédios históricos preservados.
Sobrou quase nada do que aqui existia
de histórico. Tudo foi há muito demolido e o que foi construído no lugar
afronta a boa arquitetura. São prédios
sem nenhuma graça, sem qualquer
encanto, originalidade; quando não,
muros, muralhas encimadas por rolos
de arame farpado e cercas elétricas.
Se o visitante curioso se afastar das
artérias de trânsito se embrenhando
pela franjas da cidade vai se deparar
com áreas de invasão formando vielas
repletas de casas inacabadas construídas em pirambeiras ou buracos onde
caminhão de lixo não entra e até ambulância enfrenta dificuldade para trafegar exibindo um quadro de descaso,
desigualdade, pobreza.
Pois então é rica, porém, não é nada
bela a sua paisagem urbana.
Tudo bem. Não é todo mundo que se
importa com estética. A maior parte
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das pessoas está pouco se lixando
mesmo.
Mas a questão continua aberta: se é
uma cidade tão rica por que seus índices de qualidade de vida, de gestão
pública não estão todos no topo? Por
que suas notas não são todas A+?
A resposta emerge da leitura dos relatórios do Tribunal de Contas. Apesar de investir bastante na educação e
na saúde, investiu mal. Construiu escolas que recém inauguradas mostravam processo de deterioração e não se
preocupou em manter em bom estado
as que estavam em operação; terceirizou a gestão da saúde; gastou fortunas na desapropriação de imóveis;
edificou uma aberração arquitetônica
de aço e vidro blindex bem no meio
do Perequê para abrigar a prefeitura
que, muito embora seja enorme, não
tem espaço suficiente para acomodar
todos os servidores municipais juntos, tão grande é seu número inflado
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por contratações sucessivas em cargos e funções conflitantes; diminuiu o
tamanho da faixa de areia das praias
do Itaguçu e do Engenho d’Água para
aumentar a largura da Avenida Princesa Isabel; reformou a rotatória de
entrada da ilha pondo abaixo a antiga
para colocar no seu lugar, bom, sobre
isso, já foi falado; asfaltou dezenas de
ruas que já eram calçadas com paralelepípedos; fez e teve de refazer obras
por causa da péssima qualidade com
que foram primeiramente realizadas,
a exemplo da ponte estaiada da ciclovia…
Uma outra matéria do Estadão, carregada no site do jornal também no dia
17 de fevereiro, furando o bloqueio da
imprensa baba-ovo local, estampou a
manchete: “com contas reprovadas,
prefeitura de Ilhabela gasta mais em
eventos do que em educação”. Ilustrada por fotos postadas no facebook
de autoridades insulares ao lado de
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beldades do concurso de Miss Brasil
2017, bancado pelo dinheiro do município. Fotos de autoria das próprias
autoridades presentes no evento que
diziam juntamente com os periódicos
ilhabelenses puxa saco fazendo servil coro, que o concurso traria enorme
benefício ao turismo local.
Fato é que em nome do “turismo de
Ilhabela”, gestões de safras diferentes tomaram a si com religioso fervor,
empreender uma guerra santa e transformaram-se em cruzados obstinados
na nobre tarefa de atraírem turistas
para a cidade. Valia e continua a valer tudo: torrar o erário do município
em concurso de miss até audição de
música clássica e exposição do mestre da arte moderna Joan Miró; o meio
comportando os eventos mais disparatados, porém, não menos onerosos.
Gastando nisso muito mais do que na
educação básica conforme relato do
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Tribunal de Contas.
E é esse Tribunal quem salienta que
toda essa abundância de eventos milhardária em nada contribuiu para o
crescimento do turismo; muito ao contrário, ao analisar a ocupação da rede
hoteleira, ressaltou que em muita festa a ocupação foi até menor.
O óbvio ululante é que as pessoas visitam Ilhabela não por causa da sua
paisagem arquitetônica que é horrível
logo na sua entrada enodoada e assim
persevera cidade adentro; não pela singularidade do seu patrimônio histórico que praticamente inexiste, mas sim
pela natureza ainda intocada sobre a
qual a cidade se implantou. Pelos oitenta por cento do seu território que
pertencem ao Parque Estadual e estão
íntegros, densamente vegetados e estupendamente belos a despeito da voracidade dos insetos que lá vivem.
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Nem as praias, a rigor, exercem mais
tão forte poder de atração porque depois de terem sido apropriadas por
quiosques, bares, restaurantes, pousadas e hotéis como prolongamento dos
seus negócios, perderam o que de natural possuíam. E que têm, muito mais
grave, envergado vergonhosamente a
bandeira vermelha da CETESB a ponto
de todas elas a ostentarem na temporada de 2019.
Pois então de nada adianta torrar milhões e mais milhões em shows musicais para os gostos mais ecléticos,
eventos esportivos que exigem inscrição paga dos seus participantes, feira náutica para rico ver, apresentação
de música clássica que cobra ingresso dos munícipes que a forem assistir,
concurso de beleza só para convidados vips, desfile de “celebridade pelas
ruas da cidade”, exposições caríssimas
de artistas incensados pela história da
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arte organizadas sempre pela mesma pessoa jurídica em processo com
inexigibilidade de licitação, rega bofes gastronômicos envolvendo custos
de infraestrutura temporária em valor
que poderia edificar prédio de eventos permanente para as gerações futuras … Ufa, enfim: de nada vale torrar milhões em pretensiosos “eventos
turísticos” para atrair turista porque
eles não vêm à ilha por causa deles.
É um gasto sem retorno. Não tem o
poder nem de gerar emprego em nível expressivo, nem o de gerar maior
receita. Ponto final.
É no mínimo insólito, portanto, buscar
endossar essa tese furadíssima, gastando mais duzentos e vinte e quatro mil reais para publicar, através da
calejada inexigibilidade de licitação,
numa editora lá do Espírito Santo, livro que diz que “turismo gera emprego”. Numa muito avantajada tiragem,
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a julgar pelo valor contratado, suficiente para ser completamente distribuída entre os habitantes da cidade
alfabetizados com paciência e inteligência necessárias para ler matéria de
maior complexidade do que as corriqueiras postagens iradas que vicejam
nas rede sociais.
Naquela lista de parágrafo anterior
enumerando os mal feitos das administrações de Ilhabela, faltou um item
de enorme relevância. Que nessa lista
não pode entrar como realização infeliz, mas justamente como uma evidente falta de qualquer realização.
Trata-se do saneamento básico. Relatório do Tribunal de Contas de 2018
informa que Ilhabela coletava apenas
trinta e cinco por cento do seu esgoto e tratava a irrisória quantidade de
quatro por cento dele. Com um resultado escabroso desses, não espanta
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que seja sideral a distância da cidade
daquelas demais citadas pelo Tribunal de Contas como referência de poder de investimento – Daytona Beach
e Kelowna.
Ilhabela pode ter tanto dinheiro quanto elas mas longe está de ter a beleza,
a funcionalidade, a eficiência delas. Na
verdade, está é próxima das mais miseráveis ao falhar fragorosamente na
questão do saneamento básico, cuja
falta provoca sérios problemas de saúde pública. Ocupava em 2018 o décimo terceiro lugar no quesito de pior
saneamento de todo o estado de São
Paulo. Numa relação de seiscentas e
trinta e duas cidades.
O que talvez anime um outro esperto
publicitário a soldo das finanças municipais a criar o slogan: “Ilhabela, a
13ª entre 632!”
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Diante desse quadro lastimável, a notícia da audiência pública na terça-feira passada, dia 11 de fevereiro, sobre
o contrato da SABESP em curso para
cuidar do saneamento básico do município, era animadora porque dava a
entender que enfim se focava numa
questão crucial para o futuro da ilha.
O auditório da prefeitura ficou cheio e
representantes diversos da sociedade
civil se pronunciaram questionando
o contrato e sugerindo modificações
que o melhorassem. A relevância desse evento público nada tinha de turístico. Ele seria um palco maravilhoso
para as autoridades insulares virem a
luz. Até por isso a câmara municipal
desmarcou sua sessão para que os vereadores pudessem estar presentes.
Já o poder executivo… Causou espanto que a prefeita a abandonasse para
se ocupar de outro compromisso dito
oficial, deixando perplexos todos os
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que assistiram a cena constrangedora da sua saída se perguntando: que
compromisso pode ser mais importante do que o de debater o saneamento
básico de Ilhabela?
– Participar de um banquete na “ilha
de caras”.
Prefeita e outras autoridades do poder executivo foram posar de convivas para as lentes de fotógrafos paparazzi, esses que vivem de capturar
flagrantes da vida dos “famosos”.
O vereador Marquinhos Guti, bradou
enfurecido diante do auditório da prefeitura esvaziado depois de mais de
quatro horas de falatório, achar um
absurdo o poder executivo de Ilhabela
ter se ausentado do debate.
Indignada, como é do seu costume, Janaína Pascoal conclamou no dia 18 de
fevereiro em sucessivos twitters:
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“Segundo o Estadão, Ilhabela gastou
27 milhões em eventos e 16 milhões
em educação no mesmo período. Dentre os eventos, um concurso de beleza. Ilhabela nada investiu em saneamento básico. Recentemente, recebi
munícipes com sérias queixas na seara da saúde. Se o projeto de lei 07/20
em tramite na Alesp, for aprovado, ficará proibido gastar dinheiro público
em inutilidades: shows, patrocínios,
festas, propaganda de governos estéreis. Dinheiro público pertence a todos! Tratam como se dinheiro público
fosse de ninguém! Colegas, ajudem a
dar andamento ao PL 07/20, para o
bem de todos nós!”
A indignação da deputada estadual reverbera em nível federal e a verdade do
presente é que Ilhabela tornou-se exemplo nacional de má gestão pública. O
que talvez anime algum outro publicitário capacho do …, bom, chega disso.
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E o futuro. Puxa, o futuro. Lembraremos amanhã de uma advertência do
Tribunal de Contas: Ilhabela não tem
qualquer plano de contingência frente à possibilidade de redução do valor
dos royalties, possibilidade essa concreta a partir de simulações de receita
futura.
Simulações que não levaram em conta
a hipótese de que os royalties sejam
bloqueados por ordem federal ou a de
que a legislação mude e essa receita
seja equanimemente dividida entre todos os municípios.
Sim, é de bom tom reforçar, bem ao
lado do quesito “saneamento” na bojuda relação de ações não realizadas,
faltou “plano de contingência para o
caso de diminuição ou fim dos royalties”.
Se os royalties diminuírem drasticamente, qual destino teria Ilhabela? Os
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relatores do Tribunal de Contas o imaginam parecido ao do Rio de Janeiro
atual. Um estado de falência completa, total desordem, abjeta desumanidade.
Consternada frente a esse quadro pavoroso, catastrófico, bem que a prefeitura poderia reconsiderar o gasto
nesse livro apócrifo de “turismo gera
emprego” e redirecioná-lo para bancar a tiragem de outro, desta feita,
um romance escrito por Carlos Knapp,
autor do magistral “o sumiço do mundo” que tem Ilhabela como protagonista. O título dessa sua nova obra literária seria “o sumiço dos royalties”.
Que de tão extraordinária história
engendraria filme homônimo ainda
mais excepcional do que Bacurau ou
democracia em vertigem e, indicado
ao Oscar de melhor filme estrangeiro,
o ganharia para o orgulho exultante
da pátria amada Brasil.
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Em vídeo que circula na internet, ao
vermos o vereador Marquinhos Guti
continuando a manifestar a sua contrariedade com a atitude da prefeita
e secretários municipais, revelar que
no ano passado a “ilha de caras” abocanhou mais de quinhentos mil reais da prefeitura, a gente conclui que
esse banquete no qual autoridades do
poder executivo se divertiam fazendo
selfies e posando todo dentes para os
paparazzi de plantão não foi de graça.
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A foto acima que ilustra a coluna é a
de uma praia de Ilhabela. Pequena, intimista, fica ao lado de uma outra menor em frente ao bar do Tuca, no sul.
Boa parte dela é inteiramente ocupada
por pedras roladas de tamanhos variados, formatos e cores. A faixa de areia
é diminuta. Da estrada há um acesso
para descer até ela. Uma escadaria de
pedra. Ela é pouco frequentada conforme atesta registro feito no domingo,
dia 16 de fevereiro. Seria um local perfeito porque lá não houve a ação predatória da venda de cerveja, cachaça e
frituras, não fosse o detalhe de existir
desembocando nela um filete perpétuo d’água canalizado, que passa por
debaixo da estrada.
Próximo à boca de alvenaria que o derrama praia e mar adiante, vemos latinhas
de alumínio, papéis, bitucas de cigarro, invólucros de alimentos, absorventes, resíduos pastosos amarronzados
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compondo uma multifacetada quantidade de lixo catingando o ar marinho.
Se elevarmos o olhar acima dessa bocarra de dejetos vamos divisar doutro
lado da estrada uma propriedade luxuosa com bandeirolas tremulando ao
vento. Bandeirolas estampadas com o
logotipo de “caras”. Pois ali é a “ilha de
caras” em Ilhabela.
A se crer no depoimento em vídeo posto no facebook por um ilhabelense gozador, que filmou e comentou o fato
desse esgoto desaguar na praia tendo
como um dos prováveis emissores a
imponente mansão da “ilha de caras”,
nos espantamos ao imaginar qual seria a verdadeira natureza da material
contribuição oferecida ao turismo insular pelas “celebridades” que lá se hospedaram para depois “desfilarem” por
Ilhabela, – a mais rica cidade do Brasil.
Ilhabela, a mais rica das cidades do Brasil
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uma ilha, mil maravilhas
https://novaimprensa.com/2019/02/
foto-em-foco-uma-ilha-mil-maravilhas.html
5 de fevereiro de 2019
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A imagem que ilustra a Foto em Foco
desta semana bem que poderia figurar
como uma das apregoadas mil maravilhas dum novo slogan insular: “uma
ilha: mil maravilhas”. Nessa nossa era
de desfraldar bandeiras com beato
devotamento, vê-las coloridas tremulando ao vento é maravilha para essa
gente deslumbrada com brasões.
Na foto destaque as vemos bailando
com o céu azul enevoado ao fundo.
Destaca-se, é claro, a bandeira do Brasil, verde e amarela. Todavia, chama
nossa atenção em primeiro plano, uma
outra tímida até por ser bem menor e
até por nem poder ser em verdade considerada um estandarte. Em vermelho
vivo, vermelho sangue, ela grita.
Mas seu grito é ignorado pelos banhistas que se refrescam no mar. Eles são
tantos… Pena que o Hospital Mário
Covas ainda não foi ampliado. Tivesse já sido, e melhor atendimento teria
uma ilha, mil maravilhas
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esse povo atormentado por doenças
de pele e outras piores pelo contato e
pela ingestão d’água contaminada por
coliforme fecais, ou traduzindo para
todo meio entendedor bem entender
apesar da deselegância do dizer: água
com merda.
Poderia esse acepipe (a água com merda), juntamente com as flâmulas vermelhas que vêm adornando praias do
arquipélago nos últimos tempos, ser
contabilizado como mais uma das “mil
maravilhas de Ilhabela”?
Dezenove praias com a bandeira vermelha da CETESB; ou seja, todas, todas
as praias monitoradas pela companhia
classificadas como inadequadas para
banho. Dezenove praias impróprias,
muito embora os turistas e a gente
da Ilha que nelas se banhava pouco
se importasse com o alerta sanguíneo
encimado no mastro no meio de cada
uma dessas praias poluídas.
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Poderia esse recorde histórico – todas
as praias insalubres – nota dez de emporcalhamento, ser capitalizado também como uma das mil maravilhas
apregoadas pela publicidade oficial?
Aparentemente, não, dada a rapidez
com que as autoridades vieram a público tirar o corpo fora. “-Foi a chuva”. E assim culparam com religioso
zelo São Pedro pelo feito que viralizou
notícia trazendo grande notoriedade
a Ilhabela. Faz sentido? Faria se tudo
quanto é praia que toma chuva ficasse
igualmente maculada. Como isso não
acontece, a culpa não é da chuva, mas
sim da merda que ela lavou no caminho até o mar. E como essa merda,
evidentemente, não caiu do céu, não
foi cagada por santo nenhum, ela é
mesmo merda terrena, merda insular.
Poderia essa merda ilhabelense entrar
no conjunto das mil maravilhas? Essa é
uma pergunta oportuna para a agência
uma ilha, mil maravilhas
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de publicidade que cuida de tão bem
promover “Ilhabela vida natural”. Com
a engenhosidade desses publicitários
até merda vira maravilha como maravilhas eles se esforçaram por fazer ser
a excruciante fila da balsa, o trânsito
caótico, a falta d’água, os apagões, a
roubalheira do comércio, a devastação da natureza, a feiura urbana e por
aí vai que a lista é longa e há sempre
novo item para alongá-la ainda mais.
Quem anda a pé pela cidade não se refugiando no ar condicionado de Range Rover ou similares, bem sabe que
pela ilha o serviço de zeladoria é falho.
As calçadas são pistas de obstáculos
e aquelas da orla ainda agregam o poder de escolhermos entre sermos atropelados por ciclistas ensandecidos de
um lado ou por motoristas bêbados
de outro. As praças são indigentes;
bancos quebrados, calçamento estragado, brinquedos e equipamentos de
uma ilha, mil maravilhas
ilha...bela
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ginástica sem manutenção que preste,
paisagismo medíocre, inexistente. Há
erva daninha crescendo por tudo quanto é canto. Há lixo poluindo qualquer
paisagem: garrafas de plástico, copos
descartáveis, invólucros de marmita,
camisinhas, sacos de supermercado,
bitucas de cigarro, cocô de cachorro,
catarro, etc.
Pichações vão se sobrepondo umas
sobre as outras criando camadas à espera de arqueólogos do futuro. Boa
parte do que é inaugurado logo já
mostra sinal de deterioração e vandalismo. A ponte estaiada na Barra Velha
vai mudar o nome para ponte cai num
cai tamanha é a degradação do piso
de madeira e a imundície da estrutura
metálica. Façam suas apostas para antecipar o dia em que os pedestres e ciclistas vão começar a despencar pelos
buracos que não se aguentam mais de
tanto reparo mal feito. Calçamento é
uma ilha, mil maravilhas
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trocado para que o antigo em bom estado seja no lixão descartado. Asfalto
é derramado à larga impermeabilizando o solo. E mal acaba de ser despejado e vira logo colcha de retalho de
tanto remendo em cima de remendo.
Gasta-se à toa em obras inúteis, estapafúrdias que prontamente viram motivo de piada nas redes sociais como as
recentes do “monumento Cristão”, R$
31.023,59 e a do “Marco da Paz”, R$
76.410,17. Gasta-se os tubos provendo infraestrutura para eventos e shows
e pagamento de cachês milionários de
músicos de tudo quanto é gênero musical. Imóveis particulares são desapropriados na casa dos milhões para
serem incorporados ao patrimônio municipal sem proporcionar qualquer ganho para a população, como foi o caso
da Fazenda Engenho D’Água comprada por mais de vinte milhões e mantida fechada. A folha do funcionalismo
não para de crescer e se royalties não
uma ilha, mil maravilhas
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existissem, a receita do município inteiramente comprometida ficaria com
o salário dos servidores, nada sobrando para os outros encargos, o que seguramente levaria as finanças municipais à falência e Ilhabela ao colapso.
Quem vive nesse cenário dia após dia
vai se acostumando e não estranha o
fato das praias ficarem todas sujas.
Afinal, com tanta coisa estabanada
acontecendo por que haveria a maravilha maior (essa sim maravilha), a
natureza insular, de passar incólume?
Pensa que é desse jeito mesmo.
Porém, quem viaja e conhece cidades muito bem cuidadas apesar de
não terem a enormidade de dinheiro
que Ilhabela tem, descobre que, certo não pode ser. Elas são belas e estão limpas, com inclusive, as finanças
em dia. Suas praças nos convidam a
flanar. Suas calçadas são gostosas de
andar. Nas paredes não há pichação.
uma ilha, mil maravilhas
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A cultura local é reverenciada, festejada. Faz bastante tempo que a rede
de água e esgoto atende todo mundo.
Há tranquilidade, civilidade, probidade; percebe-se a preocupação em fazer bem feito em cada pequeno detalhe. Existe efetivo orgulho em ser
da terra e dela cuidar. Ali, ninguém
teria o mau-caratismo de vandalizar
o que quer que fosse como pela ilha
corriqueiramente acontece, exemplo
último, o das bicicletas amarelas destruídas. E pode por lá chover a cântaros que ainda assim os munícipes
não seriam bosteados como foram os
moradores e turistas em Ilhabela.
Tem quem retruque que rua limpa,
praça aprazível, árvore sombreando a
calçada onde se anda sem tropeçar,
respeito à cultura são tudo frescura, coisa menor. Que o que importa é
hospital escola emprego turismo ano
inteiro obra muita obra novinha.
uma ilha, mil maravilhas
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Mas o fato é que o diabo mora nos detalhes. Se não se consegue manter limpa
e bonita a rua, será que se vai manter
em bom funcionamento o hospital e
a escola? Se a comunicação institucional se presta a maquiar o real, onde se
encontrará informação crível? No jornalismo chapa-branca financiado por
anúncio “Ilhabela vida natural” seguramente não. Se o sonho maior da vereança é ocupar secretaria municipal,
numa dança de cadeiras interminável,
quem exercerá o papel de fiscalizar? Se
os moradores só cuidam da porta para
dentro das suas casas, quem olhará
pelo espaço público? Se os negócios
da cidade só enxergam o próprio umbigo, como sobreviver ao impacto do
turismo predatório? Pequenas coisas
bem feitas estimulam fazer também
as grandes bem feitas, contagiando o
trabalho numa escala crescente que
afugenta o desrespeito, o descaso, a
imperícia. O bem feito salta aos olhos
uma ilha, mil maravilhas
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por sua materialidade benéfica e se incorpora à realidade com solidez; ele
não precisa de publicidade para ser
visto e valorizado.
Não erraria a agência de propaganda
criadora daquelas aludidas e memoráveis peças em alcunhar Ilhabela como a
“Ilha da fantasia”. Só fantasiando para
ver o que não existe.
Merda demais. É isso o que verdadeiramente existe nessas dezenove praias
de Ilhabela. E não é natural e muito
menos maravilha.
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aqui a gente está pra ensinar,
a gente está pra educar as
pessoas
https://novaimprensa.com/2024/02/
aqui-a-gente-esta-pra-ensinar-a-gente-
-esta-pra-educar-as-pessoas.html
3 de fevereiro de 2024
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Frase de Julieta Ines Hernández Martinez vestindo a personagem Miss Jujuba em entrevista no YouTube, datada de 11 de maio de 2020. Nela se
percebe o seu talento e a sua técnica
apurada na arte da palhaçaria, ao assistirmos sua fala em meio a uma encenação tragicômica rica de expressividade.
Julieta era venezuelana e veio ao Brasil, logo ao Rio de janeiro, para estudar o Teatro do Oprimido. Por isso
disse o que disse: era seu desejo que
se fez profissão de fé, exercitar a arte
não apenas para entreter, mas também, desalienar.
O Teatro do Oprimido é escola que
surgiu capitaneada por Augusto Boal
durante os anos de chumbo da ditadura militar. Tinha inspiração na
didática Freiriana que deslumbrou o
mundo.
aqui a gente está pra ensinar, a gente está pra educar as pessoas
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Julieta veio em 2015, dois anos depois
das jornadas de junho de 2013 quando multidões sem rumo tomavam as
ruas e estradas do Brasil num protesto
grandiloquente, porém de corpo disforme pois sem pé e muito menos, cabeça, querendo reclamar de tudo e de
nada. Essa insatisfação esquizofrênica
foi força motriz da extrema direita brasileira para que, zurrando estridente e
alucinadamente, desencadeasse acontecimentos perversos culminando no 8
de janeiro de 2023.
Feito filho pródigo que ao lar torna, Julieta voltava para seu lar venezuelado
e pelo caminho encenava seu espetáculo minimalista “Viagem de bicicleta
de uma palhaça só, sozinha?”.
Feito frade franciscano, Julieta, tão pobre, estava praticamente o tempo inteiro, com os que são pobres. Fazendo
rir gente dum Brasil marginalizado que
aqui a gente está pra ensinar, a gente está pra educar as pessoas
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a casa grande se esforça em ocultar.
Julieta fazia arte não em escala planetária como hoje fazem e por tanto
querer assisti-la até morrem seus fãs
maltratados em shows milionários e
pirotécnicos, celebridades que se imaginam artistas enriquecendo nababescamente enquanto escravizadas pela
indústria do entretenimento frívolo.
De vez em quando, se apresentava em
teatro. E o suporte do palco com sua
iluminação celestial a fascinava. Entretanto, seu dia a dia não tinha as luzes da ribalta e Julieta então se movia
pelas bordas porque sua escolha foi
a de levar arte para quem jamais entrou num teatro. Sua amiga Guadalape Merki nos conta que ela era muitas
vezes, excluída de editais de cultura.
Aqui, cabe abrir um parêntisis.
Seria excluída do único edital de fomento que teve Ilhabela. Lançado em
aqui a gente está pra ensinar, a gente está pra educar as pessoas
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2022, impresso era um catatau de 38
páginas. Documento Frankenstein;
uma colagem disparatada de trechos
de diferentes certames. Por essa razão, exigia contrapartidas somente
possíveis com orçamentos mais generosos e não com os valores limitados em tantas áreas diversas.
Além disso, o jurado sem qualificação acadêmica relevante e com pouca e inexpressiva vivência em avaliar
processos seletivos, justiça medíocre
fez aos inscritos que se sujeitaram a
cobranças draconianas da secretaria
municipal de cultura.
A despeito disso, fantástico é imaginar uma Ilhabela onde se privilegiasse fazer arte democraticamente,
dando protagonismo a sua classe artística.
Poderia ser real, não sonho. Mas se
aqui a gente está pra ensinar, a gente está pra educar as pessoas
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a política empoderada tem sido a de
menosprezar a cultura e a educação,
como tornar esse sonho realidade?
O orçamento de Ilhabela é bilionário; para 2024 a estimativa é de R$
1.125.000.000,00. Dinheiro, faz
tempo, não falta. Ilhabela entrou no
folclore da imprensa por patrocinar
escola de samba da capital paulista, concurso de miss e por contratar
músicos e bandas de alto quilate. Saíam da ilha remunerados à altura da
fama. Os artistas viventes da terra
no entanto, ficavam e continuam ficando mesmo a ver navios. Em 2023,
não houve edital de fomento mesmo
havendo a sua cobrança pela classe
artística da cidade e, recentemente,
a delegação de Ilhabela enfrentou dificuldades para participar da Conferência Estadual de Cultura, cujo tema
central era, justamente, “Democracia
e direito à cultura”. Rafael Antonio Balaqui a gente está pra ensinar, a gente está pra educar as pessoas
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do, Procurador do Ministério Público
de Contas do Estado de São Paulo, em
parecer assinado em 27 de junho de
2023 nos conta que:
Conforme reiteradamente apontado
por esta e. Corte de Contas nos relatórios e pareces dos últimos anos
da Prefeitura Municipal de Ilhabela, é absolutamente desproporcional
que um município de pouco mais de
36 mil habitantes e com uma arrecadação superior a R$ 770 milhões,
o que representa um PIB per capita
de R$ 21.309, sequer seja capaz de
aperfeiçoar sua gestão operacional.
