Mulher com câncer gasta dinheiro da peruca para salvar bode da morte

A estudante Silvana Cordeiro, moradora do bairro Perequê Mirim, região sul de Caraguatatuba, gastou o dinheiro que estava economizando para comprar uma peruca para salvar um bode da morte. Ela perdeu os cabelos por conta da quimioterapia para combater um câncer nos ovários e queria usar a peruca na sua formatura como Educadora Física, mas não resistiu quando descobriu que o animal que invadiu sua casa iria para o abate. A estudante de 37 anos também tem outros 18 animais, muitos deles resgatados de maus tratos.

Silvana, que é mãe de seis filhos, conta que estava sentada na porta de casa, esperando um dos meninos voltar da faculdade quando, de repente, o bode invadiu a casa e correu para o banheiro. No dia seguinte, postou em um grupo de uma rede social que tinha um bode perdido em sua casa. Uma vizinha conhecia o dono do animal e ligou para ele. Na parte da tarde, o senhor apareceu para busca-lo.

“Com a maior naturalidade ele me disse que o bode só não havia morrido ainda porque estava muito magro. Ele tinha comprado dois bodes e matou o outro. Aquilo partiu meu coração e eu implorei para ele não fazer aquilo, porque ele fugiu para não morrer”, diz a mulher, inconformada.

O homem disse que havia comprado os animais para isso e saiu levando o bode. Mas ao chegar a uma certa distância, o bicho conseguiu escapar novamente e voltou para Silvana.

“Ele poderia ter ido para a outra rua, para um terreno que tem aqui na frente, mas não! Ele voltou para a minha casa e eu vi que ele não queria morrer. Então perguntei ao senhor se ele queria vender”.

Ela conta que não tinha muito dinheiro, pois já havia gasto uma parte para levar um cachorro que resgatou da rua ao veterinário.

“Eu fiz negócio com aquele senhor. Comecei a catar até moedas aqui em casa e eu tinha R$ 180 guardados para a peruca. Paguei para ele e parcelei o restante do valor e agora o bode está aqui mudando a minha vida”, diverte-se. O animal foi batizado de Meia Noite, por causa do horário que ele apareceu na casa da família Cordeiro.

Família

O coração de Silvana vai mais longe. Além dos três filhos biológicos que teve com o marido, a estudante adotou três crianças para a grande família Cordeiro. São quatro meninos de 17, 15, 14 e 11 anos e duas meninas de 9 e 2 anos.

“Um dia acordei mãe de dois e fui dormir mãe de três. Eu adotei o Rafa com um ano e três meses; ele tem 9 anos agora. Depois de quatro anos, teve um caso de uma senhora de 39 anos que morreu com dengue hemorrágica. Ela era avó e mãe dos meus filhos. Quando ela morreu, no velório eu falei ao meu marido que havíamos ganho mais 2 filhos”.

Do velório até hoje não se separaram mais das crianças. “A Vitória tinha 7 aninhos, veio correndo ao me ver. Não éramos parentes, mas ela sabia que eu era a mãezinha do irmãozinho dela, o Rafa. Ela veio e me abraçou; meu outro filho estava sozinho na sala, ao lado do caixão da avó. Na hora que eu cheguei, ele perguntou se poderiam morar comigo. E eu disse que a partir daquele momento não seria tia, seria mãe. E parece que eles moraram a vida toda aqui comigo. Minha filha é a minha cara, meus filhos são tudo de bom na minha vida. Eles são carinhosos, são bons na escola”, derrete-se.

Ela conta que no momento pior do câncer, o maior apoio veio dos filhos. “Quando eu não conseguia levantar da cama, eles cuidavam de mim, todos eles. Faziam café, almoço. Cuidavam e ainda cuidam de mim com o maior carinho. Me ajudam com os animais. Eu tinha que cuidar deles, mas eles que cuidam de mim. Eu passei pelo câncer, mas passei pelo câncer bem porque eu tive quem cuidou de mim”, conclui.

“Com o câncer, tive medo de não estar mais lá para minha família”, confessa. Silvana conta que luta contra a doença há 4 anos, mas a pior parte já passou. Hoje, ela está se recuperando e o câncer está em remissão.

Mais animais

Além do bode Meia Noite, Silvana tem 12 cachorros, cinco gatos e uma tartaruga. Uma das cachorras, a Clotilde, adotou quatro filhotinhos recentemente. Uma amiga estava precisando de mãe de leite para uns cachorrinhos porque a mãe foi atropelada e a pequena Clotilde os aceitou.

“Então no momento estou com 12 cachorros em casa: quatro filhotes da minha e mais quatro que minha colega trouxe. Eu tenho cinco gatinhos que também recolhi da rua porque tinham sido jogados num lixão. Inclusive estavam feridos e doentes”.

Silvana conta que procurou no Google como cuidar de um bode: “dele sou mãe de primeira viagem. Três vezes ao dia eu tenho que levar pra comer capim, tem o cuidado com a higiene, estar sempre limpando pra não ter problema com a vizinhança. Todos meus bichos se dão bem. Só o bode que fica com um pouquinho de ciúme do milho dele, mas eles são tranquilos. O Meia Noite mudou toda minha rotina e por conta da repercussão, já recebi mais de 500 mensagens nas redes sociais que eu não consigo responder”.

A estudante frisa que não é fácil manter a rotina com tantos animais, mas conta que os filhos a ajudam muito. “Eles contribuem com as tarefas e o mais gratificante é ver que estão crescendo e aprendendo a respeitar os animais”.

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