Como bem ilustrado pela Fiscalização, no setor de educação, área de
extrema importância para o desenvolvimento local, em 2021 o gasto
anual por aluno matriculado, na média das cidades paulistas, foi de R$
12.281,72, ao passo que o gasto em
Ilhabela foi de R$ 22.122,27 (isto é,
aqui a gente está pra ensinar, a gente está pra educar as pessoas
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80% acima da média). Apesar disso,
observa-se que a nota do i-Educ não
apresentou evolução, refletindo falhas graves como falta de vagas em
creches, ausência de AVCB em escolas da rede de ensino, necessidade de reparos e reformas em quase
todas as escolas, contratação precária de professores, entre muitas
outras impropriedades.
Parêntisis fechado.
Numa sociedade onde boa parte dos
seus integrantes abraçou o ódio sepultando a bondade, artista é visto
como crápula, ladrão do estado, vagabundo.
Artista de rua vive situação pior; é
considerado primordialmente um vadio, um inútil, um pedinte, um estorvo, especialmente por esses brasileiros e brasileiras da estirpe dos que
berravam na porta de quartéis a eles
aqui a gente está pra ensinar, a gente está pra educar as pessoas
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solidários pelo Brasil de norte a sul,
leste a oeste, até em tiro de guerra e
escritório da marinha e lá em São Sebastião ainda deles temos cheiro e indigesta lembrança.
Pouco importa que esses artistas atuem
sob sol forte ou chuva gélida e na neurastenia dos sinais fechados. Motoristas levantam o vidro e desviam o olhar
porque julgam preconceituosamente
não estar diante de artistas, mas de
craqueiros que poderiam assaltá-los.
Há desmiolados demais fazendo esforço desumano para interditar a arte de
rua. Um deles foi Flávio Bolsonaro, vitorioso na proibição da apresentação
de artistas no metrô do Rio de Janeiro; outro, em São Paulo, foi João Doria
que escolheu cobrir de cinza o alegre
colorido dos grafites da avenida 23 de
maio.
Por falta duma lei federal que normatize
aqui a gente está pra ensinar, a gente está pra educar as pessoas
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o trabalho dos artistas de rua, proliferam pelo país, leis estaduais e municipais que agridem essa arte e seus
artistas. Ilhabela poderia há muito
tempo ter uma lei que valorizasse e
protegesse os seus artistas de rua da
ação intimidatória de policiais e fiscais
truculentos.
Existem na ilha artistas e produtores
culturais se batendo por melhor espaço para a arte de rua. Mas quem nos
gabinetes refrigerados do Palácio Sauna de Cristal Matagado ou nos da Casa
da Princesa e da Fera aluminizada os
ouve?
Julieta ia além de fazer arte na rua. Era
artista plástica, – fazia bonecas miniaturizando pessoas com uma perfeição incrível -; era música, se aprentava
cantando e tocando um instrumento
característico da Venezuela, o cuatro;
era poetisa e por ter se formado como
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veterinária, às vezes socorria animais
machucados ou necessitando de acompanhamento. Com tantas habilidades e
tendo acumulado notável experiência
de vida em suas andanças, poderia se
pavonear. Longe disso, era uma pessoa
acessível, duma humildade raramente
vista e um vídeo feito por um curioso
em Manaus ao encontrá-la e abordá-la,
revela sua paciência e franqueza em responder suas perguntas.
Ela se deslocava de bicicleta. Uma opção
de transporte que colide com a estupidez e a ganância de fabricar automóveis
e mais automóveis atropeladores de pedestres e ciclistas, desperdiçando recursos que não se renovam para entupir as
cidades deles e feito placas ateroscleróticas, adoecê-las.
Julieta retornava ao seu lar na Venezuela feito filho pródigo? Na verdade, não,
posto que sua vida dantes foi monástica, abnegada, exemplar, benemérita.
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É uma lástima, é de uma crueldade de
Brasil Pátria Desalmada Brasil que essa
existência tida como tão pequena na visão cínica dos que se locupletam na miséria e no infortúnio da maioria da população brasileira, tenha tido esse final
trágico que nem vale a pena aqui relatar.
É um absurdo que apenas na morte
Julieta evidencie a sua verdadeira e gigantesca estatura humana e artística e
finalmente possa resplandecer como
um exemplo pujante e presente de que
sim, nós não devemos ter medo e que
precisamos com urgência impreterível
nos aventurar e fazer rir para que esse
riso nos ensine e nos eduque além e
acima de toda a adversidade.
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aqui a gente está pra ensinar, a gente está pra educar as pessoas
Fotos da Bicicletada por Jujuba, em Ilhabela, SP, no dia
12 de fevereiro de 2024.
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aqui a gente está pra ensinar, a gente está pra educar as pessoas
https://www.marciopan.com/julieta-ilhabela
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6 de setembro de 2021
Na hora agora desse pesadelo que parece não ter fim, se especula se vai
haver ou não golpe. Mas essa é uma
questão extemporânea porque golpe,
já houve e faz tempo. Os poderes institucionais que poderiam o ter evitado,
o legislativo e o judiciário e a própria
imprensa como quarto poder, foram
negligentes e consentiram que fosse
perpetrado.
O resultado que alguns arautos do apocalipse anteviram se materializou na
preocupa não o grit0
dos maus, mas o silêncio dos bons
preocupa não o grito dos maus, mas o silêncio dos bons
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destruição do meio ambiente, da saúde, da educação, da cultura, da ciência,
da economia, dos direitos humanos,
dos diretos trabalhistas, dos direitos
dos indígenas, do respeito às diferenças, da diplomacia, da segurança pública; todas essas destruições agravadas
e potencializadas por destruição muito maior e odienta: a de vidas, quase
seiscentas mil ceifadas pelo coronavírus com a anuência de uma política de
saúde pública negacionista.
A destituição da impopular Dilma Rousseff da presidência sem justificado
embasamento jurídico e político abriu
caminho largo para a tomada do poder pela ultra direita revanchista e reacionária que logrou em tempo recorde
esfrangalhar as conquistas políticas,
sociais, econômicas, ambientais e diplomáticas após a ditadura militar do
país o entronizando não como Brasil
pátria amada Brasil do slogan açucarado e bajulador desse tempo sórdido
preocupa não o grito dos maus, mas o silêncio dos bons
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da nova política que, literalmente, poderá nos deixar nas trevas, – sem luz
por causa do apagão da energia, mas
sim como o Brasil pária odiado Brasil
no mundo inteiro.
breviário de decomposição/ pintura/ Márcio
Pannunzio/ 2021
preocupa não o grito dos maus, mas o silêncio dos bons
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Bolsonaro, visto humoristicamente
como o tiozão do pavê ou o machão
sincero, jamais deveria ter tido a sua
periculosidade subestimada. Ela hoje
assegura que a sua obra de arrasamento do país é um completo sucesso; a
sua promessa de destruir, criando, não
bem-estar, mas terra arruinada pelo sal
grosso da perversidade tal qual o que
fartamente esparramaram os algozes
da Inconfidência Mineira na casa de
Tiradentes depois de a queimarem, se
concretizou muito antes do final do
seu mandato. E ele agora segue integralmente devotado a sua campanha
de reeleição fazendo “motociatas”: deploráveis desfiles de brutamontes homúnculos em motocicletas querendo
posarem de cruzados em defesa da
liberdade de agredirem e destruírem
a liberdade que bravateiam defender,
acelerando sua estupidez e atrocidade pelas avenidas das periferias mais
obscuras e enfermiças do Brasil.
preocupa não o grito dos maus, mas o silêncio dos bons
ilha...bela
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Há muito foi enterrada e olvidada a
bandeira da “Marielle presente”. Ela
foi sufocada pela bandeira sanguinária do “Ustra vive”.
desastres da guerra/ gravura/ calcografia em
cobre/ buril e ponta seca/ Márcio Pannunzio/
É preciso, todavia, reconhecer, que
todo esse retrocesso de construção
sadia de país não foi trabalho solitário desse “messias” adulado pelos setores retrógrados e ignóbeis do empresariado, da imprensa, da igreja, da
política; pois esses mais de cinquenta
preocupa não o grito dos maus, mas o silêncio dos bons
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e sete milhões de eleitores que encastelaram esse personagem rufião que a
imprensa séria desmascarou como ladrão de salário de assessor e nota de
gasolina e terrorista na cadeira presidencial, encastelaram no poder também, toda uma extensa e abjeta casta
de políticos a comandarem as câmaras municipais, as estaduais e a federal, o senado e governos municipais
e estaduais pelo Brasil todo. E então
eles juntos somam forças para passar
a morfética boiada do atraso civilizatório que causará enorme prejuízo a
tantos em nome da fortuna desavergonhada de uns tão poucos reiterando nossa infame história de desigualdade, ignorância, racismo, violência,
injustiça e desumanidade.
preocupa não o grito dos maus, mas o silêncio dos bons
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Na hora agora em que tanta gente se
inquieta e se amedronta com a infernal berraria dos fanáticos bolsonaristas que pretendem sequestrar as ruas
no sete de setembro, ela deveria, na
verdade e a bem dela, preocupar-se
com a maioria que silencia.
O que me preocupa não é o grito dos
maus, mas o silêncio dos bons. Frase
antológica atribuída a Martin Luther
King.
https://novaimprensa.
com/2021/09/preocupa-nao-o-grito-dos-maus-mas-o-silencio-dos-
-bons.html
preocupa não o grito dos maus, mas o silêncio dos bons
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pandemônio/ mosaico de fotografias/ Márcio
Pannunzio/ 2021
preocupa não o grito dos maus, mas o silêncio dos bons
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carnaval antecipado em
São Sebastião
https://novaimprensa.com/2022/11/
carnaval-antecipado-em-sao-sebastiao.
html
13 de novembro de 2022
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carnaval antecipado em São Sebastião
“…como vivandeiras alvoroçadas, vêm
aos bivaques bulir com os granadeiros
e causar extravagâncias ao poder militar.” Marechal Humberto de Alencar
Castello Branco.
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A língua portuguesa é bela, pelo fato
de ter entre outros tantos predicados,
o de ser preciosista. A palavra estória é
tida como arcaica, mas sobrevive marcando diferença em relação a sua irmã
história. Contam que estória com e é
invenção, é sonho, é irreal; existe no
mundo da fantasia. História com h não
se inventa, se vive na pele acordada, é
real; existe no mundo físico. A coluna
vai se ilustrar pelas duas, a começar,
pela:
estória
Cansada, exasperada de tanto esperar
que a prefeitura são sebastianense, enfim obedecendo demanda judicial contestada sem êxito, lhes melhorasse, minimamente, a sua precária existência,
a população de rua da cidade decide,
depois de acalorado debate, protestar.
Mas protestar como? Reivindicar na
frente da prefeitura ou da câmara municipal não resolveria já que ambas vêm
carnaval antecipado em São Sebastião
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governando de costas para ela faz tempo e dentro do seu limitado entendimento, assistência social significa na
fala do senhor defensor público, “na
maioria das vezes, a entregar bilhetes
de ônibus para que as pessoas, em situação de rua, se desloquem para outros municípios”.
Reclamar pro bispo também não adiantaria, haja vista que apesar de bispo ter
e muito, porque a maior parte deles
está mais interessada em arrecadar dinheiro pra sua igreja do que em ajudar
os que tão pouco têm.
Então, essa gente tão repudiada, não
enxergada por decretada invisível, se
lembrou de que aqueles que se diziam
patriotas da nação haviam, várias vezes, ao invés de invocarem a ação desses políticos surdos ou desses clérigos
fariseus chegados em barra de ouro,
invocarem a força das armas da república, apesar delas serem fumarentas,
barulhentas e obsoletas como bem
carnaval antecipado em São Sebastião
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provaram os tanques que desfilaram
em frente ao palácio do crepúsculo,
perdão, alvorada.
Entretanto, São Sebastião não tem
quartel. Tem porém um local cheio de
fardados feito médicos, todos luminosamente de branco, os soldados da
marinha.
E lá se foi o povaréu de rua, civilizadamente, como povaréu cidadão defronte da entrada da Delegacia da Capitania
dos Portos. Para não passar por maior
desconforto do que o vivido cotidianamente, entenderam de bom tom levarem seus simplórios pertences.
Num instante a calçada e a rua inteira
em frente se atulhou de papelão, colchões velhos, cobertores, carrinhos de
supermercado transbordando de tanta
tranqueira e duma gente sem banho e
muita dela de pele escura e essa gente toda ainda acompanhada por muita
cachorrada. Não cachorrada dos aporofóbicos que os querem bem longe,
carnaval antecipado em São Sebastião
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vale esclarecer, mas cachorrada mesmo: cachorros e cadelas sem eira nem
beira, sem lar que os queira.
Pois nessa altura a estória se complica
e pra simplificá-la, convém pensar em
dois diferentes desfechos.
1. A marujada compreensiva se compadece da dor dessa gente que não sai
no jornal, mas que interditou a entrada
da sua repartição e a própria rua, logo
ela, a principal da cidade, a majestosa
rua da praia. A PM se solidariza com
esses brasileiros e brasileiras sem teto
e pão e banho também e estaciona viaturas com farto efetivo para os defenderem dalgum eventual desaforado de
mau coração permitindo assim, que a
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sua manifestação de inconformidade,
manifestação essa, totalmente democrática, prospere, demore o tempo
que demorar.
2. Bom, esse outro desfecho é com fumaça, tiro, gritaria, xingamento, pancadaria, cadeia e olha lá, uns bilhetinhos de passagem pra outras praças
bem distantes dessa são sebastianense e se bobear, bilhetinho pro lado de
lá, aquele do qual ninguém até agora voltou. A imaginação desalmada de
quem lê, completa o quadro com paleta sombria e mão pesada no pincel.
história
Desde a proclamação do resultado
do segundo turno das eleições, um
grupo que parece mais ala de escola
de samba por estar todo fantasiado
de verde amarelo, interditou a rua da
praia e dificultou o acesso à Delegacia da Capitania dos Portos. Viaturas
carnaval antecipado em São Sebastião
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da PM que poderiam estar percorrendo
a cidade em patrulhamento, ficaram lá
estacionadas. Populares que não professavam a mesma fé da turba correram
o risco de serem hostilizados. Lá dentro tinha barraca dessas expostas com
destaque em loja chique de camping,
tinha tenda pra se alimentar, tinha cadeira e espreguiçadeira com fartura e
tinha até caminhão zero bala parecendo carro alegórico de tanta bandeira e
pano colorido o cobrindo. Podia bem
estar de serviço fazendo entrega, mas
ficou lá parado com alguém pagando
por isso.
À noite, havia iluminação tão potente
que muito pouca sombra vivia. Faixas
pediam intervenção federal, faixas imploravam apoio do exército; bandeiras
brasileiras tremulavam histéricas e no
meio da confusão de carnes bem lavadas e alvas, tinha umas de gente que já
viveu na infância a ditadura do estado
carnaval antecipado em São Sebastião
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novo e na juventude a ditadura militar.
E ainda assim, estavam lá, clamando
por ela, a ditadura que por dura sendo
de direita ou de esquerda, perseguiu,
prendeu, torturou, assassinou, exilou,
afrontou, achincalhou, emporcalhou,
aviltou e haja adjetivo depreciativo pra
tanta infâmia feita.
Há jornalistas, há políticos e, principalmente, juristas, que dão nomes sem
rodeios a esse tipo de ajuntamento:
manifestação antidemocrática, manifestação golpista, manifestação criminosa. Sim, por incitar crime contra a
democracia.
Dizem que os moradores de rua se
drogam; pois de que droga se drogam
esses que não são sem teto e que se
tornam sem, voluntariamente, abrindo
mão da segurança das suas casas confortáveis, pra passarem dias e noites
ao relento violando o direito de ir e vir
dos demais na rua cartão postal de São
Sebastião? Iriam continuar ali fazendo
carnaval antecipado em São Sebastião
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barricada, serviçais, esperando uma
nova intervenção triunfal do general
Benjamin Arrola? Ficariam até a chegada dionísiaca do carnaval, quando finalmente, seus napoleões de hospício
e suas vivandeiras alvoroçadas bulidoras de granadeiros se levantariam trôpegas das espreguiçadeiras de praia
e desfilariam cambaleantes berrando
coléricas a musiquinha sejam patriotas?
Pois então o Ministério Público do Estado de São Paulo determinou a imediata
desobstrução da rua da praia depois
de mais de uma semana de bloqueio
baderneiro.
Aqui a história termina.
Termina?
carnaval antecipado em São Sebastião
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novamente,
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carnaval antecipado em
São Sebastião
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com/2024/02/novamente-carnaval-
-antecipado-em-sao-sebastiao.html
10 de fevereiro de 2024
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novamente, carnaval antecipado em São Sebastião
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A foto em foco carnaval antecipado
em São Sebastião finalizava com uma
palavra em negrito que perguntava:
termina?
A larga faixa estendida no gradil deixava claro que ela seria interditada do
dia 9 ao 13 de fevereiro, sempre depois das 18h. Entretanto, no dia 7 ela
ficou intransitável o dia inteiro. Isso
porque foi invadida por gente colorida de verde amarelo assim como fizeram as que acamparam em frente
à Delegacia da Capitania dos Portos
nos meses finais de 2022. Embandeirados se perfilaram ao pé de seu
messias em imagens que viralizaram
com gosto na claque bolsonarista;
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Damares se ufanando de que isso sim
era manifestação de apreço popular em
tudo diferente dum trechinho recortado com lupa duma outra, de Lula em
Belford Roxo. O Brasil inteiro, quiçá o
mundo também, sabem agora que em
São Sebastião Litoral Norte do estado
de São Paulo, Jair Messias Bolsonaro é
rei.
Pois do alto do palanque trio elétrico
pago não se sabe por quem, na avenida que em breve seria verdadeiramente carnavalesca, ele pançudo posou de
rei momo sempre batendo na tecla do
vitimismo e na repetição dum versículo só, o 8:32 do Evangelho de João
que diz “e conhecereis a verdade e a
verdade vos libertárá”.No dia seguinte, a hora da verdade ao pé da letra e
pra ficar mais bonito, classudo, erudito, em latim assim tempus veritatis,
chegou. “Eu sei o que vocês fizeram
o verão passado”, corrigindo, inverno
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passado, bem podia ser o nome do
vídeo gravado pelo Mauro Cid que escancarou pra nação & mundo a face da
ignomínia bolsonarista sem retoque e
essa face nada tem de carnavalesca;
ela é, primordialmente, criminosa.
Vídeos do acabou porra!, e os da reunião ministerial do dia 22 de abril de
2020 viraram biribinhas ao lado desse,
de reunião ministerial em 5 de julho
2022 e agora sabemos que conhecendo a verdade, ela nos libertará muito embora possa encarcerar bastante
gente graúda a começar por aquele
que tanto tanto a repetia esganiçando
uma fala furiosa.
Escolher estar em São Sebastião reunindo sua tropa ruim pra sambar “liberdade, liberdade, abre as asas sobre
nós!”, mas bem capacitada pra numa
coreografia Thriller reverenciar numa
toada desafinada aos berros duma
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nota só justamente o seu inverso, o
autoritarismo, não foi fruto do acaso.
Havia o depoimento desmarcado, o
caso da baleia jubarte toureada, mas
esse é pretexto menor.
Escolheu estar na cidade porque sabia
que ela o teria eleito como igualmente o faria Ilhabela. Ponto em comum,
os prefeitos fizeram campanha para a
sua vitória. Estaria pois, no meio do
seu rebanho.
No palanque, puxa-sacos agitavam histéricos baleias de inflar fazendo troça
duma atitude que a Lei nº 7.643, de
18 de dezembro de 1987 pune com
pena de dois a cinco anos de reclusão,
além do pagamento de multa.
Funcionando como atracadouro de navio de gado vivo, inclusive navio sucateado, o porto da cidade se notabiliza por ser dos poucos que permitem
essa prática vergonhosa, recriminada
no mundo inteiro. Se a população, à
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exceção duns teimosos que levantam
bandeira contrária, não se importa
diante da crueldade imposta aos animais confinados em espaços minúsculos durante uma travessia oceânica
interminável ao fim da qual, se chegarem vivos, serão esfaqueados ainda conscientes pra sangrar até morrer
seguindo preceito religioso, por que
se aborrecer com baleia acossada por
jet ski?
Quando deputado, Bolsonaro deu carteirada em fiscal que o autuou e multou por pescar em área de preservação.
Em campanha, prometeu que, eleito,
acabaria com o Ministério do Meio Ambiente. Eleito, despediu o fiscal que o
multou. Não conseguiu cumprir a promessa de extinguir o ministério, mas
o desidratou a ponto de torná-lo inexpressivo.
No discurso à multidão que não era
avantajada porque todos os vídeos
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que a mostram fogem ligeiros das suas
bordas, Bolsonaro disse que poderia
“estar já cuidando da minha vida, estar fora do Brasil”. No dia seguinte, o
dia da limpeza da lixaiada deixada de
lembrança lambança por essa “gente
da direita que trabalha”, - palavras do
ex-presidente -, ele ficou sabendo que
não poderia sair do Brasil.
Esse povo inflamado que sequestrou a
avenida da praia não teve coragem de
sambar ao som “daqui não saio, daqui
ninguém me tira” e retirou-se. Além do
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refrão de adoração ao bezerro de ouro,
MITO MITO MITO MITO MITO MITO
MITO MITO MITO MITO MITO MITO,
bradaram e muito, enraivecidos, “Lula
ladrão, o seu lugar é na prisão”.
Essa aglomeração estridente, nada
carnavalesca, adepta do duplipensar
de 1984, ao juntar sem atrito conceitos antípodas como os de democracia e o de autoritarismo, liberdade e
ditadura, haverá de ignorar, tripudiar
do pensamento humanista, libertador
de George Orwell, sintetizado na frase “em tempos de engano universal,
falar a verdade torna-se um ato revolucionário”.
Diante da ofensiva do poder judiciário, pouco caso farão do versículo de
João. A verdade pouco lhe importa;
vale mesmo a narrativa duma exdrúxula teroria da conspiração.
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Essa postagem incógnita circula veloz
e venenosa nas redes sociais.
Isso pensam os fanáticos que engrossam manifestações. Para eles, a verdade é o seu inverso; a verdade é o seu
oposto; a verdade é, visceralmente, o
seu contrário: a mentira.
O cabeçalho revela a ignorância de
quem o redigiu; a sua pouca ou quase
nenhuma familiaridade com a gramática a ponto de colocar sobre o “que”
um inexistente acento cincunflexo.
Se essa gente criminosamente golpeia
a frágil democracia brasileira, porque
não haveria de também estuprar a língua portuguesa?
Encarar como santo quem tripudiou
dos que morreram de covid, imitando,
teatralmente, a falta de ar que sentiram
antes de serem entubados ou quando,
sem nenhuma assitência médica, em
enorme agonia sufocaram até morrer?
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Pesquisas sérias comprovaram: morreram muito mais bolsonaristas do que
os que não abraçaram essa ideologia
maligna e tóxica.
Santo? Jamais.
Mártir? Como enxergar nessa condição um genocida que praticou sedição golpista? Alguém que difundindo
a mentira, ocasionou a morte? Alguém
que traiu a própria pátria?
Solto seria presidente? Inelegível já
por oito anos, somente no futuro poderia concorrer e esse futuro poderá
se dilatar e muito quando for fechado
o inventário interminável dos seus crimes.
Eleito presidente como? Se usando de
incontáveis atos espúrios, se gastou a
rodo, se comprou e enlameou tantos,
se empregou todos os artifícios desonestos, imorais ao seu alcance e ainda
assim foi derrotado?
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Todavia, esse acontecimento que celebrou a força do bolsonarismo logo
aqui, no seio do Litoral Norte, poderá colaborar para a prisão preventiva
de Jair que não se conformou em já
ir embora. Afinal, insuflar movimentos contra governo democraticamente, legitimamente eleito e contra o poder judiciário com potencial de abalar
a ordem pública e tumultuar investigações policiais em curso poderia ser
enquadrado como requisito da sua decretação.
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Do lado de lá do canal, novamente, de
novo novamente, notícia antiga ainda
fresca volta à tona: prefeito e vereadora trocam insultos. O estopim foi projeto de aumento salarial da elite do poder insular que segue bem vitaminada
e robusta encabeçando a folha de pagamento. Morreu no nascedouro. Entretanto, a desfaçatez de querer mais
e mais pra quem tem tanto frente aos
que quase nada têm, incendiou uns
poucos ânimos na câmara municipal.
Ao assistir o vídeo oficial da sessão,
no entanto, não se verá nem se ouvirá a berraria: “o senhor é um bandido, corrupto, mentiroso, traidor...”.
Pra ver a xingação, é preciso abrir o
vídeo tornado público pela vereadora.
A diferença é que desta vez, a briga,
apesar de filmada como a anterior,
não caiu no colo e no gosto da grande
mídia até porque havia baixaria muito
maior, de envergadura nacional sendo
descoberta.
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o 8 de janeiro
https://novaimprensa.
com/2024/01/foto-em-foco-o-8-de-
-janeiro.html
17 de janeiro de 2024
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Final de tarde na rua da praia em São
Sebastião. O mormaço dum dia de desarranjo climático é o tormento que
vive quem não tem acesso a ar climatizado e põe a cara pra incendiar ao ar
livre. O calor pegajoso adere à pele e
esgana o corpo numa agonia claustofóbica. A tarde caía sim, feito viaduto.
Mas o bebâdo não trajava luto e muito
menos lembrava Carlitos.
Espalhado numa cadeira dum desses
bares que invadia a calçada exalando fritura e bafo etílico, o sujeito, embriagado, mordido pela curiosidade,
interpelou os caminhantes que chegavam poucos e devagar; alguns com
pandeiros, outros com bandeiras, uns
com tambores dependurados no peito
ensaiando um repique tímido.
-Quem são? Aonde vão?
Diante da resposta de que iriam se
agrupar em frente à Casa da Cultura
pra relembrarem o trágico 8 de janeiro
o 8 de janeiro
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de 2023, perguntou se eram petistas.
Não esperou resposta. Entre dentes,
com desprezo e raiva falou para que
todos a sua volta ouvissem: bando de
vagabundos!
O pior dos governos depois da ditadura militar haveria de destruir a cidadania e as instituições da república
demais e muito além. A lista de estrago é enorme e não há espaço para
aqui elencá-la. Melhor a reviver pela
pena da memória vivída do jornalista
vencedor do Prêmio Esso, Weiller Diniz no artigo “Acabou, Porra”. Dividido em tópicos, o nome curto de cada
um deles, juntando todos, compõe um
poema concretista:
a morte/ a mentira/ maus militares/
a mamata/ a miséria/ o nazismo/ o
golpismo/ o segredo
Essa sequência de curtas frases ritma
um quadro de pavor, cuja pincelada
final aconteceu nesse 8 de janeiro que
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entra pra história a desonrando.
Nos últimos anos, especialmente depois de 2018, brasileiros e brasileiras escolheram ser apátridas porque,
como na tenebrosa época da ditadura
militar, suas vidas corriam risco.
Voltaram, quase todos, assim como
Betinho, o irmão do Henfil da célebre
canção. Virou ele capa de revista, livro, filme e série da Globo.
Betinho não imaginaria que ruas das
cidades brasileiras se tomariam por
gente esfomeada e sem teto. Um padre solitário quer dar de comer aos
que tem fome e os asseclas de Bolsonaro querem ciminalizá-lo com cólera
facínora.
Como pôde essa gente demente fazer
pouco caso da dor imensa de incontávéis Marias e Clarices? Como pôde
essa gente endemoniada querer o retorno das trevas, a repetição dos anos
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de chumbo?
De tanto cortejarem desvairadamente, impunemente o abismo, o abriram
aos pés do Brasil todo.
Octavio Paz, em ‘O Labirinto da Solidão’, diz que quando (Cristóvão) Colombo chegou, (os indígenas) não viram as caravelas… Elas estavam ali
fundeadas, mas não havia cognição
para poder representar cerebralmente uma imagem que era absolutamente incompatível com o quadro mental de uma cultura que não
tinha elementos para visualizar…
Por isso que os gregos diziam que
‘teoria’ significa ‘aquele que vê’, o
‘teores’, é ‘aquele que vê’… A gente
só vê o que tem cognição pra ver…
Fala brilhante do professor doutor
de Direito da Universidade de Brasília, José Geraldo de Souza Júnior, na
CPI do MST.
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Espanta perceber que não apenas a
ignorância do passado inflinge um
pernicioso déficit cognitivo, a ponto
de não se ver “caravelas”, – e convém
as substituir no assunto objeto deste
artigo pelas palavras “ditadura militar”
-, mas mesmo quem as vê e tem a compreensão da sua enorme malignidade,
após sofrer um processo de lavagem
cerebral consentido pela sua desumanidade, já não se assusta e por isso,
perdido é o nojo que deviam despertar.
Betinho morreu. Fosse vivo, que dissabor teria desse Brasil que sonha não
com a sua volta, mas a volta do terror
que o exilou.
Morreu também Aldir Blanc, o letrista
inspirado do bebâdo e a equilibrista.
Morreu de Covid; morreu por causa da negligência dum governo negacionista no cuidado da pandemia.
Negligente também com a cultura a
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ponto de seu presidente vetar a lei
Aldir Blanc. Lei essa que beneficiaria
a cultura esfrangalhada desses anos
de ultraje a ela e à ciência, após a derrubada do veto presidencial pelo Congresso.
Sem anistia para golpistas, punição
para todos os militares e empresários envolvidos na intentona golpista, prisão de Bolsonaro, Forças Armadas submetidas ao poder civil, Marco
Temporal, solidariedade ao Padre Júlio Lancellotti e Palestina livre.
Era essa a pauta do 8 de janeiro – Ato
em Defesa da Democracia organizado
pela Frente Progressista do Litoral Norte. A sua sobrevivência é a melhor garantia de que a esperança equilibrista
não caia da corda bamba.
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sessenta anos
1 de abril de 2024
https://novaimprensa.
com/2024/04/foto-em-foco-sessenta-anos.html
Tentar tocar o país pra frente é sem
dúvida, uma necessidade inescapável
depois dele ser demolido pelo desgoverno ultra direitista que se esgoelou
para jogá-lo no mesmo abismo da finada última ditadura.
Surreal que essa frase, inserida numa
oração maior expressando a vontade
de não lembrar dos 60 anos do golpe
civil e militar de 1964, traga logo ela,
em seu bojo, essas três palavras em
sequência: “país pra frente”.
Os mais velhos entre aqueles que
não marcharam em nome da família por deus e a liberdade e sofreram
demais pela privação dessa última,
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hão de ouvir tocar no fundo da memória aquela musiquinha baba ovo
ufanista onipresente celebrando o
curto espirro do “milagre brasileiro”, quando o bolo do Delfim cresceu
para ser prontamente devorado pelos tubarões da pirâmide social que
se tornou estupidamente desigual.
“Este é um país que vai pra frente
Oh, oh, oh, oh, oh, oh
De uma gente amiga e tão contente,
Oh, oh, oh, oh, oh, oh”
Gente amiga e tão contente em calar
a força a boca de gente descontente a
censurando amordaçando prendendo
torturando assassinando ocultando
seus cadáveres seviciados.
Gente amiga e tão contente que destituiu um governo democraticamente
eleito que pretendia implementar a reforma agrária e reformas econômicas
com capacidade de melhorarem a vida
sessenta anos
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da população, cuja maioria as reivindicava e aprovava.
Gente amiga e tão contente que eliminou lideranças políticas com concreto
poder de verdadeiramente tocarem o
país pra frente o tornando mais inclusivo, justo, realmente cordial.
“Pensar o passado para compreender
o presente e idealizar o futuro.”
Essa máxima não foi tirada dalguma
escritura tida por sagrada, mas da fala
dum grego das calendas, Heródoto,
alcunhado como pai da história.
Essa coluna insignificante no universo
pequenino duma imprensa que honre o adjetivo de livre, não irá, depois
dessa voz das catacumbas que muito fez para tocar pra frente não apenas o Brasil que em seu tempo sequer
existia, mas todo o mundo que depois
viemos a conhecer, não irá, é preciso
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reforçar, se desdobrar em argumentar
aumentando aumentando aumentando esse texto como aumentou a avidez da sedição golpista dalguns militares ainda há pouco, para convencer
seu minúsculo grupo de leitores, da
abominação que foram esses 21 anos
de ditadura militar.
Tem por aí, havendo paciência de procurar, bastante artigo de muito maior
monta, vários filmes e documentários,
felizmente, material de sobra, pra assombrar os puros e os pobres de espírito. Lamentavelmente, para os que se
contaminaram irremediavelmente no
esgoto bolsonarista, para esses, nada
há que os esclareça.
Mas convém olhar para o umbigo e
percebermos lampejos desse tempo
medonho no nosso modesto presente.
Cá na ilha a educação municipal que a
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despeito de tamanha grana nela investida, continua desde sempre no rodapé dos critérios de avaliação, recebeu
de Rafael Antonio Baldo, procurador
do Ministério Público de Contas do Estado de São Paulo em parecer datado
de 25 de junho de 2023, a seguinte
recomendação:
“Atente para o desempenho da rede
municipal de ensino no IDEB (Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica), buscando não apenas a aplicação dos mínimos constitucionais e
legais de verbas na educação, mas
o efetivo resultado qualitativo deste
investimento na melhoria do ensino
a cargo da Prefeitura.”
Pois a ação supimpa da hora foi a inauguração duma segunda escola cívico-
-militar na cidade.
Cívico e militar são substantivos que
não se coadunam. O pessoal hoje idoso
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vai se recordar das escolas da ditadura. Havia nelas manifestações enquadradas como de civilidade: um montão
de alunos crianças perfilados todos
como se fossem um batalhão militar,
todos mudos depois de berrarem o
hino à bandeira e o hino nacional, de
olhos siderados num palco de solenes
autoridades onde tremulavam as bandeiras da cidade, do estado e do país
numa repetida cerimônia de cultuar a
pátria mãe nada gentil toda semana.
Suprema glória nesses dias insanos
era o de poder segurar o mastro que
ostentava o “lábaro estrelado” nesse
palco montado para idolatrar a nação
então capitaneada por engalonados
defensores da liberdade que operosos
roubavam corrompiam censuravam
emudeciam torturavam matavam.
Crianças tolas se empertigavam e se endureciam em postura militar feito soldados da rainha no esforço gigantesco
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de segurar aqueles mastros pesados e
compridos sem tremer.
Pois esse parece ser o sonhado padrão
de educação dessas cidades que não
conhecem a máxima de Heródoto.
Não é, cientistas da educação nos esclarecem, o de transformar estudantes
em cidadãos, mas o de pelo emprego
do autoritarismo, desqualificá-los para
a vida democrática ao privá-los da capacidade de pensarem por si mesmos,
ao lhe inibirem a humanidade de respeitar as diferenças e ao lhe infundirem o medo de exercer o direito de
questionar o poder da ocasião.
Ilhabela ganhou recentemente o prêmio “Munícipio Destaque na Alfabetização”. Pena que esse prêmio tenha
sido conferido por uma secretaria estadual da educação pródiga em posar
de má figura.
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“Erros não são pontuais” disse a Associação Paulista de Livros Didáticos de
São Paulo em polêmica recente a envolvendo.
Na cerimônia de premiação, involuntariamente, cometendo não um ato
falho e sim um erro de gramática elementar que não soaria bem na sua posição, a secretária da educação da ilha
disse que “esse reconhecimento vem
de encontro ao árduo trabalho que fazemos”.
O governo bolsonarista do estado de
São Paulo tem se empenhado em ir de
encontro a qualquer boa política na
área da cultura, da educação, da economia e, principalmente, da segurança pública.
56 mortes. Essa é a macabra contagem atual da operação verão no litoral do estado. Será sua meta bater o
recorde dos 111 mortos do massacre
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do Carandiru?
Trinta anos se passaram desse massacre. Sessenta da ditadura. 1964, o ano
que não terminou normalizou a tortura e o extermínio dos que são tidos
por bandidos; geralmente, pessoas da
periferia, das favelas, das ocupações,
todas miseráveis; muitos mulatos e
pretos.
“O negócio melhorou muito. Agora,
melhorou, aqui entre nós, foi quando
nós começamos a matar. Começamos
a matar”. Fala de Dante Coutinho, ministro do exército de Ernesto Geisel.
A polícia que Tarcísio adula parece
seguir essa estratégia e alega sempre
ter agido em defesa própria quando
mata, embora nesses confrontos, só
haja mortos do lado dos ditos bandidos, raramente do lado dos policiais.
E não adianta ir de encontro a essa
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matança recriminada mundialmente porque Tarcísio avisou: “o pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça,
no raio que o parta, que eu não estou
nem aí”.
Patriotas da ditadura não estiveram
nem aí em trair a pátria e a tornaram
vassala dos Estados Unidos. Em Davos, Bolsonaro reviveu submisso essa
postura vergonhosa, adulatória, puxa-
-saco e praticamente ofereceu de bandeja a Amazônia ao ex-vice-presidente
norte-americano Al Gore.
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Ilhabela será acolhedora com os caiçaras da Serraria?
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Notícia da vez em Ilhabela nos conta
sobre o projeto de ceder para um grupo hoteleiro de Potugal um terreno de
quase um milhão de metros quadrados, adquirido com dinheiro público,
na praia da Serraria, ocupada por tradicional comunidade caiçara.
A situação é absurda antes mesmo da
pretensa cessão para construção dum
resort, – escrito assim em inglês pra
ficar bonito -, uma vez que a terra foi
comprada na intenção de criar uma
“área de compensação de reserva ambiental”. Isso num local que disso não
carecia por ter sua paisagem natural
intocada, preservada.
Nas palavras da publicidade institucional, seria esse um resort “ecológico”.
Tão ecológico quanto esses navios de
cruzeiro shopping centers monstrengos fundeados no canal o são queimando combustível extremamente
poluidor e esgotando toneladas de
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imundícies no oceano.
A implantação desse trambolho logo
no meio da comunidade decretaria o
seu fim. A caiçarada viraria mão de
obra barata pra ricaiada portuga explorar; entraria discriminada, de cabeça abaixada pela porta de serviço.
E como projeto de tamanha envergadura demandará muito peão & peoa,
pode acontecer de nos cafundós surgir invasão, com as moradias simplórias do povo trabalhador se amontoando. E como rico atrai também rico,
pode acontecer doutros por lá surgirem querendo ostentar peidando grosso perto do luxuoso predião lusitano
suas mansões criando uma aglomeração de palacetes deixados às moscas
na maior parde do ano. Resultará assim que de Serraria a praia passará a
se chamar da Porcaria.
É oportuno para esta data tão magnânima, esse inesquecível primeiro de
sessenta anos
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abril, desligarmos aquela musiquinha
chata cheia de “oh, oh, oh, oh, oh, oh”
dos Incríveis, ela mesma incrível na
sua hipocrisia e cantarmos e dançarmos ao compasso do Fado Tropical do
Chico:
Oh, musa do meu fado
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado
No primeiro abril
Mas não sê tão ingrata!
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu
ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!
...
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Ilhabela verde amarelou
https://novaimprensa.
com/2022/12/ilhabela-verde-
-amarelou.html
19 de dezembro de 2022
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Num incerto dia Ilhabela amanheceu
verde amarelada. Por toda extensão
da avenida principesca com suas margens horrorizadas por galpões industriais caça aluguel, prédios caixotes
stalinistas e demais quizumbas comerciais de lastimosa lavra, banners verde amarelos enforcavam os postes. Lá
na entrada da vila, agigantados, atravessaram pelo alto o pedacinho tão
modesto do calçamento de paralelepípedos que ainda sobrevive feito lembrança granítica dum plácido passado
imemorial.
Essas lonas coloridas berrando babavam ufanismo futebolístico rebentando os ouvidos dos viventes que os
Ilhabela verde amarelou
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enxergaram feito soco n’olho criando alucinação visual: a ilha joga junto
FORÇA BRASIL.
Pois então a ilha virou gente; mas fraca não só das ideias mas também das
pernas, nadinha nada nada colaborou
pro sucesso do Brasil pátria amada
chuteirista.
O sonho ilhabelense de vencer a copa
virou um montaréu de banners no lixo
já que, lamentavelmente, não poderão
ser devolvidos pra outro lugar menos
insalubre feito os R$ 7.723.735,78
destinados à cultura insular não utilizados em 2021.
Expoente maior da cultura local, o artista plástico Carlos Pacheco que ama
demais esse lugar ilhado com cujos
dejetos constrói sua obra singular,
abrindo os braços em direção a sua
volta, embevecido diz: – olha só esse
quintal!
Ilhabela verde amarelou
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137
Seu gesto largo abraça a língua de
mar do canal e se perde no contorno
das montanhas do parque estadual. Lá
bem longe longe, além do horizonte
que essa serra esconde, a terra beija o
alto mar.
Numa área desse lugar foi criado no apagar das luzes da gestão Gracinha, a reserva extrativista Baía de Castelhanos,
comemorado pela comunidade caiçara e
pela pena atilada do jornalista João Lara
Mesquita do Mar Sem Fim como freio à
especulação imobiliária que aquém de
transformar o que toca em ouro, transforma é em merda de muito maior fedor
do que essa que empesteia o ar insular
por falta de saneamento básico.
O decreto de criação da reserva durou
menos de dois anos.
Lei criada pelo poder executivo municipal, a de número 1.546, determinando
a revogação da lei 8.351, criadora da
Ilhabela verde amarelou
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138
RESEX, foi endereçada à Câmara Municipal de Ilhabela no dia 16 de agosto
de 2022, para ser aprovada a toque de
caixa e sancionada no dia seguinte.
Se a Ilhabela quando muito é um ente
mambembe mas nem um pouco é qualquer gente, até por ser desprovida de
mente, nada fez contra essa ação demente, feita às pressas sem mínima
clareza, houve quem fez e dessa vez,
quem fez foi gente.
A revolta que tomou conta da caiçarada subiu rápido atingindo ponto de
fervura no dia 30 de agosto. Caiçaras
dos confins da ilha se ajuntaram na
frente do Fórum para saírem em caminhada até a sede da prefeitura. A
multidão então se postou na sua entrada para, aos gritos coléricos, cobrar
postura do prefeito que propôs a lei e
dos vereadores que a aprovaram instantaneamente.
Ilhabela verde amarelou
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Se eles ouviram e se inquietaram, ninguém sabe, ninguém viu. Mas o Ministério Público que não é surdo nem
cego e muito menos mudo, publicou
no dia 10 de novembro sentença que
suspendeu os efeitos da lei que pretendeu desmantelar a festejada RESEX.
O quintal, ou melhor, essa sua pequena fração doutro lado da ilha, respira
agora aliviada, mas não respiram assim nem os postes nem os coqueiros
da avenida infanta. Livres daqueles
banners baba-ovo laxantes de intestino preso, os estrangulam desta vez
cordames elétricos dum mundaréu de
luzes amarelo frouxo. À noite acesas,
a visão é a de uma sucessão interminável e indigesta de piras incendiando
o escuro e torrando, num fogaréu dos
infernos, o verão derretedor de asfalto que ora deita e muito mesmo rebola e rola nessas obras de pavimentar de novo novamente mais uma vez
Ilhabela verde amarelou
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145
dessa sim afinal bem-feita em ruas de
bom leito na Água Branca. Essa coisa
de alumiar pau e poste faz parte dum
projeto maior, o do “Natal Luz Ilhabela”.
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Nas palavras meio chorosas, meio um
tanto ardidas da vereadora Diana Almeida, ele vai custar oitenta mil reais
por dia pra população de Ilhabela, dela
pois fazendo uma legião de papais-
-noéis perdulários. Fazendo uso da tribuna da câmara no dia 6 de dezembro,
Almeida finalizou seu discurso mais incendiário que esse monturo de lampadazinha, não sem antes disparar uma
pesada fuzilaria contra o prefeito mais
doída que essa aí enforcadora de poste e coqueiro, se dizendo “indignada
com essa vergonha que tá o Natal Luz
Ilhabela”.
Na Ilhabela, a mais rica das cidades do
Brasil, não falta dinheiro pra banners
verde amarelo oba oba pra frente brasil pátria amada varonil que são mortos num aterro sanitário enquanto os
antigos outros com face humana criados pelos çábios da publicidade institucional sobrevivem nos contando
Ilhabela verde amarelou
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todo dentes sorridentes que Ilhabela é
gente de bem, descolada e desfrutável
ano todo tempo inteiro.
Regiamente remunerada pelos royalties
do petróleo, a despeito da inveja das demais cidades brasileiras que precisam
pular miúdo, parece que essa receita
quase bilionária é pouca para os gestores da ocasião. Então surge a proposta de aumentá-la cobrando trinta reais
pelo primeiro dia e mais cinco por cada
um dos outros que o turista desavisado
passear pelo arquipélago. Isso tudo em
nome de taxa de preservação ambiental pra ser usada em prol da muito nobre promoção da sustentabilidade, da
segurança, da legalização imobiliária e
da contenção das invasões. Seriam essas últimas as bárbaras, as do turismo
de um dia?
O que vende essa proposta que de pronto estampa projeto de lei detalhado, só
faltando numerar e colher assinatura
Ilhabela verde amarelou
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do prefeito, é a criação duma plataforma digital bem azeitada às custas do
hipertrofiado erário municipal. E seu
prospecto na internet, como todo prospecto publicitário que se preze, está recheado de fotinhos bonitinhas dessas
que fazem brilhar olho publicitário e
babar boca de influencer, tem também
uma frase citação pra exalar embolorada sabedoria de almanaque.
“A maneira de começar é parar de falar e começar a fazer.”
Walt Disney. Ele mesmo, o criador da
Disneylândia.
Faz pouco tempo, era Ilhabela capital
da vela sonhando virar o jeca dubaiano
novo rico balneário Camboriú, que ora
frequenta as manchetes dos jornais por
seus banhistas brega jacus deslumbrados estarem tomando banho de mar
de bosta. Hoje, pretendem, pelo visto,
é transformar Ilhabela numa disneylândia tropical insular.
Ilhabela verde amarelou
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De saída esse parque temático ilhabelense teria várias atrações, a começar
pelo da caça ao lixo, sempre tão farto
e presente na praias, nas cachoeiras,
nas ruas, nas calçadas, nas praças, no
meio do jardim dos horrores de estátuas alugadas com dinheiro público. O
pula pula buraco, cratera, depressão,
costela de vaca aqueceria a turistada
disneyilhabelista para a próxima palhaçada. A da corrida de obstáculo com
participantes carregando geladeira de
isopor, quer dizer, cooler, tentando desesperadamente atravessar a muralha
de comércios praianos donos do pedaço
AQUI MANDO EU VOCÊ PAGA OU CAIA
FORA RAPIDINHO interditando acesso
à praia botequeira. Prova essa bastante
difícil a ponto de nem o Kenner Neiva,
com toda a sua espantosa vitalidade,
ter conseguido completar.
Ilhabela verde amarelou
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Pena que na ilha não aconteceu manifestação turística carnavalesca como
em São Sebastião em frente à Delegacia
da Capitania dos Portos. Por lá quem
circula, a pé, de bicicleta ou moto ou
carro ou ônibus, atravessa um corredor polonês de embandeirados tremulando histéricos o lábaro estrelado vociferando, desafinados, o hino pátrio.
Se o imprudente fizer com a mão o L
do Lula lá, leva tabefe; se fizer arminha, é ovacionado, a mulherada o beija e a homarada o abraça.
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Por aqui não vingou. Podia ter um ajuntamento desses em frente ao posto da
PM na entrada da ilha ou na nova escola
cívico militar que, sem dúvida, haverá
de elevar a nota baixa altura rodapé da
educação municipal insular na avaliação
do i-educ, o índice municipal de educação presente nas planilhas dos relatórios de Tribunal de Contas. E lembrando
que Ilhabela é conhecida como local de
avistamento de disco voador, seria aqui
bem facilitada a comunicação com os
ETs que enfrentou dificuldade noutros
lugares onde manifestantes, inconformados com a derrota do seu messias
mito, clamaram em vão auxílio ao espaço sideral porque suplicar por intervenção militar ditatorial federal o escambau
não tava adiantando porcaria nenhuma.
Entretanto, se por um lado na ilha não
teve manifestação antidemocrática golpista, por outro aqui vazou na internet
a relação dos petralhas comunistas comedores de criancinha esquerdistas
Ilhabela verde amarelou
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maconheiros artistas fotógrafos vagabundos moradores eleitores do presidente ex-presidiário e não do ex-presidente presidiário muito em breve
justiça seja enfim feita. Vazou porque
assim os defensores locais da ditadura, saudosos da censura e da tortura,
poderão desprestigiar seus comércios
subversivos na meritória intenção de
levá-los à falência.
Esse acontecimento foi informal, mas
que beleza se a indústria do turismo
insular e os poderes constituídos ilhabelenses abraçarem essa lista e a melhorarem: Ilhabela com selo de qualidade verde amarelo chancelado pela
extrema direita populista reacionária
bolsonarista que aterrorizou Brasília
no dia da diplomação do Lula. Aí quem
sabe se evita que aqueles desafortunados banners acabem assassinados.
A galera da publicidade oficial, sempre tão econômica no seu falar e tão
operosa no seu fazer, há de encontrar
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jeito maneiro de aproveitá-los.
Ilhabelenses antigos gostavam de acreditar que Ilhabela não é Brasil; Brasil tá
do lado de lá.
No lado de lá, no continente, venceu
apertada a escolha da erradicação da
barbárie, da reconstrução da civilidade, da preservação e do fortalecimento
da democracia. O trabalho será enorme e extenuante porque, como pontuou Celso Rocha Barros, o vencido foi
o pior governo do mundo, cujo legado
maldito é abominável e ficará inscrito, para sempre, vergonhosamente, na
história brasileira. Afortunadamente,
sopram desde já bons ventos e gente
realmente gente e de valor, arregaça
as mangas e muito fala para fazer ainda muito mais.
No lado de cá, na Ilhabela onde venceu
Bolsonaro, fica a amarga sensação de
que está tudo como dantes no quartel
d’Abrantes.
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a ilha te recebe de
braços abertos
10 de fevereiro de 2020
https://novaimprensa.com/2020/02/
foto-em-foco-a-ilha-te-recebe-de-
-bracos-abertos.html
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Um dos inúmeros prospectos turísticos de Ilhabela enaltecendo a cordialidade local, mostra um homem de
costas com os braços levantados em
júbilo, como se pretendesse abraçar a
paisagem idílica aos seus pés, numa
foto com os dizeres: “a Ilha te recebe
de braços abertos”. Rodado em larga
tiragem, o folheto se espalhou pela cidade a ponto de ser encontrado em
grande volume jogado no lixo.
Ao olharmos essa foto logo percebemos que ela não expressa uma situação real porque é uma montagem de
photoshop; o personagem foi sobreposto na foto da paisagem. Personagem porque ele também não é uma
pessoa autêntica que estava naquele
lugar, mas sim um modelo fotográfico presente aos montes nessas fotos
à venda em banco de imagem numa
postura que louva, que se encanta por
algum treco que lhe querem vender. A
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praia de fundo parece ser a de castelhanos, mas diante dessa montagem grosseira a gente pode desconfiar que nem
ela seja, mas outra, pinçada juntamente com o deslumbrado ator no mesmo
comércio de fotografia para publicidade.
A ideia é que a ilha recebe esse sujeito
de braços abertos do jeito que ele escancara vigorosamente os seus, maravilhado pelo que vê, como se desejasse
que mais que braços, fossem eles asas
para que pudesse voar sobre a paisagem de sonho. Ele é moreno, se veste
com simplicidade; não enverga roupa
de grife usualmente ostentada pelos
endinheirados. Ele é anônimo e simplório. Esconde a cabeça sob um chapéu
de palha modesto e carrega nas costas uma enorme mochila; ela, também,
bastante comum, sem qualquer detalhe que possa evidenciar uma origem
de luxo. Muito ao contrário, é acessório
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de trabalhador, de operário.
O que vai dentro dessa mochila tão volumosa? Repelente, com certeza quase
absoluta, se a praia sobre a qual sua
imagem foi plantada for mesmo castelhanos. Mas podemos imaginar muita
coisa mais: água, cachaça, cerveja sem
gelo, marmita de frango com farofa,
calção de banho, aparelho de som portátil, toalha, um papel com o horário
da volta do ônibus fretado que veio do
ABC…
Pois veja só, esse homem moreno, dulcificado na propaganda institucional é
justamente o turista de um dia. Desses
que boa parte do comércio ilhabelense
deplora e quer ver longe de si. Desses
que uma quantidade expressiva moradores preconceituosos odeia proclamando que merdeiam as praias. Desses
que funcionários da Secretaria de Turismo de Ilhabela consideram não trazer benefício algum para o município
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porque praticam “lazer não turismo”.
“Lazer é direto de todo cidadão e turismo é mercado; consome quem pode e
quer” foram as palavras da Secretária
de Turismo de Ilhabela ao jornalista e
fotógrafo Reginaldo Pupo em matéria
publicada na Folha de São Paulo.
Ao afirmar que consome quem pode, a
mensagem é a do impedimento à ilha
para esses brasileiros. Já tão marginalizados numa sociedade com desigualdade social gravíssima que os deixa
sem condições de ascender socialmente, não podem fazer turismo em Ilhabela no entendimento dessa autoridade que fala em nome da administração
municipal.
Mas turismo, – não lazer, é o que eles
fazem de forma sacrificada e desconfortável ao se deslocarem da grande
São Paulo de madrugada para chegarem em São Sebastião cedinho, atravessarem a pé para a ilha e aqui passarem
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o dia, retornando noite alta para suas
casas distantes. E pagam por isso um
preço que pesa no seu orçamento modesto. Não espanta que não comprem
nada no comércio praiano.
Quem em sã consciência paga vinte
reais por uma garrafa de cerveja que
pode ser comprada em qualquer mercadinho por uma diminuta fração disso? Quem paga por uma porção de isca
de merluza ou camarão sete barbas
miúdo frito em óleo de soja requentado e servido em bandeja minúscula de
papel que sequer é pescado no mar
daqui, um valor que compraria um robalo de cinco quilos em feira livre? Será
que esses moradores tão indignados
pagam? Não espanta que mesmo eles
frequentem as praias da ilha carregando sua própria cerveja e lanches.
E quem merdeia as praias da ilha? Não
são esses pobres turistas de periferia ou favela na visão maldosa desses
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ilhabelenses, mas quem reside no município. É a merda cotidiana dos habitantes
que emporcalha as praias e o mar porque nessa cidade bilionária como bem
o disse o Ministro do Meio Ambiente
Ricardo Salles, finalmente falando algo
acertado, não há saneamento básico.
O dinheiro que poderia ter sido gasto
criando uma rede de esgoto extensa
o suficiente para dar ampla cobertura
com eficientes estações de tratamento
foi desperdiçado em construir a peso de
ouro prédios públicos porcaria sendo o
maioral deles o “Palácio Labirinto Sauna de Cristal” que abriga precisamente
a Prefeitura Municipal, em incontáveis
desapropriações de imóveis milionárias,
em obras onerosas por todos os lados
e tão indigentes que logo após inauguradas já demandam conserto urgente,
na terceirização de serviços públicos
regiamente remunerada, em shows rapidamente esquecíveis de famosos e
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famosas da ocasião com cachê invariavelmente proporcional a sua mediocridade, em concurso caríssimo de Miss
Brasil, em eventos e mais eventos a
custar os olhos da cara para “atrair turista” e que atraem é muita mosca às
tontas, em contratos e mais contratos
firmados sob a benção da inexigibilidade de licitação, no aluguel de centenas de milhares de reais de estátua
em área pública, em Centro de Convenções e Teatro Municipal apodrecendo
como monumento maior de má gestão e desperdício de dinheiro publico,
em ônibus aquáticos que nunca navegaram, em aumentar demasiadamente o número de servidores públicos a
ponto da folha de pagamento comprometer parte expressiva da receita fora
dos royalties do petróleo, em criar e
imprimir milhares de folders turísticos
que falecem no lixo buscando chamar
a atenção logo do turista que não querem…
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Quem tiver paciência e estômago forte, que leia o relatório do Tribunal de
Contas sobre as finanças de 2017 e de
2018 de Ilhabela. Os anos anteriores e
o ano posterior não fizeram muito diferente; as mesmas práticas espúrias
se consolidaram gestão após gestão,
seguindo sempre esse deplorável roteiro abraçado com ardor religioso por
políticos do município de tudo quanto
é partido e pelos barnabés a seu serviço.
Esse turista de um dia desprezado
por ilhabelenses que a eles se referem
como farofeiros, porcalhões, pobraiada, trambiqueiros, bregas, cafonas e
adjetivos depreciativos ladeira abaixo
é o mesmo turista que autoridades insulares dizem não ter a desejada “capacidade de carga” para o turismo na
ilha. À primeira vista, parece pois que
essa “capacidade” diz respeito a poder
econômico, classe social, nível cultural,
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projeção midiática.
Os mandatários da cidade e os técnicos
turísticos por eles contratados acreditam
que ajuda a aumentá-la, financiar com o
dinheiro farto dos royalties a transformação de espaço público em showroom
de estátuas para o gosto de devotos de
conflitantes seitas fora os ateus, concurso de miss transmitido pela TV, exposição endeusando “a beleza na escultura
de Michelangelo”, apresentações musicais de matizes muito variados ( mpb,
jazz, goospel, clássica, etc ), competições esportivas que cobram inscrição
dos participantes, boat show, semana
de vela, acontecimentos gastronômicos
chiques, participação em feiras internacionais de turismo, montar tenda e mais
tenda de evento pelo município inteiro…
Autoridades diversas posam para a lente
de fotógrafos sociais celebrando a vinda da “Ilha de Caras” pelo segundo ano
consecutivo para Ilhabela felizes com o
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trânsito de celebridades no arquipélago colaborando para potencializar essa
“capacidade de carga” do turismo local
ao ressaltar que a ilha é vip, é top, é
luxo, é tudo.
Essa expressão aglutina dois substantivos que mensuram coisas diferentes
relacionadas a peso, eletricidade. E a
pecuária. Traz a recordação das baias,
piquetes, cercados, corredores por
onde o gado se desloca disciplinado
em direção à ordenha ou à matança.
Na temporada de cruzeiros, estruturas
parecidas são montadas na vila para
evitar que seja caótico o desembarque
dos passageiros. E oferecem um espetáculo bizarro: centenas de pessoas se
acotovelando num calor tórrido sob
tendas de lona, aprisionados em cercados de alumínio numa constrangedora situação que pouco fica a dever
ao desembarque dos prisioneiros para
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adentrar nos campos de concentração
nazistas.
Essa vem a ser umas das primeiras das
mil maravilhas apregoadas pela propaganda oficial: a experiência de ser tratado como gado, como bicho gordo e
grande com a serventia de fazer leite,
couro ou ser comido ou então ser tratado feito condenado ao inferno.
Após passarem por esse suplício, eles
se derramam aos milhares pela Vila
e lotam as praias próximas. Algumas
das fotos da coluna os retratam e são
a imagem de um acontecimento sem
montagem.
É uma multidão se digladiando por um
espaço na areia e um espaço num mar
repleto de embarcações de recreio despejando n’água, elas igualmente como
os residentes, merda e urina com o
acréscimo do óleo diesel e da gasolina.
Talvez uma outra das mil maravilhas
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venha a ser esse cheiro nauseante
de merda, gasolina e óleo que juntamente com o suor de tantos corpos
empesteia o ar sem brisa que o espante.
Apesar dessa gente fazer turismo de
um dia, autoridade municipal alguma
levanta a voz contra a sua presença.
Na verdade, são incensados, idolatrados como se fossem a salvação
da lavoura. Justificaria essa atitude
brilharem na imprensa ilhéu chapa
branca artigos amplamente difundidos nas redes sociais berrando que
a temporada de cruzeiros vai injetar milhões, passando da centena na
economia da cidade. Que cada um
desses turistas de um dia vai gastar
mais de quinhentos reais na ilha.
Mas não dá para engolir essa história. E se há quem a engula, concluímos que além da perda da educação, da compostura, do respeito ao
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próximo, perdida foi a sanidade.
Esses turistas de cruzeiro não diferem tanto desses que chegam em
ônibus decrépito de periferia; muitos
deles até carregam mochila igualzinha ao da foto montada da propaganda.
A verdade sem montagem é que boa
parte dos passageiros desses cruzeiros é de pessoas com baixo poder
aquisitivo. Compram suas viagens
aproveitando preços promocionais
para pagar em parcelas a perder de
vista e assim muito economizam:
deslocamento, hotel e restaurante.
Os comerciantes ilhabelenses não
vão hospedá-las nem vão alimentá-
-las já que há farta alimentação a
bordo. Podem, contudo, vender garrafinhas d’água, latinhas de cerveja,
lembrancinhas baratas de Ilhabela e
passeios de jipe.
Pois então, disso se deduz que a tão
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proclamada “capacidade de carga” a
tal se resume: comprar lembrancinha,
latinha de cerveja, garrafinha d’água
e passeio de jipe.
Poderíamos rir disso. Mas esse riso
será amarelo porque nesse momento
de enorme retrocesso civilizatório, é
triste, é decepcionante, é revoltante
perceber que tanto no nível nacional
quanto no local, caímos num buraco
sem fundo.
Quem professa fé iluminista diz que
as praias são todas públicas e que,
portanto, os turistas que chegam de
ônibus têm todo o direito de usá-las.
Que existe lei normatizando esse fato,
a 7.661/1988.
Só que a realidade sem montagem é
outra.
A maioria das praias de Ilhabela virou prolongamento dos comércios
que delas se apossaram com o pleno
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consentimento do poder público. Os
restaurantes, os bares, as pousadas e
hotéis as tornaram seus quintais privilegiados e aqui, a palavra privilégio se
encaixa como luva.
O exemplo mais bem acabado é o da
praia do curral. Quem a visita sabe que
se sujeita a uma corrida de obstáculos entre a tranqueira montada pelos
comerciantes do lugar, que ajeitam o
espaço que a todos pertence, turistas
pobres incluídos, como mais que seu
quintal, fosse ele a sua sala de estar. E
ai do incauto que ali se sentar ou deitar sem nada consumir; um segurança
particular imediatamente aparecerá e
com a truculência habitual o mandará
embora.
Além disso, cada uma dessas “salas”
roda sua própria trilha sonora e disso
resulta, que quem pela praia caminha
precisa ter ouvidos surdos para não endoidar por causa da gritaria alucinada
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que reverbera o dia inteiro. Uma torre de babel tropical, onde se mistura funk, bossa nova, pagode, samba,
sertanejo universitário e por aí vai que
a lista nunca acaba como aquela anterior de mal feitos das administrações
municipais passadas e da presente.
Fotos até a década de oitenta da praia
do curral a exibem em sua plenitude.
Livre dessa bagulhada toda que dela
se apoderou e a poluiu; ela era maravilhosa, não resta qualquer dúvida.
Hoje ela se tornou a aberração que a
propaganda das cervejarias martela o
verão inteiro na TV como modelo de
felicidade terrena, no desejo de tornar
o país uma nação alcoolizada e imbecil, cheia de homens bêbados cretinos
sarados e sorridentes mulheres bêbadas gostosas no padrão peitão bundão idiota.
Talvez um dia, no futuro, se futuro
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houver antes que uma catástrofe climática aniquile a humanidade inteira,
as pessoas olhem para a Ilhabela de
agora com horror sem conseguir entender como tanta gente posava de vip
se embriagando, se ensurdecendo, se
entupindo de comida indigesta, se torrando no sol do meio dia, desavergonhadamente urinando no mar, aglomerada em suas praias transformadas em
gigantescos botecos a céu aberto onde
as pessoas pobres não eram bem-vindas. Nessa hora, vão fazer bonito as fotos que sobreviverem da Ilhabela atual,
a Ilhabela vida natural que naturalizava a discriminação dos que a visitavam
conforme a sua situação financeira, a
ilha das mil maravilhas que se achava
o paraíso dos ricos e festivamente sediava a “Ilha de Caras”.
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congada em foco
11 de junho de 2023
https://novaimprensa.com/2023/06/
congada-em-foco.html
Sob a luz morna e áurea de maio, aconteceu a Congada de Ilhabela na festa
de São Benedito. Na sexta-feira, dia
19, congueiros e populares se revezaram carregando pelas ruas da vila o
mastro de São Benedito.
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No dia seguinte houve o baile dos Congos pela manhã e à tarde. Por seu encanto cenográfico, atraiu como de costume,
grande atenção. Numa cidade onde o
pensamento da administração municipal
dedilha sem pausa a ladainha monocórdia do turismo como suprassumo da atividade laboral insular, não falta desejo e
vontade de transformar essa centenária
manifestação da cultura popular caiçara
numa encenação picaresca, dessas de
fazer a delícia de parques gigantescos
caça-níquel deslumbrados pela jequice norte-americana, a exemplo do Beto
Carrero World. Sim, mundo em inglês, já
expressando no próprio nome sua egolatria tão desmesurada a ponto de ter-se
prestado a tomar partido e, desavergonhadamente, entrar em campanha, essa
mesma que tragicamente redundou na
destruição dos palácios do poder num 8
de janeiro que se inscreveu como data
fúnebre, data do aviltamento da democracia brasileira.
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Todavia, essa intenção de transfigurar
uma celebração de raiz religiosa, devocional num teatro de rua de feição
burlesca não encontra, felizmente, respaldo naqueles que pelejam para que
ela marque sua presença ano após ano,
passando de pai para filho numa sucessão de vidas com poder de nos contar
muito do passado duma Ilhabela que o
tempo e a urgência moderna de viver
atabalhoadamente vão implacavelmente desfigurando.
Importante perceber que a Congada
se inscreve, se subordina a um evento
maior que é justamente o de festejar
um santo amado e reverenciado pelos
moradores dum vilarejo antigo, pobre
demais, distante demais das benesses,
dos confortos da vida metropolitana e
dos abundantes e generosos royalties
do petróleo do presente.
Um santo singular e essa sua singularidade foi destacada numa foto em foco:
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“São Benedito é um santo negro, pobre e sua ocupação era a de cozinheiro. Por ser negro, pobre e trabalhador duma profissão vista pela
maioria das pessoas como inferior,
pois afinal, o santo não foi chef de
restaurant ( em francês ) incensado pela Michelin, vive entre a brasileirada sempre excluída da água
fresca e sombra sorvidas com tédio
pela fidalguia nacional. Mais do que
viver nesse inóspito meio, é o santo
que a representa e lhe confere algum, ainda que muito pálido, pertencimento social.”
Márcia Merlo, escritora e antropóloga, no artigo “Congada de Ilhabela: o
santo, o homem, a festa, o negro e o
lugar” nos diz que
“Em outras palavras, ao realizarem
a congada e reverenciarem o Benedito, recriam-se identidades, restaura-se um outro tempo, retorna-se a
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um outro lugar, demonstra-se a inserção de parte da população negra
em uma Ilhabela que se quer branca. O negro sobreviveu, e à imagem
de Benedito relaciona-se a de um
homem negro caridoso, perseguido, milagroso, aceito pelos brancos,
que resistiu aos maus-tratos e, mesmo morto, tornou-se eternizado; ou
seja, também se pode pensar essa
história como de uma resistência
calada, penosa, duradoura, representada pela própria escravidão.”
A poderosa mensagem que a congada
nos passa é a da valorização da solidariedade. Nesse sentido, seu ponto
alto não é a dança, o embate entre os
congueiros, mas sim, a ucharia. Nessa
ocasião os diferentes se encontram e
compartilham do alimento preparado
pelos devotos de São Benedito. Em mesas que formam linhas contínuas no
salão paroquial, mesas singelamente
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embelezadas por flores nos lembrando
do milagre da transformação da cesta
de víveres furtados da casa grande em
cesta de flores, sentam-se lado a lado
pessoas dos extratos sociais mais diversos numa convivência respeitosa,
compartilhando com fartura alimento
que faltou em demasia aos escravizados.
Essa lição humanitária, fosse ela seguida à risca, nos tornaria seres humanos melhores. Sem dúvida capazes
de criar uma sociedade inclusiva, livre
de preconceitos que estigmatizam e
martirizam tantas pessoas.
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banners institucionais espalhados pela
orla vendem uma quimera que se desmancha em contato com a realidade
Essa sociedade de sonho vivendo
numa ilha que se sonha outra que não
essa publicitária onipresente nesses
banners espetados na avenida Princesa Isabel, logo ela que finalmente alforriou os cativos, bem que gostaria
de resgatar e interpretar sua história
hoje e pelos anos futuros num museu
da imagem e do som, num museu da
cultura caiçara, com força de estimular a construção duma cidade socialmente justa e ambientalmente sustentável, tendo motivo concreto para se
orgulhar de si.
Tolice, devaneio; como poderia?
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Se é nela que Bolsonaro escolhe passar à toa o Corpus Christi? À toa não,
na verdade, produzindo vídeos propagandísticos da sua folga na “ilha
da fantasia” que queria tê-lo como o
eleito, sendo pois então efusivamente
saudado por banhistas na praia, ávidos por selfies ao lado do seu mito,
aos gritos de “volta, Bolsonaro”.
Esses vídeos que circulam velozes
pela internet propagandeiam a imagem vexatória duma cidade onde parte expressiva da sua população cultua
a extrema direita reacionária e golpista. Onde, São Benedito fosse vivo, não
seria festejado e sim acorrentado no
Pelourinho que sobrevive monumento
na praça Coronel Julião.
O pesadelo dessa cidade que medra
nessa lengalenga do turismo acima
de tudo e de todos, fantasia nos iludir como se fôssemos nós mesmos
os personagens desses banners duma
vida de faz-de-conta.
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P.S.: A exposição Márcio Pannunzio –
Quatro Décadas ( quatrodecadas.com )
acabou em 15 de abril e passado tão pequeno tempo, é seguro que pouca gente dela se recorde. Gratifica saber que o
ponto alto desse projeto apoiado pelo
Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Cultura e Economia Criativa, Programa de Ação Cultural se concretizou:
o catálogo-livro homônimo. Ao pé da
letra, uma publicação de peso escrita e
diagramada por Enock Sacramento. Ele
também, apesar da silueta esbelta, um
profissional de peso e muito no cenário
das artes visuais brasileiras. Enock ora
se nomeia curador, mas é dum tempo
em que o termo era desconhecido. Jurado de centenas de salões de arte pelo
Brasil inteiro, crítico de arte, jornalista e
diretor de redação da seção das cidades
do ABC paulista do Estadão, fez e continua fazendo admirável carreira.
O livro de sua lavra, seu 43º, pereniza
esse trabalho que envolveu muita gente
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de valor e essa instituição museológica
modelo no Litoral Norte que é o Museu
de Arte e Cultura de Caraguatatuba. Esse
livro sobreviverá nos tempos incertos
que nos aguardam porque jamais ficará
obsoleto por problema de hardware ou
de software.
Sua tiragem será doada para bibliotecas,
centros culturais e escolas públicas no
estado de São Paulo.
Uma diminuta fração dela, autografada
pelo autor, será distribuída gratuitamente no seu evento de lançamento, aberto
ao público, na Biblioteca Municipal Pública Afonso Schimdt, na rua Santa Cruz,
396, em Caraguatatuba, no dia 14 de
junho, a partir das 17h.
Enock ressaltou em seu texto, o caráter
visceralmente engajado, profundamente comprometido com a justiça social,
da minha arte e a sua inapetência para
prestar-se a decorar ambientes ostentatórios. O livro, porém, fará bela figura
congada em foco
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adornando estande ou mesa de centro.
Leitores e leitoras da foto em foco serão,
é claro, bem-vindos, bem-vindas; apareçam e ganhem seu exemplar.
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Tumultuosa foi a reunião virtual do conselho municipal de cultura para ouvir a apresentação do prefeito sobre o
projeto de readequação do teatro e centro de convenções de Ilhabela.
Em sua explanação, disse que o projeto primordial era um gol básico e o novo, será um bmw v6 turbo. Esse golzinho é hoje mera sucata enferrujada feito as ruínas dessa obra embargada pelo poder judiciário baseado em denúncia fundamentada em relatório de engenharia encaminhada ao Ministério Público pela Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Ilhabela. Obra essa que consumiu mais de dois milhões, valor desatualizado, datando de
outubro de 2014, quantia suficiente pra comprar uma frota de dezenas de gols a ponto de causar congestionamento em frente ao prédio falido. As brilhosas placas telhas de alumínio que tentam, inutilmente escondê-lo, exibem a
pichação “vergonha” em letras garrafais como uma escrita indelével, inapagável no próprio corpo da cidade adoecida, gritando de dor e de revolta para os surdos que passeiam na avenida.
a cultura
25 de fevereiro de 2022
envergonhada
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https://novaimprensa.
com/2022/02/a-cultura-envergonhada.html
Tumultuosa foi a reunião virtual do
conselho municipal de cultura para
ouvir a apresentação do prefeito sobre
o projeto de readequação do teatro e
centro de convenções de Ilhabela.
Em sua explanação, disse que o projeto primordial era um gol básico e
o novo, será um bmw v6 turbo. Esse
golzinho é hoje mera sucata enferrujada feito as ruínas dessa obra embargada pelo poder judiciário baseado em denúncia fundamentada em
relatório de engenharia encaminhada
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ao Ministério Público pela Associação
dos Engenheiros e Arquitetos de Ilhabela. Obra essa que consumiu mais
de dois milhões, valor desatualizado,
datando de outubro de 2014, quantia suficiente pra comprar uma frota
de dezenas de gols a ponto de causar
congestionamento em frente ao prédio falido. As brilhosas placas telhas
de alumínio que tentam, inutilmente
escondê-lo, exibem a pichação “vergonha” em letras garrafais como uma
escrita indelével, inapagável no próprio corpo da cidade adoecida, gritando de dor e de revolta para os surdos
que passeiam na avenida.
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A câmara municipal de Ilhabela na época soube com galhardia cumprir seu
dever funcional; tornou-se antológica
a fala do vereador Sampaio em sessão de 11 de novembro de 2014: “nós
somos vereadores; nós fiscalizamos
o poder executivo, não tem mais ninguém pra fazer isso”. Foi criada uma
Comissão Parlamentar de Inquérito,
cujo trabalho resultou num documento com poder de melhor esclarecer os
execráveis acontecimentos.
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O power point com croquis do bmw,
quer dizer, teatro e centro de convenções exibido com pompa nessa reunião do dia 7 de fevereiro era simplório
e trazia uma perspectiva arquitetônica oblíqua da fachada do teatro e centro de convenções “readequado” que
de imediato lembrou outra, feita pela
Inplenitus, que apresentava como ficaria a entrada da Cocaia depois da obra
de reurbanização. Obra que se arrasta
gastando milhões que nem mais são
contabilizados em sua placa de realização carcomida pelo tempo e pelas
intempéries, com o evidente demérito
cadê o morrinho e mansão que estavam atrás?
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de fazer completamente o contrário
do que recomenda o novo urbanismo
a ponto de poder se prestar a ilustrar
nos seus manuais, como corromper a
saúde duma cidade.
o Morro do Espinho foi terraplanado
O dado comum desses desenhos era
que mostravam um lugar outro, de
fantasia e não o verdadeiro: na Cocaia, o Morro do Espinho fora inteiramente terraplanado, assim como o foi
o morrinho menor, atrás do edifício
bmw, perdão, teatro e centro de convenções, com o agravante de ter sido
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demolida a mansão que estava plantada logo atrás.
No caso da Cocaia, o lugar real “reurbanizado” entra no rol de práticas antigas, lesivas à mobilidade urbana ativa
e desrespeitosas com o Plano Diretor
de Ilhabela, – a de comer calçadas, com
a diferença de que, em vários locais
do bairro, mais do que parcialmente
comidas, elas foram inteiramente eliminadas. O Ministério Público foi alertado, mas marcando diferença em relação ao histórico processo do Teatro
e Centro de Convenções, decidiu pelo
arquivamento da denúncia.
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Retomando.
O projeto do teatro e centro de convenções antigo foi classificado pela
combativa Associação dos Engenheiros e Arquitetos da época, como um
“peru no pires”. O projeto atual de
“readequação” não se distancia dessa
imagem surreal e o que logo se percebeu nessa fachada AutoCad, dum autor desconhecido, com carrões pretos,
talvez bmws, foi o uso dessas madeirinhas oculta encobre esconde empasta
empeteca prédio feioso que viraram
moda pela ilha; exemplos mais à mão,
o caixote caixa forte do tio Patinhas
do Dr. Osvaldo transformado em centro de referência da mulher e a escola
Gabriel da Vila transformada em centro cultural com um rotundo Belisário
metalizado aboletado afundando na
entrada duma recepção tão mal planejada que é até muito maior do que
os indigentes espaços expositivos e
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maior também que o falecido cinema
que, de tão mal feito, se foi sem nunca
se ter visto uma única película. O “readequado” “peru no pires” desta feita,
parece ter se transformado num “peru
no pires amadeirado”.
E como gosto se discute quando se
trata de arquitetura, vale o registro
da impressão inicial, não dum teatro,
mais dum crematório levemente parecido com o da Vila Alpina; isso, não
querendo fazer mau juízo desse projeto de 1974 que é adequado para a
finalidade da construção a que se destinou, a delineando com sobriedade e
descrição.
A entrada com pé direito duplo lembrou
a de hotel de grão fino brega misturado
com balcão estiloso de bartender. Aí,
relembrando o desabafo do secretário
demissionário do meio ambiente, nasce a pergunta se o povo pobre da ilha
se sentiria confortável nesse ambiente
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elitizado e indo além, se ele teria realmente assento na plateia sem sofrer o
bullying corriqueiro que experimenta
sempre que à praia vai e é confundido com os execrados turistas de um
dia pela operosa indústria é tempo de
viver Ilhabela turística. Viajando pelas
plantas baixas e cortes, o que se constata é a inexistência dum espaço expositivo, comum em construções dessa
envergadura, ainda mais a esse custo
estimado próximo ao de duas dezenas
de milhões. Para exemplificar sucintamente, quatro prédios. Primeiro, um
bem aí ao lado, bastando atravessar o
canal: o teatro de São Sebastião. Sua
fachada tem algum encanto enquanto
o encanto maior está na paisagem a
sua frente; tem lugar para se montar
exposição e se não as montam, o problema não é da construção, mas da
municipalidade que o subutiliza. Percorrendo a Hipólito, chegamos a Caraguá, no Mário Covas, prediozão de
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desenho abrutalhado meio parecendo
showroom de automóvel de novo rico
com duas enormes máscaras gregas
de metal dependuradas em postes o
flanqueando, exercitando igual papel
ao do furibundo Moisés ilhabelense fincado no jardim da Câmara, qual seja,
de assustar as criancinhas com medo
de bicho papão e de quebra, afugentar
o povão. Lá existe um grande espaço a
ponto de ter abrigado os salões de arte
da cidade, expondo dezenas de obras.
Olhando para o litoral sul, temos o teatro Brás Cubas em Santos, com uma
generosa área expositiva num prédio
modernoso todo de concreto e vidro.
Subindo a serra chegamos a Jundiaí,
onde existe um belíssimo teatro construído em 1911, o Polytheama que, de
tão bonito na sua mais que centenária
eclética arquitetura, foi tombado pelo
Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo. Quem o
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olhar à primeira vista pode achar que
ele não tem área para exposição, mas
ela está lá, integrada com o edifício,
na sua lateral e, marcando diferença
em relação a ele, é uma construção
de espírito contemporâneo, concreto
à vista, iluminação zenital: a Galeria
de Arte Fernanda Perracini Milani com
extensa propagação de alta qualidade
o ano inteiro, selecionada por edital.
o teatro do vizinho, como o da ilha, sem vaga de
estacionamento
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o Mário Covas, esse com vaga de estacionamento
o Brás Cubas de Santos, com generosa área para
exposições
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esse é o belo e mais que centenário Polytheama
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e nele interligada, a modernosa Galeria de Arte
Fernanda Perracini Milani
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No teatro e centro de convenções da
ilha, porém, não vai existir lugar para
pendurar quadros ou montar instalações e aqueles que gostariam de os
ver, terão de se contentar em ficar
olhando para o mundo real, quem
sabe para as cercanias do prédio
desgracioso, se divertindo maldosamente dos apuros por que passam
os que chegam de carro procurando
nervosos vagas para estacionar nas
proximidades no meio dum embolado bolo de brilhos metálicos com
negros e cinzentos bmws numa desafinada sinfonia dodecafônica com
ronco de motores e berraria de buzinas.
Expectador isento e atento desse encontro na internet poderia, ao acompanhar essa apresentação, estranhar
que, aparentemente, o pacote fosse
jogado sobre a cara do conselho inteiramente pronto, projeto fechado
sem paternidade reconhecida com
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a única informação de que a técnica construtiva iria se aproveitar das
ruínas milionárias através de reforços estruturais propostos pela firma
Falcão Bauer e pelo engenheiro Júlio
Ferraz, quando, para uma emblemática obra de tamanhos milhões tantos
de custo, recomendaria a prudência,
que fosse aberto um concurso público para a seleção do melhor projeto.
Exemplificando com economia verborrágica e usando exemplo recente
e próximo, o do prédio da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora, logicamente, construção destinada a
formar arquitetos e urbanistas. Para
construí-lo foi lançado concurso nacional que logrou selecionar o mais
bem avaliado dos projetos democraticamente inscritos. Esse belo e
complexo projeto custou aos cofres
públicos, setenta e cinco mil reais.
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a belezura que só podia mesmo ser um prédio de faculdade de arquitetura e urbanismo
vencedor de concurso
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Pelo Brasil inteiro existem engenheiros, arquitetos, escritórios de arquitetura e engenharia com capacidade
de inovar, sair do lugar comum e criar
uma obra que se encaixasse feito joia
no lugar daqueles vergonhosos destroços. Mas, infelizmente, não houve
por essas paradisíacas vale a pena viver plagas, concurso do qual pudessem participar e foi pois, de última
hora, tascado esse projeto escuro crematório amadeirado peru no pires nas
fuças do augusto conselho.
Essas observações todas foram elencadas de afogadilho por um colunista
leigo no assunto. O que dizer das que
poderiam pois ser feitas por um sabichão conselho de cultos? Ou melhor
ainda, por uma audiência pública com
real capacidade de escrutinar qual teatro e centro de convenções seria ideal pra Ilhabela de 2022?
No correr da reunião, soube-se que
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241
ela não se destinava apenas a ser uma
apresentação power point burlesca do
novo teatro e centro de convenções,
mas a aprovar ou rejeitar esse projeto órfão de autor, em respeito a um
dos termos de ajuste de conduta determinados pelo Ministério Público
em 2015, documento esse, contestado pela Associação dos Engenheiros e
Arquitetos de Ilhabela.
Passados sete anos, pretende-se agora fundear o prédio “readequado” sobre o que sobrou do mal construído
até o embargo e transformado, à vista
da população ilhabelense e visitantes,
pela ação do tempo, do clima e da irresponsabilidade da municipalidade, nas
ruídas da VERGONHA que, em campanha eleitoral de 2019, o concorrente
a prefeito Anselmo Tambelini sugeriu
transformar no “museu da corrupção”.
Simplificando para bom entendedor:
criar um bmw v6 turbo 2022 em cima
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da carcaça arruinada dum gol básico
2010. O lance tido e propalado como
brilhante dessa readequação foi a de
transformar o que seria considerado
um terceiro andar proibido pelo plano
diretor de Ilhabela, num andar de pé
direito duplo.
Prudente, a presidente do conselho da
cultura, Juliana Borges, que é presença capital no Fórum Popular de Cultura de Ilhabela, criadora do Cineclube
Citronela e do Citronela Doc, sugeriu
que o conselheiros tivessem um tempo maior para poderem melhor refletir, coisa de modestos cinco dias úteis
numa história vexaminosa que se arrasta há doze anos. Enquanto ela inventariava os votos a sua proposta,
aconteceu uma cena que poderia figurar bem numa comédia de pastelão,
não fosse o momento exigir seriedade
e respeito que, ao serem atropelados,
exibiram na verdade, uma cena de tragédia.
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Aos berros, após decorridos 2h31min
da reunião levantou-se da cadeira colérico, o prefeito antes entrevado da
saúde que figurava como convidado,
interrompendo abruptamente a contagem dos votos:
“tô aqui até agora pra ouvir essa pataquada sua, ah, pelo amor de Deus!
Você não tem competência pra ser
presidente do conselho!”
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244
Desde a eleição de Bolsonaro, o homem mediano que chegou ao poder,
normalizou-se na política nacional,
a truculência, a bestialidade. O bom
exemplo da simpatia e carisma dum
Juscelino Kubistschec, da retidão moral dum Mário Covas, da lucidez duma
Marina Silva, da compostura dum Tancredo Neves, do cerimonialismo dum
Fernando Henrique, da cultura dum
San Tiago Dantas, isso tudo, tão belo
e inspirador, caiu em total desuso e
escandaloso descrédito.
Talvez seja esse fato desabonador a
justificativa para que tão poucas e quase inaudíveis vozes tenham se levantado em defesa da presidente ultrajada.
O fato de ser mulher agravou a atitude arrogante, autoritária e destemperada do alcaide, colorindo-a feito ato
de misoginia.
E fosse outra a identidade de gênero
da pessoa molestada, ainda assim o
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destempero seria intolerável. Poderia,
forçando a barra, passar batido numa
roda de truco ou numa confraternização de bêbados de botequim, mas
numa reunião oficial da municipalidade tratando dum investimento de
tamanha envergadura, com potencial
de interferir seriamente no futuro da
cidade, jamais.
Que esse entrevero acontecesse num
outro conselho com igual desdobramento, sem que fosse a reunião imediatamente interrompida e cancelada
sob unânime protestos após o ultraje
perpetrado, a gente até poderia, enfraquecendo um bom tanto a razão,
entender. Mas num conselho de cultos?
Desde, com alguma sorte, o final de
2016, Ilhabela poderia ter funcionando esse seu teatro e centro de convenções, não tivesse sua construção sido
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embargada em 2015, penalizando severamente dois servidores da secretaria de obras e a construtora. A ação
civil pública que resultou na paralisação das obras foi por improbidade administrativa.
Tivesse sido a governança da época íntegra e competente e teríamos pronto
o teatro e centro de convenções de Ilhabela valente golzinho básico há muitos
anos rodando. Não seria o bmv v6 turbo, mas carro por carro, chegariam os
dois, afinal, no mesmo destino e isso é
que importa. Imaginem quantos eventos culturais teria apresentado, quantas peças dirigidas pelo genial Carlos
Eduardo Martins encenadas, estimulando a formação de atores, atrizes,
iluminadores, cenógrafos, enfim, toda
uma enorme gama de profissionais da
ribalta. Quanto Ilhabela não teria se
deliciado e quanto não teria, culturalmente, crescido.
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O prejuízo é incomensurável.
Vale a lembrança de que naquela malsinada ocasião, o chefe do executivo
era o mesmo que agora transformou
essa reunião de conselho num palco
de gritaria e xingamento.
Nesses nossos obscurantistas tempos
da política brasil pária odiado brasil,
o exercício da autoridade se confundiu com a prática do autoritarismo.
Totalmente contrária à conquista dos
conselhos que se inseriram num plano
maior, o do sistema nacional de cultura, com o propósito de democratizar
a criação da cultura e potencializar a
sua acessibilidade, de maneira que a
maior parte da população a desfrutasse e nesse desfrute, consolidasse a sua
cidadania. Uma cidadania que valorizasse o desejo de salvar, mas repudiasse os que se autodeclaram salvadores
da pátria, da família, da tradição, do
escambau. Nas palavras de San Tiago
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Dantas: “querer salvar é sublime; julgar-se um salvador é ridículo”.
Contabilizados os votos, o placar pela
aprovação da proposta do projeto
de readequação padrão power tabajara point foi dum massacrante 7X1.
O mesmo inesquecível e vergonhoso
placar da retumbante derrota do Brasil pra Alemanha na semi final da copa
do mundo de futebol de 2014.
Tá certo que quase a metade dos votos poderia ser mesmo de cabresto por
vir de servidores públicos que pensam
primeiro no cargo e salário do que na
cidade. Mas e os demais, aqueles da
sociedade civil? Que raio de gente é
essa que se declara da sociedade civil,
representando os artistas, as comunidades caiçaras isoladas e o movimento negro e não acha conveniente ter
a possibilidade de refletir melhor sobre a polêmica proposta por apenas
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mais míseros cinco dias úteis antes
de dar seu parecer? Fizeram feio; fizeram horrível; fizeram VERGONHA tão
grande quanto a que picha o metálico tapume na avenida e não merecem
citação no inspirado pasquim poema
de Kiko Kardial que brilha com graciosa ferocidade crítica, depois dos cinco
minutos iniciais da reunião. Nos dias
seguintes, nas redes ignóbeis, houve
a princípio um rebuliço; logo substituído por preocupações outras como
a necessidade do uso da linguagem
neutra pelos cultos de Ilhabela. Uma
carta de repúdio veio a lume no dia 18
de fevereiro.
E justamente no dia seguinte ao conflagrado encontro internético, os jornais chapa branca lambe botas estamparam eufóricos a notícia: “novo centro
de convenções de Ilhabela é aprovado
em reuniões do conselho de turismo e
de cultura”.
a cultura envergonhada
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Assim mesmo, sem menção alguma
ao teatro, informando com absoluta
clareza para que se presta a nova milionária obra: à indústria, sempre ela,
do turismo. A cultura que se dane.
E como ela se dana.
Do orçamento aprovado em 2021
para a área da cultura de Ilhabela,
secretaria e FUNDACI, foram alocados R$ 12.074.900,00 e gastos R$
4.351.164,21. O que significa que R$
7.723.735,78 deixaram de ser investidos, lembrando o caso agora amplamente divulgado da verba para contenção de encosta de Petrópolis, gasta
apenas pela metade.
Imaginem o que essa cifra milionária
não teria feito se por deliberação democrática da sociedade, fosse aplicada com probidade e competência …
Poderíamos ter vivido uma verdadeira
revolução social na cidade, com a cultura se espalhando pelas ruas, pelas
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praças, pelas escolas numa ocupação
que não quer nada industriar, mas deleitar, informar, civilizar para que se
criem munícipes que querem sim salvar, mas que nunca mais se prestarão
ao papel infame de claque ordinária
daqueles que se autointitulam seus
salvadores.
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BASTA!
26 de outubro de 2022
https://novaimprensa.com/2022/10/
foto-em-foco-basta.html
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Foi no dia 22 e esse dia não poderá ser
papagaiado pelo vereador propagandista do bolsonarismo na tribuna da
câmara ilhabelense, porque o acontecimento que abrilhantou o fim da sua
tarde, foi uma colorida e dançante celebração da democracia em Ilhabela.
Fotos e vídeo por si mostram sem necessidade de palavreado, essa festa
que se inscreve na história dessa cidade pequena, periférica e rica demais
que, a despeito desses três adjetivos,
é sim Brasil.
São Sebastião fez a sua antes e em praça pública.
Essa gente que ocupou praças e avenida nas cidades vizinhas é fração minúscula daquela que vive ansiosa, atemorizada pelo seu futuro. Esse temor
nasce da percepção aterradora de que
o país se perverteu e deu voz e protagonismo à desumanidade, à imoralidade, ao anti-intelectualismo, ao
BASTA!
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farisaísmo, ao racismo, à misoginia,
à homofobia, ao anticientificismo, à
aporofobia, à violência, à pedofilia, ao
fascismo e por tão longa lista, resumindo: à barbárie.
Seis anos de desgoverno Temer & Bolsonaro desconstruíram conquistas
caras da redemocratização e colocaram em perigo as instituições da república. Não há área governamental
que não tenha sido impiedosamente
desmantelada e aparelhada pelas pessoas mais medíocres e ignóbeis: cultura, cujo ministério de imediato foi
extinto; saúde – que deixou morrer
centenas de milhares de brasileiros
de covid; educação – que desassistiu
a estudantada e exibiu como feito brilhante a criação de colégio cívico-militar e um deles em Ilhabela, cidade
bilionária que tem a nota mais baixa
nos índices municipais da educação,
do planejamento, do meio ambiente
BASTA!
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255
e de proteção dos cidadãos, falhando na manutenção das suas escolas
e seus equipamentos e submetendo
seus funcionários a condições precárias de trabalho; meio ambiente – que
deixou fogo correr solto na terra brasileira; cidadania – que vilipendiou direitos humanos; infraestrutura – que
tão pouco fez; desenvolvimento regional – que só fez se apropriar do que fizeram os governos passados; minas e
energia – escolheu vender patrimônio
ao invés de o cuidar; defesa – tornado
motivo de chacota pelas compras de
próteses penianas e pílulas de viagra;
fazenda – decidiu privilegiar os ricos
arruinando os pobres…
O Brasil depauperou; mais de trinta
milhões de brasileiros passam fome e
o plano do posto ipiranga é diminuir o
salário mínimo, comprometendo drasticamente a capacidade de compra da
maioria da população.
BASTA!
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A miséria vemos ao redor; brasileiros
e brasileiras habitando a sarjeta, dormindo ao relento, passando fome, dependendo da caridade alheia. Gente
que deveria por humanidade e solidariedade ser tratada feito gente e que,
esse cruel governo, só ignorou, no seu
enorme sofrimento cotidiano, na sua
doença sem tratamento e na sua morte anônima em cova rasa e sem nome.
BASTA!
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Foto em foco de 2018 dizia que o Brasil perdeu a graça. Pior que a perder,
se tornou infame.
Essa infâmia explode comprometendo
o frágil tecido que nos unia como habitantes compartilhando o mesmo país
com respeito e algum carinho uns pelos outros. O diálogo foi interditado e
pontes de aproximação entre os pensamentos diferentes foram destruídas
pela escolha malsinada de governar
pelo fígado, governar em prol duma
Na Ilhabela, a mais rica das cidades do Brasil, homem
dorme na rua e idoso mendiga na esquina.
BASTA!
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visão de mundo ultra direitista, populista, reacionária e ressentida, restando aos que não a aceitam, “a ponta da
praia”, o local tenebroso da matança
dos opositores da ditadura militar no
Rio de Janeiro. Desalmada pátria amada, outrora cantada mãe gentil.
Hoje, cai de desespero em desespero,
cingida de demônios, cobrindo um dos
olhos com a mão e cravando o outro
num quadro horroroso. Quando alcançará o fundo do abismo? Quando raiará em meio à derradeira desolação,
um milagre superior a qualquer fé, a
luz da esperança? Extraído do romance Doutor Fausto, de Thomas Mann.
O brasileiro lúcido enxerga assombrado a ruína da nação e se assusta com
a crescente hostilidade dos que se cegaram por força de tanta e deslavada
mentira e preconceito, impunemente
bombardeados à exaustão nas redes
BASTA!
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sociais pelos propagandistas do bolsonarismo, num insidioso processo
de lavagem cerebral dos incautos, dos
despreparados, dos humildes.
A cisão das famílias e dos amigos é
fato antigo nesses tempos de alucinação coletiva. Ainda que as pessoas antes queridas pouco se encontrem ou
nem mais se falem por divergência política, mais um degrau ao inferno pode
ser descido e o antagonismo possa
atingir o paroxismo se Bolsonaro for
reeleito. Brasileiros sendo mortos por
não serem bolsonaristas. Já têm sido
mortos.
Seriam mortos ainda mais, porque afinal, berra impune o messias mito que
o seu povo armado jamais será escravizado. Em nome dessa provocação
absurda Roberto Jefferson, bolsonarista raiz, fuzila e tasca granada noutros acreditando cumprir o ideário do
BASTA!
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seu líder que armou, fartamente, sua
milícia para realizar por ventura o seu
sonho assassino de matar no mínimo
“uns trinta mil”.
Nesse nosso pequeno universo, duma
praça de coreto tomada por moradores de rua e duma praça de gigantesca
mangueira que acobertava amantes,
nesses dois lugares celebrados por
serem baluartes contra a derrocada
dum lugar imensamente maior, o Brasil, quem bravamente os ocupou festejando com vibração e canto forte a
defesa da cidadania ultrajada, ora sofre, teme e vive mal porque vive aflita
por assistir faz tempo sua pátria virar
pária entre as nações ao naturalizar o
discurso bolsonarista do ódio.
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BASTA!
Aquela antiga foto em foco alertava
que:
“A boa política deve desarmar e não
armar as pessoas. A boa política
deve unir e não desunir. A boa política deve estimular o amor e não o
ódio. A boa política deve reverenciar
a cultura e não apequená-la.”
Espantosamente, à beira do abismo,
escolheu-se nele se lançar. Para isso,
sem dúvida, contribuiu o acirramento
da campanha orquestrada com avidez
pela extrema direita, semeando massivamente informação manipulada a
ponto de corromper, o adoecendo, o
pensamento de grande parte do eleitorado.
Jornalões e TV aberta não tiveram vergonha de colocar na mesma balança
duas candidaturas de perfil inconciliável em paridade assemelhada. De um
lado, um democrata, professor universitário, escritor, servidor público
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BASTA!
de carreira exemplar como ministro
da educação e prefeito de São Paulo e,
do outro, um político profissional defensor da ditadura e da tortura, iletrado, truculento, misógino, homofóbico,
ressentido, enriquecido na política, integrante obscuro do centrão, ex-militar expulso do exército, presença disputada em programas humorísticos
por sua bizarrice.
Neste domingo, o país terá a chance
de reverter essa escolha que tamanho
estrago lhe causou, elegendo a frente
suprapartidária de defesa da democracia. Capitaneada por um ex-presidente cuja vida virou livro e filme; que
sempre pregou a conciliação pelo diálogo. Praticando o exercício do poder
construindo elos entre os divergentes
e demolindo os muros da segregação
que humilham e martirizam os desamparados.
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Fernando Haddad entre simpatizantes, em
Caraguatatuba
Para o bem do estado de São Paulo e,
principalmente, do Litoral Norte, é imprescindível eleger Fernando Haddad,
um paulista que está plenamente qualificado para o cargo. Evitará que esse
estado ainda pujante e tão importante, se torne um nicho do retrocesso,
da selvageria bolsonarista. Evitará que
ocorra em seu território, o desastre
que tomou conta do Brasil assustando
o mundo civilizado.
BASTA!
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BASTA!
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Diferentemente de boa parte da imprensa nacional que evita tomar lado
no esforço de estabelecer uma simetria inexistente entre as candidaturas
em disputa, a prestigiosa revista científica nature tomou lado em editorial
aberto com caixa alta.
BASTA!
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o carnaval que
não houve
6 de março de 2022
https://novaimprensa.
com/2022/03/o-carnaval-que-nao-
-houve.html
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A nata suprassumo dos negócios insulares, a supimpa regência eleita que
zelosa governa num vale a pena viver
escalafobético, comemorou com prazer e com pleno direito, o sucesso dum
carnaval que não houve.
Sem escolas de samba, sem blocos
festivos, sem banho da Doroteia. Sem
show cultural de drones perto do meio
milhão.
Mas com gente e quanta quanta quanta gente, a quase afundar a ilha numa
comemoração seguramente nada carnavalesca pois que nelas faltou samba
e sobrou funk, pagode, rock pauleira, sertanejo universitário, sofrência e
que tais pelas casas e quintais, pelos
bares, botecos, botequins, clubes, boates, danceterias e afins. Marchinhas
da família Passos, porém, só mesmo
no YouTube.
A Ilhabela Nova Zelândia tão primeiro mundo logo comprando à farta kit
o carnaval que não houve
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covid foi policialesca ao cobrar passaporte vacinal pra inglês ver com a
sua câmara das leis querendo é ver de
longe, bem de longe. Reafirmando sua
autoridade, pela imprensa passava um
recado de ar intimidatório, mandando
todos todas todes todx se mascararem, mas não de Arlequim ou Colombina ou Pierrot. Em vão.
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fila pra quê?
Quem é jovem, acha que é imortal posto que é chama e, incendiando a avenida da princesa, se aglomerou, pouco
pudicamente em área pública, todos
todas todes todx respirando o mesmo
ar de interminável espera duma inolvidável festa, desmascarados, desmascaradas, desmascarades, desmascaradx. Fora do clube de nome estrangeiro,
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se perfilavam, pacientes, em fila homérica de beldades que poderiam encantar o mamãe falei, talvez a ponto
de o animar a economizar e não viajar
para tão longe no ano que vem.
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loiras beldades brasileiras
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A morte, contudo, tão deslumbrada
em sua infatigável contabilidade de
defuntos que os terraplanistas reputam menores que as de infarto ou de
acidente, pode ser que de quebra leve
uma ou outra pessoa desse juvenil
agrupamento; talvez, até pais ou avós
negacionistas antivacinas bolsonaristas ultradireitistas antipetistas fascistas nazistas anticomunistas dum
deles ou delas. E lembrando que na
Nova Zelândia ilhabelense abundaram
por tudo quanto é canto aglomerações desmascaradas todas reputadas
como não carnavalescas, a morte, por
leviandade, poderá ainda capinar mais
vida desses/dessas que nelas dançaram barulhentos/ barulhentas.
o carnaval que não houve
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isso não é nada carnavalesco
o carnaval que não houve
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Aí, ensacada em plástico preto feito
lixo, essa antes da hora extinta vida
pueril ou vá lá saber, nem tanto, não
será nem zelada e muito menos, pranteada. Seu destino é caixão fechado
num buraco sem fundo nesse muito
mais final de mundo de quase milhão
de almas brasileiras que não brilham
feito drones em céu de aniversário ou
de fim de ano da ilha cidade das mais
ricas do Brasil.
Na contagem insular dos boletins covid, essas vidas mortas não se encaixarão por forasteiras. As que falecem
na Nova Zelândia plubieditorial não se
contam no plural; se escrevem assim:
9 óbito. Esquecendo de outros trinta
e oito mortos, como se tivessem sido
assassinados por outro vírus.
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no boletim oficial, 9 óbito ( sic ). No da Fundação
SEADE – Sistema de Análise de Dados, 47
o carnaval que não houve
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Essa escolha de veicular informação
morta do plural se soma berro numa
zoeira que não é carnavalesca e que
faz o planeta inteiro zurrar agoniado, cobrando a volta duma normalidade que acabou, sucumbiu, faleceu. A
Nova Zelândia litorânea paulista agora
novamente inova, largando na frente.
Decretou, pela segunda vez, o fim da
obrigatoriedade de uso de máscara de
proteção facial nos espaços abertos.
Se eram três os cavaleiros airosos na
tela da globeleza onipresente nas mentes e nos lares dementes, posando de
garbosos galãs, – a fome, a peste e a
morte -, agora um quarto a esses se
emparelha: a guerra. E haja estômago
forte pra assisti-la mais do que novela, mais do que série, mais do que filme supercine, mais do que vício, mais
do que febre infernal de covid, mais do
que sequela dessa praga a desgraçar
sobreviventes que, orgulhosamente,
o carnaval que não houve
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se glorificam na tabela verdolenga dos
recuperados, recuperadas, recuperades, recuperadx.
Entretanto todavia no entanto, que não
se amolem os que sofrem, se descabelam, se preocupam, alucinam e se
desesperam com essas coisas mamãe
falei secundárias que nem morte ou
doença, pois afinal, carnaval matador
no sentido inequívoco dessa palavra,
pelo brasil desalmada pátria pária brasil, nem houve; não é mesmo?
o carnaval que não houve
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Save the date, em inglês colonizador imperialista, ficou chiquerrímo, debulhando uma frase
lacradora peidando perfumosa
nesses banners d’avenida vale
a pena viver desbundando que,
bravateando, nos contaram: na
Nova Zelândia tropical, carnaval
de fato, só no maio outonal vai
haver.
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inglês, língua da Nova
Zelândia tropical
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28 de maio de 2021
mais um ano
sem congada
https://novaimprensa.
com/2021/05/mais-um-ano-sem-
-congada.html
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Mais uma ano. Sem congada. Mas desta vez com missa. Campal. Clérigos e
autoridades insulares juntinhas todas
confortavelmente sentadas na providencial sombra dum toldo especialmente providenciado em frente à porta de entrada da igreja matriz Nossa
Senhora d’Ajuda. Duas horas de pregação. Suportadas em pé sob o sol escaldante do final da manhã pelo povaréu piedoso. Torcendo o pescoço para
enxergar na doce e fresca penumbra
lá no alto do terraço monacal a performance dos religiosos acariciada pela
presença tão ao pé do altar improvisado, da elite insular e dalguns congueiros. Horas de sol quase a pino,
pernas e lombares ardendo no esforço de manter o prumo numa aglomeração de penitentes; sem dúvida, esse
um brioso feito dos devotos de São
Benedito que, perfilados às dezenas
ao longo da calçada fronteira da praça
do cruzeiro, da praça Coronel Julião e
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na ladeira da ladeira da Santa Casa, só
arredaram dolorido pé, findo o ofício
religioso.
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São Benedito é um santo negro, pobre e sua ocupação era a de cozinheiro. Por ser negro, pobre e trabalhador duma profissão visto pela
maioria das pessoas como inferior,
pois afinal, o santo não foi chef de
restaurant ( em francês ) incensado
pela Michelin, vive entre a brasileirada sempre excluída da água fresca
e sombra sorvidas com tédio pela fidalguia nacional. Mais do que viver
nesse inóspito meio, é o santo que a
representa e lhe confere algum, ainda que muito pálido, pertencimento
social.
Esse extrato da sociedade que vem a
ser a sua base piramidal, só tem visibilidade em manchete dos jornais
sanguinários que se reproduzem aos
milhares no gozo noticioso do cancelamento de cpfs daqueles que rotulam como bandidos.
Pois que pouco antes dessa liturgia
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insular, figuraram como notícia o assassinato de dois pobres pretos ladrões de carne-velha e o fuzilamento
duns outros pretos na favela do jacarezinho em exitosa missão nas palavras da polícia civil que avalia como
sucesso uma operação que resulte
em vinte e oito mortos a bala.
O 13 de maio que antecedeu a Congada que não houve foi marcado por
manifestações de protesto Brasil inteiro, em Ilhabela inclusive, com a
particularidade de ter sido aqui iluminada, involuntariamente, pela estroboscópica luz vermelha da viatura
que faz plantão na praça dum lado e
importunada pelo berro acrimonioso
dos bolsonaritas raiz que passavam
raivosos pela rua do São João, doutro.
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Próxima a essa praça que sediou o 13
de maio de luta, a praça do Pimenta de
Cheiro, aconteceu uma das primeiras
ações da secretaria de meio ambiente
comandada por celebridade bolsonarista arrependida. Foi o desmate duma
pequena área densamente vegetada
de praia num trabalho apresentado
como de eliminação de plantas invasoras. Homens e Mulheres da Pedra do
arquipélago comemoraram nas redes
sociais: acabou o ponto de encontro
dos maconheiros! Foi arruinado o motel a céu aberto! Vagabundos perderam sua sala! Todavia, apesar dessas
demonstrações apaixonadas de apreço pela atitude mais que ambientalista, – policial, nas mesmas redes houve
vozes, ainda que tímidas por abafadas
pela berraria histérica em defesa intransigente da moral e dos bons costumes, que objetaram que a intervenção favoreceu, em última instância, o
novo restaurante do local que agora
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tem visão privilegiada do canal e nem
precisará fazer que nem o seu concorrente vizinho que invadiu a estreita
faixa de areia a sua frente, nela distribuindo mesas, cadeiras, guarda-sóis e candelabros a granel sem ser admoestado pela secretaria porque ela
deve crer que esse cacaréu todo não é
planta invasora.
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A Congada de Ilhabela é desde sempre
enquadrada como legítimo espetáculo
caiçara. E a palavra espetáculo, ultimamente, mais se tem categorizado como
adjetivo do que substantivo. Três festivos dias de espetáculo inseridos no
calendário oficial para o deleite da turistada porque decidiu-se nos gabinetes palacianos do poder ilhéu que o turismo é o provedor maior dessa cidade
que no passado sustentou-se exercendo diferentes atividades econômicas.
Caiçaras viviam da pesca e da agricultura de subsistência. A vida deles
era muito simples, despojada além de
qualquer conta para os padrões consumistas atuais.
Quem assistir o filme de 1950, Caiçara, o primeiro da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, terá uma boa ideia
de como era Ilhabela quando terra caiçara.
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O clima da história é sombrio; isso, apesar dela acontecer numa locação tropical. Mas além da narrativa da vida desajustada e agônica dos protagonistas
Marina e José Amaro, o que nos importa é observar o cenário duma Ilhabela
da qual encontramos hoje pouquíssimos vestígios.
Uma Ilhabela muito pobre na indigência das suas moradias e no vestuário
da sua gente. A película em preto e
branco reforça essa pobreza nos fotogramas de paredes descascadas, emboloradas, nas portas e janelas de madeira carcomida, na face desdentada
dos figurantes maltrapilhos, boa parte
deles, negra. A Congada e sua exótica
sonoridade está presente num pequeno fragmento, acontecendo na Vila,
em meio a construções coloniais que
não existem mais; uma das poucas sobreviventes é a igreja matriz aparecendo como pano de fundo. Emblemático
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que o final da fita aconteça no cemitério da ilha num sepultamento que
reuniu em luto e cortejo fúnebre toda
a população, como se essa cena metaforizasse o futuro aniquilamento da
vida caiçara.
Vinte anos depois da filmagem, aumentou expressivamente o número
de pessoas que se encantaram com
Ilhabela e compraram propriedades
na ilha. Alguns dos herdeiros desses
compradores vivem até hoje do dinheiro da enorme valorização desses bens
e da sua subsequente venda.
Especulação imobiliária. Esse é o nome
da praga que se abateu sobre a terra
que nada valia e os caiçaras foram, literalmente, perdendo sua morada. Os
que chegavam comprando tudo, erigiam muros onde nunca os houve e
foram pagando merreca pra caiçarada
vizinha servir de mão de obra doméstica.
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Praias inteiras foram cercadas virando
condomínios de luxo e hoje só se chega nelas caminhando ladeira abaixo
sob o olhar intimidatório de seguranças trogloditas.
E há praias em que nem se pode mais
na areia sentar ou deitar levando para
consumo sua bebida e lanche, pois
logo chegam paus mandados do dono
do negócio praiano do pedaço na missão miliciana de afugentar os não consumidores para deixar espaço pra sua
clientela endinheirada.
As modestas casas caiçaras frente ao
mar deram lugar a mansões emuralhadas duma gente de nariz empinado e fala arrogante. As casas distantes da praia foram sendo derrubadas
por veranistas de menor calibre financeiro que no lugar delas construíram
esse padrão de imóvel de periferia
que infesta nosso litoral desvalido e
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se enxerga bastante em Caraguatatuba, Peruíbe, Praia Grande, Mongaguá,
etc. Edificações sem nenhuma beleza
arquitetônica, sem história alguma de
valor para as gerações futuras.
Se eram pobres e simplórias as habitações de Ilhabela, a “Ilha Verde” no filme Caiçara, elas tinham sim encanto e
relevância como autênticos exemplares da arquitetura colonial de paredes
grossas e altas, portas e janelas de
madeira de lei, telhados de caimento
delicado encapados com parrudas telhas de coxa delimitando um interior
de penumbra e frescor onde a existência corria sem pressa e sem fragor.
Se a saúde era precária e a ignorância
grande, a comunidade era solidária e
boa companheira ainda que houvesse
fuxico e alguma desavença.
Naquele tempo ninguém interditaria a
passagem dos outros pelo seu quintal,
mesmo porque, os quintais tinham um
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caráter comunitário; as crianças brincavam em todos e os adultos não os
encaravam como propriedade privada.
Essa era, verdadeiramente, uma ilha de
todos e, para assim o ser, nem precisava depender do trabalho de muitos.
Uma Ilhabela de uma gente ciosa de
dizer bom dia boa tarde boa noite e
caridosa de compartilhar suas poucas posses com quem menos tinha. E
mesmo caminhando de pés descalços
e se vestindo com andrajos, se respeitavam e se gostavam. E festejavam.
No filme, além da Congada, há o registro do caiapó e das cantorias reunindo dezenas de pessoas que não se
envergonhavam de sorrir banguelas.
Nas mercearias, quitandas, nos comércios desse tempo as pessoas se
conheciam e se sentiam à vontade, se
cumprimentado pelo primeiro nome.
Nos supermercados que enterraram
esses negócios obsoletos era muito
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comum o dono e dona botarem funcionário brucutu pra aterrorizar cliente desavisado que o adentrasse com
mochila às costas, chegando ao paroxismo de mandar empregado fortão
advertir quem tirasse fotografia do
seu portentoso estabelecimento da
rua sob a justificativa surreal de que
é “proibido tirar fotografia”.
Hoje Ilhabela inaugura supermercado
vitrine de boa educação com sua clientela e de elegante e higiênica organização dos produtos que comercializa
dando rasteira nesses antigos e presunçosos, tão acostumados a maltratar quem achavam que é pobre ou bicho grilo.
Mas dentro de seu espaço climatizado
e bem iluminado, à vontade se sentem pessoas de alto poder aquisitivo
que não se conhecem e até por isso,
nem se cumprimentam. A caiçarada
da década de cinquenta se chegasse
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327
na porta do seu estacionamento cheio
de reluzentes SUVs de centenas de
milhares de reais, de pés descalços e
roupas rasgadas, morta de vergonha
e desdentada, voltaria atrás para esconder sua miséria.
Hoje a ricaiada ilhabelense acha que
o suprassumo é morar em condomínio fechado na ilha, todinho murado
feito presídio de segurança máxima
com patrulha vinte e quatro horas
da sua milícia particular, paisagismo
todo de plantas exóticas, fibra ótica
e rede elétrica enterrada longe da vista das suas vivendas de padrão brega
chique trumpista bolsonarista vivendas da barra; ricaiada ignorante que
jamais na vida saberá quem foi Paulo Mendes da Rocha ou Yraê Aranha.
A Ilhabela caiçara ainda que tivesse
desigualdade social com caiçara morando em barraco de pau a pique enquanto outros moravam em palacete
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de princesa ou de fazenda de engenho
estimulava a convivência dos seus moradores; era uma cidade sem guetos,
em tudo diferente da cidade dos condomínios egoístas fechados para a vida
pública plural onde só residem gente
de igual pensamento e gosto que ora
se alastram feito câncer pela esclerosada malha urbana.
A cultura caiçara não tem na ilha lugar
oficial que verdadeiramente a acolha,
a estude, a preserve; que a estimule a
sobreviver orgulhosa e senhora de si.
A Congada se repetia ano após ano
antes da pandemia como evento midiático turístico pra encantar visitantes
de férias que a enxergam como uma
bizarra dança e teatro de marmanjos
fantasiados com tecidos de liquidação
numa gritaria ininteligível. E haja filme
e fotografia oficial pra popularizá-la
vendendo Ilhabela como protetora da
cultura caiçara. Não é. Não protegeu
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também seu patrimônio arquitetônico.
Não protegeu também seu mar; seus
mangues que viraram lixão e Jardim do
Éden; seus rios e cachoeiras próximos ao
tecido urbano. Não protegeu também as
suas áreas de risco, fazendo vista grossa às invasões e construções irregulares
que se espalharam sem controle. Não
protegeu também sua costeira, permitindo que a ricarada dela se apropriasse
e depois construísse muralhas para encapsular seus palácios que, de quebra,
obliteraram a visão do horizonte dos
mortais comuns que passam pela estrada. Não protegeu também seu povo humilde que tinha na pesca e na agricultura familiar o seu sustento. Não protegeu
também os operários que edificam essa
cidade listada como uma das mais ricas
do Brasil morando em buracos e pirambeiras. Não protegeu também o turista
de poucas posses que para visitá-la por
umas poucas horas sacrifica seu modesto orçamento.
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Ilhabela tem se enchido de hotéis e
pousadas e shoppings e lojas e restaurantes com pomposos nomes em língua estrangeira quando não somente
abreviados onde a caiçarada se aparece é quase sempre pela entrada de
serviço pra carpir mato ou limpar privada.
E Ilhabela acredita piamente no pensamento da sua classe dirigente de que
o turismo é o único caminho do verdadeiro paraíso, desmerecendo os resistentes produtores fomentadores de
pujantes economias alternativas que
nela vivem lhe dando o melhor de si e
se esquecendo de que o que robustece
o erário municipal é a receita milionária dos royalties do petróleo que não
são fruto de trabalho turístico algum.
Essa renda já começa a minguar e no
futuro será irrelevante. Quando isso
acontecer, a cidade viverá o mesmo drama doutras outrora movidas a
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royalties. Sua prefeitura palácio sauna
de cristal matagado por falta de manutenção viverá uma triste novela de deterioração; a mesma que viverão seus
incontáveis prédios públicos fruto de
desapropriação imobiliária e suas escolas, quadras esportivas e postos de
saúde mal construídos segundo relatórios do tribunal de contas do estado.
Nesse momento de colapso financeiro não faltará mandatário que sonhe
numa derradeira transformação: a da
ilha virar uma Cancún brasileira, destino imaginado por Bolsonaro para Angra
dos Reis. Ou então uma paulista versão
do catarinense balneário de Camboriú
com seus arranha céus de centenas de
metros de milionários cretinos fazendo sombra perpétua na areia da praia.
Mas quem se importa?
O desrespeito, a falta de interesse não
só pela cultura caiçara, mas por toda e
qualquer cultura, seja ela urbanística,
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política ou artística, cobra no presente
a fatura duma cidade não inclusiva.
Quer dizer, uma cidade onde a palavra
ordem do dia, melhor se exprimiria no
inglês que a ricaiada jeca deslumbrada por Miami tanto adora: apartheid.
E essa segregação não seria somente
entre brancos e pretos ou ricos e pobres. Também entre cultos e ignorantes; moradores e os “de fora”; direitistas ferrenhos e os por eles xingados
de “petralhas” ou comunistas; imprensa oficial e realidade; quem manda e
quem obedece; apadrinhados e perseguidos…
Nessa Ilhabela, melhor mesmo que as
pessoas nem se cumprimentem por
não valer mesmo a pena se conhecerem.
Nas pequenas coisas do dia a dia, os
avisos de alerta faz tempo tentam advertir; porém ninguém dá bola e a vida
segue como se tudo se resumisse a
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uma pendenga de torcida.
O noticiário chapa branca só faz abarrotar as redes sociais com fotos de
ações policiais tecendo e fortalecendo
uma ética de mundo cão para desfrute sádico duma crescente plateia de
linchadores virtuais.
E o discurso do “quero trabalhar”, “economia em primeira lugar”, “tratamento
precoce é a solução” e assemelhados
inflama os espíritos numa guerra fratricida logo no meio dessa pandemia
que já matou quase meio milhão de
brasileiros.
É triste, é dolorosa a inação dos que
poderiam reverter esse descalabro.
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Um exemplo simples é essa obra intitulada de revitalização da Cocaia. Coisa de mais de quinze milhões e não se
sabe mais quanto direito porque seu
valor não aparece na vistosa placa que
a noticia na entrada do bairro. Muita
gente se assusta com a supressão das
calçadas e a construção dum pavimento liso que permitirá maior velocidade
no largo quase avenida leito carroçável.
Na época da Ilhabela caiçara, a rua, a
estrada da Cocaia, mal passava duma
estreita trilha. Na década de oitenta
era um caminho de terra onde penavam para passar carros que trafegassem em sentido contrário. É certo que
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as pessoas andavam a pé pela rua,
mas não há relatos de atropelamento.
Que só aconteceram depois que ela foi
alargada e pavimentada com bloquetes de concreto.
Hoje muita gente caminha por ali, por
necessidade ou lazer e não será surpresa alguma que venham a ser atropeladas muito em breve com a finalização da obra.
Tentou-se alertar a secretaria municipal de planejamento urbano, obras
e habitação, mas mesmo no vídeo do
YouTube com a nova jovem secretária
que precisou, por causa do seu nervosismo, interromper a leitura que fazia
do plano de metas da sua pasta, essa
preocupação grave não foi respondida a contento ainda que tivesse sido
levantada antes e durante a transmissão ao vivo da audiência pública do
PPA – Plano Plurianual 2022/2025 em
30 de março.
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Cinco quarteirões. Não mais que isso.
A distância entre o gabinete da secretária no palácio sauna de cristal matagado e a obra sem calçada inclusiva. Não precisa nem usar carro oficial.
Menos de dez minutos de saudável
caminhada para averiguar no local a
inexistência de calçadas logo na entrada do bairro e a diminuição drástica na pouca largura das precárias que
antes existiam dando origem a uma
nova modalidade de calçada ilhabelense, a saber, a calçada insular equilibrista. Porque será um exercício de
equilibrismo caminhar numa largura
tão pequena. Pequena, apesar da planilha orçamentária da obra presente
no contrato 071/2020 firmado entre
prefeitura e prestadora de serviço arrolar quase dezessete mil metros quadrados de pavimento pra calçada ao
custo de aproximadamente dois milhões de reais.
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A câmara municipal poderia, se exercesse seu dever fiscalizador, supervisionar essa obra. Mas está ocupada
demais em legislar sobre dia ilhabelense de oração em círculo e em assegurar para as igrejas e templos evangélicos da cidade a categorização de
serviço essencial, categorização essa
já existente em nível estadual, assim
reforçando a concessão aos religiosos ilhéus, do direito e para aqueles
fiéis mais devotados e dizimistas, da
satisfação prazerosa de se aglomerarem em devoção sonorosa mesmo durante essa terceira onda da pandemia
que se avizinha veloz com mortífera
nova cepa indiana do coronavírus.
Porém, se por desventura no interior
abençoado desses locais celestiais alguém se contaminar e morrer, poder-
-se-á conjecturar que isso aconteceu
por imprevisível e inevitável fatalidade, fruto de vontade divina, no dever do cumprimento da prestação de
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ofício de caráter religioso para a população beata ora enquadrado como
serviço essencial e, portanto, obrigatório para os que dele tanto carecem,
excetuando-se, é claro, macumbeiros,
agnósticos e ateus que não integram
essa freguesia. Além disso, havendo
dificuldade em aprovar até pedido de
informações ao executivo por causa
da sua aguerrida bancada situacionista, pouca é a esperança de que dessa
casa de leis sediada em casa de princesa protegida por um gigantesco furibundo Moisés de aço inox possa vir
alguma pálida luz mesmo à custa de
fervorosa reza de cocaienses amolados feita na privacidade das suas moradias descalçadas e agora também
em cálida reunião religiosa nos templos e igrejas serviços essenciais invocando a intervenção não divina e
sim terrena, do clerical poder legislativo municipal.
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Sem dúvida, caiçaras da década de cinquenta não teriam dificuldade de se
locomover nessas calçadas minúsculas acostumados a correr por picadas
no meio da mata. Mas caiçaras aparentados desses que quase se contam
agora nos dedos e embora resistam
bravamente e se orgulhem da sua descendência, além de não terem tido sucesso em nos ensinar a decifrarmos os
sinais da natureza e a sermos humildes e solidários, não nos ensinaram
como andar na corda bamba.
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fé cega,
faca amolada
8 de outubro de 2022
https://novaimprensa.
com/2022/10/foto-em-
-foco-fe-cega-faca-amolada.html
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Existem lugares privilegiados para a
fala à sociedade e são ditos privilegiados por causa da grande visibilidade
que possuem e porque neles quem se
aboleta e discursa detém o privilégio
de estar ali. Nos casos tratados por
esta coluna, o privilégio em questão
veio por força do voto num e por meio
de ordenação eclesiástica, noutro.
Foi do alto da tribuna da ilustre câmara
ilhabelense que um seu eleito soltou inverdades à farta exigindo que seu eleitorado não votasse na “esquerda”. Entre aspas pois essa palavra na boca do
orador perdeu sua essência, seu real
significado. Apesar de advertido com
firmeza pela presidente da câmara, da
ilegalidade da sua pregação eleitoreira
pública afrontar a lei eleitoral vigente,
o edil zangado retrucou com soberba
que os incomodados então o processassem. Seguro será que esse parlamentar
ilhéu de estampa bastante parecida ao
fé cega, faca amolada
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do deputado ex-presidiário marombado, cassado, famoso por destruir placa de rua em grotesca encenação de
afronta ao movimento Marielle Franco,
não enfrentará dos seus coleguinhas
camaristas processo de cassação por
falta de decoro como o injustamente
imposto a vereador da oposição.
Pastores evangélicos, não todos, ressalte-se, fazem pregação semelhante
ao desse orador e espanta que haja
padres que repitam o mesmo. Relatos
indignados de fiéis católicos a ponto
dalgum virar denúncia encaminhada à
Confederação dos Bispos do Brasil, dão
conta de que isso aconteceu em missa
justamente no dia do primeiro turno
da eleição em igreja de Ilhabela. Fica
difícil conceber que esse mesmo clero
que teve em suas fileiras dom Hélder
Câmara e hoje tem o padre Júlio Lancelotti possa abrigar empedernidos
defensores do bolsonarismo usando
fé cega, faca amolada
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346
o púlpito não como local de pregação
da fé cristã, mas de imposição duma
preferência política extremista que só
faz despertar nas pessoas a sordidez
espiritual e o ódio ao próximo.
Poderia bem passar por mera fanfarronice o ocorrido na tribuna da Câmara; no entanto, a situação é grave.
A atitude do vereador como frisou a
presidente da Câmara, desrespeitou a
legislação eleitoral ao se corporificar
como uma conduta vedada de agente
público. O vereador fez uso da tribuna
da Câmara Municipal de Ilhabela para
a realização de um discurso eminentemente político, com proveito eleitoral, objetivando favorecer a candidatura de Jair Bolsonaro. Para averiguar
a existência de delito, magistrado da
área só vai precisar assistir o vídeo do
discurso ora propagandeado por seu
autor belicoso no facebook como feito grandioso, ao invés de ter sido, na
fé cega, faca amolada
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347
verdade, uma incitação ao apedrejamento duma esquerda brasileira bicho-papão que só existe no mundo
furibundo da terra plana, concitando
o eleitorado a votar em Bolsonaro. Pretendeu-se transformar a Câmara Municipal de Ilhabela num cabo eleitoral
bolsonarista e a TV Câmara em propagandista da candidatura da extrema
direita.
A lengalenga urrada na tribuna com
voz trêmula emulando o figurino dos
discursos do ódio que infestam as redes sociais, é uma coletânea intragável de fake news a começar pela pregação amedrontadora do risco do Brasil
virar Venezuela nas mãos do “governo de esquerda”. A realidade, bem outra, é que o país caminha a passos
largos e rápidos pra isso acontecer e
nas mãos de um governo de extrema
direita. Bolsonaro segue a mesma estratégia de Maduro: bajula, enobrece,
fé cega, faca amolada
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pavoneia as forças armadas ao mesmo tempo em que agride e desmantela impiedosamente o poder judiciário
e a imprensa e coopta, ao custo de o
corromper, o poder legislativo.
O edil mete o sarrafo no MST se esquecendo que quem hoje invade e se
apodera de terra pública com o beneplácito do governo são garimpeiros,
grileiros e gente do agro lixo que, literalmente, põe fogo na terra brasileira.
O edil gritou que governo de esquerda toma o dinheiro do povo, ao passo
que quem o faz agora em solo pátrio
é o governo federal através do maior
escândalo de corrupção da história da
república: o orçamento secreto.
O edil reclamou que o “governo de esquerda” trata mal as mulheres, quando quem o faz reiteradamente é o seu
líder mito Bolsonaro dando péssimo
exemplo aos seus aduladores.
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O edil lastimou que “governos de esquerda” deixam as famílias passando
fome quando ainda estão vívidas as
cenas impactantes e degradantes de
brasileiros e brasileiras disputando
osso e pelanca de carne num container originalmente destinado à fábrica
de ração animal sob a indiferença do
governo bolsonarista de extrema direita.
O edil se pôs na posição de defensor
da liberdade se esquecendo que nos
dias que correm, opositores do atual
do governo temem falar de suas preferências políticas com medo de serem
espancados e até assassinados; muita
gente não torna pública sua escolha
política a exibindo na fachada do seu
lar e no vidro do seu carro por medo
de sofrer vandalismo. Márcia Tiburi
que escreveu o livro “como conversar
com um fascista” se deu conta da pior
maneira do quanto isso é difícil e junfé cega, faca amolada
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350
tamente com milhares de brasileiros
perseguidos e ameaçados de morte
pelos extremistas da direita, foi morar
fora do Brasil. O influenciador Felipe
Neto continua morando, mas explicou
em vídeo recente que só sai da sua
casa acompanhado por forte esquema
de segurança e que, em nome dessa
segurança, achou melhor mandar sua
mãe morar no exterior. Nesse mesmo
vídeo, rememorou seu passado de antipetista radical, comentando que apesar das suas críticas contundentes,
jamais sofreu qualquer ameaça a sua
liberdade quando as fez. A maioria absoluta da população não tem como se
proteger da maneira que se protege
Felipe Neto. Então o que acontece é o
que registra o vídeo do jovem preto e
pobre sendo surrado e preso aos berros de “vai gritar Lula lá na África!”
Liberdade está em falta e sob ataque
até mesmo em Ilhabela onde o vereador Raul foi covardemente agredido
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apenas por ter exercido o seu direito
de fiscalizar a obra dum muro de arrimo construído por uma empreiteira
contratada pela prefeitura.
O edil, não teve temor de ser rotulado de homofóbico ao descrever o seu
banheiro público ideal, interditado a
transsexuais.
Não temeu ser chamado de mentiroso
ao repetir chavões preconceituosos
sobre o governo Dilma, chavões esses
há muito desmascarados pela imprensa e por institutos de verificação de
notícias, como falsos.
Disse que “escola é lugar pra criança
brincar” e essa máxima tiro no pé atropelou seu feito mais vistoso, qual seja,
o de apoiar e incentivar a construção
ao custo de centenas de milhares de
reais, duma escola cívico-militar em
Ilhabela, onde a veneração à disciplina da caserna não deixará espaço pra
criança alguma brincar livremente.
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Não bastasse contaminar o ambiente
da Câmara Municipal com sua bagaçada eleitoral virulenta, o edil por duas
vezes, cinicamente, fez troça. Logo no
início da sessão ordinária, fez questão
de parabenizar a escolha do salmo 22
para a abertura dos trabalhos e enfatizou: “é um número muito bom”. Com
a mesma retórica barulhenta de campanha concluiu sua alucinada explanação dizendo que “o salmo 22 caiu
como uma luva!”.
Pois surrealmente, no meio desse salmo se encontra um apelo a deus que
muitos, agnósticos e ateus inclusive,
agora aos céus lançam em busca de
temperança:
Livra-me da espada,
livra a minha vida do ataque dos
cães.
Salva-me da boca dos leões,
e dos chifres dos bois selvagens.
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Política e religião: essa mistura desanda.
“A boa política deve desarmar e não
armar as pessoas. A boa política deve
unir e não desunir. A boa política deve
estimular o amor e não o ódio. A boa
política deve reverenciar a cultura e
não apequená-la.”
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Esse pensamento foi fixado numa coluna de 2018 e permanece atual. Se
escolhessem abraçá-lo, parlamentares
insulares não cuspiriam perdigotos em
sermões raivosos e, talvez, desembaraçados da bílis que turva não somente o entendimento, mas também a visão, enxergassem ao redor.
A foto em foco registrou quatro imagens que falam por si e dispensariam
legenda.
Isso é Ilhabela: terra duma abissal desigualdade social entre turista rico e morador fuçador de lixo.
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Isso é Ilhabela que não merece o seu nome
por naturalizar a feiúra.
Isso é Ilhabela que desrespeita a cultura caiçara e empareda cruelmente sufocando um
dos últimos exemplares da arquitetura colonial na sua principal avenida.
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Isso é a Ilhabela onde se acumulam detritos
gigantes duma polêmica obra milionária de revitalização de bairro que se arrasta lerda sem
nunca terminar. Calçadas foram eliminadas,
material de baixa qualidade foi largamente
empregado; fato esse noticiado publicamente
pelo vereador Raul da habitação. Empresário
do bairro denunciou o caso no Ministério Público, mas o promotor decidiu arquivá-lo. Quando o primeiro morador ou moradora morrer
atropelado, queixar pra quem? Pelo jeito, nem
pro bispo.
Infelizmente, nesses nossos trevosos
tempos, tribuna e púlpito têm se prestado a ser lugar privilegiado não de
discurso sadio e de pregação caridosa da crença religiosa; têm ambos se
prestado a difundir a bizarrice duma
fé política obtusa e cega. E essa, bem
nos ensina a história, é pedra boa para
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bem amolar a faca que apunhala de
morte o respeito e o amor ao próximo
e, não sendo impedida pela mão forte da cidadania, assassina o estado de
direito e a própria democracia.
o desabafo de Felipe Neto
Numa singela palavra, o bom conselho. Reza a
prudência, que antes de falar, se fizesse isso,
de coração tranquilo e mão desarmada.
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sete de setembro
16 de setembro de 2021
https://novaimprensa.com/2021/09/
sete-de-setembro.html
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Passada uma semana do sete de setembro, quando as pessoas tentarem
se recordar de onde estavam naquele
dia marco histórico, é bem capaz que
lembrança alguma aflore à superfície
do opaco lago da memória.
Certo que haverá quem tenha o fugaz
gosto desbotado de reviver num lampejo o feriado prolongado tostando o
corpo empalecido no sol fuzilante do
litoral e o salgando no mar depois de
embebedá-lo com caipirinha e cerveja;
mas a maior parte das pessoas, provavelmente, lembrança nenhuma de
peso e ou de relevo vai ter, a não ser a
sensação modorrenta de que esse dia
passou e se perdeu falecendo na contabilidade impiedosa dos dias mortos.
A multidão verde amarela que ocupou
a Paulista e a esplanada dos ministérios
vai ter sim mais que recordação intangível; vai ter foto e muita para exibir.
Entretanto, pode ser que escolha não
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o fazer; que deseje mesmo, assassiná-las todas, as apagando do celular.
Essas mesmas fotos feitas com tanto
prazer e garbo varonil; essas mesmas
fotos que comprovariam a presença
cívica no evento maior de celebração
do repúdio à tirania portuguesa. A história oficial conta que isso aconteceu
de maneira cinematográfica e sem resistência, mas há quem conteste essa
visão edulcorada como Lilia Schwarcz.
A pintura de Pedro Américo, – o Grito
do Ipiranga, tão tardiamente concluída, sonhou uma cena de mentira. Dom
Pedro não se vestia com tamanho apuro envergando fardamento limpinho
e nem montava um alazão; montava
uma simplória mula e além disso, estava com caganeira, precisando se aliviar com frequência e foi por isso que
parou a viagem naquele momento e
lugar.
Como de logros não nos cansamos, a
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própria pintura tão efusivamente celebrada cheira a plágio, a saber, da 1807,
Friedland, do francês Jean-Louis Ernest
Meissonier.
Então a multidão bolsonarista que se
bateu em defesa empedernida da liberdade de proclamar um regime que
suprimiria essa mesma liberdade viveu seu logro: o de assistir, incrédula, acreditando ser uma fake news do
nível dessas tantas que costuma com
deslavado mau caratismo propagar, o
seu presidente mito messias amarelar mais que o amarelo das milhares
de camisetas todas elas juntas poucas horas depois de virilmente vociferar publicamente em Brasília e em São
Paulo.
Porém, se o presidente amarelou, amarelou como vem há demasiado tempo
amarelando, quem tem a obrigação
constitucional de responder na proporcional altura ao autoritarismo em
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curso como cristalinamente destaca a
jornalista Eliane Brum.
E na órbita rasteira das ruas empobrecidas e degradadas, muita gente Brasil
inteiro também amarelou, só que antes, no dia sete passado mesmo e escolheu não sair às ruas marcando posição
contrária a dos embandeirados festivos
feito torcida do escroto escrete canarinho inesquecivelmente derrotado fragorosamente por sete a um por medo
de se envolver em encrenca com eles.
No Litoral Norte inteiro, apenas em
Ilhabela houve manifestação de oposição, considerada por quem a viu e por
quem dela participou, como a melhor,
a mais impactante e criativa de todas
as feitas. Pois essas fotos, marcando
diferença das fotos dos bolsonaristas
massa acéfala de manobra criminosa,
vão ser para os que nelas figuraram,
motivo de orgulho e prova de honradez e civilidade para ser exibida com
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prazer no futuro para outros verem
assim como fazem os fotografados na
passeata dos cem mil, na dos cara-pintadas e nas diretas já.
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43º Salão Waldemar
Belisário, o que os
olhos viram
24 de outubro de 2021
https://novaimprensa.com/2021/10/foto- -em-foco-43o-salao-waldemar-belisario-o- -que-os-olhos-viram.html
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No distante ano de 1968, o prefeito
amante das artes Geraldo Junqueira,
atendendo ao pedido de artistas locais duma Ilhabela provinciana, criou
as condições materiais para a realização duma sequência de exposições
coletivas de artes visuais que, em
1986, sob a gestão de Gilson Tangerino, passariam a ser nomeadas como
Salão de Artes Plásticas Waldemar Belisário para homenagear o pintor falecido em 1983.
Belisário não era caiçara e não viveu
a maior parte da sua vida na ilha. Se
escondeu nela, amargurado, na baía
de Castelhanos, a conselho de Martim Fontes, em 1930. Havia sido rechaçado por sua aristocrática família de criação onde exercia a posição
serviçal de limpador de pincéis de
Tarsila do Amaral e viu desmoronar
seu sonho de conquistar o pensionato artístico paulista, uma bolsa de
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estudos, sonho maior dos artistas de
poucas posses, que viabilizava viajar
para Europa visitando seus museus e
frequentando o atelier de pintores célebres, para voltar depois consagrado
à pátria mãe gentil.
Para colocar em termos de comparação atuais, esse pensionato equivaleria
hoje a um ProAc super turbinado, um
programa de ação cultural do governo
do estado de São Paulo com uma verba bem robusta porque, afinal, o ganhador recebia mil francos mensais,
– valores sem correção da década de
vinte -, mais passagem de ida e volta na primeira classe nos transatlânticos da moda e transporte de todas as
obras criadas nos cinco anos residindo na Europa para o Brasil.
Belisário era já nessa época um pintor
respeitado mas isso não bastava para
garantir o pensionato. Era preciso também o tão brasileiro QI: quem indica. E
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quem indicaria seria ninguém menos
que Júlio Prestes, hoje nome de escola, rua, avenida, rodoviária, etc etc etc
a pedido de Patrícia Galvão, imortalizada com o apelido de Pagu; o acordo foi intermediado pelo casal Oswald
de Andrade e Tarsila do Amaral. Pagu,
amiga do casal, queria sair de casa e
ser livre para politicar e fazer arte e
para tanto, numa conjuntura social de
rígida primazia do patriarcado, seu
mais descomplicado passaporte para
a liberdade seria casar com Belisário
porque, casando, seus pais prontamente consentiriam que saísse. O casamento era de mentira; seria anulado
em seguida.
O que não poderiam imaginar nem
Belisário e muito menos Tarsila, com
quem Belisário, apesar da enorme inferioridade da sua precária condição
social e financeira, mantinha uma tênue familiaridade por ser agregado da
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família Amaral, é que logo em seguida
Oswald e Pagu fugiriam para ficarem
juntos.
Pois é. Parece dramalhão mexicano.
Descoberta a trapaça, era natural que
Tarsila e sua família ficassem furibundas com Belisário. Pagu cumpriu
sua promessa e Júlio Prestes indicou
o artista para o pensionato. O problema é que naquelas turbulentos anos
trinta, com a economia e a política
em polvorosa, escafedeu-se o pensionato e Belisário ficou, literalmente a ver navios até decidir embarcar
num, bem modesto, para aportar em
Ilhabela, uma terra esquecida e decadente com a quebra da cafeicultura;
lugar sem autoridades públicas que,
de tão depauperado, perdeu a condição de comarca, voltando ao julgo
de São Sebastião no continente.
Logo se bandeou pra Castelhanos,
onde comprou com suas parcas ecoo que os olhos não viram
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nomias um pequeno terreno, para
então gastar sua energia na lida da
terra.
Mas como não há mal que nunca se acabe, nem bem que sempre dure, o pintor conheceu lá naquele cafundó uma
professora, normalista recém-formada por quem se apaixonou e foi com
grande paixão correspondido: Celina
Cerqueira Leite Guimarães. Os dois se
casaram em 1937 e viveram uma bela
história de amor até a morte do pintor.
A acanhada Ilhabela que nessa ocasião
nem Ilhabela era, mas sim Formosa por
vontade getulista, era morada por demais simplória para um casal de espírito cosmopolita e por isso, em 1940,
tomam juntos a decisão de se mudarem pra São Paulo.
Onde se enfronham na comunidade artística e onde Belisário passa a ensinar
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a desenhar em escolas para garantir
o sustento que a pintura não oferecia.
Além de lecionar, Belisário construiu
para vender, bonecos de madeira articulados para servirem de modelo para
desenho. Um deles está exposto numa
sala indigente que se diz chamar museu Waldemar Belisário. Esse espaço
acanhado que não exibe pintura alguma do artista, apenas alguns desenhos
e esboços na companhia de fotos amareladas jamais estará à altura da importância da obra do pintor. Sem pinturas
suas porque a prefeitura que tanto gasta em comprar terreno e casa particular
pela cidade inteira pra virar repartição
municipal não se sabe lá de quê, nunca
se preocupou em criar uma pinacoteca
que tivesse pintura do artista cujo nome
batiza também escola pública. Durante
algum tempo, na fachada do centro cultural que abriga o “museu”, penduravam
pavorosos banners reproduzindo pinturas suas que seguramente causaram
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dano lastimável a sua memória.
Menos mau que apesar de tantos pesares exista essa salinha que teve melhor
vida que o finado “cinema” inaugurado
com pompa no mesmo centro cultural
para logo depois ser interditado e fechado porque seu projeto e sua construção foram decrépitos como acontece de ser com uma boa quantidade
de obras públicas de construção civil
ilhabelenses, entre elas, exemplos,
ou melhor, maus exemplos notórios,
o centro de convenções e teatro municipal e a ponte estaiada; a primeira
delas, ruína arquitetônica a céu aberto e a outra, uma sobrevivente que,
para sobreviver, precisou ter todo seu
piso e guarda corpo trocados depois
de inutilmente serem mais remendados que Frankstein.
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o Belisário de inox
E falando de Frankstein, a estátua que
adorna a entrada do Centro Cultural
é ela uma versão obesa franksteiniana inoxidável do Belisário que aparece em fotografia carcomida, posando
com seu cavalete de pintura pintando uma paisagem com uma arruinada
fazenda Engenho d’Água como tema
central, na década de trinta. Tomada
pelo mato, suas paredes emboloradas
e descascadas é um retrato em tudo
diferente àquela que agora se inaugura, felizmente, depois de tantos anos
o que os olhos não viram
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fechada, para a visitação e deleite público.
Na metrópole paulistana, Belisário se
enturmou com os pintores do grupo
Santa Helena; frequentava a casa de
Volpi. Durante a semana eram ele e
Celina professores para prover a subsistência; nos finais de semana, viajavam pelos arredores para Belisário
pintar paisagens, cenas de rua, festas
populares.
A sua pintura foi sempre figurativa,
mas isso não significou que fosse acadêmica; longe disso. Na construção
do desenho e na elaboração da cor
exercitou sua independência dos cânones em voga com um virtuosismo
que somente o talento aliado ao trabalho diligente edificam. Nunca pretendeu retratar a realidade. Ainda que
montasse seu cavalete na rua ou no
campo, aquilo que via era apenas uma
baliza a partir da qual construía sua
o que os olhos não viram
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pintura; ela, na sua integralidade, materializava um novo objeto no mundo,
aberto a ser visto prazerosamente pelo
observador livre de preconceitos.
Coincidiu que naqueles anos o mundo
fosse tomado pela arte abstrata e os
artistas figurativos passaram a ser tachados de passadistas.
“Acredito em meus sonhos e eles são
figurativos” dizia Oswaldo Goeldi um
ano antes de morrer, numa antológica frase que naufragou no maremoto
abstracionista.
Nesse mesmo ano, Waldemar e Celina
decidem voltar a morar em Ilhabela.
Vendem sua casa na Cidade Ademar e
compram um terreno no Perequê, na
rua do Supermercado Frade. No ano
seguinte, Belisário acamparia no local
para construir ele mesmo sua moradia
e seu atelier. Tanto um quanto outro
eram construções simplórias, pequenas com telhado de cimento amianto;
o que os olhos não viram
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o atelier, na frente, tinha paredes de
madeira.
Cadê a casa caiçara que estava aqui?
Foram demolidos em 2005, tragados
pela especulação imobiliária que desmantelou a morada e o lugar de trabalho do artista. A casa onde Marcelo
Grassmann nasceu e viveu sua infância
e parte da adolescência é conservada
como atração turística em São Simão,
mas Ilhabela que sem peias destruiu
quase completamente toda o casario
colonial que a adornava e aparecia no
o que os olhos não viram
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filme Caiçara e que recentemente também demoliu o singelo rancho caiçara
de pau a pique e sapé que embelezava
o anódino centro cultural da vila, nem
um pouco se importou com a destruição completa do derradeiro lar do pintor e sua esposa, incentivando o esquecimento desses dois que tanto fizeram
pela cidade. Belisário, a imortalizando
em suas pinturas e Celina, entre tantas
amorosas ações, compondo o hino da
cidade. O pintor a custo virou nome
de escola e salão de arte, mas Celina… Cantora lírica que se apresentou
com Villa Lobos, inspirada professora
de música, foi o nome bem escolhido para intitular o coral municipal de
Ilhabela, de vida breve. Mas por não
ser caiçara, não teve em vida a satisfação de ser agraciada com o pomposo
galardão de Título de Gratidão Caiçara
com o qual alguns daqueles que se refestelam na egrégia câmara municipal
e nas repartições públicas insulares,
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hoje se lisonjeiam festivamente.
Como artista esquecido pela historiografia oficial, Belisário foi lembrado na
ocasião da comemoração dos cinquenta anos da semana de arte moderna
de São Paulo, integrando o grupo dos
pintores de descendência italiana que
pintavam nas horas vagas e ficaram à
margem do movimento modernista,
sendo por isso injustamente enquadrados como antiquados.
Pietro Maria Bardi, diretor do Museu
de Arte de São Paulo, admirador da
obra de Waldemar Belisário, faria nesse aclamado museu uma individual do
artista com quarenta pinturas. Essa
exposição é considerada por muitos
como um ato de consagração do pintor, então octagenário.
Tarsila Amaral faleceria em 1973, dois
anos antes da individual de Belisário.
Em 2019 o MASP exporia cento e vinte obras suas numa mostra que teve
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público recorde onde os visitantes se
digladiavam para fazer a mais faceira selfie usando suas pinturas como
pano de fundo. Elas valem milhões;
as de Belisário, uma fração muitíssimo pequena disso correndo o risco,
se colocadas em leilão, de passarem
despercebidas.
As exposições coletivas da década de
setenta na ilha iniciadas em 1968, reuniram um time brilhante de artistas
além de Belisário: Fernando Odriozola, Yarê Aranha, Rafalel Desimore, Maciej Babinski, Jannik Pagh, Durval Palermo, Henrique Smith, Giba Ilhabela,
Gilda Pinna, Lavínia das Ilhas, Pituca.
Odriozola endoideceu uma outrora
bucólica Vila ao ser premiado como
melhor desenhista nacional na oitava
Bienal Internacional de São Paulo, em
1965. Naquela ocasião, a notícia foi
comemorada com entusiasmo pelos
artistas locais que fizeram e se inscreo que os olhos não viram
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veram na história e comemorada também, pelos demais moradores, felizes
por terem vivendo entre eles, alguém
tão importante por ter sido em Bienal
distinguido.
Na década de noventa muitos artistas
seguiram encantando em exposições
coletivas, parte delas feita no Hotel
Itapemar. Novos surgiram de lá pra
cá: Carlos Pacheco, Hugo, Lícia Ferreira, Ursula Möllhoff, Zé Paulo, Gilmara
Pinna, Crau da Ilha, Ângelo Cavalheiro, Renato Pascoal, Marcos Emendabili, Leon Ribeiro, Antônio Tom, Vicente
Bernabeu, Fernando Feierabend …
Na passagem para o terceiro milênio seguiu o Salão Waldemar Belisário
acontecendo ano após ano com muitas artistas se destacando: Rosangela
Capella, Ana Canale, Sdondi, Laís Helena, Sadala, Evelyn Siqueira…
Hoje, Ilhabela com quarenta mil almas,
cresceu, a bem da verdade, inchou.
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400
Palacetes se dependuram pelas costeiras interditando a passagem ao mar e o
que restou de caiçarada arma barraco
em vão porque nos tempos de agora
essa grana toda que ora aporta com
a boçalidade a tiracolo sempre berra mais forte sentenciando a palavra
final. Nesses ambientes espaçosos à
beira d’água, a propaganda governista se esmera em vender Ilhabela Home
Office filmando madame e coroa ricaço de shorts, ele e ela tão despidos e
folgazões como se por aqui não habitassem também facinorosos borrachudos e pernilongos muito mais sedentos
de sangue do que o anjo vampiresco
da missa da meia noite. Doutro lado,
casebres e barracos se esparramam
pelas encostas, pelos grotões e pelos
buracos; seus moradores invisíveis à
publicidade institucional se prestando
como mão de obra servil desses tão
desejados festejados bem-vindos novos ricos residentes; esses sim, duma
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401
visibilidade fuzilante correndo velozes
com seus suvs reluzentes nas ruas recém-calçadas atropelando os pés de
chinelo que lhes servem, órfãos eles
todos de calçadas decentes.
A Ilhabela que nos governa quer porque quer ser outra que não ela mesma
e nos publieditoriais de jornalões que
se apequenam no papelão de jornalecos sonha ela ser a Nova Zelândia se
esquecendo da notícia de repercussão
nacional que a revelou inteiramente
pelada sem maquilagem que ocultasse a feiúra da sua ignorância; notícia
essa, tratada com a usual gabolice jocosa pelos repórteres e colunistas, da
aquisição e da distribuição pela rede
de saúde municipal insulana do kit covid, isso em março de 2021, quase um
ano portanto dele ter sido mundialmente desmascarado como ineficaz e
nocivo por médicos e cientistas sérios,
bem como, por renomadas instituições
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científicas e pela Organização Mundial
da Saúde. Nova Zelândia? Será que feito lá, cá será em breve exigido daqueles que quiserem aqui entrar, a caderneta de vacinação confirmando que
seu portador foi integralmente vacinado contra a covid? A partir de primeiro de novembro só se entra na Nova
Zelândia mostrando esse documento.
Caso contrário, ainda que portentoso
seja o saldo bancário do visitante, é
porta batida na cara; entrada negada,
voltar pra trás. Mas não. Seguramente
a propaganda oficial ilhabelense não
abraçará essa bandeira a deixando de
lado, desmerecida, coitadinha, como
o faz com as vermelhas da CETESB que
tremulam sanguíneas nas praias do arquipélago.
Cena de covarde pancadaria contra
pescador idoso que poderia até figurar
como um desses home office workers que tanto os gestores do turismo
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ilhéu desejam viralizou nas redes sociais e foi notícia na televisão com o
habitual alarde desses comentaristas
mundo cão. Bizarro é que essa agressão covarde tenha sido desferida por
profissionais do turismo, conforme
foi noticiado; todos jovens, todos trogloditas. Esse vídeo de embrulhar o
estômago com certeza não será capitalizado pelos çábios fazedores de reclames numa nova campanha “é tempo de apanhar em Ilhabela”.
As autoridades da cultura insular se
ufanaram porque o 43º Salão de Artes
Plásticas Waldemar Belisário recebeu
muita inscrição de artista de fora, superando duas centenas. Pois na época
do fastígio dos salões esse número era
café muito, muito pequeno. O Salão
Nacional de Artes Plásticas promovido
pela Fundação Nacional de Arte sob
demolição bolsonarista transformada
em naufrágio nacional de arte pátria
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e o Salão Paulista de Arte Contemporânea, para ficarmos apenas em dois
vistosos de numerosos exemplos, recebiam milhares de inscrições.
Fastígio? Sim, pois os salões vivem seu
ocaso e foram um a um, se apagando,
se extinguindo; o Waldemar Belisário
é um dos poucos sobreviventes.
Numa época de difícil acesso para expor, pela ausência de lugares dedicados a isso, os salões foram o cobiçado
baile de debutantes para incontáveis
artistas. Além de oferecer visibilidade,
ofereciam medalhas brilhosas feito
atestado de qualidade do IMETRO que
os artistas de antanho orgulhosamente exibiam no afã de valorizarem monetariamente suas obras e realizarem
o objetivo maior e inalcançável para a
maioria dos pobres arteiros mortais,
qual seja, o de viverem de arte.
Waldemar Belisário, a despeito de
seu incontestável talento e dos seus
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esforços infatigáveis, não conseguiu
pagar suas contas à custa da sua pintura.
Porém, depois que a arte se instituiu
feito oportuno negócio inclusive de lavanderia industrial de lavagem de dinheiro sujo e decoração de ambientes
dos novos ricos, pulularam comércios
se denominando galerias de arte em
tudo quanto é rincão verde amarelo
para a contento atender o despejo linha de montagem de artistas que as
faculdades disso, de artes que se pretendem ensinar, se nomeavam e afoitamente descarregavam e continuam
a descarregar. E esses milhares de artistas no pujante brilhantismo da sua
juventude se batem uns contra os outros nas redes insociáveis logrando
êxito fácil em mostrarem a esse mundo boquirroto suas maquinações descoladas e sempre escrupulosamente
modernosas.
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Por outro lado, foram fortalecidos programas governamentais em todos os
níveis de estímulo à criação artística,
garantindo além de espaço expositivo,
condições financeiras que viabilizam o
trabalho envolvido; sim, porque fazer
arte é trabalho e dá trabalho.
Cidades e estados criaram pelo país
inteiro seus programas de incentivo e
uma característica peculiar de todos
é que chancelam a reserva de mercado. Dessa maneira, nas cidades, concorrem somente os que moram nela
e nos estados, os que nele residem e
tanto num caso como noutro, o tempo
mínimo de residência é de dois anos.
Havia programa federal; bom isso antes da consagração da música clássica wagneriana, do canto gregoriano e
do sertanejo barraco invade tribunal,
do realismo negacionista, do messianismo caça-níquel e da cultura da incultura em patamar nacional. Afora
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os programas governamentais, proliferaram os privados, sob a batuta de
empresas que descobriram neles uma
propaganda empresarial de bom-mocismo de amplo alcance e baixo custo.
Ilhabela, na época da eclosão da pandemia, durante a finada gestão Tenório/Gracinha sentiu o gostinho ligeiro dessa progressista política cultural
com a semana de arte virtual e o edital de fomento que, infelizmente, não
tiveram mais sequência.
Por causa dessa mudança de cenário,
os salões perderam seu poder de atração e, consequentemente, seu prestígio.
O Salão Waldemar Belisário persevera por inércia e os gestores da cultura oficiosa municipal se esmeram
em apresentá-lo como uma sua pérola, literalmente montando fanfarra na
sua abertura, com direito a show jeca
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brega gringo de entrega de checão gigante impresso para quem sabe ocultar
o embaraço dos seus ganhadores por
detrás dele no palco montado para espetáculo televiso no facebook da prefeitura. Cuja transmissão ao vivo não
durou neste último salão nem cinco
minutos poupando as autoridades do
constrangimento de ficarem chamando em vão os medalhados no tablado;
os esperando, inutilmente, com cara
de tacho.
Quase todos não subiram pra posar
com o checão e o troféu, cujo conjunto custou uma verba que teria melhor finalidade se fosse destinado aos
prêmios aquisição; esses, com poder
de estimular a formação de uma pinacoteca municipal. Aconteceu dos
premiados se ausentarem não porque
eles soubessem antecipadamente que
iriam pagar mico participando dum
ato publicitário padrão sinta natureza
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e se esconderam. Não foram porque
simplesmente não ficaram sabendo
que haviam sido premiados. Não souberam porque o regulamento do salão
determinou que os premiados só seriam revelados no ato da abertura. O
que é, evidentemente, uma regra absurda como acontece ser boa parte do
regulamento; absolutamente sem pé
nem cabeça.
Limitar a exibição a uma obra por artista em cada técnica é uma atitude estúpida. Os salões memoráveis especificavam a obrigação de avaliarem no
mínimo dez obras por artista inscrito,
exibindo, caso fossem selecionados,
ao menos cinco delas. Isso porque uma
única obra não possibilita uma avaliação acertada; é preciso um número
maior para se ter uma visão ampla. Estancar as técnicas artísticas num momento em que se mesclam e se misturam criando novas e impactantes
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poéticas, é de um anacronismo cruel.
E mais cruel ainda é tentar hierarquizar prêmios em categorias medalháveis de ouro, prata e bronze como se
a exposição fosse um certame esportivo ou pior, uma feira agropecuária.
Artista que se preza pode até gostar
do Muttley, o cão do Dick Vigarista
doido por medalha; mas não pretende
jamais posar de militar engalanado.
Os salões que respeitavam os participantes inscritos, faziam uma seleção
preliminar por foto ou vídeo, o que
poupava os concorrentes do custo,
por vezes, elevado, do envio de trabalhos que corriam o risco de serem recusados. Ilhabela tratou com ruindade
muito artista que veio de longe carregando sua obra, gastando dinheiro
que nem tinha pra ser eliminado num
processo de julgamento sem transparência pois a composição do júri de
seleção não foi divulgada e tampouco
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a ata do processo dessa seleção e premiação, se é que foi lavrada como sempre era a praxe dos salões sérios.
Quem viu a exposição montada em
apenas duas salas do centro cultural
da vila, tendo Ilhabela tantos espaços
expositivos espalhados capazes de
exibirem juntos centenas de obras, de
imediato percebeu que o evento que
teve quase trezentos inscritos, resultou numa exposição minúscula.
Foi uma atitude segregatória isolar os
premiados na melhor das salas, sendo mesmo ela, limitada, para poder
sediar uma exibição que tivesse uma
expografia profissional.
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o salão oficial
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Pretendia talvez posar de MASP usando ali suportes miniaturizados daqueles lá empregados: grandes lâminas
de vidro blindex ancorados em blocos
de concreto. Isso cai bem num espaço generoso, amplo, bem ventilado e
arejado como acontece no MASP; não
numa sala estreita onde nem tiveram o
cuidado de eliminar janelas sem qualquer função, escolhendo simplesmente ocultá-las com toscas cortinas. As
peças escultóricas foram exibidas em
cantos ou encostadas em paredes; limitando a chance do expectador rodeá-las, numa óbvia eleição de projeto
expositivo burro. Com uma quantidade expressiva de artistas talentosos
morando e criando em Ilhabela, com
obras vigorosas e carreira consolidada,
causa estranhamento que tão poucos
deles tenham participado desse 43º
salão. Se foram cortados, houve falta de sensibilidade e de conhecimento
da riqueza artística da ilha por parte
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do jurado que, então, julgou mal; se
não se inscreveram, é ainda pior porque isso sinaliza que nem deram bola
pro salão que foi uma árdua e muito importante conquista dos artistas
ilhabelenses da década de sessenta,
unidos, a despeito das suas diferenças e idiossincrasias, pela melhoria da
cultura insular.
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o salon des refusés
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Uma louvável iniciativa foi a de contornar a estultice de se expor um número tão ridículo por ser demasiadamente diminuto de obras, fazendo-se
uma exposição de lambuja, a “o que os
olhos não viram”. O que, seguramente
muito mal viram ou nem viram mesmo,
os olhos míopes e astigmáticos dos
jurados contratados. Pena ela nascer
estigmatizada como uma mostra de
restos, de obras desclassificadas, rejeitadas. Quem tiver visto a Waldemar
oficial e olhar com sadios olhos agora
essa inteiramente feita a partir da exibição daquelas obras recusadas que
entulhavam amortalhadas uma enorme sala depósito do centro cultural,
há de constatar que muitas delas deveriam, além de terem figurado no salão oficial, terem sido premiadas fosse o jurado melhor capacitado. O fato
incontestável é que foram por ele eliminadas no processo de seleção, sendo pois impinchadas como menores.
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A oportunidade de serem nesse momento apresentadas, estimula o salutar debate acerca do acerto ou, mais
acertadamente, do desacerto do juízo
que as eliminou. Seja como for, essa
segunda exposição, por sinal bem melhor montada que a anterior e ocupando as salas por ela antes ocupadas,
além de permitir aos moradores e turistas momentos de consistente fruição estética, aliviará um pouco a barra
suja dos organizadores do salão cujos
olhos viram o malfeito que com ele fizeram apesar de o terem inaugurado
com tanta fanfarronice.
A alegação de que o regulamento é impeditivo para a permitir a melhoria do
salão é uma desculpa esfarrapada. Regulamentos se amoldam aos tempos
e os regulamentos dos salões antológicos passaram por alterações que os
tornaram cada vez melhores. É função
da comissão organizadora promover
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essas mudanças que, se bem elaboradas, terão o poder de oxigenar e
dar roupagem contemporânea a esse
evento cultural ilhabelense quase cinquentenário numa cidade que pouco
fez e faz para valorizar a sua cultura.
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nostromo
e a ilha
da morte
4 de maio de 2021
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https://novaimprensa.com/2021/05/
nostromo-a-ilha-da-morte.html
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Nostromo. É nome dum romance de
Joseph Conrad e é também o do rebocador espacial de duzentos e quarenta metros de comprimento que se
afigura ainda muito mais gigantesco
por causa da refinaria de minério, medindo três mil e duzentos metros de
comprimento por dois mil e quatrocentos metros de largura que reboca,
abrindo as primeiras cenas do filme
de terror Alien, o oitavo passageiro,
dirigido por Ridley Scott.
O exterior da enorme nave é repleto
de saliências que se parecem com uma
inescrutável escrita em relevo feito
hieróglifo. Duma solidez de encouraçado, parece navegar devagar no escuro espaço sideral e depois dos frames
iniciais exibirem seu costado rugoso,
passamos a ver suas entranhas metálicas labirínticas.
Numa época em que a gente podia circular livremente pela balsa, sem nos
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aprisionarmos no interior do carro ou
na área destinada aos pedestres, fiz
uma das minhas primeiras séries fotográficas tomando como tema os petroleiros.
A visão desses navios portentosos
que a travessia na balsa favorecia era
privilegiada; a aproximação era lenta,
permitindo divisar o perfil deles que,
na distância, pareciam se amalgamar
com o sopé da serra do mar para, aos
poucos, gradualmente dela se apartarem, ganhando um primeiro plano
onde emergiam cada vez maiores, monumentais conforme a balsa percorria
a estreita língua de mar navegando da
ilha para o continente.
O momento de maior impacto era
quando a embarcação cheia de carros
passava rente à proa ou à popa dos gigantes. Nessa hora a sensação era de
sermos formigas diante do paredão
ferroso e enegrecido que se levantava
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escultórico d’água torcendo o pescoço de quem o encarava pretendendo
enxergar o convés lá acima, na altura
dum arranha-céu.
Obra primorosa da melhor engenharia naval, nas décadas de oitenta e noventa, eram mal vistos; considerados
sucatas emporcalhando o canal de São
Sebastião. Acidentes envolvendo derramamento de petróleo e poluição de
praias no Litoral Norte eram comuns.
Ainda vive na memória o desastre que
foi a explosão no Alina P.; seis tripulantes se feriram e um morreu. O estrondo foi ouvido em Ilhabela e São
Sebastião e houve quem achou que foi
trovão, estranhando trovoar num dia
ensolarado.
O enorme navio ficou semi afundado
durante uma eternidade, agonizando.
Foi então finalmente rebocado e afundado longe da costa.
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Que paralelismo existe entre os petroleiros no canal de São Sebastião e a
nave espacial Nostromo? Afora a semelhança do tamanho, o fato de transportarem material nocivo. No filme, fica-se sabendo que a ordem de trazer
o alien assassino para a Terra ocultava interesse militar e comercial, forte
o suficiente para fazer vista grossa à
segurança da tripulação.
O petróleo transportado nos tanques
dos navios desgraçou as praias de
Ilhabela, São Sebastião e Caraguatatuba por anos a fio, assassinando a vida
marinha e espantando turistas para
longe.
Esse petróleo que alimenta a indústria
polui a terra, contamina a água, enegrece a atmosfera e ao fazer funcionar
automóveis e caminhões, desorganiza
as cidades fomentando a segregação
social e a degeneração do tecido urbano o tornando área inóspita. As cidades
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se esforçam para se adaptar aos carros, mas esse esforço é inglório e inatingível. Nessa batalha, elas se degradam e degradam a vida humana ao se
transformarem em selvas de concreto,
tijolo baiano e madeirit onde a existência se esgarça machucando as pessoas.
Se no passado o petróleo prejudicou
Ilhabela, hoje a sua exploração atrás
da ilha a beneficia ao elevá-la ao patamar duma das mais ricas cidades
brasileiras, graças à receita milionária
dos royalties, uma compensação financeira paga pelo direito de instalar
plataformas petrolíferas off-shore no
seu território.
Diante disso, seria esperado que a ilha
fosse festejada por assim possuir dinheiro em fartura para assegurar uma
vida confortável e segura aos munícipes e não infelicitada com a alcunha
de “ilha da morte”.
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“Ilhabela não pode ser a ilha da morte”:
palavras de Marco Vinholi, Secretário
do Desenvolvimento Regional de São
Paulo, censurando o prefeito de Ilhabela, Toninho Colucci por ter desrespeitado várias vezes o Plano São Paulo
do governo do estado. “A conduta é típica de quem flerta com o negacionismo e os maus exemplos do presidente
Jair Bolsonaro” disse o secretário.
Rotular Ilhabela de ilha da morte é um
exagero, sem dúvida. E o prefeito expôs seus argumentos num vídeo incorporado na matéria jornalística de
Thaís Leite publicada no jornal o Vale.
Boletim informativo da Covid informa
que faleceram na ilha trinta e quatro
pessoas. Do final de 2020 para os últimos dias dos primeiros quatro meses
de 2021, o número de casos de contaminação quase dobrou, passando de
3.348 para 6.024 e o de mortes, mais
que dobrou, subindo de 16 para 34.
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Sob qual ótica interpretar esses números?
Bom, no entendimento do senador
Luiz Carlos Heinze, suplente na Comissão Parlamentar de Inquérito da
Covid, são um exemplo de sucesso
porque Ilhabela, nas suas palavras,
presidida pelo médico Cássio Prado,
aplicou o tratamento precoce. Prefeito
Cássio Prado; não Toninho Colucci. Se
o parlamentar do Partido Progressista
pelo Rio Grande do Sul trocou estupidamente em rede nacional logo nessa
CPI que hipnotiza o país, o nome do
prefeito de Ilhabela pelo de Porto Feliz, será então confiável essa sua longa
arenga de defesa bolsonarista citando
como verdadeiros casos de fake news
amplamente desmascarados pelos órgãos de imprensa de verificação?
Todavia, esses trinta e quatro mortos,
se comparados aos cento e trinta e seis
mortos da vizinha São Sebastião, são
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menos alarmantes. Mas, se empáticos,
sofrermos uma fração pequena do que
sofreram as famílias que rapidamente
enterraram seus parentes sem ter tido
a chance de os velar como mereciam,
esses números não nos reconfortam. E
também são inteiramente inúteis para
todos que se contaminaram e ficaram
sequelados.
O número de mortos foi crescendo no
Brasil inteiro e a cada novo recorde foi
se tornando apenas isso: um número
incompreensível como incompreensível é o acidentado relevo do costado
da nave espacial Nostromo e a rugosidade fora do alcance das nossas mãos
do casco áspero dos petroleiros no canal.
Um número. Totalmente dissociado
dos rostos conhecidos e queridos que,
ensacados em invólucros plásticos tão
escuros quanto o espaço sideral e o
mar profundo, foram imediatamente
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sepultados. Aqueles que os perderam,
padecem sozinhos no seu desespero,
potencializado pela brutal recessão
econômica que está levando à miséria
uma infinidade de pessoas.
Trinta e cinco milhões é um número
maior do que o dos contaminados pelo
coronavírus no Brasil propagandeados
no noticiário onipresente da pandemia. Jânio de Freitas nos informa que
esse é o número de brasileiros agora
passando fome por viverem com apenas oito reais por dia. Não iam além
de vinte e quatro milhões quando, tão
pouco tempo faz, Bolsonaro se sagrou presidente. A quem endossaram
inequívoco apoio neste sábado ensolarado, dia 1 de maio, manifestantes
verde amarelos brandindo e vestindo
bandeiras do Brasil numa estrepitosa
aglomeração na praça Alan Kardec em
Ilhabela, ornamentada com berrantes
cartazes amarelo ovo violentados pela
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escrita em fonte capitular “EU AUTORIZO O PRESIDENTE“.
Nostromo acolheu nas suas entranhas
encardidas, inadvertidamente, o terror
que lhe era estranho, exógeno. A malignidade que destrói e arruína o país
e robustece sem freios o número com
tantos zeros de mortos pelo coronavírus não foi colhida nalgum planetoide
distante como o fizeram os tripulantes da Nostromo. Já estava aqui, entre
nós.
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o horror,
O horror
21 de novembro de 2020
https://novaimprensa.com/2020/11/
foto-em-foco-o-horror-o-horror.html
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Desde o seu nascimento passados mais
de quatro anos, a foto em foco fazendo
jus ao seu nome sempre saiu estampando fotos. Fotografia de rua versando sobre o cotidiano de Ilhabela, São
Sebastião, Caraguatatuba.
A coluna de agora rompe essa tradição
e sai sem foto alguma.
Porque não há foto à altura de retratar a
desumanidade do assassinato de João
Alberto num supermercado Carrefour
em Porto Alegre.
Todo mundo viu esse vídeo curto, de
menos de cinco minutos, exibindo a
barbaridade de uma mortífera agressão despropositada.
Diante dele, diante dessa cena de um
João preto imobilizado por um segurança branco enquanto outro igualmente
branco o soqueava na cabeça sem piedade numa sucessão interminável de
murros fortes, as palavras que ocorrem
são as de “o horror, o horror”. Essas
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mesmas proferidas pelo ensandecido
bem-nascido europeu Kurtz, no romance de Joseph Conrad, coração das trevas, que inspirou o filme Apocalypse
Now de Francis Ford Coppola.
Tempos alucinados no Brasil bolsonarista que parece ter se transformado
naquela sociedade depravada perdida nos confins dos trópicos pestilentos presidida por Kurtz que se tinha na
conta de um deus, com poder e direito
de cometer reiteradas atrocidades contra o seu povo.
A gente sabia e até viu tortura em vídeo
compartilhado nas redes sociais sendo
praticada num desses comércios racistas. Mas ela acontecia sempre longe
dos olhares indiscretos, sempre nos
fundos, nalguma salinha escondida de
depósito.
Agora no brasil pátria amada brasil ela
ficou escancarada para o mundo inteiro; aconteceu logo em frente a um dos
o horror, o horror
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principais acessos desse supermercado
Carrefour à vista da clientela que passava circundando a arena da matança
como se nada lhe significasse.
Uma corpulenta funcionária branca do
Carrefour filmava com celular a selvageria bem de perto como quem filma
uma criancinha fazendo gracejo.
Enquanto o piso caramelo se salpicava
de sangue; gotas e mais gotas vermelhas se destacando no pavimento brilhoso.
Enquanto João Alberto gritava de dor e
pedia socorro.
Mas ninguém o socorreu e sua vida inteira se estilhaçou nesses cinco minutos de pancadaria covarde.
O que fez João Alberto para ser morto?
“Olhou feio”para uma funcionária do
Carrefour? Deu um soco no segurança troglodita que o conduzia impositivamente para fora do hipermercado,
o horror, o horror
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contrariando sua vontade, quem sabe,
talvez, reagindo a um insulto dele?
Fosse ele branco rico como aquele de
Alphaville ultrajando com furor os policiais militares mansinhos na porta
da sua mansão, também em filme registrado e diferente teria sido o desfecho. Jamais milico brutamonte lhe faria
sombra. O gerente do supermercado
correria prestativo para repreender severamente a funcionária que teve o desplante de ofender o doutor. O doutor
teve um surto, justificado foi seu surto;
perdão excelentíssimo senhor doutor.
Um jovem preto que cometeu o crime
de surtar no Extra da Barra da Tijuca
ano passado teve como fim morte brutal.
O fato é que por se tratar não de um senhor seu doutor branco rico bem trajado mas sim de um preto pobre mal vestido que importunou uma funcionária só
por lhe ter dirigido um olhar enviesado,
o horror, o horror
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provavelmente por ter se sentido discriminado como o são, rotineiramente,
os que não brancos são nesses templos
de consumo todos construídos sob a
égide marqueteira de lugar de gente
feliz, ali mesmo na boca do estacionamento e diante do olhar indiferente
das pessoas próximas foi instituído tribunal penal e prontamente aplicada a
sentença de morte.
O Carrefour então solta notinhas de
desagravo como o fez antes diante de
monstruosidades em suas dependências. Em 2009, sua milícia surrou o vigia
e técnico em eletrônica negro Januário
Alves de Santana, de 39 anos, no estacionamento de uma unidade em Osasco por acreditar que ele estava roubando seu próprio carro, um Eco Sport. Em
20018, foi a vez de Luís Carlos Gomes,
negro e deficiente físico ser alvo da selvageria desses algozes de guarda pretoriana que o agrediram com tamanha
o horror, o horror
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brutalidade a ponto de lhe ocasionar a
sequela de ficar com uma perna mais
curta. Ano passado, um segurança da
unidade de Osasco não satisfeito em envenenar com chumbinho um cachorro
que poderia cometer a suprema heresia
de importunar a visita de supervisores
da matriz, o espancou selvagemente
até a morte.
Quando se trata de morte, ainda que
humana, pouco caso é o que lhe atribui
essa rede haja vista a dada a de Moisés Santos, negro ele também, falecido numa unidade do Recife; seu corpo
foi encoberto por caixas de cerveja e
guarda-sóis enquanto a loja continuava sua rotina atestando sua total falta
de empatia pelo sofrimento alheio.
E ficou por isso mesmo. Suas ações em
alta na bolsa de valores. Os assassinos
de João Alberto em breve soltos à espera dum julgamento de pena branda.
Bolsonaro e Mourão pregando que não
o horror, o horror
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há racismo no país que governam reprisando o discurso obtuso da insepulta ditadura militar. Esses dois e sua entourage vão deixar para a história o fato
incontestável de terem sido os maiores
artífices do desmantelamento do mito
do brasileiro cordial. Ao capitanearem
a nação, legalizaram o discurso dos
ressentidos, dos odiosos, dos racistas,
dos ignorantes.
E a brasileirada vai continuar a fazer
suas compras normalmente lá nesse
supermercado de funcionários sociopatas, racistas e matadores de aluguel
passado algum tempo depois de limpo
o chão ensanguentado.
Num jornal regional é extemporâneo
publicar essas linhas?
Se olharmos por um momento para Ilhabela e percebermos que muito da xenofobia que nela grassa é dirigida aos
negros, mulatos, cafusos, mestiços em
geral pobres, a resposta é não.
o horror, o horror
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Há hoteleiros, há donos de restaurante, há donos de botecos que invadem
a areia das praias as emporcalhando
e obstruindo com centenas de mesas,
cadeiras, guarda-sóis com o consentimento e o estímulo do poder público
semeando preconceito contra esses
brasileiros porque eles não gastam tanto em seus estabelecimentos. Com deseducação os tratam pretendendo espantá-los da frente dos seus negócios.
Os próprios moradores alimentam esse
sentimento daninho; lastimam o turismo de um dia; o turismo dos ônibus
de excursão da periferia das metrópoles que estacionam em São Sebastião
e descarregam na balsa seus usuários.
Acham que eles “fazem feio” na paisagem e podem pôr para correr a ricaiada, essa sim tão bem-vinda e bem tratada.
Paradoxal é que parte desses moradores sinta na pele essa discriminação
o horror, o horror
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ignominiosa quando frequentam as
praias por serem confundidos com os
turistas de um dia por causa da cor da
sua pele e da sua indumentária.
É certo que os donos do pedaço e seus
seguranças e garçons não chegam ao
extremo de espancar ninguém; mas
sua atitude de proscrição, de repúdio
a esse povo desde sempre oprimido e
humilhado machuca tanto quanto soco
e chute.
O racismo e a barbárie escancarados
pelo homicídio de João Alberto reverberam pelo país inteiro neste instante.
Por isso, mesmo apartada do continente, Ilhabela respira e vive o Brasil
porque nela se encontra a perversa semente dessa maldade nativa crescendo impunemente no seu coração.
o horror, o horror
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carnaval
da tragédia
14 de março de 2023
https://novaimprensa.com/
2023/03/foto-em-foco-carnavalda-tragedia.html
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O carnaval de 2023 no Litoral Norte
recebeu esse adjetivo que dói: tragédia. Foi uma tragédia anunciada, mas
como sempre desgraçadamente acontece, ignorada, desprezada. É vívida
em Ilhabela a lembrança dum morro
que desabou no sul derrubando casas e interditando a estrada do sul em
maio de 2019 . Outra chuva torrencial no fim de dezembro de 2021 rendeu vídeos no YouTube de audiência
colossal de ruas transformadas em
rio de corredeira de águas barrentas,
marrons, onde carros submergiam e
uma caçamba de entulho boiava sem
rumo, colidindo com postes e paredes.
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O estrago das chuvas na ilha.
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A chuvarada que desgraçou São Sebastião, não causou dano tamanho na
ilha, embora, dano considerável tenha
causado. Houve alagamentos, queda
de muros, erosão em ruas e no asfalto
e abertura de crateras na estrada do
sul com direito a fotos em rede nacional de carros engolidos. Felizmente,
ninguém morreu.
Na cidade fronteira vizinha, o prefeito
vestiu o colete da defesa civil e posou,
contrito, com o presidente Lula, de
quem foi opositor ao fazer campanha
pela eleição de Bolsonaro, recebendo
dele um abraço benção emocionado.
Posou também ao lado do governador do estado Tarcísio, a quem dirigiu
pesadas críticas. O momento trágico conclamava à conciliação os atores políticos divergentes exercitando
uma política verdadeiramente virtuosa, levando ao pé da letra, numa coincidência inesperada, o lema do governo federal: união e reconstrução.
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Numa entrevista à rádio Bandeirantes, o prefeito perdeu a compostura
e partiu para o grito numa atitude naturalizada pelo bolsonarismo quando
acuado num debate público; o âncora do programa, Luiz Megale, em vão,
tentou restituir a ordem no barraco
armado: “ou o senhor se acalma, ou a
gente não tem como conversar”. Nessa altura da entrevista, ela simplesmente, acaba.
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A pergunta que tamanha irritação
provocou na autoridade municipal
foi sobre a existência de sirenes nas
área devastadas. Berrando a plenos
pulmões, a resposta foi a de que sirenes não salvam vidas. Esse pensamento não é compartilhado por outros municípios; em Niterói, a Defesa
Civil diz que “Estamos entrando no
período de chuvas fortes e precisamos destacar que as sirenes salvam
vidas. O sistema de alerta por meio
de sirenes é acionado de acordo
com um protocolo específico, referente ao volume de chuvas imediato
e acumulado, sob o monitoramento
ininterrupto da seção de meteorologia da Secretaria. Quando as sirenes
são acionadas, as pessoas que residem em áreas de risco devem se dirigir para os pontos de apoio pelas
rotas seguras previamente sinalizadas em suas comunidades.” .
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Sirenes Salvam Vidas
O carnaval em São Sebastião foi cancelado.
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Resgate áereo das pessoas que ficaram isoladas.
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Ilhabela teve, não um, mas dois carnavais. De 10 a 12 de fevereiro e de
17 a 21 de fevereiro. Na propaganda
oficial baba ovo, seria esse o maior
carnaval do Litoral Norte. Não mentiu; ele foi por ter sido o único.
Bertioga, Ubatuba e Caraguatatuba,
sob estado de calamidade pública,
diante da tragédia que matou 65 pessoas e deixou 2.400 outras desabrigadas, cancelaram seus carnavais.
Ilhabela, não. Sob o pretexto de não
prejudicar a “indústria do turismo”, ignorou-se o sofrimento de tanta gente
caída em desgraça. É difícil imaginar
que haja pessoas que consigam festejar, se alegrar, se embebedar sabendo
que logo ali, doutro lado dessa linguazinha de oceano, morreram dum jeito
terrível, quase uma centena de pessoas. Sepultadas vivas, soterradas num
mar de lama e destroços, esmagadas,
asfixiadas. Sambar sabendo que mais
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de duas mil pessoas ficaram desabrigadas, sem ter para aonde ir, sem ter
nem como se alimentar apesar de fome
não sentir diante da calamidade. Que
tanta gente perdeu sua casa, construída com muito esforço, muita economia; perdeu seus móveis, perdeu seus
eletrodomésticos, perdeu suas roupas, perdeu seus documentos. Sorte
teve de não perder a vida, mas tanto
perderam em vida que vivem sua vida
agora na agonia indescritível duma
vida que não se vive, duma vida que
se afoga numa dor insuportável.
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Indústria do turismo?
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Ponto alto do carnaval de Ilhabela, o
banho da Dorotéia permaneceu incólume. Festejar, sambar, se embebedar
para, com estardalhaço, pular num
mar que cheira morte, num mar que
carregou a lama assassina, num mar
que se molhou não só da chuva, mas
também das lágrimas dos que perderam seus pais, seus irmãos, suas irmãs, seus tios, tias, primos, primas,
seus amigos todos mortos; como puderam?
Ilhabela que soube tão bem ser solidária na copa se vestindo de verde amarelo e colorindo a avenida com esses
banners ufanistas rastaqueras de incentivo à seleção, não foi solidária à
dor dessa gente que, sim desta vez,
saiu e bastante no jornal e cuja melhor matéria foi a do jornalista João
Lara Mesquita, “Litoral Norte: pobres
morrem de novo, e daí?”.
Escolher ignorar o sofrimento alheio
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em nome do turismo, foi tiro no pé.
Pois brasileiro, brasileira, estrangeiro,
estrangeira humanista e solidária ao
saber dessa atitude tão mesquinha,
tão insensível vai é achar Ilhabela uma
terra muito escrota, um local de falta
de empatia comparável a do brasil pátria amada brasil completamente alienado do infortúnio nacional que foi a
mortandade gigantesca causada pela
covid, a ponto de torná-la objeto de
zombaria, de falar desavergonhadamente “não sou coveiro” como fizeram impunemente tantas autoridades
e bolsonaristas desalmados. E achando Ilhabela um lugar que pode até ser
bonito mas é cidade dum governo desumano, vai é riscá-la do mapa e gastar seu dinheiro noutra freguesia que
seja humanitária.
Essa força negacionista, reacionária
da extrema direita que animou tanto discurso perverso e ainda anima,
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perdeu nas urnas e a esperança finalmente venceu o medo elegendo um
governo de frente democrática.
Mas na terra ilhabelense, é como se
ainda estivéssemos naquele cavernoso tempo. Seguem céleres obras de
asfaltamento de ruas onde havia broquetes de concreto; impermiabilizadas, serão leito ótimo para enchentes
futuras. A ocupação urbana de áreas
de risco está espalhada pela ilha em
encostas e buracos, à vista de todos
e há tanto tempo se inseriu na paisagem que ninguém nem mais a enxerga.
O Espaço Cultural Pés no Chão lotou
seu teatro com moradores da ilha,
para assistir uma reunião aberta da
sociedade civil que se intitulou Até
Quando?! no sábado, 25 de fevereiro.
As pautas desse encontro foram inspiradas pela tragédia ocasionada pelas
chuvas e destacaram a importância da
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ação coletiva e em rede, o panorama
do planejamento urbano, plano diretor, áreas de risco e os relatos da situação dos bairros depois do temporal.
Várias organizações participaram, entre elas, a Associação Elementos da
Natureza, Instituto Ilhabela Sustentável, Grupo Organizado Semear, Coletivo Educação, Coletivo SOS Mangue,
Associação Amor Castelhanos, Instituto Verde Azul, Instituto Bonete.
Num mormaço cruel, abrasador, os
presentes sonhavam e se encantavam
com uma Ilhabela socialmente justa e
responsável, com uma Ilhabela plural
e sustentável. Porém, lembrando os
versos de Caetano:
”E quem vem de outro sonho feliz de
cidade
Aprende depressa a chamar-te de
realidade
Porque és o avesso do avesso do
avesso do avesso”.
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Existe em Ilhabela gente capacitada
não apenas para sonhar, mas para
tornar seus sonhos reais construindo
uma cidade melhor. A realidade contudo, é que essa gente não tem espaço
dentro da estrutura do poder econômico e político que controla a cidade.
Suas propostas colidem e se esfacelam
diante dum poder executivo hipertrofiado e dum poder legislativo vassalo,
submisso a esse poder executivo que
por ser, tão poderoso, atua com autoritarismo e destempero atropelando a
tímida oposição que uns tão poucos e
tão frágeis lhe fazem.
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Até Quando?! no Espaço Cultural Pés no Chão.
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Não é a indústria do turismo que enriquece Ilhabela; é a do petróleo, com
sua morte há tempos decretada. São
os royalties do petróleo que transformaram a cidade numa das mais ricas
do Brasil. Essa riqueza, a beleza e a
felicidade, o bem-estar que ela poderia proporcionar aos moradores e visitantes, todavia, só se enxergam nas
placas onipresentes da publicidade
oficial espalhadas pela orla inteira.
Nelas existe um Éden, uma Pasárgada. Fora delas, são praias e cachoeiras
poluídas, calçadas inóspitas, lixo derramado pela cidade, mato crescendo
descontrolando, ruas esburacadas,
escolas precárias, profissionais da
educação desrespeitados e desvalorizados, transporte público deficiente,
falta de água e falta de saneamento
básico, praças desmanteladas, cultura
órfã, urbanismo e paisagismo urbano
medíocres, turismo predatório, absurda desigualdade social, especulação
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imobiliária desenfreada, obras, obras
e mais obras de má qualidade que
nem bem são inauguradas e já demandam reforma, enorme feiúra das
edificações, maior feiúra logo na rotatória de entrada bistecão de inox da
cidade que foi projetada originalmente por Burle Marx sendo depois terraplanada quando nela eram exibidas
duas esculturas de Frans Krajcberg de
pronto assassinadas, pedaço de praia
transformado em Jardim dos Horrores ou Praça do Martírio com estátuas
alugadas pelo dinheiro púbico, áreas
de risco ocupadas se perpetuando e
se tornando cada vez de maior risco,
tudo numa sucessão de malfeitos que
crescem e se avolumam pela cidade
e pelo tempo a despeito de existir dinheiro e muito para evitá-los e corrigi-los, construindo uma cidade muito
melhor, inclusive, verdadeiramente
humana a ponto de se compadecer
com a desgraça alheia e não festejar
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o carnaval num momento em que todas as demais cidades a sua volta se
entristecem e se enlutam.
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A Ilhabela perfeita só existe nos banners publicitários da avenida.
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Enfim, essa é uma história que não
vem de agora, mas de muito antes.
Muito jornalista sério se esgoelou a
revelando e criticando.
Nivaldo Simões que escreveu com destaque no finado e saudoso Jornal Imprensa Livre, de quem o Portal Nova
Imprensa é sucedâneo, foi um deles.
Nivaldo morreu. Seus textos se perderam numa época em que a internet
não tinha o alcance de agora. Nivaldo não nasceu na ilha; não era caiçara. Mas amou tanto esse lugar que
era como se a ele pertencesse desde
sempre.
Para contar essa história sem meias
palavras nem meia verdade, precisamos recorrer ao melhor e mais corajoso jornalista, que não vive na ilha,
mas fora dela e é novamente ele, João
Lara Mesquita em recente e longo artigo, “Litoral Norte, SP: nossa geração
será cobrada”.
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P.S.: em respeito a dor de tanta gente próxima, a foto em foco sai sem
foto do carnaval; foto alguma foi tirada. A coluna demorou para sair não
por falta de assunto, mas por falta
de tempo para abordá-los. O tempo
foi todo ele refém doutro trabalho,
o projeto Márcio Pannunzio – Quatro
Décadas apoiado pelo Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Cultura e Economia Criativa, Programa
de Ação Cultural. Como o seu nome
revela, é de comemoração de mais de
quarenta anos de carreira de artista
plástico e fotógrafo do articulista. Exposição homônima acontece no Museu de Arte e Cultura de Caraguatatuba e será prorrogada além do dia 15
de março; aproveito para convidar os
leitores a visitá-la enquanto está em
cartaz. Informações mais detalhadas
podem ser encontradas no site www.
quatrodecadas.com.
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marciopan.com
ilhabelaemfoco.com
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© Márcio Pannunzio 2024
https://novaimprensa.com/author/
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